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Alguns elementos cedem lugar, completa ou parcialmente, a outros da mesma classe, porém mais modernos; outros elementos resistem à modernização; em muitos casos, elementos de diferentes períodos coexistem. Alguns elementos podem desaparecer completamente sem sucessor e elementos novos podem se estabelecer. (SANTOS, 1985, p. 21-22).

Ainda respeito do espaço e tempo para a análise do espaço geográfico, o autor aponta que:

A sociedade só pode ser definida através do espaço, já que o espaço é o resultado da produção, uma decorrência de sua história – mais precisamente, da história dos processos produtivos impostos aos espaços pela sociedade. (SANTOS, 1985, p. 49).

Sobre essa questão Moreira pontua:

Produto histórico, o espaço confunde-se com o tempo. O espaço é o tempo histórico. Não o tempo-data. A noção kantiana de tempo como lugar da história e de espaço como lugar da geografia, promovendo a separação entre tempo e espaço e entre história e geografia, só fez dar origem àquilo que Michel Foucaut chamou de “espaço congelado”. O tempo histórico não é o tempo de relógio (tempo-data, tempo-sideral) e o espaço geográfico não é o espaço das coordenadas geográficas. Embora a história embuta-se no calendário e o espaço geográfico embuta-se na rede de coordenadas (latitude e longitude), tempo e espaço são coordenadas da história. São as propriedades dessa matéria chamada conteúdo histórico. (MOREIRA, 1981, p. 90).

Assim, para compreender os espaços fortificados da cidade, faz-se necessário a inserção do conceito de espaço e tempo, pois, esses explicam o espaço historicamente construído, cristalizado, de novas formas e antigas materializadas no presente. Portanto, essa análise deve atrelar o passado ao presente. Os fortes no passado eram equipamentos voltados para a defesa, hoje são edificações com funções diversas e gerenciadas por diferentes instituições. Assim, para compreender seu papel na atualidade, faz-se necessário o estudo dos principais administradores na contemporaneidade.

De acordo com o artigo 20 da Constituição Federal, todos os fortes brasileiros são de propriedade da União (BRASIL, 1988). Contudo, a administração dos

equipamentos é de responsabilidade do órgão que detém o Termo de Entrega ou Cessão. Assim, existem atualmente diversos tipos de gestores. Os onze fortes existentes em Salvador são patrimônios da Secretaria do Patrimônio da União (SPU). (BAHIA, 2011a, p. 4).

Entretanto, os fortes de Salvador diferem muito no que se refere a questão administrativa e funcional (quadro 1). Dentro desse contexto, hoje são administrados pelas Forças Armadas; pelo Governo do Estado da Bahia; pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan); por Organização Não Governamental (ONG); pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU) e apenas um sem nenhum órgão gestor, no caso o Forte de São Paulo da Gamboa.

Basicamente, as atuais funções estão vinculadas aos aspectos de ordem militar, turística e social. Todavia, seus aspectos funcionais são atrelados um ao outro, ou seja, eles podem estar presentes um no outro, ou os três ao mesmo tempo. Esse é o caso do Forte de Monte Serrat, que é administrado pelo Exército Brasileiro em parceria com o Governo do Estado.

No que tange aos fortes que estão sob administração (quadro 1) das Forças Armadas, temos o Forte de Monte Serrat, o Forte de São Diogo, o Forte de São Pedro, todos esses aos cuidados do Exército Brasileiro; o Forte de Santo Antônio da Barra, está a cargo da Marinha Brasileira. Os Fortes do Barbalho, Santo Antônio Além do Carmo, Forte da Jequitaia (atualmente desativado) são administrados pelo Governo do Estado da Bahia.

Quadro 1: Administração e situação das fortificações de Salvador em março/abril 2012

Fonte: Bahia, 2011a, p.4.

Organização: Marco Antonio dos Santos, 2011.

Fortificações Administração Situação

março / abril 2012 Santo Antônio da Barra Marinha Brasileira Museu náutico, aberto

ao público

São Diogo Exercito Brasileiro Abriga maquetes e fotografias, aberto ao público

Santa Maria STU Fechado

São Marcelo IPHAN Embargado

São Paulo da Gamboa Nenhum administrador Em ruínas/ocupado

São Pedro Exercito Brasileiro Deposito de Suplemento Barbalho Governo do Estado Aguardando restauro Santo Antônio Além do

Carmo

Governo do Estado Aberto ao publico

Santo Alberto ONG Aberto ao público

Jequitaia Governo do Estado Fechado

Monte Serrat Exercito Brasileiro Museu das armas, aberto ao público

4.1.1 Fortes administrados pelas Forças Armadas: Monte Serrat, Santo Antônio da Barra, São Diogo, São Pedro

O Forte de Monte Serrat segundo Campos (1940, p.124), sofreu obras de restauração em 1926, a pedido de Francisco Marques de Góis Calmon, governador da Bahia (1924-1928). Em seu espaço foram executadas novas intervenções a cargo do Ministério da Guerra. Tombado pelo IPHAN sob no 319 do Livro de História, Fl. 53 em 09.01.1957.(BAHIA,1997, p.143). Segundo Barreto (1958, p.177), as instalações do forte eram ocupadas, à época, pela 6ª Região Militar. Na década de 1980 sediou a Seção Bahia da Liga de Amadores Brasileiros de Rádio Emissão.

Restaurado desde 1993, abriga na área externa o Museu da Armaria, expondo ao público diversas armas de fogo, inclusive canhões. Na área interna de suas dependências, foi destinada a implantação do Memorial Professor Milton Santos (foto 1), inaugurado no dia 1° de junho de 2007, pelo governador do Estado da Bahia Jaques Wagner. O espaço teve como proposta, oferecer aos visitantes as publicações das obras do rico legado intelectual do geógrafo Milton Santos, acerca do pensamento geográfico, bem como o conceito e a ideia do socioambientalismo12.

A partir de 29 de março de 2010, o Memorial Professor Milton Santos não foi mais sediado nas dependências do Forte do Monte Serrat. O novo espaço reinaugurado pelo governador do Estado da Bahia Jaques Wagner passou e ser instalado no Largo do Santo Antônio Além do Carmo, como Memorial do Meio Ambiente Professor Milton Santos.

12

Segundo Santilli (2005, p. 7), o socioambientalismo se originou na suposição de que políticas ambientais somente alcançariam eficácia social e sustentabilidade política se as comunidades locais fossem envolvidas e se engajassem na questão ambientalista.

Segundo Oliveira (2004, p.187), dentre os fortes da cidade de Salvador, o Monte Serrat foi o que mais preservou suas características arquitetônicas originais, como mostra foto 2.

Fonte: Pesquisa de campo.

Foto 1: Sala provisória do Memorial