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Fonte: Trabalho de campo, 2018.

Ao final do expediente, os vendedores de água, sucos e refrigerantes trancam

seus freezers com cadeados para que não haja furto dos produtos que estão armazenados

e serão revendidos no outro dia.

3.4 Ida para a cidade dos doces, queijos e vinhos

Fomos também para Puerto Iguazú, muito conhecida pelas vendas do famoso dulce de leche argentino, dos queijos, vinhos e azeitonas. O ônibus que fez a linha internacional Foz do Iguaçu- Puerto Iguazú tem um de seus pontos em uma rua pouco movimentada que fica ao lado do Terminal de Transporte Urbano de Foz do Iguaçu. De hora em hora é possível ir para a Argentina, pois tem diversos horários para essa linha. Esperamos o ônibus chegar por volta de uns 40 minutos, durante a espera observamos

que algumas pessoas almoçavam nos trailers que ali estavam instalados, outras estavam

sentadas banco do ponto de ônibus conversando sobre os pontos turísticos que iriam conhecer, percebemos que ali tem uruguaios e alguns brasileiros, e todos estão felizes porque irão atravessar a fronteira e ir para as Cataratas do lado argentino. Chegou um ônibus, mas ainda não era o nosso. Era um ônibus que ia para São Miguel do Iguaçu,

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cidade próxima a Foz do Iguaçu. Junto ao ônibus, vimos algumas pessoas vindo da rua, com suas sacolas de compra com produtos paraguaios. Escutamos alguns diálogos dessas pessoas enquanto armazenam suas mercadorias no ônibus e descubro que compraram mercadorias em Ciudad del Este para revenderem em pequenas lojas, em suas cidades, algumas pessoas compraram mantas e alguns perfumes também. Todas essas pessoas fazem uso da fronteira, para conseguirem produtos a preços mais baratos e assim conseguirem garantir uma renda para o seu sustento e de sua família. O ônibus partiu para São Miguel e ouvimos outras pessoas que estavam no ponto dizendo que esse ônibus não fará mais a linha Foz- São Miguel, por algum acordo político e que então as pessoas que o necessitarem, precisarão ir até a Rodoviária Internacional de Foz do Iguaçu para voltarem às suas cidades, a maior preocupação é com o preço da passagem, já que o valor será bem mais alto.

Chegou o ônibus que foi Puerto Iguazú, já tinha algumas pessoas dentro dele, paraguaios, indígenas e uruguaios. Entraram vários brasileiros, entre eles, eu. Paguei a

passagem e recebi um ticket, que seria usado mais tarde. Iniciamos mais um

atravessamento de fronteira. No ônibus foi possível ouvir diálogos em vários idiomas, português, guarani, espanhol, a presença de diferentes culturas invade aquele ônibus. Durante o trajeto, fomos observando diversos trabalhadores ambulantes pelas ruas de Foz do Iguaçu, havia gente de todas as idades, crianças também, infelizmente, elas vendiam balas em alguns pontos de ônibus de Foz do Iguaçu, essas crianças eram sempre paraguaias. O trajeto era composto por diferentes paisagens. Passamos pela Ocupação

Bubas, passamos por condomínios, passamos por shopping, hotéis e restaurantes

luxuosos, e por lugares bem simples, passamos pelo Duty Free e já estávamos próximos

a Aduana, o ônibus parou e tivemos que descer. Quase todos os passageiros desceram do ônibus e seguiram para a fila. Os indígenas não desceram, não precisam dar entrada no país. Esperei na fila até que fosse minha vez de apresentar meu RG para o funcionário da

Aduana. Escuto “Proximo!” e me dirijo ao guichê vazio. O funcionário pergunta:

“¿Donde te vas¿” , eu respondo “Hasta Puerto Iguazú.” Ele digita algo em seu computador, ao mesmo tempo em que meu RG está sendo escaneado. Olha novamente

para mim e pergunta: “¿Cuantos dias te vás a quedarse en Puerto Iguazú¿, e eu respondo

“Vuelvo hoy para Brasil.”, ele devolveu meu RG e eu segui adiante. Sai e precisei colocar a minha mochila no raio-x para ser verificada, passei pelo detector de metais e entro pegar minha mochila que estava na esteira. Segui para perto de onde o ônibus que eu estava foi

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entregou quando paguei minha passagem. O ticket é usado para o controle dos passageiros

que usam o transporte, já que nem sempre conseguimos ir no mesmo ônibus que chegamos até a Aduana. Entrei no ônibus e comecei a observar a paisagem que é bem diferente.

Chegamos ao terminal de transporte urbano de Puerto Iguazú, descemos do ônibus e começamos a caminhar pela cidade. Nossa intenção foi encontrar mulheres

paraguaias donas de almacenes, fazendo compras pelos mercados da cidade.

Caminhamos e observamos o movimento de pessoas pelas ruas e calçadas. Encontramos um senhor senegalês que estava vendendo artesanato para sobreviver. Ele conversou um pouco conosco e contou sobre sua história de vida e sua vinda para a Argentina, contou que foi uma questão de sobrevivência. Encontramos várias pessoas caminhando pelas ruas, pelos comércios, e também vendedoras ambulantes que vendem frutas, são mulheres paraguaias que atravessam o rio todos os dias para trabalharem em Puerto Iguazú. Essas mulheres atravessam em pequenos barquinhos, com seus carrinhos de mão já abastecidos de frutas e retornam ao Paraguai no período da tarde.

Encontramos também, vendedoras de artesanatos feitos com pedra de uma mina que fica em Wanda, essas mulheres ficam em alguns pontos da cidade, juntamente com

seus filhos, tentando vender seu artesanato. Muitas vezes esses mesmos artesanatos que

elas vendem nas ruas, são vendidos em lojinhas especializadas em lembrancinhas para turistas, no entanto, o valor é muito acima do que podemos encontrar nas ruas. As

mulheres que encontramos ficavam em uma calçada, que estava próxima a Feria de

Puerto Iguazú, junto com elas estavam as crianças que tentavam ajudar a mãe a vender as pequenas árvores feitas de pedra, e também pedras individuais um pouco maiores. Um amigo que está me acompanhando nesse dia, comprou uma arvorezinha e a criança que

estava acompanhada de sua mãe, ofereceu uma pedra como um presente: “Tio, una piedra

para você”, assim mesmo, nessa mistura de português e espanhol. A criança percebeu

que éramos brasileiros, ainda que conversássemos com eles em espanhol. A mistura de palavras nos dois idiomas é a tentativa de se comunicar melhor.

Essas mulheres passam os dias nessas calçadas tentando vender seus artesanatos para garantir o sustento das suas famílias. Por não terem com quem deixar os filhos, os levam juntos e todos passam o dia pelas calçadas, esperando por turistas que comprem seus produtos.

As arvorezinhas são de pedrinhas de cores variadas, disponibilizadas em um arame que vai dando o formato das folhas e dando formato a árvore.

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