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4 EDIÇÃO DA LEI DE TERRAS A CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE

4.2 CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS DADOS LEVANTADOS

4.2.1 Análise dos Registros Paroquiais de Belém: Freguesia da Sé, Sant’Anna e

4.2.1.3 Freguesia da Santíssima Trindade

O livro da Santíssima Trindade foi aberto em 1854 e finalizado em 1857, tendo registrado 188 declarações de posse. Cumpre destacar que em razão do tempo, algumas declarações se perderam e algumas se encontram ilegíveis, motivo pelo qual foram analisadas apenas 106 declarações de posse.

Figura 3 – Registros da Freguesia da Santíssima Trindade

Fonte: Elaborado por Flávio Augusto Altieri dos Santos, 2018.

No que tange à localização dos termos, foi possível fazer a possível correspondência atual com 99 registros, situados nos bairros da Batista Campos (5), Campina (31), Nazaré (50), Cidade Velha (4), Guamá (2), Terra Firme (1), Parque Verde (1) e Pedreira (1). A maioria dos registros, como se observa, estavam circunscritos na atual área do Bairro

de Nazaré, mas o registro que merece destaque é o de número 2473, localizado na atual Avenida Independência, demonstrando que a cidade de Belém já crescia para áreas mais distantes do seu primeiro centro, que foi o bairro da Cidade Velha.

Além disso, por se tratar de uma posse que pertencia a uma entidade religiosa desde 1773 (e com posse pacífica e sem interrupção desde 1806), mas sem mencionar quem havia feito a concessão, não há como afirmar se o referido ato foi feito nos moldes do direito regaliano ou do direito canônico, vez que estes foram aplicados ao mesmo tempo, como outrora demonstrado.

Ademais, justamente por todas serem relativas ao perímetro urbano, apenas uma declaração mencionava uma área grande para o perímetro urbano, que foi a declaração de nº 37, feita por João Baptista de Figueiredo Aranha74, em que este mencionava ser possuidor de uma quadra inteira localizada próximo da Avenida Nazaré75.

Cumpre destacar ainda que tais bairros, especialmente Nazaré, estavam em áreas de transição, outrora destacadas como sendo os arrebaldes. Nazaré, por exemplo, era uma área com diversas residências conhecidas como rocinhas, moradas estas com características mais típicas da zona rural, como as varandas (SOARES, 2008)76.

As rocinhas eram consideradas como espaços de recolhimento e de tranquilidade, localizadas inicialmente longe do centro da cidade. Com o crescimento de Belém no século XIX, essas áreas foram se integrando à paisagem cotidiana da cidade, se misturando com outras moradias típicas do centro urbano.

No que se refere à existência de imóveis que declararam existir plantações, não foi possível identificar nenhum, fazendo com que todas as declarações fossem consideradas como circunscritas ao perímetro urbano da cidade no período. Neste sentido, o resultado obtido foi de que 100% das áreas que foram declaradas e registradas no livro da Freguesia da Santíssima

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Duzentas braças de terras, indo pelo caminho do Utinga a mão direita, sendo de posse do Seminário Episcopal do Pará e tendo a concessão desde 1773.

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Cumpre destacar que a família Aranha, durante muito tempo, foi uma família de grande influência política, social e econômica na cidade de Belém. O próprio João Baptista de Figueiredo Aranha, dono de grandes terrenos em Belém, foi um dos percussores da campanha abolicionista no Pará, conforme será melhor destacado posteriormente.

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Uma sorte de terras que começa na Praça da Memória, e segue com duas frentes, uma pela estrada de Nazaré subindo para a avenida a mão esquerda, tendo nesta frente noventa e duas braças até chegar ao limite do terreno, com fundos para a Rua Nova de São Jerônimo, e tem cinquenta e cinco braças com fundos para a Estrada de Nazaré, confinando pela dita nova Rua de São Jerônimo também com o limite do terreno que traspassei ao referido loureiro.

76 Tais áreas foram incluídas na análise do presente trabalho por serem as rocinhas um tipo de imóvel encontrado na área urbana e arrebaltes, enquanto que na área rural encontravam-se moradias que eram denominadas como sítio ou chácara, e tinham como limites igarapés e rios (SOARES. 2008).

Trindade nos anos de 1854 a 1857 eram consideradas como urbanas a partir dos parâmetros usados nesse trabalho.

Quanto à forma de aquisição das áreas declaradas, a maior parte das declarações sequer mencionavam qual era a origem da área que estavam registrando, culminando num total de 79 (setenta e nove) registros nesta situação, relativos a aproximadamente 72% do total. No entanto, existem registros que o declarante referia qual era a origem da área. Destes, 16 (dezesseis) afirmaram que a propriedade era advinda de compra e venda (15%). Outra origem declarada era de justo título, com 07 (sete) declarações (6,6%); herança, relativos a 04 (quatro) registros (3,7%). Existiam ainda aqueles que declararam que a área era oriunda de concessão, com 02 declarações (1,8%) e transpasse, com 01 declaração (0,9%).

Gráfico 3 – Relação das formas de aquisição das propriedades registradas na Freguesia da Santíssima Trindade entre 1855 a 1857.

Fonte: Elaborada pela autora, 2018.

No que se refere ao pagamento de foros à Câmara de Belém, dos 322 registros legíveis e que foram analisados (sejam eles rurais e urbanos), apenas 03 (três) declaram que pagavam foro à Câmara Municipal (2,8%). Trata-se de um percentual pequeno, levando-se em consideração de que a Freguesia da Santíssima Trindade é o livro com o maior número de declarações em que não constam nas descrições dos termos qualquer referência à atividade agrária. Sem menção 72% Compra e Venda 15% Justo Título 6% Herança 4% Enfiteuse 1,8% Trespasse 1%

FORMAS DE AQUISIÇÃO DAS PROPRIEDADES REGISTRADAS NA FREGUESIA DA SANTÍSSIMA

Dentre tantas conclusões que foram extraídas dos dados coletados dos registros da Freguesia da Santíssima Trindade, o primeiro passível de citação diz respeito ao fato de que, todas as declarações registradas no livro da referida Freguesia eram relativas ao perímetro urbano da cidade, tornando esta Freguesia diferente das demais, na medida em que foram encontrados nas Freguesias da Sé e da Campina registros de áreas rurais.

4.3 ENFITEUSE, TRANSPASSE, RATIFICAÇÃO DE POSSE E A CONSOLIDAÇÃO