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Freios e contrapesos: a necessidade da interdependência entre os poderes no Estado

2 FUNÇÕES DOS PODERES NO ESTADO MODERNO

2.3 Freios e contrapesos: a necessidade da interdependência entre os poderes no Estado

Inúmeros são os autores que lecionam sobre a necessidade de existência de uma interdependência entre os poderes, sem que isso fira a independência de cada um, ou seja, entendem que deve haver harmonia na aplicação do direito pelos poderes, uma vez que, vez RXRXWUDDV³DUPDV´HPHFDQLVPRVde que um poder dispõe poderão ser insuficientes para que os direitos fundamentais e demais preceitos constitucionais sejam plenamente aplicados. Dessa forma, faz-se necessária uma maneira de os poderes interagirem entre sim, bem como fiscalizarHP D DWXDomR GH FDGD XP GHYHQGR H[LVWLU ³IUHLRV H FRQWUDSHVRV´ checks and

balances) nas atividades dos poderes estatais:

A idéia central do modelo do balanceamento de poderes é esta: através de freios e contrapesos recíprocos, os vários poderes encarregados de distintas funções operam um controlo de poder (o poder pára o poder) garantindo a liberdade dos indivíduos e evitando o aparecimento de um poder superpesado perigosamente totalizados do poder do Estado.80

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BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 601.

80

CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 5. ed. Coimbra: Livraria Almedina, 2002, p. 545.

Percebe-se, portanto, que a rigidez não é, - nem pode ± absoluta, pois o poder, na concepção literal da palavra, é único e o seu detentor é o Estado. A solução normativa apresentada mostra-se perfeitamente eficaz DRHVWDEHOHFHUHSUHYHURV³IUHLRVHFRQWUDSHVRV´ já que possui o ³H[SOtFLWRSURSyVLWR>@ de promover um equilíbrio melhor articulado entre os µSRGHUHV¶LVWRpHQWUHRVyUJmRVGR3RGHUSRLVQDYHUGDGHR3RGHUpXQR´81

O atual direito constitucional, tratado em momento anterior por Paulo Bonavides como ³QRYR Gireito cRQVWLWXFLRQDO´ H FRP R PHVPR VHQWLGR DERUGDGR QD REUa de Alexandre de 0RUDHVFRPR³GLUHLWRFonstitXFLRQDOFRQWHPSRUkQHR´HVWDULDWUDWDQGRGHPDQHLUDLQDGHTXDGD o moderno entendimento do que consiste a separação dos poderes, caso houvesse previsão SDUDDSOLFDomRUtJLGDGHFDGDIXQomRGR(VWDGRXPDYH]TXHRVJRYHUQRVDWXDLVDVVXPLUDP³D missão de fornecer a todo o seu povo o bem-estar, devendo, pois, separar as funções estatais, GHQWURGHXPPHFDQLVPRGHFRQWUROHVUHFtSURFRVGHQRPLQDGRµIUHLRVHFRQWUDSHVRV¶ checks

and balances ´82 O objetivo final do Estado Social e Democrático de Direito deve ser, sem sombra de dúvida, a segurança de que todas as pessoas poderão viver com dignidade, sendo TXH³DLQWHJUDomRGRVyUJmRVGHSRGHUFRPRREMHWLYRGHDVVHJXUDURSURJUHVVRVRFLDOHXPD H[LVWrQFLD GLJQD WHQGR HP YLVWD D FRQVHFXomR GR EHP FRPXP´, é uma perspectiva que ³GHOLQHLDRVFRQWRUQRVGR(VWDGR6RFLDO´FRQIRUPHOHFLRQD(PHUVRQ*DUFLD83

O Supremo Tribunal Federal, órgão máximo do Poder Judiciário, fazendo juz à sua função de guardião da Constituição84, passou a aplicar, gradativamente, após a promulgação da Carta de  D WHRULD GH FRQWUROH UHFtSURFR HQWUH RV SRGHUHV RX VHMD RV ³IUHLRV H FRQWUDSHVRV´ FRPR IXQGDPHQWDomR HP VHXV MXOJDGRV e SRU HVVH PRWLYR TXH VH SRGH GL]HU que a teoria, prevista no texto constitucional, é aplicada a contento no Estado brasileiro.

Percebe-se que os ministros do Supremo Tribunal Federal, quando fundamentam seus julgados com base no princípio da separação dos poderes, conforme se demonstrará abaixo, EHPFRPRTXDQGRID]HPPHQomRDRV³IUHLRVHFRQWUDSHVRV´R fazem, como era de se esperar, traçando o paralelo entre a necessidade de que cada ação de um poder ± seja típica, seja atípica - seja obrigatoriamente prevista no texto constitucional. Tal posicionamento se mostra óbvio, uma vez que o guardião da Constituição deve, antes de mais nada, atentar para a

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MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 27. ed. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 32.

82

MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 33. ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 414.

83 GARCIA, Emerson Garcia. Princípio da Separação dos poderes: os órgãos jurisdicionais e a concreção dos direitos

sociais. Revista Brasileira de Direito Constitucional, São Paulo: Escola Superior de Direito Constitucional, n. 5, 2005, p. 117.

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legalidade e constitucionalidade das aplicações dos preceitos constitucionais em casos concretos.

Como maneira de apontar a constante aplicação da teoria nos julgados e com o intuito de mostrar, de outro prisma, que não o que será abordado no capítulo seguinte, a maneira como os ministros vêm buscando formas de efetivação os anseios de toda a sociedade, ou seja, a real e efetiva aplicação dos direitos fundamentais, serão analisados três julgados, de diferentes épocas, que explicitarão o que foi abordado até então no presente capítulo.

Inicialmente, tem-se o julgamento da medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade 1.905-7, datado de 19/11/1998, cujo relator foi o ministro Sepúlveda Pertence 85, no qual fica claro que o STF reconhece a existência de funções atípicas dos poderes. Além disso, abstrai-se que tais funções, para poderem ocorrer, devem estar expressamente legitimadas pela Constituição Federal. Além disso, um trecho do voto do ministro também merece ser colacionado, uma vez que evidencia que não se pode arriscar, para o bem da sociedade, permitir que ocorram conflitos entre os poderes. Veja-se:

À primeira vista, no caso presente, a menor estatura dos organismos burocráticos de segundo e terceiro graus do Poder Executivo, aos quais se confiou, na lei questionada, a função de ditar parâmetros e avaliações do funcionamento da Justiça, só agrava a ousadia da inconstitucionalidade denunciada.

De outro lado, como o comprovam as cautelares deferidas nos precedentes mencionados, assim como em numerosos casos assimiláveis, documenta a preocupação do Supremo Tribunal de obviar liminarmente o risco de conflitos entre os Poderes gerados pela vigência de preceitos como os ora questionados. (grifei) 86

Continuando a didática proposta para concluir este capítulo, irá se prosseguir com a referência à ação direta de inconstitucionalidade 2.911-8, datada de 10/08/2006, cujo relator é o ministro Carlos Britto87. A lide versa sobre um dispositivo encontrado na legislação

85 EMENTA: Separação e independência dos Poderes: freios e contra-pesos: parâmetros federais impostos ao Estado

membro. 2VPHFDQLVPRVGHFRQWUROHUHFtSURFRHQWUHRV3RGHUHVRV³IUHLRVHFRQWUDSHVRV´DGPLVVtYHLVQDHVWUXWXUDomRGDV unidades federais, sobre constituírem matéria constitucional local, só se legitimam na medida em que guardem estreita similaridade com os previstos na Constituição da República: precedentes. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Med. Caut. em ação direta de inconstitucionalidade 1.905-7 ± Rio Grande do Sul. Relator: Min. Sepúlveda Pertence. 19 de novembro de 1998. Disponível em <http://www.stf.jus.br>. Acesso em 20 abr 2011. (grifei)

86

Idem, página 10 do voto do Ministro Sepúlveda Pertence.

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EMENTA: CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. IMPUGNAÇÃO DA (;35(66­2 ³35(6,'(17( '2 75,%81$/ '( -867,d$´ &217,'$ 126 †† o e 2o DO ART. 57 DA

CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. Os dispositivos impugnados contemplam a possibilidade de a Assembléia Legislativa capixaba convocar o Presidente do Tribunal de Justiça para prestar, pessoalmente, informações sobre assunto previamente determinado, importando crime de responsabilidade a ausência injustificada desse Chefe de Poder. Ao

capixaba que permitia que a Assembleia Legislativa do Espírito Santo convocasse o presidente do Tribunal de Justiça para prestar esclarecimentos em determinada situação.

O estudo do julgado é necessário e fundamental, por elucidar claramente a questão da forma como RSULQFtSLRGDVHSDUDomRGRVSRGHUHVpDSOLFDGREHPFRPRWUDWDVREUHRV³IUHLRV H FRQWUDSHVRV´ DGPLWLQGR D VXD H[LVWrQFLD SRUpm evidenciando que deve estar sempre condicionada às previsões contidas no texto constitucional.

Por fim, o julgamento do agravo regimental no agravo de instrumento 381.109-2, datado de 22/10/2002, cujo relator foi o ministro Ilmar Galvão, também trata da questão da VHSDUDomRHLQWHUGHSHQGrQFLDGRVSRGHUHVEHPFRPRGRV³IUHLRVHFRQWUDSHVRV´

Por outro lado, não se pode afirmar que o aresto recorrido haja ofendido o princípio da separação e independência entre os Poderes do Estado.

A Constituição Federal define as atribuições fundamentais de cada poder do Estado, segundo um sistema de freios e contrapesos, mediante o qual um Poder limita a ação do outro.

Dessa sorte, quando o Judiciário, ao interpretar o disposto na legislação estadual, concluir por uma data inicial para a percepção de determinada gratificação, não afeta a independência do executivo, rompendo o equilíbrio entre os poderes, até porque o próprio texto constitucional prevê que nenhum ato escapa a apreciação do Poder Judiciário. (grifei) 88

Como se pode perceber, os julgados colacionados evidenciam a forma como a Constituição Federal aborda o princípio da separação dos poderes, bem como a maneira como o Supremo Tribunal Federal tem aplicado de maneira concreta a teoria da tripartição dos SRGHUHVHGRV³IUHLRVHFRQWUDSHVRV´ checks and balances). Outrossim, a interpretação feita dos julgados também evidencia como a efetivação dos ensinamentos expostos neste capítulo é necessária para que concretização da real função que se propõe o Estado Democrático de Direito, que é o respeito aos direitos fundamentais de todos os cidadãos.

Continuando a proposta iniciada, que consiste na análise de julgados, serão, no próximo capítulo, expostas e analisadas decisões do Supremo Tribunal que julgaram

fazê-lo, porém, o art. 57 da Constituição capixaba não seguiu o paradigma da Constituição federal, extrapolando as fronteiras do esquema de freios e contrapesos ± cuja aplicabilidade é sempre estrita ou materialmente inelástica ± e maculando o Princípio da Separação dos Poderes. (grifei) BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação direta de inconstitucionalidade 2.911-8 ± Espírito Santo. Relator: Min. Carlos Britto. 10 de agosto de 2006. Disponível em <http://www.stf.jus.br>. Acesso em 20 abr 2011.

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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo regimental no agravo de instrumento 381.109-2 ± São Paulo. Relator: Min. Ilmar Galvão. 10 de agosto de 2006. Disponível em <http://www.stf.jus.br>. Acesso em 20 abr 2011.

mandados de injunção e foram responsáveis pela evolução do entendimento que os ministros têm hoje acerca do instituto.

3 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E A ATUAL LEITURA DO MANDADO DE