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P 10 mmHg “Prime”

4.2. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.2.1 FREQÜÊNCIA CARDÍACA

A análise estatística dos valores referentes à freqüência cardíaca mostrou que não houve interação entre os grupos e os grupos não diferiram entre si. Ambos os grupos apresentam aumento na freqüência cardíaca nos momentos M2 e M3 (tabelas 1 e 2 , figura 1).

Em cães de médio porte, como os utilizados nesse experimento, a freqüência cardíaca normal situa-se na faixa de 60 a 120 batimentos por minuto (Massone, 1988).

Na literatura, há relatos sobre um outro barbitúrico, o pentobarbital sódico. Ele também eleva o número de batimentos cardíacos através de mecanismo ainda não muito bem elucidado. Linegar et al., 1936 e Page & McCubbin, 1965, inferiram ser efeito decorrente de ação bloqueadora parassimpática periférica. Barlow & Knott, 1964, pensaram em ação simpaticomimética. Priano et al., 1969, somam às duas teorias anteriores, a de liberação de catecolaminas pela medula adrenal, através de origem reflexa. Manders & Vatner, 1976, após anestesiarem cães com

pentobarbital sódico, supuseram que a taquicardia observada poderia não ser unicamente de origem vagolítica, porém predominantemente mediada por reflexos gerados em barorreceptores arteriais.

Em modelos com músculo cardíaco isolado, o fentanil mostrou possuir uma ação inotrópica negativa concentração-dependente (Roizen, 1984). Na prática clínica, doses elevadas de fentanil (acima de 75

µg.kg-1) determinaram estabilidade hemodinâmica sem produzir

concentração plasmática tão elevada (Lunn et al., 1979). Em pacientes sem medicação pré-anestésica, submetidos à cirurgia não cardíaca, a indução anestésica com 30 µg.kg-1 de fentanil não desencadeou alterações na

freqüência cardíaca e na pressão arterial média (Bailey et al., 1985).

Embora o fentanil proporcione estabilidade hemodinâmica, pode causar alterações cardiovasculares quando associado a outras drogas. O fentanil é considerado opióide de ação curta quando administrado em dose única. Em pacientes submetidos à cirurgia vascular, cuja indução anestésica foi realizada com tiopental sódico (3 mg.kg-1) associado ao fentanil (8 µg.kg-1), não foram observadas alterações significativas na

freqüência cardíaca e na pressão arterial média. Resultados similares não foram encontrados nos pacientes que receberam somente tiopental sódico (Martin et al., 1982).

No momento M1, uma hora após a indução da anestesia, os animais já estavam hemodinâmicamente estáveis uma vez que, em ambos os grupos, os valores da freqüência cardíaca foram semelhantes e dentro da faixa de normalidade para cães do porte estudado. O plano anestésico proporcionado pela infusão contínua do fentanil e do tiopental sódico mostrou-se adequado para manutenção desta estabilidade. Em ambos os grupos a freqüência cardíaca aumentou a partir da instalação do pneumoperitônio.

A maioria dos trabalhos publicados na literatura relata que a freqüência cardíaca mantém-se inalterada após a instalação do pneumoperitônio (Walder & Aitkenhead, 1997; Branche et al., 1998; Martin et al., 2001;).

Ishizaki et al., 1993, em um modelo experimental com cães anestesiados com pentobarbital sódico e submetidos a pressões intra- abdominais de 8, 12 e 16 mmHg, constataram que a freqüência cardíaca manteve-se sem alterações significativas, quando comparada aos valores obtidos antes da insuflação e que se mantiveram inalterados por 3 horas após o estabelecimento do pneumoperitônio.

Myre et al., 1998, estudando pacientes submetidos a colecistectomia por via laparoscópica que foram anestesiados com tiopental

sódico, fentanil, isoflurano e óxido nitroso também observaram estabilidade na freqüência cardíaca. Já Mann et al., 1999, em trabalho experimental com porcos anestesiados com cetamina e pentobarbital sódico e submetidos à pressão intra-abdominal de 15 mmHg, verificaram que a freqüência cardíaca manteve-se sem alterações significativas durante 40 minutos, período de duração do estudo.

Outras pesquisas, porém, descrevem aumento da freqüência cardíaca após a instalação do pneumoperitônio, como a de Ho et al., 1992, que, estudando porcos submetidos a colecistectomia por via laparoscópica anestesiados com cetamina e pentobarbital sódico cuja pressão intra- abdominal foi mantida em 15 mmHg, constataram aumento da freqüência cardíaca após a instalação do pneumoperitônio. Também Berg et al., 1997, em pacientes submetidos a pneumoperitônio com PIA de 12 mmHg verificaram taquicardia após a instalação do pneumoperitônio.

Neste estudo o aumento da freqüência cardíaca ocorreu após a instalação do pneumoperitônio (tabelas 1 e 2, figura 1) visto que os animais já estavam hemodinâmicamente estabilizados antes do inicio da insuflação do CO2. Os valores da freqüência retornaram aos níveis

O aumento na freqüência cardíaca poderia ser, em parte, induzido por resposta simpática reflexa secundária à hipercapnia (Rasmussen et al., 1978), o que não parece ter acontecido uma vez que somente os animais do grupo 1 apresentaram aumentos na PaCO2 após a

instalação do pneumoperitônio, aumento este clinicamente não significativo e que se manteve inclusive em M4 (tabelas 55 e 56, figura 28), momento no qual os valores da freqüência cardíaca retornavam aos valores iniciais.

A ausência de estímulo cirúrgico afasta a possibilidade de o trauma ser a causa do aumento na freqüência cardíaca.

Como os animais tiveram livre acesso à água até os momentos que antecederam o início do experimento, fica descaracterizada possível hipovolemia como causa do aumento na freqüência cardíaca, como pode ser verificado através da pressão de átrio direito e do índice cardíaco e sistólico (tabelas 5, 6, 9, 10, 11 e 12, figuras 3, 5 e 6).

Assim sendo, parece que o aumento na freqüência cardíaca observado em ambos os grupos experimentais foi decorrente das alterações induzidas pelo aumento da pressão intra-abdominal, desencadeando respostas dos sistemas simpático e endócrino, as quais exerceram seus efeitos sobre o sistema cardiovascular.

Considerações finais: a freqüência cardíaca aumentou de maneira similar, nos dois grupos de estudo. Portanto, as modalidades de ventilação utilizadas no experimento, volume ou pressão, não determinaram diferenças na freqüência cardíaca entre os grupos.

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