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1. INTRODUÇÃO

3.4 Funções Específicas do Ente Sindical

3.4.1 Função econômica

preferência entre os trabalhadores tomando como critério de discrimen o fato de este ser ou não filiado, posto que contrária à liberdade sindical15.

Há, também, um ponto que merece uma reflexão devida, cuja discussão apenas ora se levanta. Trata-se de definir se há alguma relação entre a liberdade de filiar-se ou não a um sindicato e os limites da atuação da pessoa jurídica em prol dos seus associados. Em suma, é preciso se questionar que tipo de direitos pode o sindicato defender em prol dos seus membros. Mais à frente, quando for analisado o alcance do artigo 8º, inciso III, da Constituição de 1988, será preciso enfrentar a discussão se seria admissível a defesa em juízo de direitos estritamente individuais sem qualquer vinculação com a noção de categoria.

Outro ponto que merece realce é que a partir da leitura do princípio da liberdade sindical, muito se tem questionado sobre as disposições minudentes da CLT não apenas no que se refere à investidura do ente sindical, mas até, por exemplo, com relação à estruturação dos órgãos internos, hoje, ainda disciplinados pela CLT: Diretoria, Conselho Fiscal e Assembleia Geral. A dúvida que se levanta é: tal matéria deveria ser objeto de lei ou o sindicato, ele próprio, deveria definir a forma como se estrutura internamente? A resposta, à luz do princípio da liberdade sindical, aponta no sentido de que a interferência estatal nesse particular revela-se indevida. Pois bem. É nesse choque entre as normas da CLT e os princípios constitucionais que se passa a analisar as funções que são atribuídas ao sindicato.

em que é devida a contribuição sindical) e da empresa (importância proporcional ao capital social da firma ou empresa, registrado nas respectivas Juntas Comerciais ou órgãos equivalentes, mediante a aplicação de alíquotas). (BRASIL, 1943).

O fato é que referida contribuição sempre foi bastante criticada, na medida em que seu caráter compulsório tenderia a violar o princípio da liberdade sindical. Sustentava-se que, assim como a agregação teria um caráter espontâneo, a manutenção e/ou custeio não poderia provir de um imperativo legal. Far-se-ia necessário que os próprios membros, de forma espontânea, decidissem pelo pagamento da contribuição sindical, sendo esta a única interpretação compatível com um sistema sindical pautado no princípio da liberdade.

Em meio a intenso debate no âmbito do Congresso Nacional, editou-se a Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017 que, alteando o artigo 579 da CLT, passou a prescrever que o desconto da contribuição sindical estaria condicionado à autorização prévia e expressa dos que participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal. (BRASIL, 2017a.

O assunto é delicado porque a contribuição sindical possui previsão no texto da constituição de 1988 e, por essa razão, não poderia o legislador infraconstitucional simplesmente suprimir o instituto. A solução engendrada foi de manter a contribuição sindical, mas retirando-lhe o caráter impositivo tornando a validade da exação ligada a uma autorização prévia e expressa do obreiro.

A contribuição confederativa tem apoio no texto constitucional, de caráter facultativo, com a finalidade de custear as despesas da confederação. Aponta-se certa incoerência do Constituinte de 1988 na medida em que, mesmo tendo acolhido o princípio da liberdade sindical e conferido autonomia a tais entes, não só manteve a contribuição sindical obrigatória, como expressamente criou uma nova: a contribuição confederativa. De forma coerente, a jurisprudência perfilhou entendimento no sentido de que apenas os filiados devem arcar com o pagamento de tal contribuição sendo indevida pelos demais integrantes da categoria não filiados16.

A contribuição assistencialé uma espécie de contribuição geralmente prevista em acordos coletivos e convenções coletivas, cuja hipótese de incidência é o sucesso quando da celebração de tais ajustes17. Para Godinho, deveria ser adimplida por todos os trabalhadores:

16 Vale mencionar o Precedente Normativo 119 do Tribunal Superior do Trabalho cujo teor é o seguinte: PN-119-CONTRIBUIÇÕES SINDICAIS - INOBSERVÂNCIA DE PRECEITOS CONSTITUCIONAIS – (mantido) DEJT divulgado em 25.08.2014 “A Constituição da República, em seus arts. 5º, XX e 8º, V, assegura o direito de livre associação e sindicalização. É ofensiva a essa modalidade de liberdade cláusula constante de acordo, convenção coletiva ou sentença normativa estabelecendo contribuição em favor de entidade sindical a título de taxa para custeio do sistema confederativo, assistencial, revigoramento ou fortalecimento sindical e outras da mesma espécie, obrigando trabalhadores não sindicalizados. Sendo nulas as estipulações que inobservem tal restrição, tornam-se passíveis de devolução os valores irregularmente descontados.” (BRASIL, 2016c).

Na mesma senda, o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula Vinculante nº 40 cujo teor é o seguinte: “a contribuição confederativa de que trata o art. 8º, IV, da Constituição Federal, só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo”. (BRASIL, 2017c).

17 Em sentido absolutamente minoritário, há posicionamento no sentido de que contribuição assistencial e contribuição confederativa configurariam o mesmo instituto. É esse o posicionamento de Nei Frederico Cano Martins:

“Contribuição confederativa e contribuição assistencial são a mesma coisa, subsistindo a contribuição sindical. A justiça do trabalho só pode fixar contribuição confederativa que beneficie organizações sindicais de trabalhadores

É que, pelo sistema constitucional trabalhista do Brasil, a negociação coletiva sindical favorece todos os trabalhadores integrantes da correspondente base sindical, independentemente de serem (ou não) filiados ao respectivo sindicato profissional. Dessa maneira, torna-se proporcional, equânime e justo (além de manifestamente legal: texto expresso do art. 513, e, da CLT) que esses trabalhadores também contribuam para a dinâmica da negociação coletiva trabalhista, mediante a cota de solidariedade estabelecida no instrumento coletivo negociado. (DELGADO, 2017, p. 141).

A mensalidade sindical, por seu turno, é o valor pago mensalmente pelos associados com o objetivo de garantir a manutenção das despesas ordinárias do ente sindical.

Feito esse panorama, cabe mencionar que a CLT prescreve, no artigo 564, que às entidades sindicais é vedado o exercício da atividade econômica. Contudo, referido preceito colide com a liberdade sindical consagrada pela Constituição de 1988 e, por essa razão, teria sido não recepcionado. (BRASIL, 1943). Aqui, estaria sendo violado o princípio da liberdade sob a dimensão da organização do ente sindical.

É próprio da liberdade e da autonomia da pessoa jurídica de direito privado as formas pelas quais haverá a manutenção de suas despesas ordinárias. Nesse ponto, haveria uma grande liberdade à gestão para definir as inúmeras formas existentes nas relações comerciais, civis e econômicas, obviamente respeitadas as normas cogentes que incidem sobre todos os concidadãos. Agora, a postura de vedar a atividade econômica cria uma situação anacrônica: faz o sindicato depender da contribuição sindical que, agora, sequer mais é compulsória.

Seja em razão do princípio da liberdade sindical, abraçado em parte pela Constituição de 1988 e amplamente preconizado pela Organização Internacional do Trabalho, seja em razão de não mais haver o caráter compulsório da contribuição sindical, afigura-se manifesto que a sobrevivência do sindicato demanda liberdade para a escolha das fontes de renda e, pois, das eventuais atividades econômicas que se reputem pertinentes. Nesse sentido é o posicionamento de José Claudio Monteiro de Brito Filho:

Se as associações sindicais gozam de liberdade de administração, não podendo sofrer a interferência do estado, como preceitua o art. 8, inciso I, da CF/88, é obvio que elas podem exercer atividade econômica, desde que o façam por meio de atividades lícitas e que sejam necessárias para o cumprimento de sua finalidade que, não é demais repetir, é coordenar e defender interesses profissionais e econômicos, em prol de trabalhadores e empregadores. (BRITO FILHO, 2017, p. 154).

No mesmo sentido é a posição de Maurício Godinho Delgado:

A circunstância de o sindicato exercer atividades econômicas para melhor prover suas funções sindicais combina-se mais propriamente, inclusive, com a noção de sindicato livre, pessoa jurídica de direito privado. Ao reverso, a noção de sindicato como braço do Estado, pessoa jurídica de direito público ou exercente de atividades estatais, é que se choca com a autonomia econômica da atividade sindical. Nesse caso, a proibição de atividades econômicas é um dos instrumentos de controle mais eficazes sobre a organização e vida so sindicalismo – situação incompatível com a regência constitucional deflagrada pelos princípios de liberdade e autonomia sindicais. (DELGADO, 2017, p.

131-132).

(não de empregadores), e, assim mesmo, somente mediante prévia autorização da assembleia geral correspondente”.

(MARTINS, 1991, p. 32).

A conclusão a que se chega é que o sindicato, à luz dos princípios insculpidos na Constituição de 1988 e da normatização internacional, não poderia sofrer restrições indevidas quanto às atividades econômicas que pode vir a exercer. As limitações que se lhe impõe devem ser as mesmas que se impõem às pessoas jurídicas em geral.

Entendimento em sentido diverso não permitiria que o sindicato desenvolvesse suas atividades a contento e torná-lo-ia cada vez mais dependente de fontes subsidiadas para sua atuação, o que se mostra incompatível com sua qualificação como pessoa estrita de direito privado e com a liberdade apregoada pela Constituição de 1988 e pela OIT.