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FUNÇÃO PANCREÁTICA

No documento Manual de Patologia Clinica Veterinaria[1] (páginas 98-103)

MÓDULO I: HEMATOLOGIA

PARTE 10: FUNÇÃO PANCREÁTICA

O pâncreas é composto de duas partes, as porções endócrina e exócrina, com um estroma único. Deste modo, problemas principalmente inflamatórios, que acometam uma destas porções podem por contigüidade afetar a outra.

10. 1. Pâncreas exócrino

A. Fisiologia pancreática exócrina

A secreção pancreática é composta de uma mistura de enzimas e substâncias diluídas em solução de água e bicarbonato. As enzimas são produzidas por células acinares do pâncreas, arranjadas em aglomerados ao redor dos ductos pancreáticos terminais. O fluido pancreático no cão possui um pH entre 8,0 e 8, 3, isosmótico com o plasma.

As células acinares secretam uma mistura de enzimas através dos ductos pancreáticos (um ou dois) localizados na porção do duodeno inicial, e estas enzimas estão envolvidas na digestão de proteínas, gorduras e carboidratos. O controle hormonal da secreção pancreática é realizado principalmente pela secretina e colecistoquinina (CCK), liberadas pela mucosa duodenal mediante estímulo vagal do sistema parassimpático.

As principais enzimas proteolíticas, que são secretadas como pró-enzimas inativas, são tripsinogênio, quimiotripsina e procarboxipeptidase. A ativação destas enzimas ocorre fisiologicamente na luz intestinal, e sua ativação prematura pode ocorrer, causando destruição tecidual. A lipase pancreática é secretada na forma ativa, mas sua atividade é exacerbada pelos sais biliares. Estes aumentam a eficiência da lipólise por ampliarem a área superficial de interface água-óleo, proporcionando ação da lipase hidrossolúvel. A lipase pancreática exibe atividade ótima em condições alcalinas e hidrolisa triglicerídeos a ácidos graxos e glicerol, mas mono e diglicerídeos também são produtos finais.

A amilase pancreática cataliza a hidrólise de amido e glicogênio para formar maltose e glicose residual. Vários outros órgãos, além do pâncreas, contêm amilases e sua diferenciação pode constituir um problema no diagnóstico das disfunções pancreáticas.

B. Doença pancreática exócrina

A doença pancreática, em suas várias formas, não é incomum em cães e gatos, podendo ocorrer também nas demais espécies. O pâncreas exócrino pode ser afetado por  processos agudos ou crônicos, que podem levar a problemas digestivos associados à insuficiência pancreática.

C. Pancreatite aguda

A pancreatite aguda nas espécies pode ser de variável intensidade, causando desde discreto edema até necrose do tecido pancreático. As causas desta patologia ainda não são completamente conhecidas, e provavelmente sejam multifatoriais. Dentre os fatores incluem- se obesidade, dieta desbalanceada e rica em gorduras, isquemia tecidual, refluxo biliar, traumas abdominais, hipercalcemia e cálculos pancreáticos, hiperlipemia obstrutiva e agentes infecciosos.

A liberação de enzimas proteolíticas, glicolíticas e lipolíticas ativadas dos constituintes pancreáticos são o mecanismo principal da patogênese da pancreatite aguda. Este processo ativa diversas vias inflamatórias, como a via de complemento, cininas, coagulação, e sistema fibrinolítico.

O diagnóstico de pancreatite aguda é feito pelos sinais de dor abdominal aguda, vômitos, apatia e anorexia. Em associação ao hemograma, podem ser realizados exames bioquímicos mais específicos. A hiperamilasemia ocorre somente após 12 horas do início do processo, e pode ser um indicativo da injúria das células acinares e da obstrução do ducto pancreático. Entretanto as concentrações séricas de amilase no cão podem aumentar por  causas extrapancreáticas, devido as isoenzimas localizadas nos intestinos, rins, útero, ovários e testículos. Assim admite-se que somente um aumento de 3 a 4 vezes nos valores desta enzima pode ser diagnóstico para a pancreatite aguda.

As concentrações de lipase perduram por mais tempo elevadas, quando comparado à amilase. No entanto também há problemas na utilização isolada desta enzima como recurso

diagnóstico, já que o tecido renal e hepático também possuem estas isoenzimas. Deste modo deve ser avaliado o aumento conjunto de lipase e amilase, e excluir ao máximo as causas extrapancreáticas deste aumento sérico. Isto pode ser obtido com exames de função renal e hepática, associado a exame clínico criterioso. Como o pâncreas produz um fator clarificador  do plasma, a lipoproteína lipase, na sua ausência pode haver lipemia plasmática evidente, que pode ser relacionada à necrose do tecido pancreático. Pode-se observar ainda na pancreatite aguda, aumento de TGP ou ALT, fosfatase alcalina e colesterol.

D. Insuficiência pancreática

A pancreatite crônica é resultado de repetidos ataques de pancreatite aguda com destruição progressiva do tecido acinar e reposição com tecido conectivo fibroso, e pode levar  à insuficiência funcional do pâncreas, que se caracteriza por perda de peso, polifagia e esteatorréia. Estes sinais são decorrentes da insuficiência na produção de enzimas pancreáticas, devido à destruição do tecido secretório.

A amilase e lipase séricas podem estar aumentadas numa exacerbação inflamatória do processo. No entanto, com a completa destruição do tecido acinar e conseqüente fibrose, provavelmente as enzimas estarão nos valores normais, ou mesmo reduzidas.

O exame das fezes constitui exame de triagem importante. O encontro de gorduras por  meio de coloração de Sudam e visualização microscópica de fibras musculares mal digeridas são indícios de disfunção pancreática.

Há teste de função pancreática de fácil realização que podem fornecer importantes informações a cerca deste órgão.

10. 2. Pâncreas endócrino

A. Fisiologia pancreática endócrina

O pâncreas endócrino é encarregado de manter o equilíbrio nutricional do organismo, e o faz através do glucagon e insulina, produzidos respectivamente pelas células α e β das ilhotas de Langerhans.

A liberação de insulina é estimulada pela glicose, aminoácidos, hormônios (glucagon, gastrina, secretina). Sua liberação é inibida pela hipoglicemia e somatostatina. O fígado é o sítio primário de degradação da insulina, e este hormônio possui uma meia vida de 5 a 10 minutos. A principal ação da insulina é agir nas membranas celulares de maneira a permitir a entrada de glicose, mas também possui ação anabólica e de síntese, de ingestão alimentar e quociente respiratório, reduzindo os níveis séricos de glicose, cetona, ácido graxo, fosfato, potássio e aminoácidos.

B. Doença pancreática endócrina

A doença pancreática endócrina principal e mais freqüente é a diabetes melito. A doença ocorre em cães mais velhos, mais em fêmeas, frequentemente em associação ao estro e sem predisposição racial. Esta deficiência funcional pode ser causada por insuficiente secreção de insulina (tipo I) ou ainda por redução nos receptores periféricos (tipo II).

A diabete tipo I está diretamente relacionada à deficiência do pâncreas em produzir  insulina e, portanto seu tratamento é baseado na administração exógena deste hormônio. Dentre os fatores predisponentes, inclui-se genética, gestação, pancreatites, alterações hormonais, obesidade, medicamentos (glicocorticóides).

A diabete tipo II, também chamada insulina não dependente por apresentar níveis normais de insulina, ocorre mais em animais velhos e obesos. O aumento de tecido adiposo parece ter influência na inibição da ação da insulina nos seus receptores. O tratamento é realizado com base na dieta alimentar associado a hipoglicemiantes, e o monitoramento deve ser constante, pois esta patologia pode evoluir para o tipo I.

Em ambos os casos, a baixa de insulina ou perda de sua ação, resulta em liberação de glicose, aminoácidos e ácidos graxos livres, com gliconeogênese a partir de aminoácidos. Como a glicose está indisponível, o organismo utiliza a via alternativa de obtenção energética, a partir das gorduras. Há aumento sérico de corpos cetônicos devido ao metabolismo gorduroso, com cetonemia, cetonúria, acidose sistêmica com cetoacidose, traduzindo os sinais de vômito, anorexia, depressão e fraqueza. A hiperglicemia é evidente, com conseqüente glicosúria, poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso.

Para obtenção de diagnóstico, o primeiro passo é a realização de urinálise com encontro de glicosúria acompanhada ou não de cetonúria, em associação à história e sinais

clínicos característicos. Em caso afirmativo, pode-se realizar: C. Testes bioquímicos pancreáticos

Dosagem sérica de glicose

A dosagem sérica de glicose deve ser precedida de jejum por no mínimo doze horas, se a condição do animal permitir. A hiperglicemia pode estar associada à diabetes melito, mas também é observada em animais anestesiados (mobilização de glicogênio hepático para a circulação), em animais em choque (aumento de glicocorticóídes) e pancreatites. A hipoglicemia pode ser encontrada no aumento de insulina (tumores), na acetonemia (vacas leiteiras e ovelhas gestantes), na hipoglicemia dos leitões.

Dosagem sérica de colesterol

Como a via normal de obtenção energética está bloqueada, o organismo utiliza os lipídios como fonte de energia. O aumento de colesterol é encontrado na diabetes melito, mas também em animais com dieta rica em gorduras, no hipotireoidismo, na icterícia obstrutiva e pancreatites. Na doença renal crônica e hepatopatias também há aumento de colesterol devido à hipoalbuminemia, pois a albumina é o carreador de colesterol. A diminuição de colesterol é observada nas hepatites graves, hipertireoidismo e nas caquexias e anemias graves.

Teste de tolerância à glicose

Este teste confirma o diagnóstico de diabetes melito, e pode ser utilizado para se saber  o grau do processo e o tipo de diabete. Deve ser realizado paralelamente em animal controle sadio. Para que se tenha maior controle, o ideal é a administração intravenosa de glicose, na dose de 0,5g/kg, diluida. Os níveis séricos de glicose devem retornar ao normal dentro de 60 a 90 minutos. Caso a administração seja por via oral, o prazo é de 120 minutos.

QUADRO 10.1. Quadro comparativo entre os exames, pancreatite aguda e Insuficiência Pancreática.

Exames Pancreatite aguda Insuficiência pancreática

Fezes aspecto pode estar normal

gorduras e proteínas mal digeridas tripsina presente

fétida, pálida, volumosa, mole, gorduras e proteínas mal digeridas tripsina ausente

Lipídios absorção normal ou reduzida reduzida

Enzimas séricas aumento de lipase e amilase (>4 x) lipase e amilase aumentadas ou não

Glicose normal ou aumentada aumentada

Lipemia (jejum) positiva negativa

Outros aumento de amilase urinária

aumento de uréia / creatinina aumento de colesterol ou não leucocitose por neutrofilia

glicosúria

leucocitose por neutrofilia ou não curva glicêmica anormal

aumento de colesterol

ROTEIRO DE AULA PRÁTICA N. 10: função pancreática

Teste de absorção

Avalia função de lipólise e absorção de lipídios. Deve ser realizado em animal sadio paralelamente ao teste. Após jejum de 12 a 24 horas, colher sangue com heparina e centrifugar. Administrar ao animal 3mL/kg PV de óleo de milho, colhendo amostras sanguíneas seriadas com heparina, após 30 minutos, uma, duas e três horas. Observar turbidez do plasma após centrifugação (figura 10.1):

Mantendo-se límpido o plasma do animal teste, repetir a prova com administração conjunta de pancreatina (composto enzimático pancreático com lipase).

FIGURA 10.1. Esquema ilustrativo da prova do óleo de milho. Prova do filme de raios-X

Avalia a presença de tripsina. Deve ser feito em três amostras: uma sem fezes, outra com fezes de animal sadio e outra de fezes teste. Acompanhe a seguir:

FIGURA 10.2. Esquema ilustrativo da prova dos Raios-X. Prova da gelatina

Avalia a presença de tripsina. Deve ser feito em três amostras: uma sem fezes, outra com fezes de animal sadio e outra de fezes teste, conforme figura 10.3:

MÓDULO 3: CITOLOGIA

No documento Manual de Patologia Clinica Veterinaria[1] (páginas 98-103)

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