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3. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.2.2. Funções do Conselho Escolar ou Disfunção Colegiada?

Estando o CE em construção, conforme desenharam os entrevistados, ou ainda, em permanente reconstrução [ousamos dizer isto], buscamos saber dos professores conselheiros suas opiniões sobre a omissão ou não existência legítima via decreto, das funções mobilizadora e consultiva na composição do CE da rede municipal de ensino de Salvador, compreendendo que estas estão muito estreitadas com os mecanismos de gestão democrática: participação e autonomia.

Os registros que temos em relação a estas funções na visão dos conselheiros são os seguintes:

a) “São funções que têm uma missão bem específica de tá provocando, movimentando, aguçando (...) São importantes, mesmo que não esteja na legislação local” (conselheira Escola Rosa);

b) “São importantes, não sei por que não aparecem? Deveriam constar sim.” (coordenador do CE Escola Azul);

c) “Poxa, a mobilizadora... tem que ser incluída.” (conselheira Escola Laranja) e

d) “Deveria trabalhar com as quatro funções” (conselheira Escola Branca).

As conselheiras das Escolas, Amarela e Vermelha, de modo mais inquieto e mais específico quanto a função mobilizadora, assim se expressaram:

Eu fico até sem entender porque, já que é para existir por que não existe no nosso município? É para diminuir (balançando a cabeça em negativo)... não entendo. (coordenadora do CE da Escola Amarela)

Eu acho que a mobilizadora é extremamente importante, é a que vai intermediar e que vai reforçar o papel do CE, chamar mais a responsabilidade, e também divulgar. É um meio que os pais tragam as demandas para o Conselho e não só esperar pela direção. Parece que é para não funcionar! (conselheira da Escola Vermelha)

A criação dos Conselhos Escolares a partir principalmente da atual LDB 9394/96 é parte integrante da reforma da educação brasileira. Com base nas leituras sobre esta temática, com base em Bourdieu (1993), Souza (2001), Torres (1997) e Aragão (2003), pode-se dizer que se trata da efetivação de uma política tipicamente neoliberal no campo educativo que, de certo modo, forja a participação e a autonomia a sua maneira e interesse. Neste contexto, ou sob a ótica do neoliberalismo “[...] a cidadania é voltada para o mercado ou adquirida via mercado. Trata-se de um processo de desvirtuamento no qual o cidadão transforma-se em clientes” (GOHN, 2008, p. 29). Portanto, a essência do direito é sobreposta pela oferta em termos materiais e interessadamente ideológicos.

É possível, diante do cenário metamorfoseado via neoliberalismo, que a idealização e existência de um CE de fato, enquanto mecanismo efetivamente democrático perca espaço, em função da relatividade de seus protagonistas: a participação que “só se obtém quando se adquire a capacidade de ser um sujeito histórico” (GOHN, 2008, p. 33) e a autonomia que “busca referenciais na cultura política acumulada” (GOHN, 2008, p.33) o que poderá dificultar ou inviabilizar ou ainda maquiar a práxis que compreendemos como necessária que é de uma “administração para a efetividade política” (SANDER, 2007, p. 73-87).

Notemos que, além da autonomia dos sujeitos e do sistema de ensino serem relativas, temos também um ambiente, conforme expressaram os conselheiros que, em sua maioria, não compreendem por que disto ou daquilo. Talvez falte transparência por parte do Órgão Central local, ou do Brasil em suas esferas, ou ainda rarefeita experiência histórica e crítica dos professores frente às possibilidades relativas e efetivas quanto aos aspectos autonomia e participação no âmbito prático. Esta situação pode estar relacionada ao não entendimento ou a não oportunidade, ainda não concedida aos conselheiros de visualizarem que o sistema de ensino é parte integrante de um contexto global e sua política, estando os executores com o papel de “servir às exigências externas sob as aparências de independência e neutralidade” (BOURDIEU e PASSERON, 1982, p. 189).

Este fenômeno pode vir a comprometer, ou como temos visto, tem comprometido a ação coletiva politicamente qualificada em função do desde antes, comprometimento imaginário dos agentes educacionais executores em suas formações pontuais em nível de graduação, e não formação, ou formação em serviço minimizado no campo da política educacional efetiva ou ainda da ciência política.

Nacionalmente há uma recomendação quanto à composição das funções mobilizadoras e consultivas também dos CE´S e que, o município em estudo, se detém à orientação e execução das funções deliberativa e fiscal, instituindo dois conselhos paralelos. No município de Salvador, são organizados até aqui, dois conselhos ao invés de um, conforme decreto Lei 6.630/2005. Observamos nesta ambiência a separação em detrimento da união destes agentes escolares. Bom que atentemos para o que Gadotti (2010, p. 261) alerta: “os CE´S fracassarão se forem instituídos como uma medida isolada e burocrática”. Portanto, interessa a quem ou a que a efetivação ou não efetivação legítima e urgente de um CE ativo? Questionamos.

Importante que reflitamos sobre o seguinte grifo contraditório: “Como podem escravos que nem sabem que são escravos, emanciparem-se?” (MARCUSE,1998, p. 141).

Sendo a autonomia conquistada, indagamos em sintonia com Marcuse: Qual banco de dados e respectivas informações está disponibilizado aos professores, ou também, como têm buscado estes professores suas emancipações, suas transições de sujeitos passivos para agentes ativos? Conforme Bourdieu, este banco tríplice é composto pelos capitais escolar, cultural e social assentados sobretudo no capital econômico. É este quem dirá quem somos, o que idealizamos e mais, o que pretendemos manter ou transformar, considerando nosso lugar ou posição social dispostos no campo de poder.

Pensamos que em termos práticos e técnicos, cabe aos legisladores e administradores diretos deste município, em suas posições de representatividade, a tarefa de responder ou atender a indignação da coordenadora do CE da Escola Amarela que resume por demais a necessidade de se instituir um único conselho que possa desempenhar as quatro funções prescritas nos documentos oficiais: “Já que é para existir, porque não existe no nosso município? É para diminuir [...] não entendo [movimentando a boca e a cabeça em negativo e desacordo] ”.