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Funcionamento e manutenção

No documento Assistência a Criança Abandonada (páginas 99-103)

A ASSISTÊNCIA À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE ABANDONADOS NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: O

3.21 Estrutura Física

3.2.2 Funcionamento e manutenção

O funcionamento do Orfanato, quando da sua criação, era feito informalmente, sem documentação que especificasse normas etc.

Tem-se conhecimento, de acordo com declarações repassadas por ex-internos, que em 1926 o Orfanato passa ter um regimento informal, de forma que os meninos tivessem algumas regras e que as doações fossem sistematizadas.

O primeiro Estatuto da instituição, segundo pesquisa nos arquivos do Orfanato, data de 1942. O documento em questão, que naquela época não teve o nome de Estatuto, mas sim de Certidão, foi lavrado por Maria Leão Castello Lopes Ribeiro, no dia 12 de janeiro de 1942.

De acordo com a Certidão, o Orfanato passaria a ter um provedor sem remuneração, indicado pelo Bispo da Diocese e pelo Governador do Estado. Neste aspecto, consta que o Orfanato teve, até o ano de 1990, onze provedores: Foram eles: Alberto de Oliveira Santos, Armando de Oliveira Santos, Arnulfo Mattos, Nicanor Paiva, Carlos Alberto

Abaurre Cabral, Paulo Ramos Travassos, Roberto Ribeiro de Castro, Dario Schneider, Maely Botelho Coelho, José Ramos Sobrinho e Jonas Ferreira Porfhirio.

Outra deliberação da Certidão de 1942 dá conta que o Orfanato só aceitaria órfãos de quatro a 10 anos, que permaneceriam na instituição até completar 13 anos de idade, quando seriam encaminhados para a guarda do Estado.

Na prática, segundo o ex-provedor Jonas Porfhirio, isto nunca aconteceu. Os meninos só saiam do Orfanato para casar ou trabalhar e morar com a família ou parentes.

Também estava previsto na Clausula 7 do documento que o Orfanato não receberia crianças aleijadas ou deformadas ou que sofressem de alguma moléstia contagiosa.

A Cláusula 17 dava franca entrada do Juiz de Órfãos no Orfanato em qualquer horário do dia, o que, segundo relatos informais de funcionários e ex-funcionários, nunca acontecia.

Sobre a manutenção do Orfanato, a Cláusula 19 prevê a participação das Prefeituras Municipais, dos Governos Estadual e Federal. Na prática, apenas o Governo do Estado, através da Escelsa, passou a arcar com a conta de luz do Orfanato, o que acontece desde o o Governo de Gerson Camata, em 1984.

Em 1957, esta Certidão foi, nos mesmos termos, transformada em Estatuto.Com poucas alterações, feitas por Irmã Marcelina, em 1971 é registrado um novo Estatuto, passando o Orfanato a ser nomeado Artesanato –Obra Social Cristo Rei.

Nesse Estatuto constava, em seu primeiro capítulo, que a finalidade do Artesanato Obra Social Cristo Rei é dar guarda, instrução, formação e educação de crianças do sexo masculino, órfãos e/ou desamparados, ou quando os pais comprovassem a incapacidade para mantê-los. O documento estipula a idade máxima de 15 anos para ingresso na entidade.

Quanto à Administração, consta no capítulo dois que a instituição continuaria a contar com um provedor, nomeado pelo Arcebispo Metropolitano, por um mandato de dois anos, prorrogáveis por mais dois anos, desde que aprovado pelo Arcebispo.

Nota-se que, embora Irmã Marcelina tenha dado faculdades ao Arcebispo Metropolitano de nomear o provedor, o que denotava uma proximidade e interação com a Igreja, o artigo cinco desse capítulo prevê que a Irmã Coordenadora, no caso Irmã Marcelina, seria a parceira do provedor, com amplas liberdades de atuação e decisão.

Esse fato fica evidente quando se compara as atribuições do provedor e da Irmã Coordenadora, no artigo sexto do mesmo capítulo. Enquanto a principal atribuição do provedor era representar a instituição em juízo ou fora dele, movimentar contas bancárias e autorizar o tesoureiro a substituí-lo, quando necessário; cabia à Irmã Coordenadora

Dirigir a instituição, nomear o conselho interno;, zelar pela disciplina e boa ordem interna;, responsabilizar-se pela formação moral e religiosa dos interno;, articular-se com os professores a fim de não se afastarem das finalidades da Obra Social; falar em nome da instituição informalmente e se reunir com o tesoureiro mensalmente, para um balanço da parte financeira da Instituição ( Estatuto –Obra Social Cristo Rei, Cap.II, art.6,º a-h, de1º de agosto de 1971)

Tais atribuições davam à Irmã Marcelina a autoridade de dirigir, de fato, o Cristo Rei. A necessidade do provedor era mera formalidade e uma maneira de poupar a Irmã Marcelina da parte burocrática da instituição, embora, com seu já conhecido pulso firme, a Irmã nada deixava ser feito ou desfeito sem sua autorização.

Esse Estatuto também trazia, em seu capítulo III, artigo 9º, que a capacidade inicial do Orfanato era de 160 crianças, podendo ser ampliada conforme necessidade e autorização da Diretoria, que deveria levar em conta o bem-estar das crianças, evitando a superlotação.

No tocante à manutenção, o capítulo IV descreve que o Artesanato –Obra Social Cristo Rei, agora com personalidade jurídica, pode receber recursos provenientes de subvenções, contribuições, auxílios, doações, além de eventuais produtos industriais de seu próprio artesanato e de suas plantações.

Foi a partir dessa abertura jurídica que Irmã Marcelina criou o carnê de contribuição e conseguiu, junto ao Governo do Estado, a garantia do pagamento da conta de luz mensal do Orfanato.

Contudo, diante da necessidade de conclusão das obras da nova sede, que era feita aos poucos, Irmã Marcelina ainda enfrentou dificuldades, já que o que arrecadava nos moldes tradicionais não estava dando conta de manter as despesas. O cotidiano da instituição era sempre incerto no que diz respeito às doações. Irmã Marcelina priorizava a alimentação e a educação dos meninos, mas isso não era tudo. Materiais para as oficinas, roupa de cama etc ficavam constantemente desfalcados. Era preciso sistematizar e arranjar alternativas para novas doações.

A implantação do carnê de contribuição foi uma importante ferramenta para conseguir novos doadores e, assim, melhorar a arrecadação, já que ele era entregue a pessoas que queriam ajudar de forma mensal com o Cristo Rei. O valor da contribuição era estipulado pelo próprio voluntário e a Irmã fazia questão de todo mês conferir as doações e fazer uma visita de “lembrança” a quem estava com a contribuição em atraso.

Foto 15. Segundo carnê, foto tirada em 1974.

No documento Assistência a Criança Abandonada (páginas 99-103)