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anos de fundação ininterruptos.

No documento Jacareí - Crônicas da cidade (páginas 103-109)

O parque da minha cidade Geraldo José da Silva

aos 90 anos de fundação ininterruptos.

Antigamente, Jacareí era servida por trens cujos trilhos cor- tavam o município ao meio na principal praça da cidade, a Con- de de Frontin. Eles faziam o trajeto São Paulo/Rio de Janeiro, e a parada dos trens de passageiros na ‘Estação Jacareí’ era muito comemorada e concorrida, além de ser atração imperdível para os moradores.

Quando estava próximo da hora do trem chegar, os vende- dores movimentavam-se para adentrar nos vagões e oferecer suas mercadorias. Desde jornais e revistas – do pioneiro Otávio Scia- marella –, aos famosos Biscoutos Jacarehy, na sua inconfundível lata quadrada azul ou em pequenos pacotes individuais, entre ou- tros produtos. Era uma festa! Além de proporcionar momentos

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inesquecíveis, o comércio local vivia uma grande euforia.

Hoje, o trem não existe mais. Há anos desativaram a linha e, tempos depois, até seus trilhos foram retirados, restando a velha estação restaurada servindo de ‘cartão postal’.

Mas, ainda bem que nem só de trem vivia nossa pacata ci- dade interiorana. Nesta mesma e importante praça existia – e existe até os dias atuais – uma tradicional atração. A famosa Sorveteria Leal, um marco histórico no comércio que chega, em 2020, aos 90 anos de fundação ininterruptos; sempre no mesmo local, encravada entre a Igreja do Bom Sucesso e o antigo Cine Rio Branco, que foi desativado para ceder o espaço para a Igreja Universal. Atualmente, a Sorveteria Leal pertence aos herdeiros da família Nascimento, fundadora, à frente do negócio. Ou seja: “de pai para fi lho desde 1930”.

Quando o trem partia, as pessoas se dirigiam à famosa Sor- veteria para saborear suas delícias, ou para um simples e aromá- tico cafezinho preparado com muito carinho.

A Sorveteria Leal goza de um grande prestígio. Tem cliente- la fi el, inclusive de cidades vizinhas. Tudo o que vende é produ- ção própria e receitas da família. Desde o sorvete de massa, seu carro-chefe, até o delicioso bolo caseiro, passando pela coalha- da natural, de simples receita, porém nunca revelada. Também famosos a salada de frutas, o pão francês com queijo fresco, o chocolate quente, nos dias frios,os pastéis... E o inigualável cafe- zinho disponível o dia todo. São sabores inesquecíveis.

Durante a parada do trem algumas pessoas se dirigiam à fa- mosa sorveteria para saborear suas delícias, ou um simples e aro- mático cafezinho preparado com muito carinho. Este tradicional ponto é marco no comércio local; resistiu ao tempo e a numerosas crises, foi ponto de encontro de importantes personalidades e po- líticos de todos os matizes. Bastava chegar um ilustre visitante à nossa cidade, que não poderia partir sem conhecer a Casa e sabo- rear seu famoso cafezinho de coador de pano. Bons tempos.

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Pedalando na chuva

Enéas Alves dos Santos

Hoje dou risada ao me lembrar

em cima da bicicleta vestindo terno e gravata e com a perna das calças presas com presilhas para impedir

que as barras enroscassem nas correntes

Lá pelas décadas de 1950 a 1960, na Rua João Américo da Silva (ou Tiradentes), existia o Bar do Maneco, muito fre- quentado por notívagos e boêmios que ficavam madrugada a dentro tomando cerveja e outras bebidas, bem como sabo- reando deliciosos quitutes. Era um espaço importante para quem gostava ‘da noite’.

Diga-se de passagem, os petiscos do Maneco eram delicio- sos e de grande variedade. Era um local simples e sem nenhum luxo ou formalidade. Aliás, a simplicidade era o cartão de visita do local. Fui lá várias vezes a partir de 1956 com meus amigos de futebol ou de passeio.

Nessa época havia, no início da Rua do Carmo (hoje Rua Pompílio Mercadante), quase em frente à Praça Conde de Fron- tin, a Padaria Santa Terezinha, que além de fazer deliciosos pães

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atendia como bar e lanchonete. Ela estava sempre cheia. Pudera, de frente para a praça, ao lado do Cine Rio Branco e do jardim dos footings da mocidade romântica. Neste tempo só os mais ricos – que eram poucos – possuíam carros e não existiam mo- téis. A diversão da juventude restringia-se aos cinemas, clubes e paqueras nas praças, além dos bares e bilhares.

A Padaria Santa Terezinha tinha um espaço para estacio- namento e guarda das bicicletas. Pagávamos uma pequena taxa e podíamos fi car tranquilos. Para quem morava em locais mais afastados do centro, como eu na Vila Formosa recém-criada pelo fazendeiro Zeca Moreira, era costume deixar lá o veículo.

Era um tempo em que para irmos ao cinema ou ao foo- ting colocávamos terno e gravata para fi car o mais alinhado possível. As moças colocavam os melhores vestidos, broches, brincos e colares para desfi lar seus encantos para nós que as paquerávamos no passeio.

Terno e gravata

Hoje dou risada ao me lembrar em cima da bicicleta vestin- do terno e gravata e com a perna das calças presas com presilhas para impedir que as barras enroscassem na corrente.

Quando chovia era mais engraçado. Pedalávamos com uma das mãos controlando a bicicleta e com a outra segurá- vamos o guarda-chuva aberto. Se ventasse, o único jeito seria ir a pé, empurrando o veículo. Acrescente-se ainda o fato que eu vinha pela Rua Barão, onde seu maior trecho era de terra batida, sem nenhum calçamento e cheia de barro. Só ao cruzar a General Carneiro, já próximo ao centro, perto da Fábrica de Tapetes Santa Helena, começava o calçamento de paralelepí- pedos. Mas nada disso nos impedia de estarmos à noite, nos fi nais de semanas e feriados, todos bem arrumadinhos para podermos atrair as donzelas.

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Havia na padaria uma passagem ao fundo que fazia a co- municação com o Bar do Maneco. Assim, ao guardarmos nos- sas bicicletas, poderíamos ir sossegados à praça ou ao bar. Lá encerrávamos as noites nos fi ns de semana. Isso, quando não íamos para os bailes do Elvira, Trianon ou Ponte Preta, os três principais clubes sociais da cidade.

O Maneco, apaixonado por galos de briga, realizava com- petições e organizava apostas. Eu fui ver uma certa vez; saí logo e nunca mais voltei. Fiquei com pena dos galos que bri- gavam e se feriam muito. Alguns morriam. Os apostadores e donos das aves gritavam e iam ao delírio com o espetáculo, para mim deprimente.

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Ao passar pela via Dutra no ‘retão’ de Jacareí, em plena madrugada, avisto a minha frente um grupo de pessoas numa movimentação incomum Jacareí (SP), maio de 2018, quase 3h da manhã de uma terça- -feira. Nono dia da paralisação dos caminhoneiros que haviam defl agrado uma greve nacional por melhores preços na tabela do frete e redução no valor do diesel.

Após uma verdadeira maratona de peregrinação por pos- tos de combustível, voltava eu para casa com o tanque do carro cheio e dois galões de reserva. Motorista de aplicativo, eu preci- sava abastecer para continuar trabalhando e, assim, garantir o sustento e pagar as contas.

Ao passar pela via Dutra, no ‘retão’ de Jacareí, avisto a mi-

Cuidado! Pelada na Dutra!

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