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Na rota dos interesses comerciais portugueses, desde as primeiras décadas do século XVI, o Guairá foi freqüentado por esses sertanejos que desenvolveram uma progressiva rede de relações com os indígenas e os espanhóis da Província do Paraguai. Desde o início do século XVI, aventureiros portugueses se propuseram à empreitada de atravessar o Guairá em direção ao Paraguai, guiados que estavam pelo ideal de conquista e enriquecimento no território que ainda tinha muito para ser desbravado. O que justifica a afirmação de Jaime Cortesão de que os sertanistas e mercadores portugueses precederam os jesuítas portugueses, os castelhanos religiosos e leigos na exploração do

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Guairá e no conhecimento geográfico dessa região64, pois já em

1562 Bartolomeu Velho representava em seus mapas a região do Guairá, numerosos índios; as penetrações paulistas. A necessidade de se obter passagem mais rápida e fácil para o Atlântico foram entre outros, provavelmente, os fatores que motivaram a fundação de vilarejos no espaço guairenho pelos espanhóis” 65.

Entre esses vilarejos encontra-se a Villa de Ontiveros fundada em 1554, como homenagem à cidade natal do capitão García Rodríguez de Vergara, que tinha planos de que o povoado se tornasse o ponto de acesso ao litoral brasileiro e o obstáculo aos avanços dos paulistas que penetravam na região em busca dos indígenas, sobre o quais acreditavam os castelhanos que eram pertencentes à Coroa Espanhola66. A respeito da presença dos

paulistas no território guairenho como um elemento motivador da fundação de Ontiveros, esclarece Luis Gonzaga Jaeger que: uma delegação de vários caciques do Guairá foi recebida pelo general Domingo Martínes Irala, governador do Paraguai, que lhe solicitavam um auxilio contra as invasões dos tupis e dos mamelucos de São Pablo.67.

Interno e Missões jesuíticas do Guairá. Toledo: Editora Toledo, 1997. p . 80.

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CORTESÃO, J. “A Província do Paraguai: Origens, Antecedentes Portugueses; Fundação, Processo e Termo”. Manuscritos da Coleção de Angelis - Jesuítas e Bandeirantes no Guairá (1549-1640). Op. cit. p. 69.

65

Ibid. p. 70.

66

LOZANO, P. Op. cit. Tomo I, Livro III. p. 14.

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Já obedecendo os interesses dos colonos espanhóis, habitantes da região do Guairá, que pressionavam o governador para a distribuição de encomiendas, foi dada ao capitão Ruy Diaz de Melgarejo, em 1556, a responsabilidade de encontrar um local adequado e fundar um segundo povoado guairenho. Melgarejo deu o nome de Ciudad Real ao recente vilarejo localizado três léguas ao norte de Ontiveros na foz do rio Piquiri. Para essa nova vila foram transferidos os poucos habitantes do primeiro, aproximadamente sessenta colonos, e a todos distribuídos cerca de quarenta mil

fuegos68.

Ramón Cardozo, usando dos escritos do historiador argentino Ruy Diaz de Guzmám, explica que o episódio da fundação de Ciudad Real se deu em ocasião da distribuição das

encomiendas por Irala. Muitos colonos ficaram descontentes não

receberam as suas encomiendas. Para satisfacer os descontentes e por ser o Guairá ‘escalón y paraje del camino del Brasil’, o gobernador, resolveu mandar fazer otra fundación ali. Para tanto, enviou o capitão Ruy Diaz de Melgarejo, o qual com cem soldados de Assunção, partiu para aquela terra, passou a otra parte de Paraná e deu fundação ao novo povoado, a tres leguas ao norte de Ontiveros, no dominio do cacique Guairá, no ano de 1556, no lugar

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Sobre a distribuição de encomiendas em Ciudad Real e o sentido de fuegos, Ramón Cardozo escreve “empadronados los índios se encontraram alrededor de cuarenta mil fuegos que se

da a desembocadura do rio Piquiri. Deu o nome de Ciudad Real. Para esse local mudou os poucos habitantes de Ontiveros.”69 As

atividades econômicas que passaram a desenvolver em Ciudad

Real foram a produção de vinho, açúcar, algodão e algumas

tecelagens.70

Um outro povoado despertou os interesses dos assuncenhos em explorar as potencialidades do Guairá em seu benefício econômico, seja utilizando os recursos humanos, como os indígenas para a encomienda, seja com os promissores recursos minerais. A notícia de que os guairenhos haviam descoberto pedras muito cristalinas e de cores variadas, as quais poderiam ser rubis, esmeraldas, ametistas, topázios, demandou a necessidade de fundação de um novo povoado que explorasse essas potencialidades: Villa Rica del Espiritu Santo71.

Acompanhado de quarenta soldados e alguns índios, coube novamente a Ruy Díaz de Melgarejo a tarefa, dada pelo governador da Província do Paraguai, Juan de Garay, de encontrar um local para mais um povoado no Guairá. Ávido pela perspectiva de exploração de metais preciosos na região, Melgarejo posicionou a recente vila em um local estratégico, às margens do rio Ivaí, junto

entiende, dice, cada fuego por um índio, su mujer e hijos, es decir uma família”. CARDOZO, Ramón I. Op. cit. p. 49.

69 Ibid. p. 48. 70 Ibid. p. 70. 71 Ibid. p 63-64.

a desembocadura do Corumbataí. O local apresentava-se distante em aproximadamente sessenta léguas de Ciudad Real, com um solo fértil, grande número de indígenas e sob a influência do líder indígena Coracibera.

Prontamente uma igreja e um forte foram edificados, demonstrando a forma como a presença secular dos colonos estava impregnada pelo elemento religioso. Nas declarações dos serviços prestados em sua missão Ruy Diaz de Melgarejo escreveu que a primeira coisa que mandou fazer foi uma igreja e deu início na Páscoa do Espírito Santo do ano de 1570.72.

Basta observar atentamente o nome do novo povoado para se perceber os interesses que moviam a ocupação do Guairá:

Villa Rica del Espíritu Santo. Vantagens materiais aliadas à uma

mentalidade que busca justificação no âmbito religioso. O padre Luís Gonzaga Jeager que o nome dessa ocorreu em esperança de descobrir ricas minas de metais preciosos e em comemoração da festa que a Igreja estava celebramdo.73

Acreditava-se que a riqueza mineral do local seria suficiente para resolver o problema da pobreza dos colonizadores, de projeção social, da ganância pelo enriquecimento fácil, ao se encontrar jazidas minerais, que envolvia a conquista e exploração de novos territórios. Ramón Cardozo ressalta a importância que

Melgarejo dá a riqueza mineral da região, sendo um dos motivos da fundação de Villa Rica.74

Não obstante o desejo de ricos metais preciosos, somente foram encontrados quartzo e ametista, únicas pedras de valor que se pôde retirar na exploração do local. Restava, então, volver as atenções para uma outra atividade que parecia apresentar maiores possibilidades de sucesso material, a exploração da mão-de-obra indígena.

72

Ibid. p. 53.

73

JAEGER, Luís Gonzaga, S.J. Op. cit. p. 100.

74

A esse respeito Ramón I. Cardozo, Op. cit p.52, escreve “Melgarejo asigno mucha importancia a la nueva poblacion por la riqueza mineral del lugar, que podia poner remedio a la pobreza de los conquistadores, será de mucha utilidad a la gentes que de España (…) los dichos metales e de la pedrería que en la dicha Província se han hallado y descubierto junto a las dichas minas e metales lo qual se cree cosa mui rica y de gran valor.”

Localização dos Povoados Espanhóis e das Reduções Jesuíticas do Guairá e Tape (RS)

- Triângulos Numerados ? Comunidades Espanholas: 1. Ontiveros, 2. Ciudad Real, 3. Villa Rica del Espiritu Santo.

- Quadrados Numerados Reduções Jesuíticas do Guairá: 1. Nossa Senhora do Loreto, 2. Santo Inácio, 3. São Francisco Xavier, 4. São José, 5. Nossa Senhora da Encarnación, 6. Santa Maria, 7. São Paulo, 8. Santo Antonio, 9. Sete Arcanjos, 10. São Miguel, 11. São Pedro, 12. Conceição de Nossa Senhora do Guayaná, 13. São Tomé.

- Elipses Numeradas ? Reduções do Tape (RS): 1. São Joaquim, 2. Jesus Maria, 3. São Cristóvão, 4. Santa Teresa, 5. Santana, 6, Natividade, 7. São Cosme e São Damião, 8. São Miguel, 9. São Carlos, 10. Apóstolos, 11. São José, 12. São Tomé, 13 Caaró, 14. Candelária, 15. Assunção, 16. São Nicolau, 17. São João, 18. São Francisco Xavier.