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O contexto do qual surgem as críticas de BonJour a Quine é interessante, dado que aquele inicialmente defendia uma forma de justificação coerentista em epistemologia, posição apresentada em 1976 em seu artigo The coherence theory of

empirical knowledge. Nesse sentido, BonJour já está familiarizado com algumas

questões que envolvem uma proposta tal como a proposta quineana de uma teia das crenças. No entanto, a coerência para Quine é um princípio lógico revisível, o que para BonJour é muito problemático. Mas BonJour muda de posição quanto a justificação em epistemologia, ele passa a defender um fundacionalismo65, porém baseado em uma posição racionalista moderada na qual a experiência tem um papel

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Nesse capítulo não vamos levar em consideração alguma possível mudança de BonJour com relação a posição epistemológica que tinha quando fez a crítica a Quine.

relevante na justificação das crenças. É esta posição que embasa sua crítica à Quine. BonJour então, apesar de ceder alguma importância a experiência, sempre defendeu uma posição internalista quanto à justificação das crenças e se opõe à Quine por este querer naturalizar a epistemologia e rejeitar completamente uma justificação a priori (BONJOUR, 1998a, p. 196; 1998b, p. 98).

A tese central da proposta do racionalismo moderado de BonJour (1998b, p. 98, 99) é que uma intuição a priori deve ser aceita como uma fonte genuína e independente de conhecimento e justificação epistêmica. Mas qual seria o argumento que sustenta essa tese? BonJour afirma que o que deve garantir a tese racionalista deve depender basicamente de considerações intuitivas e lógicas e não de um argumento direto.

Desse modo, a defesa da tese do fundacionismo deve conter três principais componentes: 1. os argumentos contra as propostas epistemológicas rivais; 2. alguns exemplos que mostram a plausibilidade fenomenológica ou intuitiva básica desta proposta racionalista; 3. as respostas às principais objeções contrárias a esta tese (BONJOUR, 1998b, p. 99). Na seção anterior já foi apresentado os argumentos contra uma das propostas rivais ao racionalismo moderado, a epistemologia naturalizada de Quine. Nessa seção nos deteremos na apresentação do segundo componente usado para defender aquela proposta, já que o objetivo aqui é apresentar em linhas gerais a proposta racionalista moderada de BonJour que rejeita a reivindicação tradicional do racionalismo de que a intuição a priori é infalível.

BonJour (1998b, p. 100) apresenta seis exemplos que ilustram a natureza da justificação a priori como considerada pelo racionalismo. O primeiro exemplo, mais familiar, é a proposição de que “nada pode ser de todo vermelho e verde ao mesmo tempo”. A razão para pensar que essa proposição é verdadeira é o fato de que nós

entendemos o significado dessa proposição, isto é, que nós compreendemos as

propriedades indicadas pelas palavras “vermelho” e “verde”. E ao compreender a proposição, compreende-se a incompatibilidade de pensar essas duas características ao mesmo tempo de um mesmo objeto. Posteriormente ao entendimento da proposição, tem-se uma compreensão direta ou imediata de que essa proposição não pode ser falsa. Isso seria uma intuição direta da necessidade da proposição e seria uma justificação para aceitá-la como verdadeira.

Além disso, pode-se naturalmente, conforme BonJour (1998b, p. 101), entender a proposição em questão como sendo “verdadeira em virtude de

significado”, e dessa forma, como uma proposição analítica. Essa caracterização da analiticidade deve ser entendida como verdadeira em virtude da configuração das propriedades e relações das palavras da proposição. O erro está em pensar que isso conduz a uma intuição epistemológica de como a verdade da proposição é compreendida. A sentença em questão é necessariamente verdadeira porque expressa uma relação necessária entre certas propriedades, e isto por causa dos significados das palavras, embora não seja óbvio que o status da relação necessária entre os termos e sua acessibilidade cognitiva dependa das formulações linguísticas. Para BonJour (1998b, p. 102), é comum considerar um ato intelectual no qual a necessidade de uma proposição é compreendida ou apreendida como uma intuição racional ou intuição a priori. Isso quer dizer que o ato é direto, imediato, não discursivo e também é intelectual ou governado pela razão, algo que não é irracional ou arbitrário. Desse modo, pode-se dizer que a proposição em questão é racionalmente auto-evidente e que a razão para pensar que ela é verdadeira é uma razão imediatamente acessível.

O segundo exemplo apresentado por BonJour (1998b, p. 102) de proposições justificadas a priori é o seguinte: “certa pessoa A é mais alta que uma segunda pessoa B e esta pessoa B é mais alta que uma terceira pessoa C, então a pessoa A é mais alta que a pessoa C”. Nesse caso, do mesmo modo que o anterior, diz-se que se alguém entende a proposição e entende a propriedade relacional de “uma coisa ser mais alta que outra”, então se é capaz de compreender direta e imediatamente que a proposição em questão deve ser verdadeira. E a verdade necessária da proposição depende da compreensão da transitividade da propriedade relacional “x ser mais alto que y”.

O terceiro exemplo é o seguinte: “não há um quadrado redondo, isto é, que nenhuma superfície ou parte demarcada de uma superfície que é redonda pode ser também quadrada”. Esse caso novamente como os anteriores, parece ser justificado apenas pela compreensão do significado da proposição. Pois a compreensão das propriedades de ser quadrado e ser redondo é a base para alguém compreender ou apreender direta e imediatamente que nada pode satisfazer as duas propriedades ao mesmo tempo. Dessa forma, alguém que compreenda o significado da proposição está de posse de uma razão para pensar que essa proposição é verdadeira (BONJOUR, 1998b, p. 103).

O mesmo acontece com o quarto exemplo relacionado às proposições da aritmética, que “dois mais três é igual a cinco”. Ainda com relação a esse exemplo, alguém que entenda as partes que compõem essa proposição e a forma como esses elementos estão combinados é capaz de ver, compreender ou apreender direta e imediatamente que a proposição é verdadeira (BONJOUR, 1998b, p. 104).

Para BonJour (1998b, p. 105), é válido notar que alguns ou todos esses exemplos apresentados apelam a um sentido mais específico de intuição que é análogo ao sentido desse termo em Kant, o qual envolve alguma coisa como um quadro ou imagens mentais. Então BonJour apresenta alguns exemplos que mostram mais claramente esse apelo. O quinto exemplo é o seguinte: “todos os cubos tem doze arestas”. A partir do entendimento das várias propriedades e relações envolvidas na proposição, a forma mais natural para pensar essa proposição é imaginar (mentalmente) um cubo e contar as suas arestas. Não há razão para pensar que esse processo essencialmente não-empírico, supondo que esse processo seja essencial para a justificação daquela proposição, torne aquela justificação menos a priori. Pois, conforme a concepção kantiana de “intuição”, esta está no nível da sensibilidade, mas ainda mantém um caráter inteligível a priori. Há a necessidade de uma intuição sensível, mas ela só é possível porque existem conceitos a priori no entendimento. Dessa forma, sensibilidade e racionalidade são necessárias para a compreensão de uma proposição sem que uma seja redutível à outra.

O último exemplo apresentado por BonJour (1998b, p. 105) de proposições justificadas a priori, está expresso sob forma de inferência e é a seguinte: Premissas: 1. Ou David comeu o último pedaço de bolo ou Jennifer o fez; 2. Jennifer não comeu o último pedaço de bolo; Conclusão: “David comeu o último pedaço de bolo”. Nesse caso, assim como em todos os outros exemplos acima, basta entender as três proposições envolvidas para ser capaz de apreender direta e imediatamente que a conclusão se segue das premissas, e que se as premissas são verdadeiras, a conclusão também será verdadeira. Ainda que alguém apelasse para a regra do silogismo disjuntivo para justificar a validade dessa inferência, não há razão para pensar que tal apelo seja essencial para que a aceitação dessa inferência como válida seja epistemicamente justificada.

Assim, conforme BonJour (1998b, p. 106), esses exemplos mostram que pelo menos em alguns casos a justificação a priori é requerida. E para ele se a filosofia

tem qualquer reputação intelectual, então uma concepção racionalista da justificação

a priori é essencial para lidar com a maioria senão com todas as questões

filosóficas. Desse modo, BonJour (1998a, p. 195) desenvolve uma proposta racionalista da justificação a priori; mas sua proposta é considerada moderada, ao contrário da proposta racionalista da tradição, pois entende que a intuição a priori requerida na justificação é falível e pode ser corrigível a luz da experiência.

Na proposta de BonJour (1998b, p. 106) , a justificação a priori é baseada em uma intuição racional que é caracterizada da seguinte forma:

Quando eu considero cuidadosa e reflexivamente a proposição (ou inferência) em questão, eu sou capaz de simplesmente ver ou compreender ou apreender que a proposição é necessária, que ela deve ser verdadeira em qualquer mundo possível ou situação (ou alternativamente que a conclusão da inferência deve ser verdadeira se as premissas são verdadeiras).

O simples fato de ao entender uma proposição compreender sua necessidade, expressa que essa proposição é justificada a priori por uma intuição racional. Esta justificação não requer nenhum tipo de critério ou de qualquer processo discursivo ou racional adicional, porque ela é dada de forma direta e imediata no momento que se entende a proposição. A única exigência que há para ocorrer uma intuição racional é que haja um entendimento adequado da proposição em questão. Para haver uma intuição racional é necessário que haja uma habilidade para entender e pensar sem a qual nenhum processo intelectual seria possível (BONJOUR, 1998b, p. 109).

Para que ocorra um entendimento adequado da proposição é necessário uma compreensão adequada das várias propriedades e relações envolvidas e como elas são conectadas. E para isso em alguns casos pode haver a necessidade de se recorrer a algumas experiências sensíveis. Mas isso não exclui que a proposição seja justificada a priori, pois uma vez alcançado o entendimento adequado da proposição, a intuição ou o insight “não parece” (nas palavras de BonJour), mais depender da experiência. Desse modo, a intuição ou o insight é a base para a justificação ou conhecimento a priori no racionalismo moderado (BONJOUR, 1998b, p. 107).

A intuição racional pretende ser um acesso direto no caráter necessário da realidade. Quando alguém compreende ou apreende a verdade necessária de uma

asserção, essa pessoa aparentemente está apreendendo o modo que a realidade deve ser com relação a algum aspecto, ao passo que é contrastado com outros modos que ela não poderia ser. E nesse sentido, a intuição racional ou a priori parece fornecer uma justificação epistêmica inteiramente adequada para acreditar ou aceitar a proposição em questão (BONJOUR, 1998b, p. 107).

Do modo como foi apresentado até o momento parece que a intuição racional, uma vez que é a compreensão da necessidade da verdade de uma proposição, é sempre uma intuição genuína. E de fato isso foi reivindicado por todos os proponentes do racionalismo, eles consideravam o conhecimento ou a justificação a

priori como “certo, seguro”, e esta certeza era o que dotava a proposição justificada

de infalibilidade, ou seja, ela não poderia falhar em ser verdadeira. Essa tradição tem origem em Platão que traça um contraste entre o conhecimento baseado na experiência que era falível, e um conhecimento a priori baseado em uma intuição ou rememoração das ideias, que era infalível.

Porém BonJour considera impossível defender a tese de que o conhecimento ou justificação a priori é infalível, pois muitos exemplos atrativos de proposições e inferências que foram reivindicadas como objetos de intuição racional e, consequentemente como justificadas a priori, tornaram-se falsas. Para ele a intuição racional, ainda que seja produto de uma compreensão adequada do significado de uma proposição, é falível (BONJOUR, 1998b, p. 110).

O erro da proposta racionalista tradicional envolve uma falácia comum, pois dizer que uma proposição justificada a priori é infalível pressupõe que a proposição em questão é necessária e, portanto, não pode ser falsa. Mas, além disso, pressupõe também que a percepção ou apreensão dessa proposição que é necessária também não pode ser falsa. Dessa forma, a própria percepção ou apreensão deveria ser infalível. É aí que se encontra o erro, a percepção ou apreensão não pode ser nem verdadeira nem necessária. E assim, seria a percepção ou apreensão inadequada da necessidade da proposição que conduziria a uma intuição racional falível (BONJOUR, 1998b, p. 111).

Alguns dos contra-exemplos da tese da infalibilidade apresentados por BonJour são: 1) O fato de que a geometria euclidiana considerada por séculos como descrevendo um caráter necessário do espaço, foi refutada empiricamente pela geometria não-euclidiana na teoria da Relatividade Geral. 2) O fato de que ao longo da história da filosofia muitos racionalistas metafísicos apresentaram propostas

diferentes para explicar o mundo, e cada uma dessas propostas foi reivindicada como a priori, dessa forma, seriam todas verdadeiras e infalíveis. Porém, sendo que essas propostas são diferentes entre si, é impossível que ao ser justificadas a priori, do modo como foram, todas sejam ao mesmo tempo verdadeiras e infalíveis (BONJOUR, 1998b, p. 111). 3) O fato de que as pessoas que estão engajadas em processos de raciocínio, prova e cálculo frequentemente erram nesses processos intelectuais (Idem, p. 112).

Esses exemplos mostram que é completamente possível para uma proposição (ou inferência), que parece (seems) ser necessária e auto-evidente, tornar-se falsa (BONJOUR, 1998b, p. 112). Uma pessoa pode aceitar uma proposição após uma reflexão cuidadosa e então pensar que a verdade dessa proposição é necessária e auto-evidente. Portanto, parece para essa pessoa que sua proposição é objeto de uma intuição racional. No entanto, como nos exemplos apresentados acima, pode vir a tornar-se falsa. Assim pode-se dizer que a pessoa teve apenas uma aparente intuição racional, de fato sua compreensão apenas parecia ser de uma verdade necessária, mas na realidade não era.

Nesse caso, o racionalismo tradicional que defende a tese da infalibilidade da intuição racional, diria que a pessoa não teve uma intuição racional genuína e que para que sua proposição seja justificada a priori, ela precisaria de uma intuição daquele tipo. Mas, conforme BonJour (1998b, p. 113), nesse caso nunca se poderia saber se as pessoas teriam de fato intuições genuínas ou não enquanto não se sabe se a reivindicação da necessidade da proposição é correta ou não. E, assim, seria impossível dizer se as proposições foram realmente justificadas a priori.

Desse modo, BonJour (1998b, p. 113) propõe que a justificação epistêmica a

priori requeira assim como os outros tipos de justificação, uma intuição racional aparente, dado que é possível que uma intuição racional não genuína justifique uma

asserção. E assim, a proposta do racionalismo moderado defende que uma intuição racional aparente constitui uma razão, embora falível, para pensar que uma proposição seja verdadeira.

Nesse sentido, parece razoável pensar que sua proposta de justificação epistêmica é fraca, já que admite a falibilidade da razão que garante a crença em determinada proposição. Mas BonJour (1998b, p. 113) comenta que não está interessado em mostrar quão forte é sua proposta de justificação. Comenta ainda

que é duvidoso que haja qualquer nível definido de justificação, mas se há um tal nível, é certo que a justificação a priori é capaz de alcançar um nível determinado.

BonJour (1998b, p. 114) apresenta algumas exigências para que a intuição racional aparente não seja construída de um modo muito fraco. As exigências são: 1) deve ser considerada com um grau de cuidado razoável, que inclui um entendimento claro e cuidadoso da proposição que vai resultar justificada a priori; 2) a pessoa em questão deve ter uma consciência genuína da necessidade ou aparente necessidade da proposição, em um sentido lógico ou metafísico forte, e não meramente em um sentido genérico que uma crença é óbvia. Desse modo, requer uma compreensão aproximada do que demanda o conceito de necessidade. Com isso BonJour quer delimitar o que conta como uma intuição racional aparente no sentido que interessa ao racionalista moderado.

BonJour (1998b, p. 115) comenta que “a falibilidade parece de fato ser um aspecto inevitável da condição humana em todas ou virtualmente todas as áreas do conhecimento”. Mas disso não decorre um ceticismo como consequência direta. Uma intuição racional aparente pode, e segundo o racionalismo moderado, deve ser a base sob a qual se fundam as pretensões de conhecimento.

Como consequência dessa tese do racionalismo moderado, parece natural pensar na necessidade da existência de um critério ou padrão epistemicamente anterior para distinguir intuições racionais aparentes de genuínas. Então, somente a partir da satisfação desse critério se poderia dizer que uma proposição intuída genuinamente constitui uma proposição justificada epistemicamente a priori. No entanto, essa exigência levaria a um regresso infinito, dado que também seria necessária uma justificação para tal critério e assim por diante. Além disso, essa justificação poderia ser empírica e então ter o status a priori da justificação destituído, ou ser a priori e então ser recusada como uma justificação circular.

Desse modo, BonJour (1998b, p. 116) apresenta duas maneiras de corrigir uma intuição racional aparente sem apelar a qualquer critério. Inicialmente deve-se diferenciar entre dois tipos diferentes de erros que podem acontecer no processo cognitivo. De um lado estão os erros decorrentes de ilusões sensórias, alucinações, e de percepções mal feitas. Nesses casos não há nenhum critério interno que possa distinguir uma alucinação de um acontecimento real, esses casos somente podem ser identificados e corrigidos a partir de um critério externo a eles mesmos. De outro lado, estão os erros corrigíveis internamente por alguma reflexão adicional. Alguns

tipos de erros corrigíveis dessa maneira são alguns erros perceptivos obtidos por descuido e desatenção.

Para BonJour (1998b, p. 116), parece que muitos dos erros envolvidos nos processos de intuição racional aparente podem ser internamente corrigidos. Muitos dos erros de cálculo e raciocínio podem ser corrigidos apenas por uma reflexão mais cuidadosa. No entanto, um raciocínio adicional não pode dar uma garantia de que a correção interna será bem sucedida, embora forneça um modo a partir do qual o erro pode ser corrigido.

Uma segunda maneira de eliminar erros em intuição racional aparente é apelar para a coerência. Assim, a partir da coerência, pode-se constatar quais intuições aparentes estão aptas ou falham juntas. Um exemplo desse tipo de erro por falha da coerência é que ao proceder a uma verificação em algum cálculo ou argumento frequentemente encontram-se contradições.

Desse modo, ainda sem um critério externo para distinguir entre intuições racionais genuínas de intuições aparentes ou erradas, não há razão para pensar que tais erros de alguma maneira seriam impossíveis ou difíceis de corrigir. BonJour (1998b, p. 119) declara que esses dois métodos de corrigir intuições racionais aparentes trabalham juntos e reforçam um ao outro.

Ainda segundo o racionalismo moderado a justificação a priori pode variar em diferentes graus. Para o racionalismo tradicional todas as proposições justificadas a

priori tinham o mesmo grau de justificação, pois todas eram (pelo menos

aparentemente) necessárias. Mas BonJour (1998b, p. 119) discorda dessa posição e apresenta alguns exemplos para mostrar sua concepção. Assim, a consideração das proposições “2 + 2 = 4” e “25 – 5 = 33” fornecem ambas uma aparente intuição racional de que elas são necessariamente verdadeiras. Porém se alguma dessas sentenças fosse errada, BonJour (1998b, p. 119) afirma que não hesitaria em escolher a última proposição como a mais provável de estar errada. Dado que a grande complexidade da última asserção não fornece uma intuição racional tão forte quanto à primeira.

Nesse caso, a diferença de grau entre as duas justificações a priori resulta da relativa complexidade das duas asserções. Mas tal diferença de grau pode ainda resultar de outros fatores, tais como relativo ao tempo e ao cuidado que a pessoa dedicou às asserções em questão que constitui um fator empírico. No entanto, a diferença entre aquelas duas intuições pode possuir diferentes graus de clareza

interna e firmeza, portanto, os graus de justificação podem resultar diretamente dessa diferença interna (BONJOUR, 1998b, p. 120).

BonJour (1998b, p. 120) ainda acrescenta que a justificação a priori, segundo o racionalismo moderado, é capaz de ser enfraquecida ou anulada por alguma experiência desfavorável. Portanto, essa caracterização da justificação a priori não ignora a experiência. Mas as experiências não contradizem diretamente uma asserção a priori, o que entra em conflito ou contradiz uma reclamação desse tipo são descrições de inferências construídas a partir daquelas experiências. E isso constitui uma razão adequadamente forte para pensar que uma reclamação de contraditoriedade seja verdadeira. As inferências teriam que confiar, explicita ou implicitamente, em algumas premissas ou princípios de inferência para conectar as experiências em questão com estes resultados adicionais. E essas premissas ou princípios têm a ver com, por exemplo, virtudes teóricas tais como a simplicidade e/ou também com o testemunho de especialistas em determinados assuntos. Essas premissas ou princípios forneceriam uma razão para pensar que alguma asserção é provável de ser verdadeira, esses próprios princípios e premissas a partir dos quais

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