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IX Fundamentação das correcções efectuadas pela Inspecção Tributária

IV.4 Fundamentação no Relatório Final

O relatório final de inspecção é a peça fundamental do trabalho da inspecção tributária que tem por função identificar e sistematizar os factos detectados e proceder à sua qualificação jurídico-tributária96.

É pois uma peça dirigida não só aos contribuintes inspeccionados, mas também aos responsáveis hierárquicos dos inspectores tributários, bem como a todos aqueles que possam vir a ser chamados a ponderar a pertinência dos factos e da respectiva fundamentação que constam do relatório final97.

A fundamentação factual e de direito deve ser adequada ao caso concreto e alicerçar-se em meios de prova suficientemente fortes.

IV.4.1 Fundamentação das correcções técnicas

Nas correcções técnicas a fundamentação de facto e de direito deverá ser adequada à situação em concreto e demonstrativa de que resultou de imperativo legal.

96

Artigo 62.º do RCPIT, na redacção dada pelo n.º 2 do artigo 4.º da Lei 50/2005, de 30 de Agosto.

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Do relatório final devem constar os seguintes elementos (artigo 62.º n.º 3 do RCPIT, na redacção dada pelo n.º 2 do artigo 4.º da Lei 50/2005, de 30 de Agosto):

Identificação da entidade inspeccionada, designadamente denominação social, número de identificação fiscal, local da sede e serviço local a que pertence;

Menção das alterações a efectuar, aos dados constantes dos ficheiros da administração tributária; Data do início e do fim dos actos de inspecção das interrupções ou suspensões verificados; Âmbito e extensão do procedimento;

Descrição dos motivos que deram origem ao procedimento, com a indicação do número da ordem de serviço ou do despacho que o motivou;

Informações complementares, incluindo os principais devedores dos sujeitos passivos e dos responsáveis solidários ou subsidiários pelos tributos em falta;

Descrição dos factos susceptíveis de fundamentar qualquer tipo de responsabilidade solidária ou subsidiária;

Acréscimos patrimoniais injustificados ou despesas desproporcionadas efectuadas pelo sujeito passivo ou obrigado tributário no período a que se reporta a inspecção;

Descrição dos factos fiscalmente relevantes que alterem os valores declarados ou a declarar sujeitos a tributação, com menção e junção dos meios de prova e fundamentação legal de suporte das correcções efectuadas;

Indicação das infracções verificados, dos autos de notícia levantados e dos documentos de correcção emitidos;

Descrição sucinta dos resultados dos actos de inspecção e propostas formuladas;

Identificação dos funcionários que o subscreveram, com menção do nome, categoria e número profissional;

Procedimento de Inspecção Tributária

Em matéria de correcções técnicas existe sempre a obrigação de fundamentar o acto tributário ou em matéria tributária, devendo ser enunciadas as razões porque se corrige e qual o critério que foi usado nessa correcção98.

IV.4.1 Fundamentação das correcções com base em métodos indirectos

A administração tributária tem de começar por fazer a demonstração a fundamentação da existência dos pressupostos que justificam a aplicação dos métodos indirectos. Para tal deverá99:

Especificar os motivos que conduzem à impossibilidade de comprovação directa e exacta da matéria tributável;

Especificar a descrição do afastamento da matéria tributável do sujeito passivo dos indicadores objectivos da actividade de base técnico-científica e as razões da não aceitação das justificações apresentadas pelo contribuinte, se for o caso disso.

Descrever os bens cuja propriedade ou fruição a lei considera manifestações de fortuna relevantes;

Indicar os critérios utilizados na avaliação da matéria tributável, ponderar os factores que influenciaram a sua determinação e descrever as operações ou cálculos utilizados nessa mesma determinação.

Por norma a determinação do lucro tributável das actividades comerciais, industriais, agrícolas e de serviços, faz-se com base na contabilidade ou nos livros de registo.

Só excepcionalmente, e na hipótese de não ser possível a comprovação directa e exacta dos elementos indispensáveis à correcta determinação do lucro, se aplicarão os métodos indirectos à determinação do lucro tributável.

A contabilidade do sujeito passivo deverá, pois, encontrar-se devidamente organizada de acordo com os sãos princípios da lei comercial e fiscal, respeitando todos os requisitos formais e substanciais para que possa gozar da presunção de veracidade100.

98

A administração tributária, ao introduzir, na sequência de exame à escrita de um contribuinte, correcções técnicas, considerando que metade das quantias inscritas num grupo de recibos como respeitante a ofertas e publicidade , constitui custo de publicidade, e que a outra metade corresponde a donativos, quando o contribuinte declarara como custos de publicidade a totalidade, está obrigada a fundamentar o acto, enunciando as razões porque corrige e o critério usado nessa correcção. Dizendo a administração, apenas, que os recibos, ao referirem-se a ofertas e publicidade, sem discriminação, não justificam o gasto, em publicidade, do montante total neles inscrito, e que considera metade respeitante a publicidade e outra metade a donativos, a fundamentação é insuficiente por, embora dando a conhecer as razões da correcção, não revelar o critério utilizado Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo de

04-12-2002.

99

Artigo 87.º da LGT.

100

Procedimento de Inspecção Tributária

X

Conclusão

1. O procedimento de inspecção tributária tem consagração legal no Regime Complementar do Procedimento de Inspecção Tributária (RCPIT), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 413/98, de 31 de Dezembro, e visa a observação das realidades tributárias, a verificação do cumprimento das obrigações tributárias e a prevenção das infracções tributárias.

2. O procedimento de inspecção tributária deve obedecer aos princípios da verdade material, da proporcionalidade, do contraditório e da cooperação. Estes princípios concretizam e desenvolvem os princípios constitucionais orientadores da actividade da administração pública e por consequência da administração tributária.

3. O procedimento de inspecção tributária classifica-se, quanto aos fins, em procedimento de comprovação e verificação; e procedimento de informação. O primeiro, visa a confirmação do cumprimento das obrigações dos sujeitos passivos e demais obrigados tributários. O segundo visa o cumprimento dos deveres legais de informação ou de parecer dos quais a inspecção tributária seja legalmente incumbida.

4. Quanto ao lugar da realização, o procedimento de inspecção pode classificar-se em procedimento interno e externo. O procedimento será interno quando os actos de inspecção se efectuem exclusivamente nos serviços da administração tributária através da análise da forma e da coerência dos documentos. Será externo quando os actos de inspecção se efectuem, total ou parcialmente, nas instalações ou dependências dos sujeitos passivos ou demais obrigados tributários, de terceiros com quem mantenham relações económicas ou em qualquer outro local a que a administração tenha acesso.

5. Quanto ao âmbito e extensão, o procedimento de inspecção pode ser geral ou polivalente e parcial ou univalente. O procedimento de inspecção será geral ou polivalente quando a inspecção tiver por objecto a situação tributária global ou o conjunto dos deveres tributários dos sujeitos passivos ou demais obrigados tributários. Será parcial ou univalente quando a inspecção abranja apenas algum ou alguns tributos, algum ou alguns, deveres dos sujeitos passivos ou demais obrigados tributários.

6. São competentes para a prática dos actos de inspecção tributária os serviços da Direcção-Geral dos Impostos, nomeadamente as Direcções de Serviços de Inspecção Tributária; os Serviços Periféricos Regionais; os Serviços Periféricos Locais.

7. Para o exercício da função inspectiva no âmbito do procedimento de inspecção, a administração tributária faz uso de determinados direitos e prerrogativas, sem prejuízo do respeito pelo dever de sigilo e pelos direitos, liberdades e garantias constitucionalmente consagrados.

8. Ao longo do procedimento de inspecção tributária podem ser adoptadas medidas cautelares com vista à obtenção e conservação da prova de factos ou valores com relevância tributária.

9. O procedimento de inspecção integra várias fases até à feitura do relatório final de inspecção, o qual terá que ser comunicado ao contribuinte inspeccionado.

Procedimento de Inspecção Tributária

10. São de dois tipos as correcções fiscais propostas pela inspecção tributária: correcções técnicas e correcções não técnicas.

11. As correcções efectuadas pela inspecção tributária terão que ser fundamentadas. A fundamentação das correcções não poderá estar dissociada dos direitos dos contribuintes de modo a que sejam acauteladas todos os meios de reacção face às correcções propostas pela inspecção tributária, que terão inevitavelmente influência na esfera jurídico-contributiva dos cidadãos, por forma a que lhe sejam sempre garantida a possibilidade de contestar os fundamentos de direito e de facto que determinam as correcções que lhes são propostas pela administração tributária.

Procedimento de Inspecção Tributária

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