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5. PROJETO DE INTERVENÇÃO PROFISSIONAL

5.1. Fundamentação teórica dos focos de intervenção

Neste subtópico pretende-se mobilizar conteúdos específicos e particulares, destacando-se a referente aos problemas aos encontrados na população com fratura da extremidade proximal do fémur. Já anteriormente, foram descritos os tratamentos cirúrgicos possíveis ou estabilização anatómico-funcional e um breve fundamento teórico deste tipo de patologia. É importante, agora, contextualizar condutas, estratégias e intervenções, de forma a otimizar a capacidade funcional e melhorar a qualidade de vida neste grupo populacional. Por outro lado, devem-se minimizar as complicações e recuperar a funcionalidade sempre que esta seja possível. Alguns autores defendem a ideia de que sempre que há uma cirurgia é fundamental a educação, prevenção, reabilitação e tratamento nos períodos antes, durante e após o internamento hospitalar (Dean-Baar, 2001; Hoeman, 2000).

Serão descritos e sucintamente fundamentados, os focos de intervenção abordados no projeto de intervenção profissional, a capacidade cognitiva, a dor, força muscular e a autoeficácia que por sua vez será onde incidirão os resultados da sua implementação no capítulo 6.

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O compromisso cognitivo ou a capacidade cognitiva relacionada com a memória, atenção e concentração, pode ter grande influência nos resultados de um programa de reabilitação motora ou qualquer outro programa de ensinos. Devido à importância da repercussão do estado cognitivo no autocuidado e na capacidade funcional, a prestação de cuidados deve também visar otimizar os resultados neste sentido, uma vez que o desempenho funcional na sua globalidade não advém apenas da capacidade física, decorre antes de uma conjugação com as suas capacidades cognitivas. A presença de distúrbios na cognição é um importante preditor de recuperação, afetando diretamente o processo de reabilitação e recuperação da pessoa. A demência senil é considerada uma comorbilidade comum um fator de risco pós fratura, no que se refere à mortalidade, morbilidade e ao mau resultado funcional (Boos, Soares, & Filho, 2005; Dean-Baar, 2001; Ministério da Saúde, 2017).

Nesse sentido urge proceder a uma avaliação da capacidade cognitiva numa fase inicial para reconhecer atempadamente sinais de comprometimento e adequar o programa de reabilitação motora para verificar posteriormente qual a sua influência nos resultados em especial na dor, na força muscular e na capacidade funcional.

5.1.2.

Dor

O fenómeno da dor e bastante complexo e como já anteriormente denominado de quinto sinal vital, está sempre presente quando ocorre uma fratura, como é o caso do fémur. O controlo e alívio da dor e da incapacidade, para além de melhorar a função pela restauração do movimento é fundamental, é por isso essencial em qualquer programa de reabilitação. No entanto, apesar da pluralidade de fármacos e técnicas analgésicas disponíveis, a prevalência da dor no período pós-operatório é surpreendentemente elevada, referido por vários autores (González ID et al., 2016).

O processo de envelhecimento é acompanhado pela alta incidência de doenças crônicas e degenerativas, em muitos casos esta dor torna-se crônica, aumentando a

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dependência. Dor crônica é associada a processos patológicos crônicos, que se prolongam por meses ou anos e, em muitos desses quadros, a dor é a principal queixa e causa de limitações funcionais. Alguns estudos observaram alta prevalência de dor crônica nos indivíduos acima de 60 anos residentes na comunidade, especialmente dores musculoesqueléticas. Por sua vez a dor crônica mais incomodativa no dia, chega a atingir 50% dos idosos e possuía intensidade moderada para 45,8% deles e forte e muito forte para 46% dos num estudo realizado no Brazil por Dellaroza et al. (2015). A dor crônica que mais incomodava os idosos associou-se a incapacidades nas atividades de vida diária, nas atividades de vida instrumental e alteração de mobilidade (Dellaroza, Mara Solange Gomes; Pimenta, Cibele Andrucioli de Mattos; Duarte, Yeda Aparecida; Lebrão, 2015).

A pessoa com dor adota uma posição antiálgica defeituosa, deste modo, cabe ao EEER estar alerta para a avaliação e controlo da dor, de modo a evitar complicações, recorrendo a escalas de avaliação de dor. Neste contexto específico a pessoa após ter sido submetido a intervenção cirúrgica, deve ser aplicada crioterapia, realização de massagem para diminuir o edema, particularmente nas 48h a seguir à cirurgia, bem como de outras estratégias com recurso a fármacos prescritos, colaborar e referenciar para outros profissionais.

5.1.3.

Força Muscular

Por outro lado, a diminuição da força muscular, da flexibilidade e as alterações posturais decorrentes da idade levam a um certo receio de quedas nos idosos que nunca caíram. Este medo leva a uma deterioração da qualidade de vida (Melo, 2011). A perda da capacidade funcional da pessoa para a realização das AVD’s, é uma consequência grave das lesões ortotraumatologicas e que influencia a participação ativa no meio socio familiar, com reflexos na sua qualidade de vida. Justificando por isso que se implementem programas de reabilitação com vista minimizar as complicações no intuito manter ou promover a autonomia, maximizando a capacidade funcional da pessoa vítima de fratura da extremidade proximal do fémur. Estes problemas decorrem também devido: à perda de força muscular, em especial nos grupos musculares mais fortes, à perda de equilíbrio, perda da capacidade

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5.1.4.

Autoeficácia

Os programas de reabilitação devem fornecer às pessoas estratégias efetivas para interpretar e gerenciar problemas específicos da doença e as habilidades necessárias para a resolução do problema, bem como construir e manter a autoconsciência e a autoeficácia (Suddarth’s & Brunner, 2010). A experiência vivenciada pela pessoa deve ser analisada num processo contínuo de eventos e numa prestação de cuidados de excelência. Deve ser uma dimensão para a análise das expectativas do paciente, nível de autoeficácia e seu envolvimento na tomada de decisão referente ao seu estado de saúde e qualidade de vida. Embora estes aspetos (expectativas, autoeficácia e envolvimento) não sejam diretamente retratados nos indicadores de qualidade de saúde, refletem indiretamente a eficácia dos programas de prestação de cuidados e, portanto, devem ser regularmente monitorizados e avaliados (Giovannetti et al., 2012).

O conceito de autoeficácia, tal como é definido por Bandura (1989) é a crença que a pessoa ou indivíduo tem na sua capacidade para atingir determinado nível de exigência numa tarefa, ou num domínio psicológico específico.

No nosso projeto de intervenção pretendemos saber qual o medo de sofrer nova queda na realização das AIVD’S, através da escala Falls Efficacy Scale, uma vez que esta já foi anteriormente validada para a população portuguesa por Melo (2011) e revela-se adequada para a medição do medo de cair. Desta forma, pretendemos aferir o nível de autoeficácia na realização destas tarefas.

Seguidamente no próximo item será descrita e justificada a metodologia utilizada neste projeto de intervenção. Serão abordadas as estratégias de intervenção profissional nomeadamente as atividades e os recursos, os instrumentos de colheita de dados e os procedimentos.

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