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3 LICITAÇÕES PÚBLICAS SUSTENTÁVEIS

3.1 FUNDAMENTO LEGAL DO PROCESSO LICITATÓRIO

O processo licitatório tem como finalidade permitir a participação de várias pessoas que desejam contratar produtos e serviços com o Estado, através de suas propostas, permitindo que seja escolhida aquela que melhor atenda aos interesses da Administração Pública.

Nos dizeres de Carvalho Filho (2012, p. 233) a licitação pública é um: Procedimento administrativo vinculado por meio do qual os entes da Administração Pública e aqueles por ela controlados selecionam a melhor proposta entre as oferecidas pelos vários interessados, com os objetivos - da celebração de contrato, ou da obtenção do melhor trabalho técnico, artístico ou científico.

Vinculado para o autor, “é no sentido de que, fixadas suas regras, ao administrador cabe observá-las rigorosamente.” (CARVALHO FILHO, 2012, p. 234).

A licitação, no conceito de Meirelles (2012, p 287), é o procedimento administrativo através do qual a Administração Pública busca “selecionar a proposta mais vantajosa para o contrato de seu interesse, inclusive o da promoção do desenvolvimento econômico sustentável e o fortalecimento das cadeias produtivas de bens e serviços domésticos.”

No entendimento de Carvalho Filho (2012, p. 235), a CRFB/88 “referiu-se expressamente à licitação, ao estabelecer no art. 22, inciso XXVII, ser da competência privativa da União Federal legislar sobre normas gerais de licitação e contratação.” Acrescenta o autor acima referido que esta competência estende-se a todas:

[...] modalidades das Administrações Públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, [inciso] XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1º, III [da Constituição Federal de 1988]. (CARVALHO FILHO, 2012, p. 235).

O caput do artigo 37 da CRFB/88, atualizado pela Emenda Constitucional nº 19 de 06/06/1998, assevera que “a Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.” (BRASIL, 1988).

Segundo Carvalho Filho (2012, p.235), o inciso XXI, desse mesmo art. 37, da CRFB/88, prevê que “[...] as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes.”

A Lei n° 8.666, de 21 de junho de 1993, conhecida como Lei de Licitações e Contratos, veio justamente para regulamentar o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal de 1988, instituindo normas gerais para licitações e contratos realizados pela Administração Pública.

Machado (2012, p. 272) ressalta que “a própria Lei 8.666/93 cuidou de distinguir obras, serviços, compras e alienações, que serão licitados a partir de publicação do edital convocatório, sintetizando o objeto da licitação.”

O processo licitatório busca, portanto, a melhor proposta que atenda aos interesses da Administração, desenvolvendo-se:

[...] através de uma sucessão ordenada de atos vinculantes para a Administração e para os licitantes, o que propicia igual oportunidade a todos os interessados e atua como fator de eficiência e moralidade nos negócios administrativos. (MEIRELLES, 2012, p. 287).

Importante destacar que a Lei 8.666/93, inicialmente não se preocupou em prever critérios ambientais para orientar a compra de bens ou contratação de serviços pela Administração Pública pautando-se, basicamente, pela garantia da observância do princípio constitucional da isonomia e a seleção da proposta mais vantajosa, em termos de menor preço, para a Administração. (OLIVEIRA, 2013, p.1).

Somente em 2010, através da Medida Provisória nº 495/2010, transformada na Lei 12.349/2010, foi alterado artigo da Lei 8.666/93, incluindo o item da promoção do desenvolvimento social.

Em 19 de janeiro de 2010 foi publicada a Instrução Normativa da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão - IN SLTI/MP n° 01/2010, dispondo sobre critérios de sustentabilidade ambiental na aquisição de bens, contratação de serviços ou obras pela Administração Pública Federal.

De acordo com o disposto nos arts. 1° a 3° da IN SLTI/MP n° 01/2010, verbis:

Art. 1º Nos termos do art. 3º da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, as especificações para a aquisição de bens, contratação de serviços e obras por parte dos órgãos e entidades da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional deverão conter critérios de sustentabilidade ambiental, considerando os processos de extração ou fabricação, utilização e descarte dos produtos e matérias-primas;

Art. 2º Para o cumprimento do disposto nesta Instrução Normativa, o instrumento convocatório deverá formular as exigências de natureza ambiental de forma a não frustrar a competitividade;

Art. 3º Nas licitações que utilizem como critério de julgamento o tipo melhor técnica ou técnica e preço, deverão ser estabelecidos no edital critérios objetivos de sustentabilidade ambiental para a avaliação e classificação das propostas. (BRASIL, 2010a).

A partir daí foi possível perceber a tendência de preocupação do Estado com os interesses difusos, e em especial com o meio ambiente quando de suas aquisições e contratações.

Interesses chamados difusos, porque, além de transindividuais, dizem respeito a titulares dispersos na coletividade e que importam à sadia qualidade de vida. Em se tratando de relação consumerista, dispõe a Lei 8.078/1990 - Código do Consumidor, em seu artigo 81, que:

A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I- interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato. (BRASIL, 1990).

Verifica-se com isto, que a legislação que trata do processo licitatório vem se aperfeiçoando no sentido de superar comportamentos que não atendam ao interesse público, de tal maneira que a Administração Pública deve ter como princípio uma atitude contínua de abertura e transparência, tornando o Direito Administrativo permeável à aparição de princípios regulamentadores que visam ao desenvolvimento de forma sustentável e a proteção ao meio ambiente.

3.2 PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS APLICÁVEIS ÀS LICITAÇÕES PÚBLICAS