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4 A GRATUIDADE DO ACESSO À JUSTIÇA NO BRASIL

4.1 Fundamentos Constitucionais e Fundamentos legais

A assistência jurídica integral e a justiça gratuita estão previstas na Constituição Federal, artigo 5.º inciso LXXIV, bem como no novo Código de Processo Civil, artigos 98 a 102 e 185 a 187 como dever do Estado aos que comprovarem insuficiência de recursos. Trata-se de um direito público subjetivo consagrado a todo aquele que comprovar que sua situação econômica não lhe permite pagar honorários advocatícios e despesas processuais, sem prejuízo de seu próprio sustento ou de sua família (MINOTTO, 2014, p. 03).

De só mais importância, o acesso à justiça, amplo, garantido como direito fundamental, republicano e democrático, não necessariamente confronta com a definição e aplicação das custas processuais, não podendo ser apontada como única responsável pela dificuldade encontrada pelo cidadão ordinário em tentar alcançar a solução de um conflito, pois, além de significar elemento indispensável à captação de recursos para o custeio dos processos, se cobrada de maneira isonômica acaba por criar elementos de aperfeiçoamento das relações socioeconômicas, amplamente consideradas.

A exegese jurisprudencial, além de revelar como a Justiça brasileira vem se comportando acerca do tema aqui proposto, traz o primado de que o respeito ao acesso

72 à Justiça se equipara a outros direitos e garantias fundamentais que não podem ser mitigados dentro de um Estado democrático e de direito, sob pena de comprometer a própria realização da cidadania e o respeito à vida humana. Reconhecido em diversos tratados internacionais, o acesso à justiça é um direito fundamental, estando previsto na Declaração Americana dos Direitos do Homem de 1948, constando no artigo 18 ao dispor:

Toda pessoa pode recorrer aos tribunais para fazer respeitar os seus direitos. Deve poder contar, outrossim, com processo simples e breve, mediante o qual a justiça a proteja contra atos de autoridade que violem, em seu prejuízo, quaisquer dos direitos fundamentais consagrados constitucionalmente.” Da mesma forma, dispõe a Declaração Universal dos Direitos Humanos de dezembro do mesmo ano: “Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Mesmo onde já há isenção de custas, como no caso da Justiça Eleitoral, ainda se discute a assistência judiciária gratuita, para os casos em que os interessados não tenham como pagar seus respectivos advogados, criando um sistema que tenta justamente corrigir aparente estado de violação isonômica, enquanto não se discute um sistema específico de cobrança de custas processuais nessa seara especializada de Justiça, fixando a Defensoria Pública da União como responsável pelo exercício da assistência judiciária gratuita, mas ponderando a ausência de estrutura específica para o desempenho de tal mister, exclusivamente no que concerne ao pagamento dos honorários advocatícios, não compreende, portanto, qualquer discussão acerca das custas processuais, que, tal como já visto, são totalmente isentas nessa Justiça específica. Nesse sentido é a jurisprudência:

Da leitura dos referidos dispositivos legais, infere-se que cabe à Defensoria Pública da União a prestação de assistência jurídica aos necessitados perante a Justiça Eleitoral. Entretanto, a Defensoria Pública da União ainda não dispõe da estrutura necessária para o desempenho de suas funções em toda a abrangência da legislação supracitada, como informado pelo TRE/SP. (Processo Administrativo nº 20236, Acórdão de 08/05/2012, Relator (a) Min. FÁTIMA NANCY ANDRIGHI, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 122, Data 29/06/2012, Página 91), (BRASIL).

73 Finalizando, como bem alerta Cappelletti; Garth (2002, p. 163-164), a busca desenfreada para elastar totalmente o acesso à justiça, sem mensurar as consequências que uma falta de controle ou de instrumentos confiáveis de realização da Justiça possa prejudicar a própria fundamentação dos princípios que regem a questão, criando distorções que possam acirrar ainda mais os conflitos sociais e incentivar ainda mais o litiganismo desenfreado ao invés de aprimorar os métodos de solução de conflitos já existentes, deve ser também considerada.

Assim, considerando essa preocupação tangenciada por Cappelletti; Garth (2002) de que “o maior perigo que levamos em consideração ao longo dessa discussão é o risco de que procedimentos modernos e eficientes abandonem as garantias fundamentais do processo civil”, principalmente “a de um julgador imparcial e do contraditório”, é uma premissa que deve ser analisada e considerada. Nesse contexto, é necessário reconhecer os problemas potenciais, para que se possa utilizar os procedimentos adequados à solução dos litígios.

A assistência jurídica integral, ou seja, a assistência judiciária gratuita, em todas as esferas, é patrocinada pelo Estado, através das Defensorias Públicas estaduais e federais, com proteção constitucional, criada pela Lei Complementar nº 80 de 1994, para atender ao disposto no artigo 5º LXXIV da Constituição Federal de 1988 ao dispor“ o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”, e recentemente foi incluída no novo Código de Processo Civil, dispondo que a mesma “exercerá a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados, em todos os graus, de forma integral e gratuita27”.

Do mesmo modo que as Defensorias, os Núcleos de Prática Jurídica das Universidades, conveniadas com as Defensorias Públicas, também prestam serviço gratuito, e assim como as Defensorias Públicas, gozam de algumas prerrogativas, dentre as quais se destacam o fato de não se submeterem ao crivo subjetivo do julgador ao deferimento da assistência judiciária gratuita. Isso porque, o critério e os

74 pressupostos28de análise do assistido são realizados pela própria Defensoria Pública ou pelos órgãos conveniados que prestam esse serviço.

Dizendo de outro modo, via de regra, o juiz não indefere os pedidos de assistência judiciária gratuita dos assistidos pelas Defensorias Públicas e suas conveniadas, nesses casos o deferimento é automático. Entretanto, o mesmo não ocorre em relação ao requerimento de justiça gratuita, em que o critério subjetivo é fator hegemônico na análise do pedido.

Diante disso, a análise a seguir, ainda neste capítulo se resume à justiça gratuita patrocinada por advogado particular, a qual está estabelecida nos artigos 98 a 102 do novo Código de Processo Civil.

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