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3. Aplicação da Web 2.0 em contexto educacional:

3.3 A Internet e as Bibliotecas Escolares

3.3.1 Futuro da biblioteca

Se até há pouco tempo atrás os desafios relativamente à tecnologia se confinavam essencialmente aos elementos operacionais relacionados com a gestão do acervo da biblioteca, actualmente, dado o próprio desenvolvimento das tecnologias de informação e da Internet, a utilização destes recursos tem reflexos na sua estrutura organizacional e alterou o próprio conceito de biblioteca.

O futuro das bibliotecas escolares tem de caminhar necessariamente no sentido de incluir e serem incluídas nas novas ferramentas digitais, nomeadamente na denominada Web 2.0 ou a Web Social, que deverá ser vista como uma janela de oportunidades e não como uma inevitabilidade. Caminharemos, portanto, para uma Biblioteca 2.0, termo surgido pela primeira vez em Setembro de 2005 no blogue Library Crunch9, de Michael Casey e que mais tarde foi definido, por Casey e Savastinuk, no “Library Journal”, da seguinte forma:

«The heart of Library 2.0 is user-centered change. It is a model for library service that encourages constant and purposeful change, inviting user participation in the creation of both the physical and the virtual services they want, supported by consistently evaluating services» (Casey & Savastinuk, 2006).

Para Casey e Savastinuk (2006, 2007), a base da Biblioteca 2.0 é o seu foco no utilizador. Trata-se de um modelo que encoraja os utilizadores a participarem na

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criação e desenvolvimento dos serviços físicos ou virtuais que desejam, com base numa avaliação constante e consistente desses mesmos serviços. Tenta também incorporar novos utilizadores, explorando a diversificação e servir melhor os seus públicos com serviços direcionados às suas necessidades específicas.

Maness (2006) propos que uma Biblioteca 2.0 fosse definida como «the application of interactive, collaborative, and multi-media web-based technologies to web-based library services and collections». Este autor caracterizou a Biblioteca 2.0 com quatro elementos fundamentais:

1) É centrada no utilizador, que participa na criação de conteúdos e serviços disponibilizados na Web pela biblioteca. Esta situação leva a que a distinção entre bibliotecário e utilizadores nem sempre seja clara. O responsável da Biblioteca 2.0 não é o único, nem por vezes o principal, produtor de conteúdos, já que o utilizador tem um papel ativo nesse campo.

2) Oferece uma experiência multimédia, através da integração de componentes áudio e vídeo nas coleções e nos serviços.

3) É socialmente rica, visto que a presença da biblioteca na Web inclui os utilizadores, que comunicam entre si e com a biblioteca quer síncrona quer assincronamente.

4) É comunitariamente inovadora. Para o autor, este último aspeto é, talvez, o mais importante e singular da Biblioteca 2.0. já que, na sua opinião, uma biblioteca com estas características, além de mudar à medida que as comunidades mudam, permite que os seus utilizadores a modifiquem.

Também Margaix Arnal (2007a: 102) propôs uma definição de Biblioteca 2.0: «la aplicación de las tecnologías y la filosofía de la web 2.0 a las colecciones y los servicios bibliotecarios, tanto en un entorno virtual como real».

Para Alonso Martin (2008: 5) a Biblioteca 2.0 é «aquella que utiliza las tecnologías de la participación. La que aplica los principios fundamentales de la Web social y utiliza sus servicios y herramientas».

Em suma, podemos concluir que uma Biblioteca 2.0 ultrapassa o que habitualmente se entende por biblioteca digital, uma vez que pressupõe a inclusão dos princípios fundamentais da Web 2.0, isto é, a arquitetura de participação e a inteligência coletiva, e, portanto, a participação ativa dos utilizadores na sua construção e evolução (Figura 2).

Web 1.0 Web 2.0

Figura 2 – Papel do utilizador na construção da biblioteca 2.0. Fonte: Seoane (2008).

Se a biblioteca fundada na Web 1.0 democratizou o acesso à informação, os princípios da Web 2.0 permitiram que a biblioteca democratizasse a participação.

O envolvimento do utilizador da biblioteca na era da Web 2.0 é salientado por Curran, Murray, Norrby e Christian (2006). Esclarecem que a Biblioteca 2.0 está focalizada em levar a informação aos utilizadores por intermédio dos produtos e serviços prestados via Internet e em conseguir envolvê-los e encorajá-los conforme o seu retorno de participação.

Podem ser apontadas diversas características distintivas entre as Bibliotecas 2.0 e as que, utilizando a Internet nas suas atividades, não incorporam a filosofia e os princípios da Web 2.0. O quadro 4 sintetiza algumas dessas diferenças.

Quadro 4 – Diferenças entre a biblioteca 1.0 e 2.0.

Quando implementada em bibliotecas, a Web2.0 tem o potencial de promover redes de participação onde bibliotecários e utilizadores podem comunicar, colaborar e serem co criadores de conteúdos (Chua & Goh, 2010: 204). Pretende-se, assim, que a inclusão da Web 2.0 permita à biblioteca:

a) Ir ao encontro das necessidades dos utilizadores.

b) Cativar novos públicos e potenciais utilizadores, apresentando para tal serviços alternativos.

c) Comunicar mais facilmente e partilhar conhecimento de forma mais eficiente. No que respeita às bibliotecas escolares, além destes objetivos, pretende-se ainda que os princípios da Web 2.0 incrementem o papel educativo da biblioteca, potenciem o desenvolvimento curricular e aproximem os jovens deste espaço que se quer de aprendizagem.

Rodríguez Palchevich (2008: 3) enumera algumas razões para a inclusão de ferramentas 2.0 especificamente em bibliotecas escolares:

Biblioteca 1.0 Biblioteca 2.0

Democratização do acesso á informação Partilha informação

Estrutura estática que não sofre alterações Colaboração, o utilizador participa ativamente na construção de conteúdos Disponibiliza informação Interativa; redes participativas

Foco na coleção Foco no utilizador

O utilizador vai à Biblioteca A Biblioteca vai ao utilizador

Inteligência individual Inteligência coletiva Correio eletrónico e páginas de questões

mais frequentes (FAQ) Serviço de mensagens Instantâneas(chat) Comunidade restrita Biblioteca sem fronteiras, uso de redes

sociais na internet

Catálogo online estático Catálogo online participado

Catalogação manual Catalogação informatizada, colaborativa, em rede

Indexação Tags

Acesso físico aos documentos Acesso digital aos documentos

a) A missão da biblioteca escolar. A biblioteca escolar tem como missão principal atender a comunidade escolar e servir o projeto educativo da escola e o currículo.

Além disso, as orientações educativas nacionais incentivam a inclusão das novas tecnologias ao serviço do conhecimento. Por consequência, a biblioteca escolar está obrigada a oferecer à comunidade educativa estratégias de acesso e partilha de informação e de novos conhecimentos, o que pode ser realizado com vantagem através das aplicações 2.0.

b) As características dos utilizadores da biblioteca escolar. O formato digital e on-line é muito bem aceite e já faz parte da vida da maioria dos utilizadores das bibliotecas escolares. Estes jovens, nascidos depois dos anos 90 do século passado, são chamados de “nativos digitais” por terem nascido na era digital e daí se sentirem completamente à vontade neste tipo de ambiente, incorporando-o em todas as vertentes da sua vida. O gosto e a utilização dos ambientes digitais estendem-se à generalidade dos jovens, independentemente do seu estrato social e cultural. Não faria, portanto, sentido deixar a biblioteca escolar numa realidade à parte do que é o quotidiano dos jovens de hoje.

c) As características das aplicações. Para aceder e incorporar na biblioteca escolar as tecnologias sociais disponíveis na Web não é necessário mais do que uma ligação à Internet e um computador, elementos estes que nem necessitam estar dentro da biblioteca. As aplicações 2.0 são intuitivas, de acesso livre e na sua maioria gratuitas. A sua integração e desenvolvimento não requerem conhecimentos técnicos significativos.

d) Consequências positivas para a biblioteca. A inclusão de ferramentas 2.0 optimiza os recursos e serviços da biblioteca escolar, amplia a coleção e concede uma maior visibilidade à biblioteca, para além de aumentar a comunidade de utilizadores.

Para que tudo isto se concretize, é necessário que professores e professores bibliotecários:

a) reconheçam as mudanças no mundo da informação e respondam positiva e proactivamente às mudanças;

b) conheçam os utilizadores e coordenem os serviços em prol destes; c) incluam os utilizadores na construção de conteúdos e serviços.

Implementar este novo conceito de biblioteca, implica necessariamente que os profissionais estejam preparados e abertos às mudanças e a novas experiências,

atuem como mediadores e facilitadores, confiem nos utilizadores e aceitem que nem sempre serão o primeiro responsável pela criação dos conteúdos, já que este novo conceito de biblioteca assenta na possibilidade dos utilizadores criarem conteúdos e interagirem uns com os outros e também com os bibliotecários (Conti, 2010: 12).

Em suma, reconhecemos, parafraseando Freedman (2010), que fatores técnicos, económicos, comerciais, sociais e educacionais constituem, em conjunto, um argumento convincente para que as escolas não possam ignorar a Web 2.0. Quando utilizados de forma inovadora e significativa, a Web 2.0 permite aos estudantes o desenvolvimento de um conjunto de competências necessárias à sua participação ativa numa sociedade exigente e em permanente mudança. Este tipo de aplicações pode constituir um meio para concretizar a necessária alteração do paradigma educacional ainda vigente, tornando-o mais condizente com as exigências da sociedade atual.

3.4 Aplicação das ferramentas e serviços da Web 2.0 em

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