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O desenvolvimento da sexualidade masculina depende de como o rapaz edipiano lida com os perigos e prazeres fantasiados de ter um pénis. O orgulho no poder de ter um pénis e a sua crescente consciência do seu valor como fonte de prazer físico são ameaçados quando o rapaz se apercebe que existem pessoas sem pénis e pode haver a possibilidade de se tornar numa dessas pessoas (Stoller, 1984).

Greenacre (1958) afirmava que o sentido da masculinidade não se regia apenas por pertencer a um de dois sexos, neste caso, o masculino. O rapaz a partir do momento em que nasce vai tendo mais consciência do seu pénis, primeiro porque o sente e depois

32 porque dá um sentido para o ter. Por essa razão, o pénis não é essencial para a aquisição da masculinidade porque a criança pode ou não dar-lhe significado.

Para Stoller (1984), a identidade de género é derivada a partir de três fontes: a) a anatomia e fisiologia da genitália, b) a atitude dos pais, familiares ou pares em relação ao papel do género da criança, e c) a força biológica que pode mais ou menos modificar forças “atitudinais” provenientes do ambiente.

O género é uma forma de hierarquia onde quem é superior é o masculino. Há uma tentativa dos homossexuais de evitar a categorização de género, porque, no geral, as pessoas reconhecem o género como “é normal ou não é normal” (Corbett, 1996). Tendem também a confundir as categorias destinadas ao género e as categorias destinadas à sexualidade. Mas não se pode correlacionar a infância efeminada de um rapaz e a sua homossexualidade em adulto, ou seja, não se pode correlacionar a identidade de género desenvolvida na infância com a identidade sexual do adulto. Por outro lado, segundo Goldner (1991), a personalidade, a identidade de género e as estruturas de relacionamentos desenvolvem-se juntas, co-evoluindo e co-determinado umas com as outras. Há uma extrema dificuldade em generalizar as declarações sobre os géneros, porque os géneros têm um número infinito de substantivos (Corbett, 1996).

A feminidade no homem não deve ser vista como um contínuo – de mais para menos feminino – sendo quanto mais feminino mais défices de ego e maior possibilidade de uma personalidade patológica (Corbett, 1996). Para Friedman (1998), o homem homossexual quanto mais masculino for, menos probabilidade de ter uma personalidade patológica. Este contínuo de feminidade pode ser vista como um distúrbio da identidade de género ou uma não-conformidade de género (Corbett, 1996). Rapazes que são identificados com um distúrbio de identidade de género são vistos como extremamente femininos e severamente stressados. Rapazes que são identificados com uma não-conformidade de género são menos problemáticos, seja em relação à sua feminidade seja em relação à sua doença mental. Para o autor, não existe um contínuo de feminidade mas sim um contínuo de integração do ego e da estrutura psíquica. Os rapazes que demonstram comportamentos que não estão de acordo com o seu “género” encontram por parte dos outros hostilidade e desprezo. Esta antipatia surge muitas vezes comparando rapazes com raparigas como se ser rapariga fosse uma maneira de desvalorizar. Com o rapaz maricas, a feminidade torna-se um sintoma.

33 4. O Rapaz Efeminado

A infância dum rapaz efeminado pode ser confundida com a infância dum rapaz homossexual (Corbett, 1996). A infância dum homossexual como categoria conceptual não existe. A existência de rapazes proto gays tem sido até hoje silenciada ou estigmatizada. Os bullies identificam-nos como maricas, até os psiquiatras afirmam que estes rapazes possuem síndrome de rapaz maricas. A vida destes rapazes é contemplada com uma espécie de caridade silenciosa que esconde antipatia. Green (1987), Stoller (1984) e Friedman (1988) afirmaram que estas crianças que têm uma maneira de ser mais amaricada possuem um distúrbio de identidade de género. Mas a palavra «maricas» transmite-nos uma noção de fraqueza, delicadeza imprópria, e debilitação, desprovida de possibilidades desta criança ter nascido com resistência, capacidade de agir (Corbett, 1996). Muito diferente de rapaz efeminado: “eu nunca acreditei que fosse uma menina, mas tinha dificuldade a acreditar que era um menino. Apenas se tem duas opções.”.

A noção de género com a noção de homossexualidade vem contradizer e vai mais para além das categorias convencionais da masculinidade e feminilidade (Corbett, 1996). Para os homossexuais, segundo Freud, a virilidade não tem necessariamente de corresponder a masculinidade, e feminilidade não tem necessariamente de corresponder a feminidade. Para Freud, os homossexuais são geralmente localizados na teoria de género onde a distinção está entre o que é o feminino e o que é o masculino. Para quem ainda utiliza o conceito rapaz maricas, o género é o que sempre foi. Homens e rapazes ficam ansiosos cada vez que são caraterizados como feminino, porque sentem vergonha de serem “acusados” de terem perdido o género que era suposto terem (Butler, 1993). Esta ansiedade e vergonha que sentem deve-se à homofobia.

As Mães na Relação com os Filhos

O superego representa uma ordem do pai para a separação, e o ego ideal representa a meta que é a unicidade maternal (Benjamin, 1988). O superego corta a criança da mãe, o ego ideal puxa a criança em direção a ela de novo (Chasseguet- Smirgel, 1976). A mãe é vista como a única narcisista, negando o erótico, o conteúdo edipiano do desejo da criança por ela (Benjamin, 1988). A mãe aparece como temida, como figura arcaica que o pai edipiano tem de derrotar (Chasseguet-Smirgel, 1976).

34 No complexo de Édipo, a confrontação com a realidade é contingente no encorporamento da diferença do pai e do princípio da realidade (Benjamin, 1988). A mãe parece não ter um papel ativo em trazer a criança para a realidade. A mãe utiliza a sua força magnética de regressão e o pai luta contra isso. O pai está associado à idade adulta, separação e auto-controlo. Mas mesmo que o pai signifique crescer e separação, isso não significa que o pai seja o que faz com que a criança se desenvolva.

Apesar da dominação da mãe pelo pai, no inconsciente, a mãe reina como uma figura omnipotente (Benjamin, 1988). Por detrás de uma aparente dominância masculina está uma realidade baseada numa omnipotência da mãe primária.

Na luta entre o pai e a mãe, quando o pai vence, o resultado é a crença é que o derrotado, a mãe, é demasiado perigosa e poderosa para coexistir com ela (Benjamin, 1988). Os laços narcísicos conseguidos através da identificação denigrem a associação com a feminidade, e logo, com a experiência com a mãe primária. Se houver uma absência emocional do pai é péssimo porque a criança não terá qualquer obstáculo na sua ilusão de omnipotência.

Diferenciação primária, separação da mãe é baseada na identificação com o pai (Benjamin, 1988). Assim, a tentativa de gerir a dependência através de sentimentos de unicidade está reservada à identificação com a mãe. Cada uma destes aspetos estão associados ao género: independência com masculinidade e unicidade com feminilidade. No modelo edipiano, o pai, seja qual for a forma – seja o limitador do superego, a barreira fálica, ou aquele que proíbe na fase fálica – representa sempre a diferença e disfruta duma posição privilegiada sobre a mãe (Benjamin, 1988). O poder da mãe é identificado com gratificações primárias e primitivas que deve ser renunciado, enquanto o poder do pai é associado com desenvolvimento e crescimento. A autoridade do pai é suposto proteger-nos da irracionalidade e submissão; ela atrai-nos para a transgressão.

São os desejos inconscientes da mãe que nos fazem ser quem somos (Sperling, 1959), nomeadamente a feminilidade. Stoller (1993) põe como hipóteses que a extrema feminilidade em alguns meninos resulta de uma forma específica de dinâmica familiar e que a feminilidade nestes meninos não constitui uma defesa contra a ansiedade primitiva, avassaladora, mas, ao contrário, surge devido à gratificação excessiva. Relativamente à primeira hipótese, Stoller verificou que “quanto mais mãe e menos pai, mais feminilidade” (1993, 48). Nesta hipótese, o desenvolvimento da criança para porque a simbiose mãe-bebé é excessivamente estreita e gratificante e não perturbada pela presença do pai. Esta simbiose impede com que o menino se separe psiquicamente

35 de modo adequado do corpo de mulher da mãe e do seu comportamento feminino. Quando os casos são mais extremos, onde os meninos desejam tornar-se mulheres, Stoller (1993) considera que os meninos estão num estado defensivo congelado, mas que têm um núcleo de uma estrutura de carácter confortável, primitiva, que apenas depois de um tempo fica acrescida de ansiedade e de componentes conflituais. Quando a feminilidade é demasiado acentuada podemos dizer que é um caso de fixação porque há um processo que não se desenvolveu de forma normal e foi bloqueado. Isto tudo porque os meninos se tornaram apêndices das mães não havendo uma experiência de separação e individuação.

Estes meninos que recebem de mais das mães que não permitem eles tornarem autónomos são mãe que tiveram menos, que foram menos investidas, e que precisam manter os seus filhos (Stoller, 1993), como se ainda fossem parte dos seus corpos, de modo a curar o sentimento de não ter valor enquanto mulher. Este bebé, que está constantemente rodeado pelo amor e esforço da mãe para anular a dor e a frustração, irá tentar esquivar-se desta mãe. A mãe, em resposta, para evitar com que o seu filho escape, produzirá nele ansiedade primitivas, que não são fortes o suficiente para que faça com que o menino se mova para a masculinidade. Este amor, esta inundação do desenvolvimento do menino num ambiente quase sem frustração, deve-se à falta de pai. Ele não está lá como uma pessoa com quem identificar-se e a quem amar, e o pai não está lá para proteger o filho da conduta envolvente da mãe.