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GÉNEROS ESCOLARES – APRECIAÇÃO CRÍTICA

PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

CAPÍTULO 2 – PROGRAMA DO ENSINO SECUNDÁRIO

2.2. GÉNEROS ESCOLARES – APRECIAÇÃO CRÍTICA

No Programa do 3.º Ciclo do Ensino Básico encontramos o termo géneros escolares nos domínios da Oralidade, Leitura e Escrita relacionando-se com compreensão e produção de discurso oral, leitura e interpretação de texto, e produção escrita, respetivamente (BUESCU et al, 2015). Considerando que a referência a géneros escolares engloba diferentes textos, como, por exemplo, artigo de opinião, apreciação crítica, etc., entende-se que o conceito se relaciona com formatos de texto que circulam na sociedade e compreende diferentes situações de comunicação, que devem ser dadas a conhecer ao aluno. Porém, o seu ensino implica o reconhecimento de que “[…] há um desdobramento que se opera, em que o género não é mais

10 “[…] espera-se dos alunos que, no final do 3.º Ciclo, reconheçam explicitamente a estrutura geral da sua língua

e os principais processos por que ela se constrói e gera sentido, e tenham capacidade de utilizar, oralmente e por escrito, passiva e ativamente, os recursos linguísticos, fazendo um uso sustentado do português padrão nos diferentes contextos discursivos e sociais em que é utilizado” (BUESCU et al, 2015, 28).

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instrumento de comunicação, mas, ao mesmo tempo, objeto de ensino/aprendizagem […]”

(SCHNEUWLY e DOLZ, 1999, 7). Como mencionam os referidos autores

“Trata-se de colocar os alunos, ao mesmo tempo, em situações de comunicação que estejam o quanto mais próximas de verdadeiras situações de comunicação, que tenham um sentido para eles a fim de melhor dominá-las como realmente o são, sabendo, o tempo todo, que os objetivos visados são outros.” (SCHNEUWLY e DOLZ, 1999, 10)

Assim, a escola, em particular a disciplina de Português, deve proporcionar aos alunos o ensino e aprendizagem de géneros de texto formais, que são veículo de comunicação num determinado espaço temporal, social e cultural, sendo necessária a sua explicitação para uma melhor compreensão da realidade a que se reportam e também das diferentes áreas de atividade de que precedem.

Dos géneros textuais contemplados no Programa do Ensino Secundário, nomeadamente no 10.º ano de escolaridade, referidos na secção 2.1., selecionei, para realizar a intervenção pedagógica, o género textual apreciação crítica. A escolha deste género textual procedeu de fatores de diversa ordem: em primeiro lugar, relacionou-se com o facto de ter tido em conta a planificação anual da disciplina e de a intervenção pedagógica ter de ser desenvolvida no segundo período; e, em segundo lugar, prendeu-se com a necessidade de aprofundar os meus conhecimentos acerca do referido género de texto.

Antes de enunciar as marcas gerais e específicas deste género textual, torna-se necessário dissecar a noção de género textual enquanto sustentáculo do ato da língua que, como refere SCHNEUWLY e DOLZ, apresenta

“[…] três dimensões [que] parecem essenciais: 1) os conteúdos e os conhecimentos que se tornam dizíveis através dele; 2) os elementos das estruturas comunicativas e semióticas partilhadas pelos textos reconhecidos como pertencentes ao género; 3) as configurações específicas de unidade de linguagem, traços, principalmente, da posição enunciativa do enunciador e dos conjuntos particulares das sequências textuais e de tipos discursivos que formam a sua estrutura (SCHNEUWLY e DOLZ, 1999, 7).

As regularidades na prática da linguagem permitem reconhecer as marcas linguísticas que definirão o género textual, ou seja, que o torna “[…] um termo de referência intermediário para a aprendizagem” (SCHNEUWLY, DOLZ, 1999, 7), logo “[…] o conhecimento das características do género permite antecipar aspetos de estruturação global do texto” (COUTINHO, 2004, 4). Como se pode verificar na figura abaixo, o desenvolvimento do género textual apreciação crítica assenta na identificação e caracterização de marcas de género específicas a fim de se atingir a intencionalidade comunicativa que o mesmo compreende.

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Apreciação crítica

Marcas de género comum Marcas de género específicas Tema, informação significativa,

encadeamento lógico dos tópicos tratados, aspetos paratextuais (e.g. título e subtítulo, notas de rodapé ou notas finais, bibliografia, índice e ilustração), correção linguística.

Descrição sucinta do objeto, acompanhada de comentário crítico.

Figura 5 - Marcas do género apreciação crítica Fonte: Programa de Ensino Secundário (2014)

A apreciação crítica como género escolar começa a ser trabalhada no domínio da Oralidade no 3.º Ciclo do Ensino Básico, nomeadamente no último ano de escolaridade deste ciclo, e, independentemente da especificidade de cada um dos domínios, permite que os alunos adquiram alguma consciência do tipo de discurso que o género textual apreciação crítica encerra. Para além disso, desde o Segundo Ciclo do Ensino Básico que os alunos trabalham os géneros textuais com sequências descritivas e argumentativas. Embora sabendo que a “[…] descrição assume diferentes configurações de acordo com os géneros textuais em que se insere e os objetivos a que se destina […]” (Sebastião, 2013, 204), prevê-se que os alunos detenham algumas competências neste tipo de sequências, assim como nas sequências argumentativas. Da análise do Programa do 3.º Ciclo do Ensino Básico nos domínios da Oralidade, Leitura, Educação Literária e Escrita depreende-se que a referência a sequências descritivas e argumentativas é uma constante, tal como o seu treino quer a nível da produção oral quer a nível da escrita; ver a título de exemplo o conteúdo argumentativo no 3.º Ciclo do Ensino Básico (cf. ANEXO 1).

Assim, os alunos, perante este novo conteúdo do domínio da Escrita, poderão, no 10.º ano, aplicar os seus conhecimentos de sequências textuais aprendidas anteriormente, ajustando- os ao género textual em estudo, ou seja, adequando o tipo de discurso e os mecanismos de enunciação necessários a um texto de apreciação crítica, sob orientação do professor.

Do exposto neste capítulo, compreende-se que os documentos orientadores determinam que as metodologias adotadas para o ensino da escrita o contemplem como processo e se ensinem diferentes géneros textuais de forma progressiva. Infere-se também, da leitura dos Programas, que o treino é necessário para a aprendizagem da escrita, sendo, inclusive, prescrito o número de horas de trabalho para cada um dos domínios da disciplina, que deve ser adaptado consoante a especificidade de cada turma. Igualmente se compreende que, apesar de o género textual apreciação escrita surgir, no domínio da Escrita, pela primeira vez no 10.º ano de escolaridade, os alunos já têm conhecimento de sequências descritivas e argumentativas. Todavia, as marcas específicas de um género textual devem ser aprendidas de modo explícito e

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rigoroso para que o aluno consiga elaborar devidamente o texto e melhorar o seu desempenho progressivamente.

Na segunda parte deste relatório apresentarei e descreverei, de modo sucinto, o trabalho desenvolvido na PES; exporei, de forma pormenorizada, o projeto de intervenção pedagógica; analisarei os resultados obtidos; e refletirei acerca da sua pertinência.

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PARTE II- PRÁTICA DE ENSINO SUPERVISIONADA