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2.3 Algumas concepções de gêneros jornalísticos

2.3.1 Gênero notícia na área da Comunicação

As diversas abordagens a respeito dos gêneros textuais, veiculados na mídia impressa, apresentam imprecisão quanto a uma classificação destes gêneros, como em relação a uma distinção segura e bem fundamentada entre o gênero notícia e o gênero reportagem. Medina (1985, p. 51) ressalta que as tendências da informação só podem ser observadas mediante uma análise direta da evolução do jornalismo impresso. No Brasil, segundo a autora: Predominavam como notícia os ―fatos da sociedade‖, alguns escândalos políticos e, de vez em quando, um ou outro crime. O repórter estava por surgir. Era preciso que, antes dele, surgisse a notícia. (MEDINA, 1988, p. 52).

Lage (1982, p. 33) reforça que a notícia, considerando-se seu sentido amplo e sua antiguidade, é um meio de transmissão de experiência, propiciando o relato de fatos a quem não os presenciou. As notícias constituíam relatos importantes para o comércio, a política e

outros segmentos socioeconômicos, impregnados de crenças e visões individuais do seu escritor/produtor, dizendo respeito aos interesses diretos de um segmento social.

A notícia se define, no jornalismo moderno, como o relato de uma série de fatos a partir do fato mais importante ou interessante; e de cada fato, a partir do aspecto mais importante ou interessante. (LAGE, 2003, p. 16).

A grande mudança no Jornalismo dá-se a partir do impacto da Segunda Guerra Mundial e da invenção do rádio, impulsionando um novo conteúdo atual, universal e com significação voltada ao aparecimento de uma nova audiência: a grande massa. Admite-se, na literatura, que esse novo conteúdo seria alvo da notícia, responsável pelo ciclo jornal- informação-leitor e vice-versa, tendo como base a manifestação-núcleo do jornal-notícia.

À essa época aparecem, internacionalmente, as agências de notícias. O telégrafo passa a ser utilizado para reduzir as distâncias e o rádio começa a veicular informações atualizadas. Segundo Lage (1983, p. 34), a notícia, voltada para o imediato e o concreto, vem exercer papel de destaque nas agências, nos jornais, nas emissoras de rádio e de televisão, em implantação no mundo. Agregando mais importância à notícia, Amaral (1997, p. 39) a define- a como:

[...] a matéria-prima do jornal, a base de tudo o que é publicado, da nota mais alegre ao mais sério editorial. Em sua busca, concentra-se todo o esforço da redação. Ela comanda o ritmo de trabalho, determina horários, impõe gastos, provoca edições extras. Sem ela não haveria o que dizer, comentar, criticar ou elogiar. (AMARAL, 1997, p. 39).

Reforçando esse papel, Amaral adota a revista norte-americana Collier´s Weekley, que após pesquisa de opinião entre jornalistas, traçou alguns conceitos sobre notícia. O autor (1997, p. 39-40) destaca que: ―[...] é tudo o que o público necessita saber, tudo o que o público deseja falar‖; ―[...] a inteligência exata e oportuna dos acontecimentos, descobertas, opiniões e assuntos de todas as categorias que interessam aos leitores‖. Além disso, Amaral menciona: ―[...] é um pedaço do social que volta ao social‖ e ―as notícias são comunicações sobre fatos surgidos na luta pela existência do indivíduo na sociedade‖.

Observou-se que os dois últimos conceitos da revista norte-americana encaixam- se na temática desta pesquisa. A notícia, como ―um pedaço do social que volta ao social‖ e/ou como ―comunicação sobre fatos surgidos na luta pela existência do indivíduo na sociedade‖, referenda a dinamicidade desse Gênero Jornalístico, bem como a sua perspectiva multidisciplinar, possibilitando, assim, o seu uso nos mais diversos contextos sociodiscursivos.

Cardet (1981, p. 38-42), considerando apenas o gênero notícia, desenvolve quatro princípios para caracterizar uma notícia jornalística. O primeiro aponta que ―a notícia é um

fato atual, com interesse geral‖. O segundo estabelece os seguintes critérios: a atualidade ou o interesse geral, como condição para o reconhecimento da notícia. O terceiro caracteriza a notícia, como subdividida em duas partes essenciais: ―o lead, que é o primeiro parágrafo, e o corpo da notícia, que corresponde aos demais parágrafos‖. O quarto indica as condições técnicas mínimas de uma notícia: o interesse geral de uma notícia e o critério pessoal de um repórter, para considerar o que interessa e o que não interessa ser publicado.

Na realidade, as teorias elaboradas por Cardet (1981) incidem, diretamente, nos aspectos estruturais da notícia e da reportagem, embora se mostrem mais imprecisas do que as que vêm sendo aceitas na área da Comunicação. Ao defender ―atualidades‖ e ―interesse geral‖, como condições básicas, o autor apenas reforça o que já é de consenso para muitos estudiosos, mas desconsidera outras, tais como veracidade, instantaneidade, imparcialidade, raridade e precisão. Além disso, as unidades essenciais da notícia não se constituem apenas do ―lead‖ e do corpo da notícia, mas abrangem também o título e/ou subtítulo, assim como a

fotografia, acompanhada de legenda, podendo ainda dispor de alguma nota, boxe ou notícia coordenada.

As condições técnicas mínimas de uma notícia, defendidas pelo autor, restringem os fatores de relevância para um assunto ser trabalhado como notícia e/ou reportagem. Ao colocar o critério pessoal de um repórter como fundamental, nesse tipo de decisão, ele delimita ainda mais essa possibilidade, condicionando-a ao caráter de subjetividade desse profissional e, inclusive, desconsiderando a existência de regras das empresas jornalísticas para isso.

Amaral (1997, p. 41) estabelece quatro qualidades para que uma boa informação se torne uma notícia: - interessante, fugindo do banal do cotidiano; - abrangente, despertando interesse de um maior número de pessoas; - nova; - verdadeira. A qualidade ―verdadeira‖ é tema de discussão e contradições por parte de alguns estudiosos da área. No caso de uma notícia inverídica, a sua retificação, ao ser publicada, será ou não considerada também notícia? O autor (1997, p. 41) frisa que ―verdadeira‖ deve ser compreendida em seu sentido restrito, isto é, como forma de qualificar a boa informação jornalística. Para Gonçalves (1962/63),

A falsa notícia é, antes de tudo, uma informação como as outras. Ela desempenha o mesmo papel social. A sua existência é possível, devido ao fato de que a autenticidade da informação importa pouco à satisfação da necessidade direta de notícias e que as relações sociais supõem um mínimo de confiança e de credulidade. (GONÇALVES, 1962/63).

Rabaca et Barbosa (1978, p. 324) caracterizam a notícia como ―relato de fatos ou acontecimentos atuais, de interesse e importância para a comunidade, e capaz de ser compreendido pelo público‖, sendo classificada como prevista ou imprevista, espontânea ou provocada, local, estadual, nacional ou internacional. É indispensável, no entanto, que a notícia possua determinados atributos, como: atualidade, veracidade, oportunidade, interesse humano, raridade, curiosidade e importância junto ao público envolvido.

No Manual de Redação do Jornal Folha de São Paulo (2001, p. 88), que se autodenomina o projeto editorial do maior jornal do país, o gênero notícia é abordado como:

Puro registro dos fatos, sem opinião. A exatidão é o elemento-chave da notícia, mas vários fatos descritos, com exatidão, podem ser justapostos de maneira tendenciosa. Suprimir ou inserir uma informação no texto pode alterar o significado da notícia. Não se deve usar desses expedientes. (MANUAL, 2001, p. 88).

Na pretensão de conceituar notícia, Pena (2008, p. 71) ressalta o elevado número de fatos que se tornam do conhecimento dos jornalistas, enfatizando que apenas uma pequena parcela é publicada e veiculada, ou seja, vira notícia. Mas, o que norteia os jornalistas sobre o que pode ou não ser notícia? Por conseguinte, do que deve ou não ser do conhecimento do público? Quais os critérios estabelecidos e adotados para essa decisão? Ao propor indagações semelhantes, Pena (2008) as toma como o cerne de diversos modelos teóricos do jornalismo.

Revelar o modo como as notícias são produzidas é mais do que a chave para compreender o seu significado, é contribuir para o aperfeiçoamento democrático da sociedade. Para isso, utilizo a perspectiva teórica do newsmaking, que considera o trabalho jornalístico a construção social da realidade. (PENA, 2008, p. 71).

Na prática, os jornalistas levam em conta uma cultura própria, no momento em que escolhem o que será ou não notícia. Como ressalta Pena (2008, p. 71), ―há critérios próprios, considerados óbvios, quase instintivos‖. Em oposição a essa idéia de obviedade, Wolf (2002) sistematiza esses critérios, defendendo a capacidade de noticiabilidade para que um fato seja transformado ou não em notícia. Inclusive, estabelece uma relação de proporcionalidade, isto é, quanto maior o grau de noticiabilidade, maior será essa capacidade. Essa proporcionalidade é medida através do que o estudioso denomina de valores-notícia, cujos critérios são:

Valores-notícia

Categorias substantivas

- Importância dos envolvidos - Quantidade de pessoas envolvidas - Interesse nacional

- Interesse humano - Feitos excepcionais

Categorias relativas ao produto

- Brevidade > nos limites do jornal - Atualidade

- Organização interna da empresa - Qualidade > ritmo, ação dramática - Equilíbrio > diversidade de assuntos

Categorias relativas ao meio de informação

- Acessibilidade à fonte/local - Formação prévia/manuais - Política editorial

Categorias relativas ao público

- Plena identificação de personagens - Serviço/interesse público

- Protetividade > evitar suicídios etc.

Categorias relativas à concorrência

- Exclusividade ou furo - Gerar expectativas - Modelos referenciais (WOLF, 2002)

Quanto às categorias de Wolf (2002), Pena (2008, p. 72-74) detalha as formas de uso de cada uma delas. O autor frisa que essa sistematização tem as normas ocupacionais de modo mais incisivas do que ―as preferências pessoais na seleção e filtragem das notícias‖. Pena (2008) argumenta que a noticiabilidade é negociada, colocando esses critérios como variáveis.

O repórter negocia com o editor, que negocia com o diretor de redação, e assim por diante. E os próprios critérios estão inseridos na rotina jornalística, ou melhor, tornam possível essa rotina, pois são contextualizados no processo produtivo, em que adquirem significado, desempenham função e tornam-se elementos dados como certos, o conhecido senso comum da redação. (PENA, 2008, p. 73-74).

As definições e classificações do gênero notícia, ora apresentadas, bem como as abordadas e comparadas com as do gênero reportagem, ao longo deste trabalho, visam delinear, com a maior clareza e atualidade possíveis, os estudos teóricos da área. No entanto, torna-se importante levar em conta que ainda há imprecisões e lacunas nessas definições e classificações destes gêneros.

As relações das empresas jornalísticas, contagiadas pela maior necessidade de público leitor por notícias novas, substituem a produção individual, centrada no papel do escritor, por uma criação coletiva de uma equipe de repórteres. Conforme Medina (1988, p. 53), nessa ocasião, o Jornalismo brasileiro registra o surgimento da reportagem, através dos trabalhos jornalísticos do escritor carioca João do Rio, produzidos no período de 1900 a 1920.

O aparecimento da reportagem não significa ainda um possível gênero jornalístico, capaz de ser diferenciado dos demais: notícia, opinião, editorial. Na realidade, constata-se que a reportagem e a notícia funcionam como um divisor entre a Literatura e o Jornalismo. Medina (1988, p. 61) defende que, nesse período, os artigos literários passaram a

ser substituídos por notícias e reportagens. A exemplo disso, João do Rio é enaltecido por ser um escritor capaz de transformar-se em repórter, e sua produção, em reportagem.

A reportagem começa a ser reconhecida como gênero, na prática diária dos repórteres, construindo a história dos fatos presentes. Critérios de conteúdo são adotados para garantir maior profundidade das informações trabalhadas antes, para as notícias. Tais medidas influenciam a nova concentração de Jornalismo, que começa a ser defendido como distinto da Literatura. Além da observação da realidade e da coleta de informações, o Jornalismo brasileiro desenvolve uma nova técnica, a de entrevistas a fontes, sendo utilizada tanto para a notícia, como para a reportagem. A participação dos personagens, através das entrevistas, dá- se de uma forma mais incisiva, inclusive com a subjetividade do produtor.

Segundo Medina (1988, p. 62), os critérios de conteúdo, aprofundando e ampliando as informações imediatas (características básicas da notícia), premissas de uma grande reportagem hoje, são visíveis na matéria jornalística de João do Rio. Na década de 60, a reportagem ganha caráter interpretativo, mesclando a subjetividade do produtor com a de seus personagens, iniciando nova tendência: a do jornalismo interpretativo.

Nessa época, constata-se que a influência do gênero literário ainda é muito acentuada, inclusive com uso de recursos retórico-estilísticos, como metáforas, adjetivos e exclamações, provocando, assim, frases pesadas, exatamente opostas às frases dinâmicas já adotadas pelo jornalismo de então. Essa influência não impediu que o jornalismo brasileiro ampliasse as duas categorias: opinião (artigos e crônicas) e notícia (geralmente telegrama copidescado pelas redações das empresas jornalísticas), para mais duas novas categorias: reportagem e entrevista, atualmente já consideradas como gêneros distintos.

O surgimento da reportagem deve-se tanto ao estabelecimento e à modernização do jornalismo, como a uma série de mudanças políticas e econômicas, ocorridas a partir de 1930 no país, com o Estado Novo, e, por consequência, o advento da censura. O Jornalismo submete-se ao crivo de controle do Governo. Para sobreviver, adota o sensacionalismo, até que o desenvolvimento tecnológico propicia o aparecimento de novas formas jornalísticas, no Brasil, à semelhança do que já ocorria nos Estados Unidos, por exemplo. Medina (1988, p. 66) frisa que, nessa época, o jornalismo passa a compreender notícia, reportagem, entrevista, editorial, pesquisa de reconstituição histórica de fatos diários, crônicas, crítica de espetáculos e de arte.

Bond (1962, p. 91) diz que a ―notícia é uma reportagem oportuna sobre coisa de interesse para a humanidade, e a melhor notícia é a que interessa ao maior número de leitores‖. O autor lista temas de possível interesse do leitor, como: realizações, cultura, fé,

tragédia, saúde, heroísmo, mistério, auto-aperfeiçoamento, recreação, romance, ciência e segurança.

Vários estudiosos se contrapõem à estreita ligação entre notícia e reportagem, defendendo a distinção entre as duas. Bahia (1972) desenvolve algumas tentativas de conceituação para essas categorias jornalísticas. A notícia estaria subdividida quanto à ocorrência: em previstas, imprevistas e mistas; quanto à procedência: em local, estadual, nacional e internacional; quanto à técnica de tratamento: em pesquisa, comparação, interpretação e seleção. A reportagem é abordada como a grande notícia, enquanto a entrevista é tratada como a reportagem provocada.

No caso da reportagem, Rabaca et Barbosa (1978, p. 405) ressaltam o ―conjunto das providências necessárias à confecção de uma notícia jornalística: cobertura, apuração, seleção dos dados, interpretação e tratamento‖, isso de acordo com as técnicas de um texto jornalístico. Em síntese, a ―notícia é resultado de uma reportagem, e não a reportagem em si‖.

Ratificando a dificuldade instaurada na busca de distinguir notícia de reportagem, Lage (1982, p. 35) aponta dois fatores. O primeiro seria a questão polissêmica da palavra reportagem; o outro, corresponderia à estrutura adotada pela mídia impressa, para as notícias e/ou reportagens. A palavra reportagem designa um gênero jornalístico e/ou denomina uma seção da empresa jornalística responsável pela produção indistinta de notícias, reportagens, artigos, editoriais, boxes ou notícias coordenadas, infografismo, dentre outros gêneros jornalísticos.

Quanto à questão da estrutura da notícia e/ou da reportagem, os periódicos tratam- nas, semelhantemente, apresentando uma organização visual idêntica (fotos, desenhos, infografismo). A diferença maior estaria no fato de que a reportagem aborda o(s) assunto(s) de forma mais investigativa e interpretativa, enquanto a notícia restringe-se ao assunto factual. No Manual de Redação e Estilo do jornal O Estado de São Paulo (1990, p. 67), a reportagem é tida como a essência do jornal, diferenciando-se da notícia pelo seu conteúdo, extensão e profundidade, enquanto a notícia, em geral, busca descrever o fato e, quando muito, seus efeitos e consequências. Conforme esse Manual, a reportagem parte da própria notícia, mas prossegue desenvolvendo uma sequência investigativa que vai além da notícia.

O Manual de Redação e Estilo O Globo11 (1992, p. 27/29) trabalha o gênero reportagem direcionando-o para a compreensão do público/leitor, priorizando critérios de

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Fundado pelo jornalista Irineu Marinho, proprietário do vespertino A Noite, O jornal O Globo é diário de notícias, fundado em 29 de julho de 1925 e sediado no Rio de Janeiro. tinha a intenção original de ser um diário matutino para expandir o público leitor da empresa. Acabou sendo o carro-chefe do grupo. Como Irineu faleceu

conteúdo. Frisa que a ―reportagem é muitas vezes uma história: fatos que se sucederam, até um desenlace‖, e que não existe reportagem, independente do tema, se não houver gente. Nesse Manual (1992, p. 33), o gênero notícia encontra-se definido como matéria leve e que ―os dados pitorescos e inusitados são os que realmente dão interesse à notícia‖.

Em relação às possíveis definições de notícia e reportagem, o Guia de Redação e Estilo do jornal O Povo (1998, p. 63) traça uma relação com matéria, matéria coordenada,

matéria de serviço, matéria principal, noticiário econômico, noticiário esportivo, noticiário policial e, por último, como texto. A obra (1998, p. 63) traz a matéria como ―palavra do

jargão jornalístico que se refere aos textos noticiosos, como reportagem, entrevista e material recebido de agências de notícias.‖ No entanto, à exceção de entrevista, que apresenta algum tipo de definição, os termos textos noticiosos, reportagem e material de agências de notícias

não dispõem de uma definição capaz de diferenciá-los, sendo adotados de forma aleatória. Por sua vez, o gênero notícia é substituído pelo termo noticiário que não é definido, embora classificado em noticiário econômico, noticiário esportivo e noticiário policial. Na realidade, a inexistência de definições precisas aos termos: notícia, bem como ao substituto noticiário, e reportagem, dentre outros gêneros jornalísticos possíveis, reforça o pressuposto de que as empresas jornalísticas costumam tratar os gêneros de acordo com suas linhas editoriais e, inclusive, conforme seus planejamentos gráficos.

Em geral, a definição de reportagem é construída a partir da comparação com a notícia. Exemplo disso são as abordagens de vários estudiosos e profissionais da mídia. Noblat (2003, p. 130) tem a notícia como ―um relato mais curto de um fato‖, enquanto a reportagem compreende ―o relato mais circunscrito.‖ Na concepção de Lage (2003), a principal diferença entre notícia e reportagem está na prática, através da pauta. Conforme Lage (2003, p. 47), ―para as notícias, as pautas são apenas indicações de fatos programados [...] reportagens pressupõem outro nível de planejamento‖.

Na intenção de estabelecer uma distinção mais precisa entre esses dois gêneros jornalísticos, Pena (2008, p. 76) ratifica o quadro comparativo entre notícia e reportagem, proposto por Corrêa (2003), considerando-o mais incisivo. A relevância da proposta de Corrêa deve-se a cuidadosa descrição e detalhamento das características destes gêneros.

semanas após a fundação do jornal, O Globo foi herdado por seu filho Roberto Marinho, que por meio do jornal conseguiu ascensão econômica e política criando um conglomerado de empresas de mídia que formou, junto com sua TV Globo, Rádio Globo, Editora Globo e demais veículos as chamadas Organizações Globo.

Quadro 2 - Comparativo entre Notícia e Reportagem.

A notícia apura fatos A reportagem lida com assuntos sobre fatos A notícia tem como referência a

imparcialidade

A reportagem trabalha com o enfoque, a interpretação A notícia opera em um movimento

típico da indução (do particular para o geral)

A reportagem, com a dedução (do geral, que é o tema, ao particular – os fatos)

A notícia atém-se à compreensão imediata dos dados essenciais

A reportagem converte fatos em assuntos, traz a repercussão, o desdobramento; aprofunda

A notícia independe da intenção do veículo (apesar de não ser imune a ela)

A reportagem é produto da intenção de passar uma

―visão‖ interpretativa

A notícia trabalha muito com o singular (ela se dedica a cada caso que ocorre)

A reportagem focaliza a repetição, a abrangência (transforma vários fatos em tema)

A notícia relata formal e secamente – a pretexto de comunicar com imparcialidade

A reportagem procura envolver, usa a criatividade como recurso para seduzir o receptor

A notícia tem pauta centrada no essencial que recompõe um acontecimento

A reportagem trabalha com pauta mais complexas, pois aponta para causas, contextos, consequências, novas fontes.

Fonte: Corrêa (2003).

Em estudo anterior, Silva (2002) traçou uma descrição sobre como se constrõem a notícia e a reportagem, quais as suas especificidades, verificando o que representam e atestando que são gêneros distintos. Esta pesquisa considerou os autores da área da Comunicação, destacando os citados nesta subunidade, e os da área da Linguística, priorizando as contribuições de van Dijk (2003 [1983 e 1985]), quanto ao ―Modelo Estratégico de Processamento do Discurso‖ e às ―Estruturas Temáticas do Discurso da Notícia‖ e à proposta de Swales (1981, 1984, 1990, 1992a, 1992b, 1992c), para a análise de gêneros, descritos a seguir.