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GÊNERO TEXTUAL

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O presente estudo tem como foco a retextualização de gêneros na produção textual, portanto, cabe, nesse capítulo, tratar a questão do gênero textual e de sua importância na e para a aprendizagem dos alunos. O gênero textual traz em si a representação de um processo expressivo, historicamente constituído, que serve de base a qualquer sujeito usuário de uma língua para construir um texto, seja oral, seja escrito para comunicar-se. Insere-se nessa comunicação sua finalidade no contexto situacional em que acontece e a adequação da fala ou escrita às circunstâncias pedidas. Dessa forma, o gênero serve a esse momento como ferramenta operacional das atividades comunicativas e seus objetivos nesse processo em que a comunicação se concretiza. Dolz e Schneuwly (2004, p.20) concebem a noção de gênero com a metáfora

35 “instrumento” semiótico que capacita o desenvolvimento das expressões comunicativas acionadas para e no evento comunicativo – texto – de acordo com o lugar social que as definem. Da mesma forma que o lugar social é diversificado, as circunstâncias de comunicação também são várias e mutáveis, o que explica a quantidade infinita de gêneros, que circulam na sociedade. Mesmo tendo os gêneros designações diversas de acordo com suas intenções comunicativas dentro de contextos sociais que os situam, eles contém determinadas características e aspectos que os constituem estáveis em suas funções, que os distinguem um dos outros. Marcuschi (2008, p.155) entende que gênero textual se refere aos “textos materializados em situações comunicativas recorrentes”. Acrescenta que “como tal, os gêneros são formas textuais escritas ou orais bastante estáveis, histórica e socialmente situadas” (ibid). Definindo gênero textual de forma explícita, o autor diz que:

Os gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas (MARCUSCHI, 2008, p.155).

O modo de se comunicar em um texto, em que há predominância de uma sequência enunciativa definida pela articulação linguística utilizada para tal é que denomina o tipo textual. O tipo textual, segundo Marcuschi (2008, p.154) “caracteriza- se muito mais como sequências linguísticas (sequências retóricas) do que como textos materializados; a rigor, são modos textuais”. Ainda de acordo com o autor:

Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: Narração, argumentação, exposição, descrição, injunção. O conjunto de categorias é limitado e sem tendência a aumentar (MARCUSCHI, 2008, p.154).

Os conceitos de gêneros e tipos textuais mostram que há uma interligação entre eles, que não são dissociados por coexistir entre ambos uma relação complementar, ou seja, enquanto os tipos textuais já vêm definidos e estão a serviço do gênero, este é definido no evento comunicativo (texto) que surge da necessidade de comunicação, oral ou escrita, e de suas escolhas enunciativas (tipos textuais) para tal comunicação, num determinado contexto social que o objetiva e o situa. Marcuschi (2008, p.160) evidencia que:

36 Não há uma dicotomia entre gênero e tipo. Trata-se duma relação de complementariedade. Ambos coexistem e não são dicotômicos. Todos os textos realizam um gênero e todos os gêneros realizam sequências tipológicas diversificadas.

Assim, definidos para este estudo, o gênero canção, de tipologia narrativa, e o gênero notícia apresentados aos alunos para suas aprendizagens, englobam não só a observação das diferenças e/ou semelhanças de ambos os gêneros, mas também a compreensão dos propósitos dos gêneros textuais de servirem a língua, em seu funcionamento, no evento comunicativo. Para uma aprendizagem mais eficaz, torna-se necessário mostrar as características, funções, domínio discursivo, tipologia, linguagem e realização, autoria e suporte de cada um dos gêneros envolvidos nesta pesquisa em forma de quadro comparativo para uma visão geral, mas precisa na representação que se alude aos gêneros canção (canção narrativa) e notícia1 tanto em suas realizações orais quanto escritas.

QUADRO COMPARATIVO DOS GÊNEROS

Gêneros/Características

Canção Notícia/Reportagem

Domínio Discursivo

Ficcional / Diversos (lazer) Jornalístico

Tipo Textual Predominante

Narrativo/

Expositivo-argumentativo

Narrativo / Expositivo e/ou Argumentativo-opinativo Finalidade Entreter/ Refletir / Sensibilizar Informar / Convencer Autoria Compositor Jornalista

Suporte Encartes de Discos e CDs /

Revistas e Sites Musicais / Livros Didáticos/Catálogos

Jornais/ Revistas/ Sites/ Livros Didáticos

Linguagem Conotativa / Denotativa Denotativa

1

Estas características foram consideradas por mim, sem o estabelecimento de distinções entre os gêneros notícia e reportagem. Cabe ressaltar que há distinção entre os gêneros, segundo Goldstein (2009, pp. 59 a 73), “a notícia informa fatos de maneira mais objetiva e aponta razões e efeitos” e a reportagem aprofunda-se: faz investigações, tece comentários, levanta questões, discute e argumenta”.

37 Texto escrito em versos

e/ou prosa, atrelado à linguagem musical.

Realização Oral e escrito Oral e escrito

O gênero canção é considerado primário na aprendizagem dos alunos, uma vez que é conhecido, em sua apresentação oral, antes mesmo de eles frequentarem os bancos escolares, bastando lembrar as canções e/ou cantigas de ninar que os acompanham desde muito pequenos. É a partir desse gênero, apresentado nas duas modalidades da língua (Canção Rap do Silva), que os alunos extrairão os conteúdos necessários para transformá-lo em outro gênero (notícia), fazendo as adaptações necessárias à função deste.

O conhecimento de canções e/ou partes delas na sociedade é antiga e acompanha sua evolução em todos os contextos, quer familiar, quer entre amigos, quer em outros contextos em que elas circulem. Entretanto, aprendê-la como gênero que desencadeia uma ação discursiva que se organiza historicamente em prol das atividades comunicativas sociais e como instrumento de capacitação das expressões oral e escrita da língua é conscientizar os alunos de que o conhecimento dos gêneros favorece as práticas comunicativas, tanto da oralidade quanto da escrita que os envolvem e os fazem atuar socialmente e que essas ações de expressão da língua são definidas nas diversas situações em que se apresentam. O ensino dos gêneros vai ao encontro do que Dolz e Schneuwly (2004, p. 63) pressupõem sobre o conhecimento dos gêneros para a aprendizagem dos alunos no que tange à prática da linguagem: “nós partimos da hipótese de que é através dos gêneros que as práticas da linguagem materializam-se nas atividades dos aprendizes”. Os autores explicam que:

Por seu caráter intermediário e integrador, as representações de caráter genérico das produções orais e escritas constituem uma referência fundamental para sua construção. Os gêneros constituem um ponto de comparação que situa as práticas de linguagem. Eles abrem uma porta de entrada, para estas últimas, que evita que delas se tenha uma imagem fragmentária no momento da sua apropriação ( DOLZ E SCHNEUWLY, 2004, pp. 63 e 64).

Expor o gênero canção em suas duas modalidades da língua e localizá-lo dentro de situações diversas, com suas características que o definem (ver quadro acima) assim como mostrar o gênero notícia, em sua natureza formal e estruturada, com suas características que o distinguem e seu funcionamento social tendo como pilar a

38 informação que quer passar, fornecerá aos alunos base para a elaboração do evento comunicativo que produzirão, ou seja, para a retextualização do gênero canção para o gênero notícia.

2.7 RECONHECIMENTO, COMPOSIÇÃO E ANÁLISE DE GÊNEROS

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