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2 3 A COMUNIDADE DISCURSIVA JORNALÍSTICA

3. ESTÁ NO JORNAL/REVISTA: É JORNALÍSTICO?

3.5 Gêneros jornalísticos

Consideramos como gêneros jornalísticos as seguintes categorias de texto: 1) carta ao leitor;

2) cartas dos leitores; 3) chamadas; 4) editorial; 5) entrevista; 6) errata; 7) índice; 8) notícia ou reportagem15; 9) “ombudsman”; 10) perfil; 11) texto-legenda; 12) textos informativos.

15 Neste trabalho, não será feita a distinção entre notícia e reportagem, uma vez que acreditamos que toda reportagem

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Apesar do fato de podermos encontrar errata, índice, entrevista e textos informativos em outras comunidades, não sendo estes gêneros exclusivos da comunidade jornalística, acreditamos pertinente sua classificação como jornalísticos; pois, quando produzidos dentro dessa comunidade, são textos que refletem a existência de indivíduos que possuem um conhecimento especializado (jornalistas) e que realizam uma determinada ação social.

Além disso, para todos esses textos, o jornal e a revista funcionam mais como um suporte do que um serviço ou canal, pois são os principais meios de fixação e divulgação dos mesmos.

Propomos abaixo uma breve caracterização dos gêneros considerados jornalísticos, bem como daqueles cuja definição nos parece bastante complexa, a fim de que possamos refletir sobre a questão, na tentativa de encontrarmos princípios de análise que nos auxiliem numa proposta de melhores esclarecimentos classificatórios dessas categorias de texto de difícil classificação como jornalísticas ou não.

Como parâmetros de caracterização, procuramos ressaltar nos gêneros abaixo sua função sociocomunicatica (característica definidora dos gêneros segundo Travaglia 2003b)16, bem como os três elementos inerentes a todo gênero segundo Bakhtin (1997): 1. sua estrutura composicional (que sob nosso ponto de vista está relacionada ao tipo textual e à superestrutura do tipo e do gênero), 2. estilo verbal e 3. conteúdo temático.

3.5.1 Carta do Leitor

16 Além das funções sociocomunicativas propostas para esses gêneros, todos possuem como função a própria

atividade jornalística, ou seja, a divulgação de informações de vários assuntos, refletindo o compromisso ético do jornalista com a população.

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“É um recurso em que o leitor pode expressar seus pontos de vista e opiniões” ( 2001)

As Cartas são textos produzidos pela população em geral sobre temas diversos, geralmente relacionados a matérias já publicadas, ou em voga no momento e enviados à Redação do jornal ou revista, os quais têm o direito de selecionar trechos e textos completos para serem publicados numa seção especifica.

A função sociocomunicativa desse texto é, portanto, a de dar espaço a opiniões outras que não sejam a do jornal/revista, embora não possamos negar a existência de uma política interna que pode proibir a publicação de uma determinada Carta. Como se tratam de textos alheios, as Cartas são sempre assinadas com o nome e a localização (uma pequena descrição) de seu locutor, retirando do jornal ou revista a responsabilidade direta pelo seu conteúdo.

Em geral, esse gênero possui uma linguagem mais coloquial, embora haja uma preocupação com as “regras gramaticais”, tais quais postuladas nas gramáticas normativas. Porém, o conjunto lexical das Cartas não costuma conter palavras de pouca recorrência na linguagem do dia-a-dia, dispensando, por exemplo, o uso de dicionários para que seus sentidos sejam interpretados. O que pode ocorrer é o uso de jargões de uma determinada área, dependendo do produtor da Carta e do tema desta.

Quanto ao tipo textual, esse gênero não está relacionado a um único tipo, pois encontramos Cartas argumentativas stricto sensu (anexo 2) e dissertativas (anexo 3), com trechos narrativos e descritivos17.

17 A descrição sempre ocorre no final da carta, indicando o nome do autor, sua profissão, sua localização espacial

(cidade e estado) e, às vezes, seu endereço de e-mail. Porém, também foram encontrados trechos descritivos no “corpo” da Carta, podendo esses trechos funcionar como argumento ou contra-argumento no caso do gênero desenvolver o tipo argumentativo.

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Nas primeiras, fica claro que o locutor vê seu alocutário como alguém que não concorda com suas idéias e opiniões, instaurando o discurso da transformação. Isso fica evidente na referência a textos anteriores, cujo conteúdo é combatido na Carta.

Nos textos dissertativos, também pode haver uma referência a Cartas anteriores, porém, não há uma divergência de idéias nem é pretendido pelo locutor se posicionar contrariamente ao conteúdo anteriormente publicado. Neste caso, o locutor não vê o alocutário como adversário, não inicia seu texto já numa posição de contra-ataque, mas pretende se colocar na perspectiva do saber/conhecer, tecendo comentários e transmitindo informações.

Nos cadernos Estadinho e Folhinha, do Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, respectivamente, as Cartas; apesar de possuírem a mesma função sociocomunicativa daquelas publicadas no caderno de política, apresentam uma diferença quanto à sua forma.

O que percebemos é que a interação entre leitores e o jornal se dá através de imagens, já que o público alvo desses dois cadernos são crianças e pré-adolescentes. Desse modo, não são enviados textos sobre um determinado assunto à Redação, mas desenhos diversos, abaixo dos quais também há uma descrição de seus autores (nome, idade e, às vezes, pequenos comentários do jornal).

Diante desse texto que possui a mesma função sociocomunicativa das Cartas, mas que realiza essa função de uma forma diferente e desenvolvendo temas também diferentes, acreditamos que as Cartas dos cadernos infantis (anexo 4), textos mistos (signo verbal e não- verbal), configuram-se em espécies vinculadas ao gênero Cartas.

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Quanto ao tipo, no que se refere à parte constituída por signos verbais, encontramos “Cartas infantis”18 descritivas, já que logo abaixo das imagens o que há são sempre descrições dos autores, e dissertativas, pois pode haver um comentário do jornal. O esquema abaixo nos mostra essa relação:

Quanto às Cartas que não são publicadas nos cadernos infantis, podem ser tanto dissertativas quanto argumentativas, portanto, sua superestrutura e aspectos do tipo vão variar conforme o tipo desempenhado. No primeiro caso, temos o locutor na perspectiva do conhecer abstraído de tempo e espaço, bem como outros aspectos da relação entre locutor, alocutário e situação de interação, conforme o quadro abaixo: