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5. DA GÊNESE E CONSTITUIÇÃO ESTÉTICA DOS QUADRINHOS JAPONESES

5.2. Do quadrinho japonês

5.2.2. Gênese do mangá

O termo Mangá, de acordo com Nagado (2007), é sinônimo tanto de histórias em quadrinhos como de gibis no Japão, significando, literalmente, “desenhos

irresponsáveis”, e foi utilizado pela primeira vez pelo cartunista e ilustrador Hokusai em 1814.

Os mangás passaram por mudanças ao logo de sua existência para se estabilizarem no modelo como conhecemos hoje. Mesmo os quadrinhos japoneses publicados no Brasil passaram e ainda passam por fases buscando sua consolidação.

A origem do mangá remonta de um Japão antigo de costumes imortalizados em uma cultura que se preocupa em cultivar as sementes dos frutos antigos.

Tal qual os quadrinhos ocidentais é possível enraizar as origens do mangás nas pinturas rupestres e as evoluções na maneira de narrar através de imagens, desde as tapeçarias encontradas por Cortez, as pinturas e iluminuras da idade médias, até o surgimento e consolidação da imprensa. Origem esta que pode ser considerada comum aos gêneros quadrinísticos.

Todavia, cada gênero possui suas peculiaridades que, despontando em sua criação, vão refletir por toda sua existência no que diz respeito a sua forma de atuação na relação com o leitor. Luyten (2005, p. 76) salienta que

no oriente, mais especificamente no Japão, a formação da linguagem quadrinizada é uma história pouco conhecida no resto do mundo. No entanto, é longa, muito rica e, se seguirmos o fio da meada dessa história, traremos à tona um universo novo para a compreensão do fenômeno atual dos mangás.

A maior parte da influência cultural adquirida na antiguidade pelo Japão veio da China, sendo o arroz e suas técnicas de cultivo responsáveis por originar e sustentar a base agrícola do país, que passou, por volta dos séculos II e III, de coletores e caçadores, para agricultores.

A partir do século IV, o Japão se consolida como nação, e sucessivos imperadores fortaleceram as bases do país com a introdução de vários

32 aspectos da cultura continental. Estes incluíram o sistema de escrita chinesa, o organização social, a religião (budismo), a ideologia (confucionismo) e as artes, tendo a Coréia como intermediária no influxo da cultura chinesa. Os governadores desse período governaram em cooperação com um número de famílias poderosas. O homem do povo estava em sua maioria, comprometido com a produção do arroz. (LUYTEN, 2005, p. 77).

A filosofia de vida budista se espalhou de forma gradativa ao longo dos séculos pelo país, e com ela a construção de templos, que darão início aos primórdios da história das histórias em quadrinhos japonesas, mais precisamente nos templos Toshodaiji e

Horyuji (Figuras 3 e 4), ambos localizados na cidade Nara, na região de Kansai, ilha de

Honshu.

Figura 3 - Templo Toshodaiji

Fonte: http://www.fecielo.com/wp- content/uploads/2009/03/toshodaiji-temple.jpg

Figura 4 - Templo Horyuji

Fonte:

http://4.bp.blogspot.com/_USzog_GOzy A

De acordo com Luyten (2005, p. 77), em 1935,

quando estavam sendo feitos reparos nos tetos e nas paredes desses templos, foram descobertos desenhos feitos a tinta e pincel, talvez por construtores e escribas do final do século VIII. O mais curioso é que eram desenhos profanos, caricaturas de animais e pessoas com traços exagerados e narizes de grandes proporções – que naquela época tinham uma implicação erótica na arte japonesa, sendo esses os exemplos mais antigos de caricatura japonesa.

33 Outra peça artística considerada também como influente na criação dos mangás é chamada de Ê-makimono, que consiste, segundo o website Portal Artes, de uma pintura desenvolvida horizontalmente num longo papel que se enrola e desenrola para ser lido. É, com efeito, um tipo de pintura adequado para ilustração de textos, entre os quais se encontra o famosíssimo Genji Monogatari (História do príncipe Genji), escrito por volta do ano 1010, do qual foram feitas cópias belíssimas ilustradas nos séculos XI e XII. Complementando ainda sobre o Ê-makimono, Seckel explica que,

emaki ou emakimono significa literalmente “quadro de rolagem”. Mesmo que o tipo de pintura mais comumente associado com o Extremo Oriente, o kakemono alto e estreito (literalmente "uma coisa de pendurar”), é também uma" imagem-scroll', o termo Emaki desde os tempos antigos foi reservado para o rolar de formato horizontal ou transversal. É muitas vezes descrito como uma mão de rolagem porque é realizada entre as mãos enquanto é visto e deve ser simultaneamente desenrolado pela mão esquerda e enrolado pela direita enquanto ele está apoiado no chão ou mesa. Dessa forma o espectador vê sempre uma parte da rolagem, variando em tamanho, mas nunca ultrapassando a distância entre as mãos. A imagem completa passa gradualmente diante de seus olhos da direita para a esquerda. Como veremos, o próprio espectador pode, em muitos casos, arbitrariamente determinar os limites da seção que ele vê. Não há divisões predeterminadas no deslocamento e isso influencia a composição artística de um Emaki. (1959, p. 18).

Dentre os mais famosos Ê-makimonos, esta Chôjûgiga (Figura 5), criado pelo

bonzo (sacerdote-artista) Kabuyu Toba, uma obra de humor que consistia em satirizar a vida dos nobres através de animais antromorfizados, ou seja, caracterizados de forma e em atitudes de cunho humano. Para Moliné (2004, p. 18) os quadrinhos japoneses podem ter aparecido a partir do século XI, com a aparição dos chôjûgiga,sendo o significado do termo “imagens humorísticas de animais” .

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Figura 5 - Chojugiga que mostra sapos, lebres, raposas macacos e outros animais retratados satiricamente

de forma humana.

Fonte: http://farm1.static.flickr.com/14/91706154_a620a41035.jpg

Assim como as narrativas pictóricas egípcias e pré-colombianas consideradas inspirações dos comics norte-americanas, podemos fazer o mesmo paralelo com os Ê-

makimonos e os mangás.

Ao longo do tempo, outras obras de cunho pictórico ganharam popularidade no Japão, algumas motivacionais, humorísticas ou ainda, como uma forma de aviso, como no caso das obras Gaki Zoshi, Jigoku Zoshi e Yarnai Zoshi, do período Kamukura (séculos X a XII) significando respectivamente rolos dos fantasmas famintos, rolo do inferno e rolo de doenças, que ilustravam os seis mundos da cosmologia budista e lembravam ao japoneses a necessidade de seguir uma vida “correta”.

Alem das obras pictóricas, foram também de grande importância para o surgimento dos quadrinhos japoneses os livros ilustrados e a própria maneira de escrever da língua japonesa como visto anteriormente.

Ainda no Período Edo, em 1702, Sumboko Ooka criou um livro de cartuns chamado Toba-ê Sankokushi, publicado em Osaka, muito popular, vendido aos milhares. Segundo os estudiosos japoneses,

Toba-ê é considerado o primeiro livro de cartuns produzidos no Japão e o mais antigo do mundo. Da mesma forma que os antigos rolos não tinham, porém, quadrinhos sequenciais nem palavras em balões. As personagens em pessoas maldosas que faziam brincadeiras, tendo como pano de fundo cenas da vida diárias de Kyoto, Osaka e Tóquio. (LUYTEN, 2005, p. 84-85).

35 Também de grande importância foram os chamados Shunga (pinturas da primavera) que retratavam de forma humorística e descontraída cenas de cunho erótico, mas que colidiram de frente com os preceitos moralista do cristianismo quando esse circulava pelo país, sendo banidos do território japonês.

O termo mangá surge com os trabalhos, de acordo com Luyten (2005), Moliné (2004, p. 18) e Vasconcellos (2006, p. 19) do artista de ukiyo-e (escritura do mundo flutuante) Katsushika Hokusai, que criou o Hokusai Manga, uma série de livros com ilustrações em 15 volumes de 1814 a 1878, que consistia em representações do movimento do corpo humano e movimento muscular, além de ilustrações narrativas e cômicas retratando a vida cotidiana, tema típico do ukiyo-ê.

É com a abertura dos portos em 1853 que se dá a grande avalanche cultural dentro do território japonês, permitindo a entrada de revistas, livros e jornais estrangeiros, que encontraram uma já consolidada indústria gráfica. “Isso também abre possibilidades de importação de material artístico proveniente da Europa, o que será de fundamental importância para o estabelecimento da linguagem do mangá”. (VASCONSELLOS, 2006, p. 20).

Apesar de o Japão ter uma rica tradição nas artes visuais, incluindo aí a arte sequencial, aquilo que hoje chamamos de mangá surgiu como efeito do imperialismo dos Estados Unidos e das potências europeias no século 19. Além dos efeitos econômicos do imperialismo, ele teve consequências culturais imensas, na medida em que os ocidentais absorviam elementos “exóticos” e curiosos das culturas estrangeiras e disseminavam sua visão de mundo, valores e cultura para os países colonizados ou semi-colonizados. Entre os elementos exportados do Ocidente para o resto do mundo estava o nascente estilo euro- americano de quadrinhos, que em muitos países seria combinado com tradições artísticas locais para gerar estilos próprios. (REICHERT, 2011, p. 6).

Com a entrada cultural estrangeira em massa no arquipélago nipônico, o então governo feudal japonês perde força frente ao comércio externo possibilitando a entrada e adoção de avançadas ideias do estrangeiro, bem como inovações administrativas, econômicas e sociais. É neste momento que os primeiros cartuns aos moldes europeus são introduzidos pelo inglês Charles Wirgman e o francês George Bigot.

Wirgman saiu de Londres para o oriente, em 1857, como correspondente especial do Illustrated London News. Em 1859, chegou ao Japão, casou-se e la fixou residência permanente. Em 1859,

36 editou uma revista de humor, Japan Punch, e introduziu os japoneses no universo das charges políticas. (LUYTEN, 2005, p. 87).

Figura 6 - Capa da revista The Japan Punch, datada de julho de 1878.

Fonte: http://www.japantimes.co.jp/

Há aqui um momento importante na consolidação do mangá nos moldes que conhecemos hoje. Na relação de uma tradição milenar da estética japonesa com a inovação trazida por Wirgman e Bigot nasce algo novo, diferente, que não se mostra como a simples adição da inovação ao tradicional, mas algo que se relaciona de forma a criar um novo gênero. Nasce então o quadrinho japonês como veículo de comunicação, sendo a primeira e autêntica revista de humor ilustrada japonesa, publicada em 1877, intitulada Marumaru shimbun (Figura 7), cuja duração estendeu-se por trinta anos.

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Figura 7 - Capa da revista Maru maru shimbun, datada de 1882

Fonte: http://www.mediafire.com/imgbnc.php/1c4db2e0d6071d6d12f28a6ca12632c46g.jpg

Os primeiros quadrinhos japoneses seriados com personagens regulares, semelhantes ao modelo encontrado em Yellow Kid, de Outcault, foram criados por

Rakuten Kitazawa (1876-1955) (Figura 8), que se esforçou pela adoção do termo mangá para definir histórias em quadrinhos. Foi muito influenciado, segundo Luyten (2005, p. 89), pela Japan Punch, iniciando seus trabalhos no semanário Box of curious e, posteriormente, em 1902, para Jiji shimpo, de Yukichi Fukuzawa, de quem recebeu as técnicas ocidentais da arte dos comics.

O balão ainda não estava presente no mangá, que ainda seguia os padrões norte- americanos de publicação, como a obra Togosaky to Mokube no Tokyo Kembutsu

38 (Togosaku e Mokubê passeando em Tóquio, Figura 8), que era publicado de forma serial no suplemento dominical colorido Jiji Manga4.

Figura 8 - Togosaky to Mokube no Tokyo Kembutsu datada de 1902

Fonte:

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/94/Tagosaku_to_Mokube_no_Tokyo_Kenb utsu.jpg

4 No endereço http://library.osu.edu/wikis/library/index.php/Jiji_Manga#No._46_-_96_.281922.29 podem

39 No início do século XX o Japão seguia absorvendo a cultura ocidental de forma assídua, convidando conselheiros estrangeiros no intuito de promover e introduzir novas técnicas e instituições ocidentais, sendo naquele momento a modernização para o Japão sinônimo de ocidentalização.

A elite da sociedade vinha entusiasticamente adotando a cultura ocidental, perseguindo o que era chamado cultural enlightenment (literalmente, iluminação cultural). Com os quadrinhos aconteceu algo semelhante à cultura no processo de absorção das novas ideias. Pouco a pouco, os caminhos das histórias em quadrinhos japonesas começaram a reclamar algo mais próximo de sua realidade. (LUYTEN, 2005, p. 90).

Percebeu-se pelos japoneses o forte aumento que os quadrinhos publicados nos jornais causavam nas vendas, fazendo destes, parte do cotidiano nipônico, semelhante ao ocorrido nos jornais ocidentais. Contudo, a absorção desenfreada da cultura ocidental no Japão deixou marcas profundas dentro da organização social causando tensões internas que culminaram em movimentos de artista tomando posições radicais frente aos problemas, trabalhando em charges e quadrinhos denominados proletários, influenciados pelos pensamentos da Revolução Russa de 1917.

Dessa forma os movimentos populares culminaram em uma forte tentativa de controle das ideias subversivas por parte da política governamental, obrigando os quadrinhos a tomarem novos rumos.

Entretanto, até então o mangá que existia na época era voltado para um público adulto, inteirado com as transformações políticas e econômicas do Japão, já que em sua totalidade o mangá continha uma grande tônica de charge política, remanescente do estilo de Wirgman adotado por Kitazawa e outros grandes ilustradores da época. Só no fim da Era Taisho (1912-1925), partindo do precursor Kitazawa, as primeiras histórias infantis passaram a ser publicadas, como Sho-chan

no Boken5, de Katsuichi Kabashima e Shosei Oda, e Manga Taro, de

Shigeo Miyao, além do famoso Norakuro, de Suiho Tagawa. Estes artistas ainda eram bastante influenciados por artistas estrangeiros como Winsor McKay e Richard Outcault, mas com o tempo foram desenvolvendo seu próprio estilo, não só em termos de forma e traço como também de narrativa. (VASCONSELLOS, 2006, p. 22-23).

5 As aventuras do pequeno Sho, que teve sua estreia em 1923 no jornal Asashi graph e tinha como

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Figura 9 - Sho-chan no Boken

Fonte: http://www.leebakerart.com/wp-content/uploads/2010/03/images3.nypl.org.jpeg

Com o sucesso dos quadrinhos destinados às crianças, diversas outras revistas e jornais decidem aplicar a mesma fórmula, possibilitando o surgimento de muitos heróis, agora desenhados por japoneses, sendo as traduções de quadrinhos norte-americanos e europeus deixadas gradativamente de lado. Para Luyten (2005, p. 95) os artistas japoneses produziram seu próprio estilo, único, cujos leitores passaram a considerar ultrapassados os quadrinhos europeus e americanos, devido não só a falta de relação com as situações e heróis mas também devido a barreir cultural.

A diversificação das histórias e quadrinhos no Japão ocorreu em meados de 1932 com a introdução de personagens estrangeiras – Mickey, Popeye e Betty Boop. A divisão entre as tiras japonesas e norte-americanas em jornais e revistas acarretou a mudança estética dos traços simples e sem efeitos dos mangás. Entretanto, a crescente militarização do Japão e o início da Guerra Sino-Japonesa, em 1933, impuseram a chamada “Lei de Preservação da Paz”– mais conhecida como “Lei Perversa” – que determinava enorme censura e controle aos mangás, a proibição das personagens ocidentais e a prisão de desenhistas e editores que divulgassem ideias consideradas subversivas pelo governo. (BATISTELLA, 2009, p. 37).

Com o estouro da Segunda Grande Guerra e a entrada do Japão no conflito junto a uma forte militarização do país, não só as tropas tomaram lugar no combate, mas os artistas também. Aqueles que não tinham sido banidos de suas funções por conta da

41 censura encontravam-se produzindo despretensiosas tiras familiares. Outros trabalhavam para o governo, sendo estes responsáveis por criar personagens e enredos panfletários ajudando na divulgação dos ideais de suas nações, difamando o inimigo ou ainda criando propagandas contra as tropas de oposição.

Ao fim da guerra, a derrota japonesa movimentou o povo rumo a uma nova organização social, bem como novas maneiras de pensar e ver o mundo. De acordo com Luyten (2005, p. 106),

muitos editores tradicionais de Tóquio estavam desorganizados e as revistas de histórias em quadrinhos tornaram-se muito caras em vista do baixo poder aquisitivo do povo. No centro comercial rival, Osaka, diante dessa oportunidade inicia-se a edição de pequenos livros de quadrinhos com preço baixo, impressos em papel de menor qualidade e vendidos nas ruas, produzidos por artistas cuja remuneração era baixa, mas com certa liberdade da política ocupacionista nunca vista até então. Suas capas eram avermelhadas, e ficaram conhecidos como Akai hon (Livro Vermelho).

Temas como o familiar passaram a adquirir grande popularidade no pós-guerra, sendo Sazae-san, criada em 1946 por Machiko Hasegawa, a personagem de maior destaque no período. Seu enredo baseava-se na vida cotidiana e no humor feminino tipicamente japonês. O que começou como uma tira diária tornou-se desenho animado.

Apesar da passagem curta e prematura morte, o autor Fukujiro Yoko foi responsável por fundamentar a base dos quadrinhos japoneses de longa duração e de ficção científica com sua obra Fushigina Kuni no Putcha.

A partir desse momento, o quadrinho japonês passa por uma reforma que vai consolidá-lo de uma vez por todas como patrimônio cultural graças ao esforço de um homem, considerado pelos japoneses o Manga no Kami ou Deus do Mangá, Osamu Tezuka.

Formado em medicina, Tezuka sempre foi apaixonado por desenhos desde os quatro anos de idade, quando lia mangás comprados pelo pai. Foi responsável por revolucionar a maneira de fazer mangás, inspirado nos desenhos de Walt Disney e no cinema alemão e francês.

Osamu Tesuka inspirou a estética gráfica de seus mangás nos moldes do teatro japonês Takarazuka. De acordo com Gravett (2006, p. 81), quando criança, Tezuka ia

42 várias vezes ao teatro Takarazuka (Figura 10), levado pela mãe, que conhecia várias das atrizes.

Nessa famosa companhia teatral feminina, as mulheres interpretavam personagens masculinos. Suas coloridas apresentações tomavam elementos dos tradicionais teatros kabuki e nô, interpretados somente por homens, e os glamorizava, introduzindo a noção de espetáculo típica dos palcos de Paris e da Broadway e dos musicais de

Hollywood. (GRAVETT, 2006, p.81).

Figura 10 - Cartaz de um musical inspirado na vida do General Douglas MacArthur, realizado pelo teatro

Takarazuka

Fonte: www.japanprobe.com

Os grandes olhos que se tornariam característicos da estética mangá foram inspirados, segundo o próprio autor, nos olhos da personagem Bambi, criada por Walt Disney.

Produções americanas e europeias foram obviamente banidas durante a guerra, e os cinemas eram obrigados a exibir sua cota de propaganda jingoísta. No entanto, o pós-guerra trouxe uma mudança radical. Enquanto os estúdios japoneses lutavam para voltar a produzir, o controle americano permitia que uma avalanche de filmes ocidentais

43 inundasse o país. Ir ao cinema era um meio persuasivo de “democratização” e tornou-se uma febre nacional. Era uma das poucas formas de diversão barata disponível no período pré-TV. O congelamento do preço dos ingressos ajudou a elevar o público em 1946 a quase o dobro da média do pré-guerra. A qualidade dos filmes estrangeiros para adultos mais recentes foi como uma revelação para os japoneses, e particularmente para um jovem como Tezuka. (GRAVETT, 2006, p. 30).

Osamu Tezuka foi responsável não só por estabelecer um estilo de desenho para os quadrinhos japoneses como também criou diversas temáticas narrativas, praticamente todas as conhecidas atualmente. Ele ainda foi responsável por consolidar no Japão o processo de produção de animações, onde adaptava com sucesso para as telas da tevê suas obras de mangá, o que fez com o Japão passasse a valorizar as produções nacionais em detrimento dos programas ocidentais que dominavam a programação.

Para Gravett,

de várias formas, Tezuka se via como um “diretor” de seus quadrinhos. Ele pode não ter usado o megafone de De Mille ou as botas de Von Sternberg, mas gostava de usar sua boina preta ao estilo dos artistas franceses tanto no trabalho como em público. Em suas produções de mangá e animação, ele fabricava suas próprias estrelas e escalava para suas histórias os atores de papel de seu repertório, como se estivessem representando um filme. (2006. p. 33).

Dentre as obras de Tezuka podemos citar a Princesa e o Cavaleiro, Astro Boy,

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Figura 11 - Imagem com as principais personagens criadas por Tezuka

Fonte:

http://4.bp.blogspot.com/_Tv0PNIt2pbc/TPVDZrvPwSI/AAAAAAAAAJo/Ckid2pmls2E/s1600 /Tezuka-05b.JPG

Gravett (2006, p. 34) explica que,

tendo suportado o militarismo cheio de ódio dos tempos de guerra do Japão, Tezuka encontrou no mangá um meio acessível para transmitir seus alertas sobre as consequências da intolerância, o desrespeito pela vida e do avanço científico sem controle, sendo este, um tema interessante para se relacionar aos estudos sociais em ciência e tecnologia.

O pesquisador ainda explica que Tezuka se desesperava diante do contínuo tratamento desumano dedicado ao homem pelo próprio homem, e compreendia a crise de identidade pela qual os japoneses passavam pela sua derrota na guerra.

A abordagem desse tipo de tema é o que dá as suas parábolas sobre

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