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Integram a proposta de um Consórcio mineiro de instituições públicas de educação superior as universidades federais de Alfenas (Unifal), de Itajubá (Unifei), de Juiz de Fora (UFJF), de Lavras (Ufla), de Ouro Preto (Ufop), de São João del Rei (UFSJ) e de Viçosa (UFV).

Conforme relato disponível no site da UFSJ, a iniciativa da proposição coube aos reitores das sete IFES, que iniciaram nos primeiros meses de 2010 o diálogo sobre a possibilidade de ampliarem suas relações institucionais – proposta esta que teria sido apresentada no mês de julho daquele ano ao Ministério da Educação, que manifestou entusiasmo com a ideia (UFSJ, 2011).

Contudo, memória apresentada no site da UFV aponta para o protagonismo do MEC na gênese do projeto:

Em 19 de julho de 2010 [...] os reitores das universidades mineiras aceitam sugestão do Ministro da Educação para que seja criado um consórcio que reunirá instituições situadas nas regiões sul-sudeste de Minas Gerais com características em comum e que possam se fortalecer e complementar sem perder autonomia. (UFV, 2011, grifo nosso)

Nossas entrevistas dão conta de que os reitores destas universidades já mantinham relação de proximidade, o que era facilitado indiretamente pela Andifes e pelo Foripes, mas que a concepção do Consórcio se efetivou de modo independente a estes fóruns.

A aproximação pelo Foripes não deixou de ter um papel importante nessa articulação [para o Consórcio]. Mas ela vai um pouco além. Aconteceu em paralelo. (Entrevistado R1)

Dessa forma, os entrevistados narraram que a proposição do Consórcio foi articulada pelas sete universidades diretamente com o MEC, sem consulta prévia aos outros fóruns que representavam o coletivo das IFES, que foram posteriormente comunicados do processo já em construção. No caso específico da Andifes, em consulta às atas das reuniões do Conselho Pleno realizadas no intervalo de 2010 a 2012, localizamos somente uma referência à iniciativa, durante a XCIIª Reunião Ordinária do Conselho, em 10 de agosto de 2010, onde constou que: “os reitores João Luiz (Ufop) e Nazareno Mendes (Ufla) informaram sobre o consórcio acadêmico entre IFES mineiras”, sem outros comentários sobre o processo (ANDIFES, 2013).

Ainda em relação ao protagonismo do Ministério da Educação na ideia do Consórcio, um dos reitores entrevistados relata como se deram os primeiros entendimentos entre as duas partes e permite evidenciar alguns dos objetivos subjacentes na origem da proposta:

Nós conversamos com o [Ministro da Educação] Haddad e ele falou “porque

que vocês não fazem um consórcio?”. A motivação, a provocação quase que saiu dele. Ele disse “gente, vocês estão próximos...”. [...] “Vocês podem

pensar num acordo de cooperação, num termo de constituição, sem criar CNPJ, vocês só vão ter uma abertura maior, [...] aquele muro invisível que há, ou uma burocracia que há e às vezes emperra as instituições, vocês vão vencer isso. Vocês podem, de repente, trabalhar de forma um pouco mais integrada a gestão, compras compartilhadas, vocês podem fazer, por exemplo, a mobilidade estudantil”. [...]

Nós fizemos uma primeira reunião dos sete reitores com o Ministro Fernando Haddad, o secretário-executivo Henrique Paim, a secretária de educação superior que era a Professora Maria Paula [Dallari], o presidente da Capes – o professor Jorge Guimarães; nós juntamos todo mundo.

Compraram a ideia e falaram “olha, vamos fazer acontecer e o MEC

patrocina isso, o MEC apoia com recursos adicionais ao orçamento de vocês, as ações integradas. Até para provocar outras regiões do país em que universidades são próximas e trabalham de forma não tão integrada” [...]

“Aí a gente provoca outras iniciativas de consórcio, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro...”. [...]

E um detalhe, ele [o Ministro da Educação] falou: “a única sugestão que eu

dou para vocês é que vocês têm que bolar uma forma de começarem a publicar juntos, aparecer o Consórcio sempre nas publicações ao invés de cada instituição isoladamente. Para que essas sete [universidades], dentro de muito pouco tempo, comecem a figurar juntas com a imagem do Consórcio, nestes rankings internacionais [referentes às melhores universidades]”. (Entrevistado R4, grifos nossos)

O relato aponta para questões centrais que norteariam posteriormente o desenvolvimento da proposição do Consórcio: a ideia de provocar ações integradas entre instituições da mesma categoria administrativa localizadas em um mesmo estado ou região; a pertinência do compartilhamento de atividades tanto no que se refere a questões administrativas quanto a questões acadêmicas; a expectativa de recursos financeiros extras para a realização de novos projetos entre as consorciadas; a preocupação com a internacionalização das instituições.

Uma vez estabelecida a coerência entre MEC e universidades federais do sul e sudeste de Minas Gerais para a constituição do Consórcio, nos termos acima, a ideia rapidamente começou a tomar forma. Em 10 de agosto de 2010, os dirigentes das sete IFES formalizaram junto ao Ministro da Educação e o Presidente da República o propósito de se integrarem de modo consorciado, firmando um Protocolo de Intenção no qual constava como missão do Consórcio:

construir parcerias, compartilhar conhecimentos e experiências entre as universidades federais consorciadas e intensificar sua relação com os governos federal, estadual e municipal e agências de fomento visando ao fortalecimento do ensino, pesquisa e extensão e da capacidade destas Universidades Federais no atendimento às demandas da sociedade. (PROTOCOLO DE INTENÇÃO, 2010)

A partir disto os reitores se dividiram em comissões temáticas – pós-graduação; pesquisa; graduação; planejamento e gestão; extensão e cultura; e assistência estudantil – a fim de aprofundar o debate sobre as atividades que poderiam ser desenvolvidas de forma consorciada em cada área, de modo a construir um Plano de Desenvolvimento Institucional do Consórcio (PDIC) para o período de 2011 a 2015. Nesta função foram envolvidos os pró- reitores e assessores das universidades:

Os debates com as universidades integrantes foram feitos com pró-reitores de área, foi definido plano de trabalho de cada setor, metas, e assim por diante. (Entrevistado R2)

Nós criamos grupos de trabalho em função das áreas temáticas. [...] Então nós fazíamos reuniões a cada duas, três semanas, de modo itinerante, cada hora numa universidade. A gente discutia as ações em cada área temática, propunha a redação do documento e depois discutia numa plenária aberta com a comunidade local. (Entrevistado R4)

Este processo de construção do planejamento – com definição da missão, objetivos, metas e formas de estruturação da nova rede – transcorreu entre agosto de 2010 e maio do ano

seguinte até a sua versão final. A etapa consecutiva consistia na aprovação do Plano pelos respectivos Conselhos Universitários – fase que se estendeu até outubro de 201170.

Assim, em um intervalo relativamente curto – de junho de 2010 a outubro de 2011 – foram construídas e aprovadas as bases para a constituição de uma modalidade inédita de parceria entre instituições de educação superior públicas brasileiras: o Consórcio.

Antes, porém, de apresentarmos quais foram as finalidades de desenvolvimento acordadas no PDIC, vejamos os critérios empregados na definição das universidades que poderiam compor a iniciativa e o perfil das envolvidas.