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O Gabinete Português de Leitura de Pernambuco na vida dos literatos da APL

FABRICANDO A IMORTALIDADE

O GABINETE PORTUGÊS DE LEITURA, A IMPRENSA E A POLÍTICA NA VIDA DOS LITERATOS DA ACADEMIA PERNAMBUCANA DE LETRAS

3.1 O Gabinete Português de Leitura de Pernambuco na vida dos literatos da APL

O comendador José Alves, que em 1850, era ocupante do cargo de chanceler do Consulado de Portugal em Pernambuco, foi o idealizador da criação de um espaço destinado para ser ponto de encontro e do cultuar da pátria portuguesa, bem como servir de lócus da circulação literária na segunda metade do século XIX. Este espaço, na prática, foi o Gabinete Portuguez de

Leitura de Pernambuco, cuja fundação ocorreu em sessão solene no Teatro

Apolo, em 03 de novembro de 1950 e teve o cirurgião e jornalista João Vicente Martins como o primeiro responsável a formar a diretoria da instituição. O Gabinete, na ocasião de sua fundação, localizava-se na Rua da Cadeia Velha, hoje Rua Marques de Olinda, e permaneceu neste espaço até ano de 1921, quando se concluiu a atual sede, que se encontra na Rua do Imperador.

Uma das primeiras ações da diretoria foi a criação de uma biblioteca. Mas, infelizmente, não se tem muitos dados a respeito dos primeiros anos de existência dessa instituição e de sua biblioteca. Não obstante, na pesquisa documental localizei os relatórios que o Gabinete produziu para os anos de 1878, 1879, 1880 e 1905 e eles dão algumas pistas da existência de uma circulação literária e da presença de alguns fundadores da Academia Pernambucana de Letras circulando nesta casa.

A biblioteca do Gabinete a princípio recebeu muitas doações dos fundadores, sócios e simpatizantes da ideia de ter um espaço de leitura no Recife. Conforme o relatório do ano de 1879, o acervo recebeu a oferta de “826 obras em 1235 volumes, inclusive folhetos152”. Mas, segundo alguns de seus relatórios, este órgão literário, também realizou a compra de livros em cidades como Paris, Lisboa e Rio de Janeiro. Pelo que descreveu o relatório de 1878, a compra de obras para abastecer o acervo era algo efetivo e bastante custoso:

Notando-se a falta quase absoluta de obras scientíficas e litterárias, recentemente publicadas, e outras que tenham o mérito da actualidade, fizemos acquisição das que se acham consignadas à

152

Relatório apresentado a Assembleia geral do Gabinete Portuguez de Leitura eos 14 de julho de 1878. Recife. Typographia do Jornal do Recife. de M. Figueiroa de Faria & Filhos, 1878. p.03.

conta de Livros e Encadernações, cujo valor monta a 1:830$049, consoante as respectivas facturas de Paris, Lisboa e Rio de Janeiro. havendo-se extraviado centenares de obras do Gabinete, como é notório e consta dos recibos archivados em várias épocas, fizemos igualmente acquisição das mais importantes, de accordo com a nomenclatura fornecida pelo Sr. guarda-bibliothecario153.

Além da necessidade de compra de obras para o acervo em decorrência dos extravios de obras, os relatórios também permitem perceber um fluxo de circulação das obras. Segundo os dados para o ano de 1878, o movimento da biblioteca foi assim descrito:

Durante os três últimos semestres (de outubro de 1877 a junho de 1878) sahiram 4,794 obras em 7,061 volumes , sendo 4,539 em portuguez e 255 em francez, pertencentes as seguintes matérias: 6 de theologia 2 de jurisprudência 217 de história 142 de philosophia 4,427 de bellas-lettras. ____ 4,794

Entraram no mesmo período 4,749 obras em 6,893 volumes sendo 4,510 em portuguez, 239 em francez, pertencentes ás seguintes matérias: 7 de theologia 3 de jurisprudência 194 de historia 133 de philosophia 4,412 de bellas-lettras ____ 4,749

Frequentaram a bibliotheca 3,795 sócios.154

Tal fluxo indica um número significativo de leitores de obras diversas, em especial de livros de história, filosofia e literatura. Vale destacar, também, que os relatórios enfatizam a presença de muitos jornais no acervo, mais de 30, que podiam ser consultados pelos frequentadores do Gabinete. Neste sentido, acredita-se que a aquisição de obras para o acervo pode ter sido, não apenas por doações e compras, mas também em decorrência do número de frequentadores da biblioteca do Gabinete, uma das poucas existentes na cidade na segunda metade do século XIX, sujeitos esses que em sua grande

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Relatório apresentado a Assembleia geral do Gabinete Portuguez de Leitura aos 14 de julho de 1878. Recife. Typ. de M. Figueiroa de Faria & Filhos, 1878. p.03.

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Relatório apresentado a Assembleia geral do Gabinete Portuguez de Leitura aos 14 de julho de 1878. Recife. Typ. de M. Figueiroa de Faria & Filhos, 1878. p. 08.

maioria eram literatos, estudantes da Faculdade de Direito e pessoas da colônia portuguesa, ou seja, portugueses que habitavam na cidade.

Mas o Gabinete não foi apenas um espaço para as práticas de leitura, muitas vezes ele foi espaço de sociabilidade dos literatos que fundaram a Academia Pernambucana de Letras e dos letrados do período. Os relatórios citados anteriormente, em especial o do ano de 1905, mostra, que além de ter sido um local para as primeiras reuniões que antecederam a fundação da APL, ele era frequentado e recebia doações de obras de alguns dos membros da APL. Conforme relatório do ano de 1905 compareceram para solenidades e fizeram ofertas de obras para a instituição: Joaquim Barbosa Vianna, Arthur Orlando, Theotonio Freire, Regueira da Costa, José Izidoro Martins Júnior, além do mais alguns deles estão descritos na relação de sócios honorários ou correspondentes do Gabinete.

Estar no espaço do Gabinete Português de Leitura de Pernambuco era também uma forma de se fazer visível entre os pares e mostrar-se como admirador e produtor de uma literatura que merecia respeito em esferas sociais maiores. Não bastava circular ou consumir as obras disponíveis na biblioteca do Gabinete, era sim preciso frequentar as reuniões, os salões e as comemorações que este órgão realizava, como o Dia da Colônia Portuguesa e o Dia de Camões, datas significativas para esta instituição. Além do Gabinete estar na imprensa era algo corriqueira para muitos do literatos fundadores da APL.

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Fonte: Cartão Postal da Rua Marques de Olinda. Fonte: Salão de Honra do GPL no 55º Anniver-

Neste conjunto de casarões se localizava sário – 1906. Acervo GPL. o Gabinete Português de Leitura de Pernambuco no