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Ao gabinete presidido pelo Visconde do Rio Branco seguirá o presidido por Luis Alves de Lima e Silva (1803-1880), o Duque de Caxias (25 de junho de 1875 a 5 de janeiro de 1878), e será então concluída a divulgação dos resultados do censo. A Princesa Imperial, D. Isabel, estará no exercício de sua segunda regência, já que Suas Majestades, o Imperador e a Imperatriz, haviam viajado para participar da exposição do centenário da independência estadunidense (1876), e depois viajando à Europa e ao Oriente. Com Caxias terá fim quase dez anos de ministérios conservadores, e terá início quase oito anos de ministérios entregues aos liberais.

O primeiro estará sob a chefia de Sinimbu (6 de janeiro de 1878 a 28 de março de 1880) ao que seguirá o chefiado por Saraiva (29 de março de 1880 a 21 de janeiro de 1882); e outros seguirão. Nestes gabinetes ocorrerão medidas importantes para o maior conhecimento do vale do São Francisco, matéria em debate, bem assim, medidas referentes à elaboração das estatísticas.

Quanto ao vale do São Francisco, no governo do Visconde de Sinimbu foi concretizada a organização da Comissão Hidráulica, com a finalidade de realizar o estudo dos portos e da navegação interior do país, sob a direção do engenheiro americano William Milnor Roberts, tendo entre seus membros o geólogo Orville Derby e o engenheiro Teodoro Fernandes Sampaio (1855-1937). Teodoro Sampaio era negro, filho de mãe escrava (Domingas da Paixão) e de pai padre (Manoel Fernandes Sampaio); mais tarde atuará na compra das cartas de alforria de seus irmãos. Em 1879 é designado membro daquela comissão científica, deixando um diário de viagem, primeiro publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, depois em livro, com reedição em 1936, agora reimpressa (Sampaio, 2002).

Nessa obra há um prefácio do próprio Teodoro Sampaio, do qual se extraem os seguintes trechos:

Com é bem de ver, dados colhidos há mais de cinquenta anos não podem dizer senão do que se passou para o domínio da História, mas servem ao menos para assinalar quanto se caminhou daquela época para cá. No desenvolvimento histórico do país, o rio São Francisco representou sempre papel de condensador e distribuidor das corrente povoadoras da nossa terra. E esse papel ele ainda o desempenha hoje e cada dia com eficiência maior. Saber como o desempenhava ele, há

meio século atrás, não deixa de interessar aos que anseiam pelo progresso do Brasil. Ademais não envelhecem nem perdem de valor as investigações pertinente ao caráter geográfico, geológico, ao aspecto físico dentro do vale. Os dados a isto referentes sobem até de valor quando comparados com os fatos atuais aos olhos do observador inteligente. [...] Em 1879-80, o país atravessava uma crise prolongada devido à seca dos sertões do Nordeste, e urgia socorrer aos flagelados e nenhum remédio se deparava então mais adequado às circunstâncias do que empreender grandes obras que moralizam, estimulam, suavizam o viver das populações que o flagelo desequilibrou. O governo voltou as suas vistas para o rio São Francisco, que, como uma “terra de promissão”, servia então de refúgio às multidões deslocadas do Nordeste. Fizeram-se estradas de ferro para ligar o baixo ao alto São Francisco; empreenderam-se estudos para promover a navegação interior em grande escala (Sampaio, 2002, p.52-53).

Quanto à repartição de estatística, no gabinete Sinimbu é decidido, não a sua extinção, mas seu rebaixamento ao nível de seção, e sua perda de autonomia, vinculada que ficava à secretaria geral do Ministério dos Negócios do Império. Na verdade, a lei orçamentária que o fez, deixava em aberto se não deveria ser vinculada ao Ministério dos Negócios da Fazenda, polêmica que chegara ao Conselho de Estado, em seção conjunta das sessões Império e Fazenda. E lá se decide por mantê-la no Império (o que se dará no gabinete Saraiva), e ao mesmo tempo se criava uma repartição específica na Fazenda, com o status de diretoria (só concretizada adiante em 1884). À nova seção de estatística, sem estrutura e sem autonomia, não só se dará o mesmo programa de trabalho que já era o da diretoria, quanto se o aumentará, enfatizando a elaboração das estatísticas policiais e judiciais. Por certo não terá condições de realização de suas atividades, amargando desalentos e desilusões, levando vários ministros a pedirem sua completa restauração. Mais e mais ficava evidente, com o passar do tempo, que para realizar o censo previsto para ocorrer em 1890 teria que ser recriada em sua estrutura e reposta em sua autonomia, o que só viria a ser feito na República, como um dos primeiros atos do governo provisório.

ANAIS do Parlamento Brasileiro. Câmara dos Srs. Deputados. 2º ano da 15ª legislatura. Sessão de 1873.

Rio de Janeiro: Tipo. Imperial e Constitucional de J. Villeneuve, 1873.

ANAIS do Senado do Império do Brasil. 2ª sessão da 15ª legislatura, 1873. Rio de Janeiro: Tipografia do Diário do Rio de Janeiro, 1873.

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IMPÉRIO Brasileiro. Falas do Trono. Desde o ano de 1823 até o ano de 1889. Acompanhadas dos respectivos Votos de Graças da Câmara Temporária. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1993.

LIMA SOBRINHO, Barbosa. Documentos Históricos sobre a Comarca do São Francisco. Recife: Arquivo Público, 1951. Introdução ao volume IV e V “Documentos do Arquivo”.

MELLO, Evaldo Cabral. A outra Independência. O federalismo pernambucano de 1817 a 1824. São Paulo: Editora 34, 2004.

MOREL, Marco. Cipriano Barata na sentinela da liberdade. Salvador: Academia de Letras da Bahia;

Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, 200l.

RELATÓRIO e Trabalhos Estatísticos apresentados ao Ilmo. e Exmo. Sr. Conselheiro Dr. João Alfredo Correia de Oliveira, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império, pelo Diretor Geral Conselheiro Manuel Francisco Correia. Rio de Janeiro: Tipografia Franco-Americana, 1874.

SAMPAIO, Teodoro. O Rio São Francisco e a Chapada Diamantina. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. [Org. de José Carlos Barreto de Santana].

Recebido em agosto de 2012 Aprovado em setembro de 2012

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