• Nenhum resultado encontrado

Garantia da qualidade na EaD

No documento GESTÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: UM (páginas 68-73)

2.2 QUALIDADE NA EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA

2.2.1 Garantia da qualidade na EaD

A garantia da qualidade na EaD é algo que vai muito além da verificação de itens que avaliam padrões predeterminados em direção a uma cultura de melhoria contínua. Latchem (2015) afirma que muitos países possuem agências de certificação e garantia da qualidade (QA, da sigla em inglês: “quality assurance”), e os sistemas de controle e análise da qualidade variam de acordo com os tipos de mantenedor (privado, público ou estrangeiro), as modalidades (presencial, a distância ou híbrido) e os níveis de oferta (graduação, pós-graduação, formação continuada).

Não existe um modelo universal que sirva para todos os tipos de curso, mas há aspectos que são comuns apraticamente todos os sistemas, são eles: resultado dos alunos; currículos, cursos e materiais didáticos; ensino e aprendizagem; apoio aos corpos docente e discente; sistema de avaliação e QA interna; gestão; equipe de funcionários; recursos; retorno dos investimentos; e benefícios à economia e à sociedade (LATCHEM, 2015, p. 322).

Gallahger (2010) pondera que as agências de acreditação e/ou certificação tendem a aderir a indicadores com dados que são facilmente mensuráveis e comparáveis (como quantidade de professores, livros na biblioteca, taxas de evasão) em detrimento de dados sobre produção, resultados e impactos. Além disso, debate-se se os critérios utilizados para

avaliar a educação a distância devem ser similares ou adaptados dos critérios utilizados no ensino presencial (WOODHOUSE, 2006) ou se devem ser originais, visto que são modalidades de ensino distintas.

Nesse sentido, Latchem (2015) disserta que as universidades abertas, em sua maioria, partem do princípio de que nunca é tarde para aprender e adotam o modelo quality-in, no qual são aceitos estudantes com pouca ou nenhuma qualificação formal. Esses alunos muitas vezes encontram-se em áreas rurais, remotas ou marginalizadas, onde a educação tradicional não é uma realidade. Para esses alunos, concluir um curso exige uma demanda enorme de equipe e de recursos. O referido autor enfatiza que os cursos devem ser planejados para ajudar esses alunos a se libertarem dessas desvantagens e, portanto, a forma de avaliar a qualidade nesses cursos deve levar isso em consideração e ter indicadores de performance especiais.

Lockee et al. (2011) realizaram uma análise qualitativa dos requisitos presentes em 17 organizações, entre acreditadoras, fundações e institutos de pesquisa dos Estados Unidos (11), Canadá (1), Austrália (1) e Europa (5). Os autores fizeram uma comparação entre os requisitos de cada instituição e concluíram que eles se assemelham em muitos aspectos. Por exemplo: todos apresentam uma perspectiva comparativa entre a modalidade presencial e a distância, ou seja, os indicadores foram definidos com base em princípios da educação presencial e talvez por isso limitem as possibilidades de aprendizagem na EaD, que opera de maneira distinta da educação face a face. Outro ponto de destaque no estudo é o fato de todas as proposições enfatizarem a necessidade de se ter meios de interação sem, no entanto, deixar claro o motivo e a importância disso, da mesma forma que recomendam a formação constante de professores sem deixar claro o porquê.

Em 2000, um estudo realizado pelo Institute for Higher Education Policy e patrocinado por National Education Association e Blackboard Inc. (respectivamente, a maior associação americana de docentes do ensino superior e uma empresa líder em educação on-line) identificou princípios que asseguram a excelência no ensino on-line. A partir de uma revisão na literatura e estudos de caso em três instituições norte-americanas, foram identificados 24 princípios classificados em sete categorias. O quadro a seguir ilustra tais princípios.

Quadro 3: Princípios de qualidade do modelo Quality on the line

Categoria Princípio

Apoio institucional Cria e mantém uma infraestrutura educativa

Fornece um plano de tecnologia que contemple medidas de segurança eletrônica.

Desenvolvimento do curso Os cursos são projetados para exigir que os

alunos se empenhem na análise, síntese e avaliação como parte dos seus requisitos de aprovação no curso.

A tecnologia adotada é baseada nos objetivos de aprendizagem e há diretrizes para o design dos cursos.

O material didático é periodicamente revisado.

Ensino-aprendizagem É caracterizado pela interação entre os agentes

do curso e facilitado de diversas maneiras. O feedback é dado aos alunos de forma construtiva e em tempo hábil.

Os alunos são instruídos sobre os métodos adequados e mais eficientes de pesquisa e avaliação de dados/informações.

Estrutura do curso Fornece ao estudante, antes de começar o

curso, informações suficientes para que este descubra se tem a motivação e os recursos necessários para realizá-lo.

Proporciona informações complementares sobre o curso (objetivos, conceitos, resultados esperados).

Facilita o acesso aos centros de documentação on-line (bibliotecas, bases de dados etc.). Informa de modo transparente as expectativas com relação aos prazos de entrega e aos critérios de correção das atividades.

Suporte aos estudantes Facilita informações suficientes sobre o

programa: requerimento para admissão, preços, livros, acessórios, requerimentos técnicos e serviços de suporte.

Os alunos recebem informação e formação sobre como obter material através de bases de dados, redes de bibliotecas, arquivos do governo, serviços de notícia e outras fontes.

Continua Conclusão Proporciona acesso fácil ao suporte técnico durante todo o curso. Antes do curso, facilita

instruções precisas (tutoriais, capacitações) de como usar tais recursos.

Responde rapidamente aos questionamentos e às solicitações dos estudantes.

Suporte aos professores Proporciona assistência técnica aos professores

e motiva-os a usar.

Facilita a transição do presencial para o virtual. Mantém o apoio e a assistência durante todo o curso.

Informa os professores sobre solução de problemas como o plágio.

Avaliação Possui um processo de avaliação

pedagogicamente eficaz.

Avalia a eficácia do programa com relação a: inscrições, custos, aplicações inovadoras e adequadas à tecnologia.

Revisa periodicamente os resultados de aprendizagem previstos, com o objetivo de garantir clareza, utilidade e adequação. Fonte: Adaptado de Merisotis e Phipps (2000).

Nesse modelo, destaca-se o fato de ser direcionado para cursos totalmente a distância, ou seja, não prevê nenhum momento presencial em polos de apoio ou centros associados. Além disso, é importante ressaltar que o modelo é voltado para o contexto norte-americano, no qual a educação a distância não enfrenta tantos problemas de aceitação e de qualidade como no Brasil; isso pode ser percebido claramente nos requisitos apresentados na categoria Apoio Institucional.

Na América Latina e nos países do Caribe, e isso evidentemente inclui o Brasil, há uma carência de modelos de avaliação da qualidade e ainda não existe legislação específica para reconhecimento e validação de cursos a distância. O Instituto Latinoamericano y del Caribe de Calidad en Educación Superior a Distancia (CALED) realizou um levantamento sobre a legislação para avaliação e acreditação de programas de graduação a distância na América Latina, no Caribe e no México. Nenhum dos países possui uma legislação específica para a avaliação de programas a distância (CALED, 2016), com exceção do Brasil (este assunto será apresentado na sequência deste capítulo).

O CALED é um instituto de qualidade na educação superior a distância da América Latina e do Caribe que está vinculado à Universidade Técnica Particular de Loja (UTPL), no Equador. A sua principal missão é contribuir para a melhoria da qualidade do ensino

superior a distância em todas as instituições da região que ofereçam esse tipo de curso. O instituto tem sua origem em um projeto financiado pelo Banco Internacional de Desenvolvimento (BID), executado pela UTPL em parceria com a Associação Ibero-Americana de Educação a Distância (AIESAD) e o Consorcio Red de Educación a Distância (CREAD).

Considerando-se as deficiências em modelos de avaliação aderentes à realidade latino-americana e caribenha, o CALED desenvolveu um modelo que pode ser disponibilizado para qualquer pessoa ou instituição interessada. O modelo agrupa os critérios de qualidade em processos facilitadores e em resultados, como mostra a figura a seguir.

Figura 3: Modelo de qualidadedo CALED

Fonte: CALED (2006).

Os processos facilitadores indicam como deve ser o enfoque das diversas atividades relacionadas com a gestão que contribuem para a excelência dos cursos. Esses critérios são:

a. liderança e estilo de gestão; b. política e estratégia;

c. desenvolvimento de pessoas; d. recursos e parcerias;

e. destinatário (estudantes) e processos educacionais.

Os resultados expressam o que se está alcançando mediante a implantação dos critérios facilitadores. Estão divididos em: resultados para os destinatários (estudantes); resultado para o desenvolvimento das pessoas; resultado para a sociedade; e resultados globais. Nesse modelo,

percebe-se uma preocupação maior com os inputs do curso, ou seja, com os resultados e os impactos nos envolvidos e na sociedade.

Como citado anteriormente, na América Latina, o Brasil é o único país que possui uma legislação voltada para a modalidade a distância. Para entender como funciona o sistema de avaliação de cursos a distância no País, é necessário conhecer o sistema de avaliação geral. Assim, a próxima seção se dedica a isso.

2.2.2 Sistema de avaliação de qualidade na educação superior

No documento GESTÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: UM (páginas 68-73)

Documentos relacionados