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Generös Poéticos

No documento O Aspecto verbal na literatura de cordel (páginas 69-77)

I I I A Expressão da Repetição (Aspecto Iterativo)

I. A Inceptivo B Durativo

2. Generös Poéticos

A poesia popular do Nordeste utiliza basicamente qua tro tipos de versos. São eles, pela nomenclatura clássica:

a) a redondilha menor, com cinco sílabas;

b) a redondilha maior, com sete;

d) o hendecassílabo de arte maior, com onze sílabas.

Embora empreguemos aqui o número de sílabas para ca

racterizar os metros correntes, urge esclarecer que na literatu ra popular a unidade métrica não é a sílaba, nem as células mé tricas ou "pés" da denominação tradicional. "Em verdade - ens_i

na-nos o mestre PROENÇA - os elementos que se podem

considerar como unidade são os v e r s o s , ou grupos de versos e a

e s t r o f e ,constr u í d o s , ou melhor , caracterizados pela linha to

nal da declamação, que, afinal, coincide com as frases melód_i

cas da cantoria"(084, p. 5).

Aqui, os versos tomam-se como estrofes e os p é s , como v e r s o s , donde as quadras valerem versos de quatro pés. 0 "pé" ou verso ( na terminologia clássica ) é que marca, pois, a uni dade simples, reconhecida pelos poetas populares, e não a síla ba ou células- métricas.

Dentre todos os gêneros, é a sextilha setissilábica a "forma absolutamente predominante na literatura de cordel" (CA_S CUDO, 025, p . 361). Tão antiga quanto a quadra, era, já no sécu lo XVI, popularíssima. 0 romance do "Rei Artur da Távola Redon

da", mais conhecido como "A Segunda Távola Redonda", de Jorge

Ferreira (1567), guarda ao lado das quadras sextilha igual As

do Nordeste brasileiro.

A sextilha é chamada pelos cantadores de "obra de

seis pés", ou "verso de seis pés", sendo poucos os folhetos es_

critos de outra maneira. A presença de sete sílabas nesse gêne

ro é antes obtida pelo exercício constante do ouvido ao ritmo

da viola, que propriamente pela contagem métrica. A rima ■ não

obedece a uma precisão técnica, registrando-se, porém, o esque

os demais, livres. Um exemplo de Francisco Pequeno, repentista paraibano :

"Meus versos inda são do tempo Que as coisas eram de graça: Pano medido por vara,

Terra medida por braça, E u m cabelo da barba Era uma letra na praça."

Há ainda uma variedade de modelos estróficos na lite ratura popular. Apontaremos os principais, com ligeiros comenta

rios e exemplo significativo, visando oferecer um panorama ge

ral da poesia popular nordestina, que tem na literatura de cor

dei sua grande representante.

a) MOIEAO o u MOURSo. É o .’ desafio natural, preferido

pelos cantadores. Ao longo do tempo tem conhecido grandes varia ções. Da forma original de seis versos surgiu o moirão de cinco

- ambas em desuso desde o século passado. Posteriormente, cp

nheceram-se as variantes de sete pés, o trocado, o moirão- que- -você-cai e o voltado.

No moirão de seis p é s , o cantador A faz os dois pr^

meiros versos e os dois últimos, fechando a estrofe. 0 cantador B intercala os terceiro e quarto versos. Rimam os versos pares, sendo os demais,, livres. U m exemplo de Romano E l i a s é I n á c r o da Catingueira :

I -"Seu Romano, estão dizendo Que nós não cantamos bem!

R - Pra cantar igual a nós. Aqui não vejo ninguém!.

I - E o diabo que disse isto

Ê o pir-r que aqui tem!"

No moirão de cinco p é s , havia o revezamento dos canta dores nos versos e nas estrofes. 0 cantador A, que inicia a pri meira estrofe, diz o primeiro verso e os três últimos. 0 canta dor B, que iniciará a estrofe seguinte, intercala o segundo ver so. 0 primeiro verso rima com o segundo e o quinto, e o tercei ro com o quarto. Um exemplo de Francisco Pequeno e Romano Elias da Paz:

F -"No moirão não deixo nó!

R - 0 meu eu lavro de enxó!

F - Colega, estou pesaroso... No recinto primoroso Sei que fico a cantar só!

R - Puxe bem por seu Romano!

F - Colega, este é o plano!

R - Mais tarde tu hás de ver 0 povo todo dizer

Que eu acabei teu engano."

0 moirão do sete p é s , o mais usado presentemente, é

formado por uma. estrofe de sete versos. 0 cantador A diz os

dois primeiros e os três últimos versos e o cantador B, os ter

ceiro e quarto versos. A rima obedece ao esquema ABABCCB. Um

exemplo de Agostinho lopes dos Santos e José B e m a r d i n o de 01^ veira:

A -"Não vá você achar ruim Este mourão a doer!

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J - Eu acredito, Agostinho Naquilo que posso ver!

A - Companheiro, não se gabe, Que a pessoa que não s a b e , Agrava a Deus sem querer!"

Essa variante pode ser cantada por três cantadores,

cabendo ao cantador A os dois primeiros v e r s o s , ao cantador B , os versos terceiro e quarto e ao cantador C, os três últimos. 0 padrão rimático é ABCBAAB. Um exemplo de Pedra Azul, Canhotinho e Severino Pinto:

P -"Vou dar começo à questão Pra ver quem ganha no fim!

C - Eu morro e não tenho medo Dum pinto pelado assim!

S - Sou pelado, sem canhão. Por causa de ujri beliscão . Que tua mãe deu em mim!"

0 moirão trocado diferencia-se do moirão de sete pés

apenas pelo aparecimento nos quatro primeiros versos de pala

vras que se alternam. 0 esquema rimático é ABCBDDB. Um exemplo de Lourival Batista e Severino Pinto:

L -"Eu, da graça faço o riso, E do riso faço a graça!

S - E da massa faço o pão, E do pão eu faço a massa!

Que u ’a misturada dessa Não liá padeiro que faça!"

0 moirão-que-você-cai, também com versos de sete síla

bas, como nos demais, contém doze versos. 0 cantador A forma

os três primeiros versos, o sétimo, o oitavo e os três últimos. 0 cantador B, os versos quarto, quinto, sexto e nono. A estrofe

seguinte repetirá os versos terceiro, sexto, nono e décimo

gundo, A rima obedece ao padrão ABCBACADDEED. U m exemplo dos ir mãos Lourival e Otacílio Batista:

L -"Meu irmão, a hora é esta. De travar-se um desafio! Lá vai u m a , duas e três..,

0 - Mas em luta eu não confio Porque desanima a festa!

Lá vai quatro' cinco e seis...

L - Meus versos ninguém detesta Porque desafio distrai !

0 - Cuidado que você c a i ...

L - Caio tomando sorvete, Você levando c a cete,

Se for por dez pés lá vai!"

0 moirão v oltado, gênero relativamente recente, con

tém versos setissilábicos. Os cantadores A e B alternam-se até o oitavo verso, quando se unem no estribilho ("Isso é que é mou rão voltado/ Isso é que é voltar mourão!"), repetindo a ,seguir o oitavo verso e, novamente, o estribilho. 0 esquema rimático é ABBAACCD, U m exemplo de autores desconhecidos:

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A -"Tudo, neste mundo, volta. B - Com você combino eu!

A - Volta o rico e o plebeu;

B - Volta quem prende e quem solta... A - Volta a paz e a revolta;

B - Volta o sim e volta o não! A - Volta até Napoleão

B - Que há tempo está sepultado... AB- Isso é que é Mourão voltado,

Isso é que é voltar mourão! Que há tempo está sepultado... Isso é que é mourão voltado, Isso é que é voltar mourão!"

b) QUADR/v. Diz-se das estrofes de quatro versos ou,

no dizer do poeta, dos "versos de quatro pés". 0 gênero é l:ioje quase inexistente. Era cantado por um só poeta ou em dupla,apre sentando rima nos versos pares. U m exemplo de Romeno da Mãe d* água e o célebre Inácio da Catingueira.

I -"Romano, num pingo d*água Eu quero ver se te afundo! Diga lá em quatro pés, As coisas leves do mundo!

R - Sendo coisa aqui da terra: Pena, papel, algodão!

Sendo coisa do outro mundo: A l m a , fantasma e v i s ã o !"

0 pé quebrado é uma variante, quase sempre de sete s^ labas, com rima entre o segundo e o terceiro verso, e o quarto

com o primeiro da quadra seguinte. 0 quarto verso, por ter m

número inferior de sílabas é que dá nome á quadra. Ê o gênero

predileto para as sá t i r a s , circulando na Espanha e Portugal com outras características. U m exemplo de Joaquim Apolinário de Me­ deiros ;

"Chegou a hora fatal,

Vou morrer, não há recurso. Peço porém o concurso

Dos amigos.

E em verdade lhes digo Que não tenho desavenças E, em matéria de crenças, Sou a t e u . .."

c) QUADRAo. Trata-se da estrofe composta de oito ver

sos setissilábicos, levando o seu nome no estribilho("oito pés em quadrão"). U m exemplo de Lourival Batista Patriota:

"Um cantador repentista. Em todo ponto de vista. Precisa ser u m artista De fina inspiração,

Para dar capricho â arte, E ter nome em toda parte. Honrando o grande estandarte Dos oito pés em quadrão."

Há ainda o quadrão em dez pés - apresentando-se na

forma simples ou dialogada - e o quadrão trocado. A forma bás^ ca, contudo, é a de oito, em que o nome "quadrão" é aiimentativo

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de quadra, feita em quatro pés.

Damos a seguir um exemplo de guadrão dialogado, com

rima em ABBAACCDDC e de autoria anônima:

A -"Júpiter onipotente,

B - Tendo o trono conquistado, A - Por ter seu pai expulsado, B - Do céu traiçoeiramente, A - Porque de reinar s o mente, B - Era a sua pretensão!

A - Da maior constelação, B - íris, num carro, desceu, A - E a inspiração me deu, B - Nestes dez pés a -.^uadrão:"

No documento O Aspecto verbal na literatura de cordel (páginas 69-77)

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