• Nenhum resultado encontrado

1. Uma aproximação à criança em condição crônica e a organização do

3.6 Instrumentos de coleta de dados

3.6.3 Genograma e ecomapa

Com a finalidade de se conhecer a estrutura familiar, suas relações com sistemas maiores e os recursos disponíveis, foram utilizados o genograma e o ecomapa. Esses instrumentos apareceram na literatura quando se começou a discutir o Modelo Calgary de Avaliação da Família em 1984, que é um modelo multidimensional que considera a família na sua categoria funcional, estrutural e de desenvolvimento. (WRIGHT & LEAHEY, 2009).

O genograma é considerado um dos principais instrumentos padronizados para avaliação familiar. Ele mostra uma representação gráfica da família e podemos perceber a relação entre seus membros a partir de símbolos e códigos padronizados por pelo menos três gerações. Esse instrumento oferece ricos dados acerca do relacionamento dos familiares ao longo do tempo e é possível também observar quais os membros constituem a família, tendo vínculos consanguíneos ou não (WRIGHT & LEAHEY, 2009).

O genograma vem sendo aplicado em diversas áreas do conhecimento humano, como na medicina, na enfermagem, na psicologia, no serviço social entre outras. A sua utilização permite compreender o quadro familiar, dentro de uma visão a partir dos problemas potenciais que podem interferir na vida do indivíduo ou da família, nos processos de saúde ou doença. O esboço do genograma tende a seguir gráficos convencionais genéticos e genealógicos. Os pais são dispostos horizontalmente, os filhos são apresentados por linhas verticais e dispostos da

30 esquerda para a direita, na ordem do nascimento. Os homens são representados por quadrados e as mulheres por círculos, identificando o nome, a idade e outras informações que forem pertinentes (BOUSSO; ANGELO, 2001a; WRIGHT & LEAHEY, 2009).

Segundo Rocha et al. (2002), o ecomapa também vem sendo utilizado no estudo das famílias. Ele é um diagrama, que representa as relações entre a família e a comunidade e auxilia na avaliação dos apoios e suportes disponíveis e sua utilização por ela. Para os estudiosos, uma família que tem poucas conexões com a comunidade e entre seus membros necessita maior investimento da enfermagem para melhorar seu bem-estar.

Com relação à estrutura do diagrama do ecomapa, o genograma da família é colocado no centro e os círculos externos representam pessoas significativas e instituições que se relacionam com o contexto familiar. Linhas são traçadas para identificar as conexões entre os membros da família e o seu contexto, podendo representar ligações fortes ou ligações frágeis. As com barras representam aspectos estressantes e as setas significam energia e fluxo de recursos (WRIGHT & LEAHEY, 2009).

O ecomapa, conforme descrito por Costa et al. (2011), permite-nos identificar os recursos disponíveis e acessados pela família, bem como a qualidade de seus vínculos e as relações estabelecidas. Além disso, expressa dinamicidade e o movimento de pessoas e famílias dentro de redes próximas e próprias, os movimentos, (re)arranjos e interações que se estabelecem ao longo do existir coletivo da família, tanto entre seus membros, como entre ela e a comunidade. Evidenciam o modo como as pessoas tecem redes de sustentação e de apoio para o cuidado, das quais podem participar os serviços, por meio dos vínculos estabelecidos com seus profissionais e esses podem dar certo apoio para o cuidado realizado pela própria família. A sua utilização permite melhor visualização das trocas estabelecidas, da lógica empreendida pelas pessoas e família no cuidado em saúde, bem como propicia entender às múltiplas implicações do adoecimento na vida dessas pessoas.

A partir de então, o uso simultâneo do genograma e do ecomapa tem sido empregado na prática clínica dentro da enfermagem por diversos autores. Em pesquisas, tem seu uso crescente, pois fornece subsídios para o pesquisador compreender melhor as experiências dos indivíduos.

Rempel et al. (2007), apontam algumas vantagens em se utilizar esses instrumentos na área da pesquisa:

 A construção do genograma e do ecomapa pelo pesquisador e pelo indivíduo favorece o estabelecimento de vínculos de confiança, proximidade e, ainda, maior profundidade nas entrevistas;

 A elaboração dos instrumentos é um processo que concede aos pesquisadores um rico contexto que possibilita a identificação da rede social dos sujeitos da pesquisa e a relação estabelecida entre eles;

 O pesquisador pode ter a oportunidade de fazer questionamentos sobre esses instrumentos além de ser possível que outras perguntas de pesquisa apareçam;

O genograma tem sido utilizado para iniciar conversa intencional, como afirmam Wright e Leahey (2009). A necessidade de identificarmos os componentes da família e verificarmos a relação entre os seus membros, levou-nos a uma conversa com os familiares para construção desses instrumentos.

Para a obtenção de informações necessárias à construção do genograma e do ecomapa, durante todo o proceso de coleta de dados, os membros da família puderam contribuir livremente, fornecendo informações que nos possibilitaram a construção dos instrumentos. As informações foram gravadas para que fossem posteriormente ouvidas pela pesquisadora, a fim de verificar se expressavam as informações fornecidas pelos familiares e também para que fossem verificadas adequações do genograma e do ecomapa construídos. Também foram realizados alguns apontamentos que pudessem facilitar a construção das representações gráficas. Os dados foram obtidos utilizando-se de um roteiro com questões norteadoras destinadas a este momento.

Para a construção do genograma, ao mesmo tempo que as informações eram ouvidas e registradas, realizávamos um esboço da representação gráfica. Optamos por isso, uma vez que a observação visual do instrumento construído poderia sinalizar à pesquisadora a necessidade de outros questionamentos no que

32 diz respeito à informações que porventura não fossem abordadas pelos entrevistados.

Para iniciar a construção do ecomapa, os membros considerados da família, cuja composição foi aquela descrita pelos informantes, foi colocado em um círculo central e, a partir daí, seguiu-se a representação gráfica das relações. Mais adiante procuramos esclarecer como se deu a construção gráfica desses instrumentos e a codificação adotada para que o leitor faça a sua interpretação.

Importante destacar que o genograma e o ecomapa foram instrumentos de registro da pesquisadora e a representação gráfica não foi compartilhada com a família. Tal atitude justifica-se na medida em que, de acordo com Wright e Leahey (2009), é possível que a família reaja a certos eventos significativos, ao se ver representada dessa maneira pela primeira vez, o que poderia demandar outras intervenções e encaminhamentos por parte da pesquisadora para garantir o suporte necessário a esta família.

Posteriormente, a representação gráfica desses instrumentos foi feita por meio do programa CorelDRAW® X5.