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1.5 Os Parâmetros Curriculares Nacionais: breve contextualização

1.5.1 Geografia: Pluralidade Cultural X Educação Patrimonial

“Há muito se diz que o Brasil é um país rico em diversidade étnica e cultural,

plural em sua identidade”. (BRASIL, 1997, p.15). A pluralidade cultural que existe no território brasileiro é resultado de um longo processo histórico de interação entre

aspectos políticos e econômicos, no plano nacional e internacional. Esse processo é apresentado como uma construção cultural brasileira altamente complexa e historicamente definida e redefinida, evidenciando características locais e regionais.

Em nosso território, é possível visualizar culturas singulares, ligadas à identidade de origem de diferentes grupos étnicos e culturais. Em função disso, é que se reconfigura a permanente elaboração e redefinição da identidade nacional em sua complexidade. (BRASIL, 1997).

Nos PCN‟s (BRASIL 1997, p.19), a pluralidade cultural é expressa como:

A temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à valorização de características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e algumas vezes paradoxal.

No entanto, podemos compreender a pluralidade cultural como um tema transversal que menciona a diversidade étnica e cultural envolvendo a sociedade brasileira e as suas relações marcadas pelas desigualdades sociais e econômicas. Destacamos que, a partir dela, é possível reafirmar a diversidade que constitui nosso território, como fator essencial para a “construção de uma identidade nacional que se põe e repõe permanentemente”. (BRASIL, 1997, p.19).

O trabalho com a pluralidade cultural possibilita ao professor, no processo de ensino e aprendizagem, abarcar vários horizontes, inclusive, abrangendo questões culturais e bens patrimoniais, por exemplo, o que facilitará a abertura para a consciência de que a realidade, na qual vivemos, é apenas parte de um mundo complexo. Assim, trabalhar com esse assunto é proporcionar aos alunos o desenvolvimento da compreensão de que se deve respeitar e valorizar as diferenças, mas claro, isso “não significa aderir os valores do outro, mas, sim, respeitá-los como expressão da diversidade, respeito que é, em si, devido a todo ser humano, por sua dignidade intrínseca, sem qualquer discriminação”. (BRASIL, 1997, p.19).

O “tema” em questão proporciona o desenvolvimento de práticas educativas, envolvendo a comunidade local e a sociedade, por exemplo, contemplando questões

do cotidiano. A escola é a instituição na qual esse trabalho pode ter maior repercussão, pois as questões que enseja trabalhar devem ser ensinadas e apreendidas desde cedo para que as crianças cresçam já tendo consciência do quão importante é valorizar a cultura, mantê-la viva na memória, preservando a identidade de cada grupo. Desse modo, o trabalho torna-se mais fácil na escola, pois, nela, a criança convive com a diversidade e poderá reconhecê-la a partir do seu local de vivência.

Cabe ressaltar que, a partir da pluralidade cultural, é possível apresentar a diversidade seja étnica ou cultural de nosso país, facilitando que as diferenças sejam aprendidas e valorizadas como tal. A grande provocação que se coloca à escola e também aos professores, principalmente os de Geografia, é saber identificar e conhecer a diversidade como parte da identidade nacional, tendo consciência da riqueza dos bens sociais e culturais brasileiros, para que seja possível trabalhar com manifestações de cultura, salvaguardando identidade e memórias. Desenvolver a pluralidade cultural não é uma simples tarefa, mas um processo permanente e, para que seja possível obter resultados satisfatórios, pode e deve ser trabalhado e discutido em sala de aula a partir da Educação Patrimonial.

A Educação Patrimonial torna-se realmente significativa ao se trabalhar com a pluralidade cultural ainda mais no que se refere ao ensino de Geografia, pois possui grandes relações com ela. Podemos visualizar tais relações a partir das diferentes culturas existentes no território brasileiro e também com base em paisagens, lugares e regiões que expressam essas diferenças. (BRASIL, 1998).

Desse modo, ao desenvolver a Educação Patrimonial na Geografia, a partir da pluralidade cultural, os alunos devem conhecer as suas origens em território nacional e, de forma semelhante, como participantes de grupos culturais específicos. A partir da valorização das várias culturas que estão presentes no espaço geográfico, os alunos terão facilitada a compreensão de seu próprio valor em sua condição de agentes participantes e provedores de cultura. Para isso, o convívio escolar, as relações entre colegas e amigos contribuem eficientemente para esse trabalho, pois o conhecimento, as vivências e o contato com outras pessoas facilitam ao aluno desenvolver respeito e valorizar as suas próprias origens, assim como de seus semelhantes, enfim, promovendo o pleno exercício da cidadania.

É importante destacar que apesar da Educação Patrimonial já vir sendo desenvolvida há algum tempo, com experiências isoladas, ainda é muito jovem e

pouco difundida, sobretudo, na ciência geográfica, determinando algumas dificuldades com relação aos pressupostos teóricos. Sendo assim, os trabalhos que vêm sendo desenvolvidos fazem-no com o sentido de aproximar as pessoas com o objetivo de constituir um diálogo de conscientização, valorização e preservação da pluralidade cultural e, por conseguinte, da cultura, dos patrimônios culturais, da garantia da memória e da identidade.

Para que seja possível desenvolver a Educação Patrimonial nas escolas, tendo como ponto de partida o tema transversal pluralidade cultural, é fundamental refletir sobre a construção de conhecimentos geográficos, sendo necessário, primeiramente, fazer com que os alunos reflitam e apreendam a realidade, ou seja, compreendam a importância que o espaço, no qual se inserem, possui nas práticas sociais. Sendo assim, a Geografia contribui a partir do momento que ajuda as pessoas a contextualizar os fenômenos, ao conhecer o mundo em que vivem, tornando-se indispensável na formação de pessoas que participam da vida social, propiciando-lhes o entendimento do espaço geográfico.

É importante frisar também que ao pretender-se trabalhar a Educação Patrimonial, evidenciando e valorizando culturas, bens do patrimônio e a memória na Geografia, não se deve desenvolver esse tipo de atividades apenas na escola, mas também fora dela, instigando os alunos a procurarem evidências culturais seja pela forma de pesquisa, pelo contato com pessoas mais velhas, com bens culturais materiais e imateriais, por exemplo, enfim contribuindo, de forma significativa, porque, a partir da experiência e contato direto com bens e fenômenos culturais, é possível compreender e valorizar, num processo contínuo de descoberta.

No entanto, é possível afirmar que existe uma relação intrínseca entre patrimônio e cidadania, dessa forma, é válido afirmar que a Educação Patrimonial aliada à disciplina de Geografia, como uma valiosa ferramenta, facilita o trabalho com a noção de pertencimento e valorização do patrimônio em sala de aula com os alunos.

Ao desenvolver a Educação Patrimonial na Geografia tendo como base a pluralidade cultural, porém, é preciso ter atenção redobrada ainda mais no que se refere às experiências de ensino-aprendizagem que visam à valorização dos bens patrimoniais. Assim, refletir sobre a importância da Educação Patrimonial na Geografia para a conservação da cultura, dos patrimônios culturais e a garantia da memória e identidade, assinalam a precisão de pensarmos formas de intervenção

didático-pedagógicas para o ensino que sejam voltadas às questões de preservação dos bens culturais, que são relevantes para a sociedade e para o educando em si.

Adotada tal perspectiva, cabe aos educadores e professores de Geografia refletir a respeito do nosso papel como agente transformador, ou melhor, um mediador cultural capaz de pensar sobre nossas praticas pedagógicas, pensar sobre o que queremos e pretendemos que nossos alunos aprendam e carreguem como bagagem para a sua vida, cabe-nos também contribuir para que aspectos de cultura, bens do patrimônio sejam valorizados e resgatados, não deixando perder-se com o tempo.