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6.3 – Aspectos Geomorfológicos

O estudo geomorfológico possui fundamental importância na pesquisa, pois o mesmo possibilita uma análise detalhada das diferentes feições e modelados do relevo que se encontram na área de estudo. Conseqüentemente auxiliam a identificação das áreas susceptíveis a riscos naturais de deslizamentos e de enchentes que estão associados diretamente às formas do relevo.

Quanto aos aspectos geomorfológicos do setor leste da bacia hidrográfica do Rio Itacorubi destacam-se as elevações rochosas da unidade geomorfológica Serras do Leste Catarinense e as áreas planas da unidade geomorfológica Planícies Costeiras, conforme o mapa 6.

6.3.1 - Unidade Geomorfológica Planícies Costeiras

Encontra-se inserida no Domínio Morfoestrutural das Acumulações Recentes, no qual as planícies que constituem a forma de relevo foram modeladas em depósitos sedimentares arenosos e areno-argilosos com níveis de cascalhos localizados e depositados durante episódios relacionados com as oscilações que ocorreram no Quaternário (HERRMANN e ROSA, 1991, p.9).

Ainda segundo os mesmos autores, essa Unidade Geomorfológica constitui- se de uma extensão de terrenos planos ou muito pouco dissecados, onde os processos que geram as formas de relevo estão diretamente ligadas com as variações do nível marinho ocorridas durante o Quaternário.

Os diversos tipos de modelados de acumulação que compõem essa Unidade Geomorfológica pertencem ao Compartimento das Planícies Marinha e de Maré.

Compartimento das Planícies Marinha e de Maré

Abrange o conjunto de formas do relevo associado aos sedimentos transportados e depositados sob o regime fluvial, por ação de ondas e correntes, sendo que na área de estudo constituem as Planícies de Maré e Flúvio-Marinha.

Planície de Maré

Encontra-se junto à foz dos rios e possui como principal característica a presença de um solo do tipo vasoso rico em matéria orgânica, que propicia o desenvolvimento de uma vegetação típica, cuja composição varia em função da distribuição geográfica. Suas melhores condições de desenvolvimento são, a pouca declividade do fundo oceânico, facilitando o ingresso de água salgada associada a baixos níveis de energia cinética (HERRMANN e ROSA, 1991, p.13).

Ainda segundo os autores mencionados acima, são áreas planas, levemente inclinadas em direção ao mar localizadas junto à foz dos rios, periodicamente inundadas pelo ingresso da água do mar em decorrência das marés, com solos predominantemente halomórficos, geralmente recobertos por uma vegetação típica dos manguezais.

Na área de estudo pode ser observada junto à foz do Rio Itacorubi, que se caracteriza como uma área plana de deposição de sedimentos arenosos influenciados diretamente pela ação das marés.

Planície Flúvio-Marinha

Corresponde a uma área plana com baixa declividade que inicia a partir do Mangue até o início das encostas, constituída por sedimentos arenosos de origem marinha e síltico-argilosos de origem fluvial (Dias 2000, p.51).

Segundo Herrmann e Rosa (1991, p.15) uma planície flúvio-marinha caracteriza-se por uma área plana resultante de processos fluviais associados à dinâmica marinha, sujeita a inundações periódicas podendo apresentar dissecação devido às mudanças de nível de base e conseqüentes retomadas erosivas.

6.3.2 - Unidade Geomorfológica Serras do Leste Catarinense

Encontra-se inserida no Domínio Morfoestrutural dos Embasamentos em Estilos Complexos, caracterizando-se pela presença de uma seqüência de elevações sub-paralelas orientadas predominantemente no sentido NE–SW, reduzindo sua altitude de forma gradativa em direção ao mar.

Também apresentam os “trends” estruturais que são condicionantes da intensa dissecação do relevo, com formação de interflúvios que, de maneira geral, são convexos e estreitos, com vales profundos cujas vertentes possuem alta declividade sulcadas e separadas por cristas, as quais encontram-se associadas a falhamentos (HERRMANN e ROSA 1991, p.9).

Os modelados de dissecação que caracterizam a área de estudo na Unidade Geomorfológica Serras do Leste Catarinense, correspondem aos Modelados de Dissecação em Outeiros, em Montanhas e em Patamares, todos definidos em função das características do relevo.

Dissecação em Morraria ou Outeiro (Do)

Segundo Herrmann e Rosa (1991, p.15) os modelados de Dissecação em Morrarias ou Outeiros apresentam vales pouco encaixados, formando morros com vertentes convexa-côncavas e amplitudes altimétricas inferiores a 200 metros.

Conforme o mapeamento geomorfológico da área de estudo, esse tipo de modelado é predominante, correspondendo de maneira geral, as formas de relevo situadas na faixa de transição entre a área plana da Planície Costeira (inferiores a 20 metros) e as áreas montanhosas (superiores a 200 metros).

Dissecação em Montanhas (Dm)

De acordo com Herrmann e Rosa (1991, p.15) esse tipo de modelado, com amplitudes altimétricas superiores a 200 metros, caracteriza-se por apresentar vales encaixados, ocasionalmente com terraços alveolares, interflúvios angulosos e vertentes com diferentes graus de declividade, que se encontram bastante dissecadas com patamares e ombreiras oriundas do trabalho erosivo ao longo do tempo.

Na presente área de estudo a Dissecação em Montanha ocorre nos setores de alta encosta, predominantemente na porção norte/nordeste, e de forma menos expressiva na porção sul. A presença significativa desse tipo de modelado representa o aspecto declivoso das encostas, favoráveis aos riscos de deslizamentos.

Como evidencia do relevo acidentado no Modelado de Dissecação em Montanhas na área de pesquisa, pode-se observar as formas das encostas que em vários locais apresentam-se como retilíneas e até escarpadas que, associadas às altas declividades, são fatores determinantes na susceptibilidade aos movimentos de massa.

Para Dias (2000, p.51-54) a Dissecação em Montanha (Dm) diferencia-se basicamente da Dissecação em Outeiro (Do), por apresentar maior grau de dissecação e conseqüentemente maior declividade.

Referindo-se a Porção Central da Ilha de Santa Catarina, os autores Herrmann e Rosa (1991, p.10) destacam que, por apresentar um relevo com declividade acentuada, determinam ocorrências ocasionais de movimentos de massa do tipo solifluxão e deslizamentos, resultando em cicatrizes de arranque de material e nichos erosivos.

Dissecação em Patamares (Dp)

Esse tipo de modelado foi individualizado no presente estudo a fim de seguir a mesma nomenclatura adotada por Dias (2000, p.54) com propósito de dar continuidade ao mapeamento sistemático da Ilha de Santa Catarina sobre as áreas susceptíveis a riscos.

Embora a forma de relevo em patamares tenha sido incluída no modelado de Dissecação em Montanha na pesquisa realizada por Herrmann e Rosa (1991), no presente trabalho a Dissecação em Patamares foi individualizada. Isto devido a sua ocorrência nos principais divisores d’água, observada por Dias (2000) e na presente área de estudo, e principalmente por apresentar uma dimensão espacial com características próprias (topos planos e pouco dissecados) que favorecem a classificação hierárquica das áreas susceptíveis a riscos naturais.

No setor nordeste da área de estudo, entre modelado de Dissecação em Patamares e o de Dissecação em Montanhas, pode-se delimitar uma área plana, de baixa declividade, com um amplo vale servindo como bacia de captação de água nas áreas de entorno, que foi denominada de Forma Interiormente Deprimida.

A presença da Forma Interiormente Deprimida no setor leste da bacia hidrográfica do Rio Itacorubi é de fundamental importância, pois essa feição geomorfológica serve como bacia natural de contenção de enchentes, auxiliando na retenção e infiltração parcial das águas em períodos de chuvas intensas sendo uma área estratégica para amenizar os problemas relacionados às enchentes e alagamentos na área de pesquisa conforme a figura 13.

Figura 13 - Evidenciando a Forma Interiormente Deprimida, com amplo vale que serve como bacia de captação de águas do setor nordeste da área de pesquisa (julho/2001).

Referindo-se aos problemas causados pelas enchentes que afetam o sítio urbano de São Paulo, foi proposta como técnica recomendável, à diminuição da concentração das águas nos leitos principais das drenagens, onde esta inserida a técnica de retenção de parte das águas em determinados pontos estratégicos da bacia contribuinte, com a finalidade de reduzir a vazão que aflui para os cursos d’água principais, e, portanto, retardando a concentração das águas. Essa retenção pode ser conseguida por barragens, em geral nas cabeceiras de rios de 1ª e 2ª ordem, com a formação de reservatórios que serão volantes do fluxo das águas (PASTORINO 1971, p.13).