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4. ENQUADRAMENTO GERAL DA ILHA DE SANTIAGO

4.3. Enquadramento geológico da Ilha de Santiago

4.3.1. Geologia e Hidrogeologia

A geologia da ilha é caracterizada fundamentalmente por rochas vulcânicas, com basaltos alcalinos e os inerentes produtos lávicos e piroclásticos (brechas e tufos) derramados pela cratera do vulcão principal, situada no maciço do Pico da Antónia (FARIA, 1970; ALVES et al., 1979). Na generalidade poucas zonas planas podem ser observadas na ilha, com realce para o planalto de Santa Catarina (zona centro) e as plataformas de abrasão que se localizam na zona Norte e Sul da ilha e ainda em algumas encostas.

A pouca cobertura vegetal e a pequena espessura do solo constituem um ecossistema frágil cujas características físico-ambientais reduzem substancialmente o seu potencial produtivo.

As rochas eruptivas constituem a quase totalidade da parte emersa da ilha, tanto em superfície como em volume, distribuindo-se por vários tipos e formações geológicas de idades muito diferentes (SERRALHEIRO, 1976). De modo geral, as rochas mais antigas encontram-se nos fundos dos vales, em áreas desnudadas. Os produtos de origem vulcânica explosiva formaram os derrames da maior parte da ilha, enquanto que as rochas faneríticas ocupam áreas mais restritas. Segundo SERRALHEIRO (1976), (Figura 4.3.), as unidades geológicas que compõem a ilha de Santiago podem ser reunidas em quatro grupos principais, da mais antiga para a mais recente:

 Pré-miocênicas: Complexo Eruptivo Interno (embasamento),  Miocênicas: Formação dos Flamengos e Formação dos Órgãos,

 Pliocênicas: complexo eruptivo do Pico da Antónia e Formação da Assomada, e,  Quaternárias: Formação de Monte Vacas.

De realçar que as formações geológicas ora caracterizadas, com a excepção da mais antiga, isto é, a do Complexo Eruptivo Interno Antigo só com formação de fácies terrestre, em todas as restantes foram identificados ambientes de formação de fácies terrestre e marinha.

Estudos hidrogeológicos realizados na ilha de Santiago, com base no estudo das formações geológicas e tendo como suporte as perfurações, ensaios de bombagem e inventários de pontos de água, tornaram possível o estabelecimento do modelo hidrogeológico conceptual da ilha de Santiago, subdividido pelas unidades de Base, Intermédia e Recente.

 Unidade de Base – é constituída principalmente pelo Complexo Eruptivo Interno Antigo (CA), a Formação dos Flamengos (ρ ) e a Formação dos Órgãos (CB). Esta unidade é caracterizada por um grau elevado de compacidade, uma forte alteração dos afloramentos, tornando-a assim com baixa permeabilidade relativamente às formações geológicas mais recentes.

PINA, A.P.S.A. – 2011. Fundamentos Hidrogeoquímicos aplicados na bacia hidrográfica de Santa Cruz, ilha de Santiago – Cabo Verde, como instrumentos para a gestão de recursos hídricos.

 Unidade Intermédia – é constituída pelas Formações do Complexo Eruptivo do Pico da Antónia (PA) e da Assomada (A).

- A Formação do Complexo Eruptivo do Pico da Antónia (PA) é a unidade geológica mais extensa e espessa da ilha e apresenta uma permeabilidade muito superior à série de base, tornando-se assim o aquífero principal da ilha. Nesta formação quando predominam as pillow lavas, fácies submarina, podem obter-se caudais acima da média da ilha, como por exemplo, 40 m3/ h, com uma exploração média de 12 horas por dia e por vezes chegando a atingir 20 horas por dia.

- A Formação da Assomada (A) é constituída por mantos basálticos subaéreos e piroclástos, atingindo por vezes espessuras de dezenas de metros, na parte central, que se localiza no planalto da Assomada ladeada pelos dois principais maciços da ilha, o Pico da Antónia e a Serra Malagueta. O caudal médio de exploração ronda em média 20-25 m3/ h, com uma exploração média de 10-12 horas/dia com um rebaixamento pouco significativo. A transmissividade identificada é de 1.10-4 a 5.10-4 m2/s.

 Unidade Recente – Constituída pela Formação do Monte das Vacas (MV) e Aluviões (a).

- A Formação do Monte das Vacas (MV) é formada principalmente por cones de piroclástos basálticos. Associados a alguns cones podem observar-se pequenos derrames. Esta Formação é muito permeável, por isso, não permite a retenção das águas, que se infiltram, privilegiadamente, em direção ao aquífero principal.

- As Aluviões (a), compostas por clastos de granulometria grossa com elevada permeabilidade, atingem a profundidade de 30 m, constituindo um dreno natural nas formações vulcânicas permeáveis, como os depósitos de pillow-lavas.

Assim, quando espessas, grosseiras e isentas de argila, possuem muita porosidade e permeabilidade, pelo que permitem furos de grande produtividade, como se pode observar na parte terminal da Ribeira dos Flamengos, Achada Baleia, Ribeira Seca e na Ribeira dos Picos, chegando a atingir caudais médios de exploração de 40 m3/ h, com uma exploração média de 12 horas por dia (Figura, 4.4).

PINA, A.P.S.A. – 2011. Fundamentos Hidrogeoquímicos aplicados na bacia hidrográfica de Santa Cruz, ilha de Santiago – Cabo Verde, como instrumentos para a gestão de recursos hídricos.

Figura 4.3. Carta Geológica da ilha de Santiago, Cabo Verde, digitalizada à partir de Serralheiro (1976). Escala

PINA, A.P.S.A. – 2011. Fundamentos Hidrogeoquímicos aplicados na bacia hidrográfica de Santa Cruz, ilha de Santiago – Cabo Verde, como instrumentos para a gestão de recursos hídricos.

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A pequena disponibilidade de água superficial e a ausência de mecanismos para a sua retenção, aliada à baixa e irregular pluviosidade, explica a grande dependência dos habitantes da região em relação à água subterrânea, mesmo sendo essa, na maior parte, uma alternativa fraca pela reduzida vocação hidrogeológica das rochas vulcânicas.

As ilhas do arquipélago de Cabo Verde estão localizadas na mesma faixa climática do deserto norteafricano, junto à zona de transição para o clima tropical, onde a chuva é escassa e cai somente durante o verão.

A ilha de Santiago, é dividida em 5 (cinco) bacias hidrogeológicas (JICA-INGRH, 1999), baseadas nas características topográficas e hidrogeológicas, Tabela 4.1.

Tabela 4.1. Volume total de precipitação média anual nas bacias hidrográficas da ilha (Fonte: JICA, 1999). Bacias da Ilha de Santiago Volume Total Pluviométrico Pluviosidade Média Anual

Tarrafal (188 Km2) 55,97 milhões de m3 270 mm

Santa Cruz (355 Km2) 114,97 milhões de m3 330 mm

Santa Catarina (128 Km2) 32,20 milhões de m3 260 mm S. João Baptista (155 Km2) 28,48 milhões de m3 180 mm Praia (179 Km2) 38,20 milhões de m3 210 mm

A precipitação total é, em regra, diminuta (270 mm nos últimos 40 anos) na ilha de Santiago e crescem com a altitude (Figura 4.6.). O número de dias de chuva é também muito pequeno (cerca de 90 dias). Segundo COSTA (1996), o número de dias de chuva não ultrapassa anualmente os 4% no litoral meridional e 9% no setor a montante da bacia da Ribeira Seca e no norte da ilha. As poucas chuvas costumam ser bastante fortes, causando frequentes enxurradas, pois na sua maioria são do tipo aguaceiro de forte intensidade, quando, num curto espaço de tempo, há intenso escoamento superficial e transporte de materiais sólidos (Figura 4. 5.), contribuindo para uma elevada erosão hídrica. Este tipo de precipitação pluvial dificilmente contribui para a recarga dos aquíferos, motivo pelo qual existe a agricultura irrigada.

PINA, A.P.S.A. – 2011. Fundamentos Hidrogeoquímicos aplicados na bacia hidrográfica de Santa Cruz, ilha de Santiago – Cabo Verde, como instrumentos para a gestão de recursos hídricos.

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