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4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.3 Geossistemas e o Planejamento da Paisagem

Desde a sua apresentação primordial por Sochava (1968), a concepção geossistêmica de análise viu-se passível de utilização ante a uma série de estudos dirigidos, em geral, à organização territorial, tendo como base, a análise integrada dos elementos contextualizados nas mais diversas temáticas abordadas. A proposta geossistêmica oferece essa oportunidade, uma vez que, preconiza a utilização de variáveis múltiplas na delimitação, ou no zoneamento de uma unidade de área, frente às suas características, potencialidades, dinâmica e evolução.

Trabalhos orientados a essa linha vem sendo desenvolvidos, principalmente por instituições de pesquisa estrangeiras, com destaque para as russas e alemãs, onde a Geografia tomou a frente dos trabalhos de planejamento da paisagem, visando a adequação da utilização dos recursos naturais.

Como exemplo, figuram os trabalhos desenvolvidos por Haase (1989) em discussão orientada ao planejamento das paisagens urbanas e industrializadas na República Democrática Alemã alertando a importância de se considerar as propriedades e potencialidades da paisagem no que toca ao desenvolvimento do planejamento regional com ecos no equilíbrio econômico, social e geobioecológico; por Ganzei e Ganzei et. al., em dois trabalhos publicados em 2010, que utilizaram a abordagem geossistêmica para definir a dinâmica do uso da terra na bacia do rio Amur ao longo do século XX e para inferir a mudança na estrutura da paisagem nas ilhas Currilas em fins do século XX e início do século XIX; por Artobolevskii et. al. (2010) que utilizaram a metodologia geossistêmica em estudo voltado à problemática espacial concernente aos ambientes naturais e socioeconômicos a fim de apresentar subsídios à uma política de desenvolvimento regional para a Federação Russa. Esses trabalhos foram desenvolvidos em escalas que variam entre as médias (1:100.000) e pequenas (1:5.000.000; 1:10.000.000) e mostram a

adaptabilidade do conceito e de seus métodos às diferentes regiões e áreas da superfície terrestre. Retratam também a possibilidade de utilização dos geossistemas em trabalhos voltados à temáticas diversas, principalmente àquelas entretidas com ordenamento de um território ou área natural.

No Brasil, o setor energético, ante a necessidade de melhoria nos processos de geração e distribuição de energia elétrica, incentivou a elaboração de projetos referendados à construção de Unidades Geradoras de Hidroeletricidade. Nesse âmbito, a Agência Nacional de energia Elétrica – ANEEL definiu a obrigatoriedade, nos estudos de viabilidade e inventário para a implantação de Usinas Hidrelétricas de Energia-UHE e Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCH, da apresentação de um relatório contendo, em um dos itens, estudos ambientais. Tais estudos, de acordo com os artigos 17 da resolução 395/98 e artigo 14 da resolução 393/98, da ANEEL, devem apresentar uma “caracterização dos meios físico, biótico e sócio-econômico,

com abordagem dos principais impactos ambientais e correspondentes medidas mitigadoras” (ANEEL, 2012). A ANEEL preconiza a utilização de um “check list”

padronizado visando à elaboração de estudos de inventário e projeto básico para a viabilidade de implantação de Pequenas Centrais Hidrelétircas (PCH). O sistema de “check list” reflete a necessidade da adoção de estudos integrados na caracterização do perfil de determinada unidade de área.

Estes estudos devem ser apresentados em escala compatível ao tamanho da área a ser direta e indiretamente afetada. Mais uma vez, a metodologia geossistêmica oferece recurso interessante para o trabalho proposto, uma vez que, é extremamente versátil no que toca à escala de abordagem.

Alguns trabalhos, desenvolvidos no âmbito das instituições e órgãos federais de ensino e pesquisa, vêm sendo apresentados, e de forma experimental utilizam a concepção de análise integrada da paisagem, porém, ainda assim, diferenciados dos pressupostos primeiramente apresentados e correlatos à metodologia geossistêmica.

A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do estado de Minas Gerais – EMATER vem trabalhando a paisagem a fim de melhor orientar o uso da terra nas áreas rurais do estado. As unidades de área de abordagem são as bacias hidrográficas. A metodologia de mapeamento pressupõe uma caracterização física, pautada na identificação das principais unidades de paisagem; uma caracterização

socioeconômica, embasada no cadastramento da população residente e no reconhecimento da infra-estrutura existente; uma caracterização ambiental, embasada no mapeamento dos problemas ambientais visualizados na bacia, tal como, processos erosivos e deposição de resíduos sólidos. Fernandes e Bamberg (2009) desenvolveram trabalho voltado à estratificação de ambientes para a gestão ambiental e pormenorizam os métodos e as técnicas utilizadas nos trabalhos desenvolvidos no âmbito da EMATER.

Um trabalho já consolidado, desenvolvido no âmbito das secretarias de meio ambiente estaduais em parceria com outros órgãos ambientais, Institutos de Pesquisa Federais e Universidades, sob mando do decreto N0. 4297 de 10 de julho de 2002 que dá regulamentação ao artigo 90, inciso II, da Lei 6.938 de 31 de agosto

de 1981, é o Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE). O mesmo funciona como ferramenta destinada à caracterização e organização territorial e se propõe a servir de documento de orientação em caso da implantação de planos, obras e atividades públicas e privadas, além de estabelecer medidas e padrões de proteção ambiental destinados a assegurar a qualidade dos recursos hídricos e do solo. Objetiva também assegurar a conservação da biodiversidade, garantindo o desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições de vida da população. Como exemplo é interessante citar o Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) desenvolvido pelo Sistema Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SISEMA do estado de Minas Gerais, em parceria com outros órgãos estaduais, que disponibiliza informações integradas sobre temas referentes ao meio físico e ao território. A base de dados oferece a possibilidade de acesso virtual e permite a utilização dos dados em estudos e projetos voltados ao planejamento territorial, em escalas variadas.

Mais recentemente Rodriguez e Silva (2013) abordaram o tema sobre o Planejamento e a Gestão Ambiental e elencaram uma série de considerações que balizam a aplicação da concepção geossistêmica nos trabalhos de planejamento das paisagens. Na ocasião os autores (op. cit.) comunicaram que o planejamento da paisagem pelo viés geossistêmico deve possibilitar a determinação do estado ambiental e os problemas ambientais das unidades de área selecionadas para estudo, além de apresentar propostas para o ordenamento ambiental e espacial do território. Dessa forma, estão em consonância o mapeamento das unidades sistêmicas e a relação entre essas e a condição ambiental das áreas a elas

correlatas. A análise sistêmica é inerente a esses trabalhos e a concepção geossistêmica, sob a forma de modelo, oferta a possibilidade de aplicação direcionada a esse fim.

5. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

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