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3. METODOLOGIA DA PESQUISA

3.4 Geração dos dados e descrição do corpus

3.4 Geração dos dados e descrição do corpus

Considerado fundamental nas pesquisas colaborativas de cunho emancipatório, o diálogo entre a teoria e prática de ensino no percurso de nossa investigação foi tomado como principal critério na definição dos três momentos da pesquisa:

observação da prática docente antes do curso de formação; curso de formação continuada sobre o ensino dos gêneros orais;

atuação de professores no ensino dos gêneros orais após curso de formação

continuada.

Desde a definição dos instrumentos de coleta dos dados à organização das categorias de análise, esse diálogo norteou as escolhas e decisões a serem tomadas na pesquisa. Destacamos como base os quatro passos da pesquisa colaborativa pontuados

71 por Ibiopina (2008) que foram adotados no percurso de nossa pesquisa25: observar,

planejar, agir e refletir. Sendo assim, antes de apresentar uma descrição detalhada dos

três momentos desta pesquisa já mencionados, trataremos dos passos que caracterizam a pesquisa colaborativa, visando melhor situar o encadeamento e a dinamicidade da pesquisa por nós desenvolvida.

O primeiro passo trata da observação, a qual é caracterizada como fase exploratória do campo de investigação. Nela é possível conhecer os sujeitos envolvidos na pesquisa e os situar sobre a temática e a proposta de investigação. É por meio da observação que o pesquisador faz o levantamento das impressões sobre a realidade observada e estabelece uma maior aproximação com os sujeitos – atores sociais envolvidos (MINAYO, 2010). O segundo passo, planejamento, corresponde à elaboração dos momentos de pesquisa. As tomadas de decisões devem ser negociadas em conjunto e as atividades a serem desenvolvidas devem ser traçadas com antecedência. O terceiro passo, a ação, deve ter por fundamento a busca por mudanças. O pesquisador/colaborador deve criar situações propícias à conscientização e reflexão sobre a realidade. O intuito nesta fase implica a busca por produzir mudanças por meio de ações sistemáticas, planejadas com antecedência. E o quarto passo, o registro, se caracteriza como momento de apreensão dos resultados sobre a prática desenvolvida. Ele pode ser realizado por meio de anotações descritivas, gravações em áudio e vídeo ou fotografias.

Apresentados os quatro passos que caracterizam a pesquisa colaborativa, passamos a descrever os três momentos sobre os quais nossa pesquisa se estruturou.

No primeiro momento da pesquisa, observação da prática docente, os objetivos estavam voltados para o reconhecimento do espaço escolar, a saber: a negociação das atividades a serem desenvolvidas e apreensão do contexto real da pesquisa (relações

25

Vale destacar que, ao longo desse percurso, lançamos mão de três momentos, a saber: observação da prática docente, curso de formação continuada sobre o ensino dos gêneros orais e atuação de professores no ensino dos gêneros orais após curso de formação continuada.

72 professores alunos, a organização da proposta curricular, a dinâmica das atividades desenvolvidas e inter-relações estabelecidas entre o corpo docente).

Logo nos primeiros encontros, foram esclarecidos os objetivos da pesquisa (Investigar o agir de professores em situações de planejamento e de ensino do oral, estabelecendo relações com o curso de formação continuada a eles ofertado no decorrer da pesquisa), definidas as turmas de acompanhamento (3º e 4º ano) e estabelecidos os dias de aulas voltadas para o ensino de língua (terças, quartas e quintas). Foram negociados, ainda, os momentos destinados ao curso de formação sobre o ensino de gêneros orais ministrado pela pesquisadora e os planejamentos de aulas voltadas para o ensino de gêneros orais a serem ministradas pelas professoras das turmas observadas.

Por cerca de três meses (março a maio/2015) foi realizado o acompanhamento das aulas de ensino de língua portuguesa desenvolvidas nas turmas de 3º e 4º ano. As observações se alternavam segundo a dinâmica de atividades propostas pelas professoras P1 e P2.

Esse período foi de fundamental importância no processo de planejamento e organização do plano de curso da formação continuada ofertada às professoras desta instituição, haja vista a ausência dos gêneros orais como objeto de ensino nas atividades propostas. Os poucos espaços destinados à oralidade nas atividades observadas ficavam restritos aos diálogos e conversações estabelecidas no início das atividades escolares: a título de exemplo, questionamentos como:

Gente (+++) quem de vocês sabem o que é isso? ((mostra um encarte de supermercado)) /.../ isso (+++) e qual desses ovos de páscoa (+)é (+++) qual desses dois vocês acham que sai mais barato? /.../ por que o ovo que vem com brinde é mais caro? /.../ e a mãe de vocês compraram nesta páscoa? (Fragmento da nota de campo 3 – período de observação das aulas de P1 – turma de 4º ano);

A professora P1 inicia a aula falando que naquele dia iriam falar um pouco sobre a amostra pedagógica. Avisa que a turma havia ficado responsável por apresentar as obras de Ziraldo na amostra pedagógica e

questiona se os alunos sabia dizer o nome de alguma obra desse autor.

Os alunos citam a “história do menino maluquinho” (alguns chegam a perguntar quem é Ziraldo e falam não querem participar da amostra pedagógica) (Fragmento da notas de campo 5 – período de observação das aulas de P1 – turma 4º ano);

73 Como eu já:: (+) é (+++) como eu tenho falado pra vocês (+++) né? (+) desde o no inicio da semana(+) a gente vai voltar no textinho que eu entreguei pra vocês (+) le:::mbram? o que vocês lembram do texto? (Fragmento da nota de campo 2– período de observação das aulas de

P2 - turma de 3º ano);

Em 16 de abril de 2015, a professora P2 inicia a aula entregando a cada aluno uma cópia da letra da música “Sítio do Pica-Pau amarelo” de Gilberto Gil. Começa a perguntar: Quem conhece essa música? /.../ e quem é que canta ela? /.../ ((chama a atenção dos alunos)) gente::: (+) tá ai::: fale:::m (+) quando não tem necessidade vocês falam até pelos cotovelos ((uma das alunas, com uma certa dificuldade, faz a leitura do título e do cantor da música)) (fragmento da nota de campo 6 – período de observação das aulas de P2 – turma de 3º ano);

Esses questionamentos caracterizam o modo como o oral era abordado em sala de aula e revelam uma concepção de ensino das professoras que nega o trabalho sistemático em torno dos gêneros. A língua oral neste contexto de ensino assume uma postura estritamente comunicativa, nos servindo de base para planejar nosso curso de formação continuada – o segundo momento da pesquisa, ofertado ao quadro de professores e funcionários da escola campo de pesquisa no turno da manhã.

No que concerne ao segundo momento da pesquisa, curso de formação

continuada sobre o ensino dos gêneros orais, foram realizados dois encontros

específicos com duração de quatro horas voltadas para a discussão do ensino de gêneros orais no espaço escolar e para a adoção das sequências didáticas como proposta favorável no processo de didatização dos gêneros. Esse curso de formação continuada foi planejado pela pesquisadora, em colaboração com as orientadoras da pesquisa, e contou com a participação de seis professoras, além de uma supervisora escolar e de uma auxiliar de apoio educacional. As discussões foram mediadas pela pesquisadora na própria instituição escolar e contou com o apoio da gestão escolar no provimento de instrumentos midiáticos e materiais físicos (espaço, acomodações, cópias etc.).

O curso de formação continuada ofertado às professoras e demais funcionários da equipe escolar, intitulado “Debatendo o ensino dos gêneros orais: reflexões e

74 sugestões” teve por objetivo levar o corpo docente a refletir sobre o espaço que a língua oral tem ocupado em situações de ensino; discutir as recomendações e/ou exigências das políticas educacionais e estudos recentes voltados para a oralidade; e apresentar algumas sugestões de trabalho com os gêneros orais formais no espaço escolar. Inicialmente esse curso foi planejado para ocorrer em três etapas (carga horária de seis horas), contudo, barreiras de ordem burocrática advindas da organização curricular da instituição e da gestão escolar nos levaram a limitar nosso curso apenas a duas etapas (carga horária de quatro horas). Ambas foram registradas por meio de gravações em áudio e vídeo, permitindo-nos uma maior fidedignidade no retorno aos dados coletados.

A primeira etapa do curso foi realizada em maio de 2015 e teve por objetivo situar melhor os participantes do curso quanto à proposta de formação, identificar seus posicionamentos sobre o ensino dos gêneros orais e partilhar conhecimentos acerca da temática em questão. Os planos traçados por nós, pesquisadora e orientadora, seriam desenvolver a segunda etapa do curso após quinze dias de realização desta primeira etapa, no entanto o quadro de atividades da instituição não permitiu que isto ocorresse. A segunda etapa ocorreu em julho de 2015 e teve como principais objetivos discutir a importância das sequências didáticas no trabalho com os gêneros orais e apresentar algumas sugestões de gêneros orais e sistemáticas de ensino que poderiam ser tomadas como referência no trabalho com esta modalidade linguística.

No terceiro momento de pesquisa, atuação de professores no ensino dos

gêneros orais após curso de formação continuada, foi realizado o acompanhamento e

registro de aulas voltadas para o ensino de gêneros orais. As aulas eram planejadas com antecedência pelas professoras das turmas de 3º e 4º ano que tomavam como objeto de ensino um gênero oral específico e organizavam as atividades a serem desenvolvidas em sala, conforme acordado entre pesquisadora e professoras. Este momento de pesquisa teve duração de cerca de quatro meses – agosto a novembro de 2015.

75 Organizados nesses três momentos de pesquisa, os dados coletados compõem o seguinte corpus:

 Um roteiro de aula;

 Duas sequências de Atividades;  Nove gravações em áudio e vídeo;  Notas do diário de campo;

Descritos os momentos de pesquisa e constituição do corpus de análise, apresentaremos na seção 3.5 uma breve caracterização dos colaboradores envolvidos nos três momentos da pesquisa.

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