Gerenciamento de resíduos domésticos com tratamento por compostagem

3.4.1. Gerenciamento Integrado

A história do gerenciamento dos resíduos modernos nos remete há muito tempo atrás, partindo das grandes epidemias de cólera na maioria das grandes cidades européias do século XIX. No período da primeira revolução industrial, uma grande quantidade de lixo era gerada e conheciam-se poucas formas de destinação aos resíduos; além disso, muitas comunidades de catadores viviam deste lixo. Em 1860, surgiram os primeiros sistemas municipais formais de gerenciamento de resíduos, apresentando como foco principal a coleta e limpeza das ruas e o reconhecimento da profissão como limpeza pública (IAMA, 2007).

Em 1880, iniciou-se no Brasil o serviço de limpeza urbana na cidade de São Sebastião no Rio de Janeiro, decretado pelo imperador Dom Pedro II. O contrato de limpeza e irrigação da cidade foi executado por Aleixo Gary, dando origem a palavra gari. No final dos anos 60 era universal a disposição dos resíduos em vazadouros a céu aberto. A incineração era realizada apenas em alguns lugares, sem nenhum método de limpeza de gases. Nos últimos 30 anos, surgiram novas técnicas para aprimorar o gerenciamento dos resíduos enfocando a redução do impacto ambiental. Podemos dividir essa evolução em diferentes estágios (adaptado de IAMA, (2007)):

√ 1º Estágio - Aterramento do lixo com cobertura diária dos mesmos para reduzir odores;

√ 2ºEstagio - Começo da preocupação com a retenção dos líquidos percolados e drenagem dos gases por causa da contaminação do solo, das águas superficiais e subterrâneas e poluição atmosférica com o gás metano;

√ 3º Estágio - Introdução dos incineradores nos sistemas de tratamento com modelos capazes de controlar gases ácidos e poluidores;

√ 4º Estágio - Surgimento da técnica de não aterramento de lixo orgânico nos programas de limpeza urbana – compostagem;

√ 5º Estágio - Introdução de técnicas de coleta seletiva e reciclagem;

√ 6ºEstagio - Gerenciamento integrado dos resíduos baseado no conceito de sustentabilidade.

O gerenciamento integrado dos resíduos sólidos é de fundamental importância para a qualidade de vida de uma comunidade, bem como para o desenvolvimento

78 sustentável da sociedade, pois gerencia de maneira adequada os resíduos sólidos produzidos por ela, proporcionando benefícios sociais, econômicos e ambientais, bem como evitando conseqüências negativas originadas pela falta do mesmo.

3.4.2. Compostagem

O processo de compostagem foi muito usado na Antigüidade, sobretudo pelos orientais que faziam uso intensivo de compostos orgânicos na produção de cereais. As técnicas empregadas eram artesanais e fundamentavam-se na formação de leiras ou montes de resíduos que ocasionalmente eram revolvidos. Após cessar o processo de fermentação, o composto resultante era incorporado ao solo, o que favorecia o crescimento dos vegetais (Lima, 1992).

As primeiras tentativas de sistematizar o processo de compostagem foram iniciadas em 1920, quando sir Albert Howard desenvolveu o processo Indore, na Índia, seguido por Giovanni Beccari, que dois anos mais tarde, projetou um sistema que reduzia o período de fermentação de 180 para 40 dias. Em 1929, o sistema de Beccari foi modificado por um francês, Jean Bordoim e em 1932 Vam Manhen, na Holanda, propôs a modificação do sistema de Albert. A partir de então, surgiram inúmeros processos, dentre eles: Dumfries, Windrow, Dano, Frazer- Eweson, Riker, Jersey, Earp- Thomas, Triga, Kneen, Prat, Nusoil e muitos outros (Lima, 1992).

O avanço da tecnologia associado às mudanças econômicas e sociais ocorridas nas últimas décadas tem contribuído para o aprimoramento e racionalização dos sistemas de produção de composto de resíduos orgânicos. Desta forma, observam-se sensíveis modificações nos atuais sistemas instalados, muito deles, inclusive, totalmente operados e controlados por computadores (Lima, 1992).

O sistema de coleta de resíduos orgânicos da UFSC é realizado através de um projeto chamado: Compostagem – Reciclagem Orgânica da Família Casca, gerenciado pelo professor do curso de Agronomia, Rick Miller, que entre outras coisas, visa ensinar a comunidade a realizar a compostagem de material orgânico.

Este projeto existe há pelo menos oito anos e é integrado por nove alunos bolsistas. Com ajuda dos funcionários da UFSC, eles recolhem os excedentes da cozinha de restaurantes da Universidade e do Hospital Universitário em bombonas de até 60 quilos. As bombonas são levadas para o terreno atrás do Centro de Microbiologia e Parasitologia – Biologia e Genética, na própria UFSC. Lá o lixo é despejado em camadas e coberto com serragem e folhas secas, recolhidos do biotério e dos jardins da UFSC e da comunidade. São 44 toneladas de resíduos por mês tratados pelo sistema. O composto acumulado é revirado ao final de cada ano letivo e vira um adubo rico em nutrientes. O adubo resultante é utilizado nos jardins da Universidade e vendido em sacos de até 50 quilos por dez reais para a comunidade em geral. O projeto também procura ensinar a população a fazer sua própria compostagem, reaproveitando o lixo orgânico domiciliar. “Em uma compostagem caseira pequena, o adubo fica pronto em dois meses. Em grandes compostagens, o processo dura pelo menos oito meses” (LIMACO, 2007).

79 Figura 8. Compostagem no Campus da UFSC

Outra experiência bastante positiva é a vinculada ao Programa de Pesquisa em Saneamento Básico do governo federal (PROSAB), Edital 3, Tema 3 - Projeto de pesquisa: Tecnologias para Disposição Final de Resíduos Sólidos Urbanos em Pequenas Comunidades, coordenado pelo Professor Armando B. de Castilhos Jr. da UFSC. Segundo Castilhos Jr. et al. (2003), o trabalho teve como objetivo o desenvolvimento e a implantação de um projeto piloto de coleta seletiva no município de Catas Altas - MG, que funciona em conjunto com um galpão de triagem de recicláveis e uma unidade de compostagem.

O trabalho buscou alternativas para contribuir com o gerenciamento integrado dos resíduos sólidos urbanos em municípios de pequeno porte. Para o seu desenvolvimento, foram realizados estudos envolvendo a avaliação quantitativa e qualitativa dos resíduos com relação ao mercado de reciclagem, escolha do método mais adequado para a separação dos resíduos nos domicílios, desenvolvimento de lixeiras para a coleta seletiva, dimensionamento de um galpão para triagem e armazenamento dos materiais recicláveis e análise preliminar para a futura implantação de um pátio de compostagem. Além disso, foram realizados em parceria com o programa de educação ambiental do município, trabalhos para a informação e conscientização da comunidade com relação à implantação da coleta seletiva, através da elaboração de cartilhas, palestras, visitas domiciliares, entre outros, de forma a garantir o êxito da implantação do novo sistema.

4. Descrição detalhada da tecnologia