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2.4 Resíduos

2.4.1 Gerenciamento de resíduos

Como qualquer ser vivo, o ser humano retira recursos do meio ambiente para prover sua subsistência e devolve as sobras. No ambiente natural, as sobras de um organismo são restos que ao se decomporem devolvem ao ambiente elementos químicos que serão absorvidos por outros seres vivos, de modo que nada se perde (BARBIERI, 2004).

Segundo Valle (2004, p. 95), “o termo resíduo engloba não somente os sólidos, como também os efluentes líquidos e os materiais e substâncias presentes nas emissões atmosféricas”.

O homem, em vez de simplesmente dispor seus resíduos, em locais adequados (aterros, cercanias, depósitos, incineradores, etc), passou a procurar alternativas mais lógicas, que se propõe a reciclar, reusar, reduzir ou até eliminar a geração dos resíduos, contribuindo, cada uma dessas alternativas, em escala crescente, para a solução efetiva do problema (Ibid., p.96).

Essas soluções (Ibid., p. 97) figura 2.3, “são escolhidas com base em algumas abordagens distintas, observadas sob os seguintes ângulos: reduzir, reaproveitar, tratar e dispor”.

-Reduzir: abordagem preventiva, orientada para diminuir o volume e o impacto causado pelos resíduos.

-Reaproveitar: abordagem corretiva, direcionada para trazer de volta ao ciclo produtivo matérias-primas, substâncias e produtos extraídos dos resíduos depois que eles já foram gerados.

-Tratar: abordagem técnica que visa a alterar as características de um resíduo, neutralizando seus efeitos nocivos.

-Dispor: abordagem passiva, orientada para conter os efeitos dos resíduos, mantendo- os sob controle, em locais que devem ser monitorados.

Ainda (Ibid., p. 97) sobre o exposto, o reaproveitamento possui três aspectos distintos: reciclagem, quando há o reaproveitamento cíclico de matérias-primas de fácil purificação; recuperação, no caso de extração de algumas substâncias dos resíduos e reutilização ou reuso, quando o reaproveitamento é direto, em forma de um produto (garrafas e embalagens retornáveis) e reuso como da água (reutilização após utilização em processo).

A classificação das soluções dos resíduos gerados quanto aos processos estão distribuídos em três grupos (Ibid., p. 98):

Figura 2.3 – Escala de prioridades no gerenciamento de resíduos. Fonte: adaptado de Valle (2004).

1. Tecnologias limpas, que procuram eliminar ou reduzir a geração do resíduo, modificando-se o processo produtivo ou substituindo-o por outro não poluente;

2. Tratamentos convencionais, que visam a alterar as características dos resíduos, eliminando-os sempre que possível por processos físicos, químicos, biológicos ou térmicos;

3. Tecnologias novas, que objetivam, mediante pesquisa e desenvolvimento, encontrar soluções para problemas específicos, que carecem ainda de soluções próprias ou que requerem novas soluções alternativas.

Tendo em vista a necessidade cada vez maior de se buscar resolver adequadamente os problemas causados pela poluição ambiental (Ibid., p. 99) expressa pelas seguintes providências:

-redução da geração de resíduos por meio de modificações no processo produtivo ou pela adoção de tecnologias limpas, mais modernas e que permitem, em alguns casos, eliminar completamente a geração dos materiais nocivos; mudanças no projeto do produto podem também contribuir para essa redução;

-reprocessamento dos resíduos gerados, transformando-os, novamente, em matérias- primas, ou utilizando-os para gerar energia;

Prevenir a Geração Reduzir a Geração -Otimizar processos -Otimizar operação Reaproveitar Tratar Dispor -Reciclar matérias-primas -Recuperar substâncias

-Reutilizar materiais, produtos

-Processos físicos,

químicos, físico-químicos, biológicos e térmicos

-Aterros, minas, poços e armazéns

-Modificar processo (adotar tecnologias limpas)

-Substituir matérias-primas -Substituir insumos

-reutilização dos resíduos gerados em uma indústria como matéria-prima para outra indústria;

-separação, na origem ou no ponto de geração, de substâncias nocivas das não nocivas, reduzindo o volume total de resíduo que requeira tratamento especial ou disposição controlada;

-processamento físico, químico ou biológico do resíduo menos perigoso ou até inerte, permitindo, sempre que possível, sua utilização como material reciclável; -incineração, com o tratamento dos gases gerados, a recuperação de energia, se o resíduo for combustível, e a disposição adequada das cinzas resultantes;

-disposição dos resíduos em locais apropriados, projetados e monitorados a fim de assegurar que não venham no futuro, a contaminar o meio ambiente.

Em se tratando de gerenciamento dos resíduos frigoríficos a orientação básica é praticar sempre os “Rs”, de forma cíclica ou periódica, nesta ordem (SENAI, 2006):

1º Reduzir a geração de resíduos (nos processos produtivos e operações auxiliares); 2º Reusar os resíduos “inevitáveis” (aproveitá-los, sem quaisquer tratamentos);

3º Reciclar os resíduos “inevitáveis” (aproveitá-los após quaisquer tratamentos necessários)

Para os passos 2º e 3º é preferível procurar esgotar primeiro as possibilidades de aproveitamento interno, nas próprias atividades da unidade produtiva; somente depois, procurar alternativas de aproveitamento externo, em instalações de terceiros. Os resíduos que restarem dos “Rs”, devem ser segregados, coletados, acondicionados e destinados adequadamente de acordo com normas técnicas e com a legislação ambiental. No caso de abatedouros, reusos, reciclagens e disposição final de resíduos sólidos são as ações mais comuns. Muitos resíduos encontram utilização e aproveitamento, como aqueles processados nas graxarias. Portanto, uma das ações básicas é maximizar o aproveitamento ambientalmente adequado dos resíduos, sempre se buscando alternativas para isto. Desta forma, minimizam-se os impactos ambientais destes resíduos e pode-se diminuir o custo de seu gerenciamento (Ibid., p. 3).

Frente ao exposto vale mencionar que um dos setores que tradicionalmente cresceu sem importar-se com o ambiente, principalmente por que o seu resíduo é integralmente de origem orgânica “esterco”, foi à indústria de carnes, a qual tem suas origens nos antigos açougues com abate próprio no quintal e passou por evolução acentuada até os complexos sistemas integrados da atualidade (SILVEIRA, 1999).

Considerando o tipo de resíduo gerado por estas indústrias a Resolução nº 313/02 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA, 2002) classifica através do código A599 – Resíduos orgânicos de processo (sebo, soro, ossos, sangue, outros da indústria alimentícia, etc).

- procurar minimizar a alimentação dos animais que gere conteúdos estomacais e intestinais, tanto no manejo para encaminhamento aos abatedouros e frigoríficos como nos seus currais e pocilgas; usar dieta líquida, por exemplo, (prática corrente);

- e/ou outra técnica viável, o quanto for possível (trabalho local e em conjunto com os fornecedores dos animais);

- minimizar a geração de resíduos do abate e do processamento das carcaças e da carne (aparas de carne e de gordura, por exemplo), dentro dos limites estabelecidos pela regulamentação do setor e em função dos produtos e subprodutos de interesse da empresa;

- coletar e segregar ou separar todos os resíduos por tipos, isolados ou em grupos compatíveis, evitando que se misturem (contaminem-se entre si) e que se juntem aos efluentes líquidos; isto aumenta as possibilidades de seu aproveitamento (reuso ou reciclagem), pode diminuir custos de sua destinação e a torna mais adequada;

- segregar correntes de efluentes de alta carga (ex.: linha “verde” - lavagem de pátios e caminhões, currais e pocilgas, corredor de condução dos animais/seringa, bucharia e triparia as quais são áreas praticamente isentas de sangue; linha “vermelha” - abate/sangria, esfola, escalda, evisceração, limpeza e lavagem das carcaças, processamento de vísceras, couro e cabeça, câmaras frias, corte e desossa – áreas com presença significativa de sangue – e graxaria); esta segregação facilita e melhora parte da coleta separada dos resíduos sólidos;

- sangue: coletar a maior quantidade possível e manejá-lo com os cuidados necessários (acondicionamento adequado para preservação, sem derramamentos, etc.), para que todo ele possa ser transformado em subprodutos (farinhas, derivados de sangue – plasma, albumina, etc.), seja na própria unidade ou em terceiros;

- esterco, conteúdos estomacais e intestinais, materiais retidos em grades e peneiras e os lodos gerados nas estações de tratamento dos efluentes líquidos: coletá-los e acondiciona- los adequadamente (áreas cobertas, sobre solo protegido com contenção lateral ou em recipientes sem vazamentos, durante o mínimo tempo possível antes de seu processamento ou destinação); algumas alternativas observadas para estes resíduos são o seu uso como insumos na fabricação de fertilizantes, de compostos orgânicos para adubos (a partir de compostagem) e para a produção de biogás, via digestão anaeróbia (verificar necessidade de autorização dos órgãos competentes);

- verificar quais resíduos adicionais poderia também ser processados em graxarias, além daqueles já em processo – por exemplo, alguns resíduos da estação de tratamento de efluentes (materiais de gradeamento e peneiramento, gorduras, lodos, etc.);

- resíduos das operações auxiliares e de utilidades (tratamento de água, outros resíduos do tratamento de efluentes, caldeiras, manutenção, almoxarifado e expedição, etc.), seguir a mesma orientação básica “Rs”.

Na falta de alternativas que configurem reuso e/ou reciclagem viáveis e ambientalmente adequados, os resíduos devem ser acondicionados e destinados de forma a eliminar ou minimizar quaisquer impactos ambientais e danos à saúde pública.

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