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3 MUNICIPALIZAÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL NO ESTADO

3.1 Gestão Ambiental no Estado do Pará

No que concerne à gestão ambiental, o Estado do Pará atravessou duas fases. A primeira fase começou em 1977 sob coordenação da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia – SUDAM, atual ADA, e, através desta os Planos de Desenvolvimento da Amazônia – PDA’s foram colocados em prática por meio de projetos agropecuários; rodoviários; madeireiros; hidrelétricos e minero-metalúrgicos. Estes projetos foram impulsionados através da política de incentivos fiscais promovida pelo governo estadual e federal, resultando em uma ocupação predatória, causando grandes impactos ambientais. Nesse período, existia uma Coordenadoria de Ecologia Humana e Saúde Ambiental – CEHSA, ligada a Secretaria de Estado de Saúde Pública – SESPA que fazia precariamente o controle ambiental no Estado.

Com a criação da Política Nacional de Meio Ambiente em 1981 e implantação do CONAMA e do SISNAMA, em virtude da estruturação da gestão ambiental nacional,

algumas modificações foram feitas na gestão ambiental estadual. Em 1987 o Conselho Estadual de Saúde – CES foi transformado em Conselho Estadual de Saúde Saneamento e Meio Ambiente – COSAMA, mas agindo de forma muito pequena. E, embora tenha sido criada a Secretaria de Estado, Ciência Tecnologia e Meio Ambiente – SECTAM, sua implantação não foi efetuada de fato e, cuja gerência ambiental foi exercida pelo Departamento de Meio Ambiente, antiga CEHSA da SESPA, cabendo a este departamento planejar, coordenar, executar e avaliar a educação e a vigilância ambiental, bem como análise e medições ambientais (vide tabela 02).

Em 1989 foi promulgada a Constituição do Estado do Pará que, assim como na Constituição Federal de 1988, dedicou capítulo exclusivo ao meio ambiente e, ainda dedicou outros capítulos a assuntos específicos sobre os recursos minerais, hídricos e da pesca predatória.

A Constituição estadual impõe a participação e informação popular em todas as decisões referentes ao meio ambiente; condiciona a ocupação de áreas de preservação dos corpos aquáticos; impõe a preservação do patrimônio genético, biológico, ecológico e paisagístico; impõe critérios para plantio, comercialização e responsabilidade a produtos geneticamente modificados; responsabiliza exploradores e infratores de recursos à recuperação do meio ambiente e/ ou a sanções administrativas; impõe o estudo prévio de impactos ambientais; e, dentre outras atividades, condiciona os incentivos fiscais ao cumprimento da legislação ambiental.

No entanto, para a questão ambiental ser citada na Constituição Estadual, várias transformações aconteceram, tanto em termos administrativos quanto a finalidade do meio ambiente.

Quadro 03: Evolução dos Órgãos de Meio Ambiente no Estado do Pará

ANO DE CRIAÇÃO NOME FUNÇÃO

1977

Secretaria de Estado de Saúde Pública – SESPA/ Departamento de Ações Básicas e Complementares- DABC/ Coordenadoria de Ecologia Humana e Saúde Ambiental – CEHSA

Desenvolver ações relativas ao controle do meio ambiente no Estado.

1983

O DABC foi transformado em Departamento de Ações Básicas – DAB, e a CEHSA foi extinta, sendo substituída pela Divisão de Saneamento Básico e a Divisão de Ecologia.

A divisão de Ecologia passa a ser responsável pelas ações ambientais.

1987

O Conselho Estadual de Saúde - CES é transformado em Conselho Estadual de Saúde, Saneamento e Meio Ambiente – CONSAMA.

Não exerceu nenhuma

atividade na prática

relacionada ao meio

ambiente. 1988 Foi criada a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Meio

Ambiente - SECTAM

Controlar o meio ambiente no Estado. (não foi efetivada) 1988 Também foi criado o Instituto Estadual de Floresta do Pará – IFF,

subordinado a Secretaria de Estado de Agricultura – SAGRI.

Encarregado de executar a política florestal do Estado (também não foi efetivada)

1989

A Divisão de Ecologia da SESPA foi transformada em Departamento de Meio Ambiente – DMA.

Tem como atribuição o planejamento, a coordenação, execução e avaliação nas

áreas de educação e

vigilância ambiental,

ecotoxicologia e análise e medições ambientais.

1991

Implantação da SECTAM Incorporou a estrutura e o corpo técnico do DMA, controlando todas as funções referentes ao maio ambiente. Fonte: BORDALO, 1998. Organizado por Shirley Tozi.

A criação e funcionamento do Conselho Estadual de Meio Ambiente – COEMA, em 1990 deu início a Segunda fase da gestão no estado; e a implantação de fato da SECTAM em 1991, esta incorporando todo o Departamento de Meio Ambiente da SESPA. Porém, só em 1995 é que foi promulgada a Lei Ambiental do Estado, nº 5887, dispondo sobre a Política Estadual de Meio Ambiente. Assim, a Política Estadual de Meio Ambiente é definida como:

O conjunto de princípios, objetivos, instrumentos de ação, medidas e diretrizes fixadas nesta Lei, para o fim de preservar, conservar, proteger, defender o meio ambiente natural, e recuperar e melhorar o meio ambiente antrópico, artificial e do trabalho, atendidas as peculiaridades regionais e locais, em harmonia com o desenvolvimento econômico-social, visando assegurar a qualidade ambiental propícia à vida (Art. 1º).

Os princípios reforçam os princípios da Política Nacional de Meio Ambiente. Ou seja, o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito coletivo que deve ser protegido, defendido e conservado, com o intuito de buscar um desenvolvimento sócio- econômico equilibrado para a geração atual e futura, através do aproveitamento dos recursos naturais de forma ecologicamente equilibrada, combatendo a pobreza, a marginalização, reduzindo as desigualdades sociais e regionais, valorizando a vida e o emprego, respeitando, sobretudo a natureza com suas especificidades. Esclarece, portanto, que o propósito político da proteção e conservação do meio ambiente é o desenvolvimento sócio-econômico. Vale a pena ressaltar que deve ser garantida a participação popular nas decisões relacionadas ao meio ambiente, através de representações da sociedade civil no Conselho Estadual de Meio Ambiente – COEMA (LOUREIRO, 2002).

A lei ambiental estadual tem por objetivo (Art. 3º):

I.Promover e alcançar o desenvolvimento econômico-social, compatibilizando-o, respeitadas as peculiaridades, limitações e carências locais, com a conservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico, com vistas ao efetivo alcance de condições de vida satisfatórias e o bem-estar da coletividade;

II.Definir as áreas prioritárias da ação governamental relativas à questão ambiental, atendendo aos interesses da coletividade;

III.Estabelecer critérios e padrões de qualidade para o uso e manejo dos recursos ambientais, adequando-os continuamente às inovações tecnológicas e às alterações decorrentes de ação antrópica ou natural; IV.Garantir a preservação da biodiversidade do patrimônio natural e

V.Criar e implementar instrumentos e meios de preservação e controle do meio ambiente;

VI.Fixar, na forma e nos limites da lei, a contribuição dos usuários pela utilização dos recursos naturais públicos, com finalidades econômicas; VII.Promover o desenvolvimento de pesquisas e a geração e difusão de

tecnologias regionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais;

VIII.Estabelecer os meios indispensáveis à efetiva imposição ao degradador público ou privado da obrigação de recuperar e indenizar os danos causados ao meio ambiente, sem prejuízo das sanções penais e administrativas cabíveis.

Os objetivos condicionam o desenvolvimento sócio-econômico à conservação da qualidade do meio ambiente e a parâmetros de qualidade – na ausência destes parâmetros, são utilizados os padrões estabelecidos pela União. Ainda determina medidas técnicas para que prevenção ou mesmo impedir atividades que coloquem em risco o ser humano.

Nesta mesma lei, ainda é feita referência à criação do Sistema Estadual de Meio ambiente – SISEMA, para efetuar a implantação da lei. O SISEMA tem como estrutura funcional o Conselho Estadual de Meio Ambiente – COEMA, como órgão normativo, consultivo e deliberativo; a SECTAM, como órgão central executor para planejar, coordenar, executar, supervisionar e controlar a Política Estadual de Meio Ambiente; órgãos setoriais e locais. O SISEMA foi criado, também, com o intuito de apoiar o SISNAMA. Vejamos o diagrama:

DIAGRAMA 02: Sistema Estadual de Meio Ambiente – SISEMA Fonte: TOZI, 2002, p. 40.

Ao COEMA cabe editar normas, e definir diretrizes para a implementação da Política Estadual de Meio Ambiente.

É ressaltado também o controle ambiental que será exercido pela SECTAM: • Da poluição do solo, do ar, sonora e da águas.

• Substâncias e produtos perigosos; • Atividades minerarias;

• Atividades infra-estruturais energéticas; • Atividades agrossilvipastoris;

• Atividades infra-estruturais de transportes; • Atividades industriais (Art. 56):

O Estado, ouvido os Municípios, definirá padrões de uso e ocupação do solo, em áreas nas quais ficará vedada a localização de indústrias, com vistas à preservação de mananciais de águas superficiais e subterrâneas e à proteção de áreas especiais de interesse ambiental, em razão de suas características ecológicas, paisagísticas e culturais. • Assentamentos rurais;

• Assentamentos urbanos; • Saneamento;

Os Estados e Municípios têm autonomia para disporem sobre suas características próprias, por isso, apresenta capítulos específicos de controle ambiental, diferente da PNMA que só apresenta princípios ambientais.

Quanto aos instrumentos de ação, a lei dispõe sobre: • Zoneamento ecológico econômico;

• Gerenciamento costeiro;

• Espaços territoriais especialmente protegidos; • Monitoramento;

Art. 85 parágrafo III – avaliar o efeito de políticas, planos e programas de gestão ambiental e de desenvolvimento econômico e social;

• Educação ambiental; • Pesquisa;

• Desenvolvimento científico e tecnológico; • Participação popular e direito á informação; • Licenciamento ambiental;

• Avaliação prévia de impactos ambientais; • Audiências públicas;

• Fiscalização ambiental;

• Cadastros e informações ambientais; • Estímulos e incentivos (Art. 114):

O Poder Público incentivará ações, atividades e procedimentos, de caráter público ou privado, que visem à proteção, manutenção e recuperação do meio ambiente e à utilização sustentada dos recursos naturais, mediante a concessão de vantagens fiscais e creditícias, mecanismos e procedimentos compensatórios, apoio financeiro, técnico, científico e operacional.

• Infrações e sansões:

É o poluidor obrigado a indenizar os danos que, por ação ou omissão, causar ao meio ambiente. (Art. 117).

I- emitir ou despejar efluentes ou resíduos líquidos, sólidos ou gasosos, em desacordo com as normas legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio ambiente; (Art. 118).

Foi criado também o Fundo Estadual de Meio Ambiente, de caráter contábil autônomo, mas tendo unidade orçamentária vinculada a SECTAM, tendo por objetivo (Art. 147);

Financiar planos, programas, projetos, pesquisas e tecnologias que visem ao uso racional e sustentado dos recursos naturais, bem como a implementação de ações voltadas ao controle, à fiscalização, à defesa e à recuperação do meio ambiente, observadas as diretrizes da Política Estadual de Meio Ambiente.

A partir desta lei foi criada o Plano Estadual Ambiental, em 1996, propondo como já concebido na lei, a gestão ambiental integrada e participativa, de acordo com o SISEMA. Ressalta-se também que em 25 de julho de 2001 foi estabelecida a Lei nº. 6381, correspondente a Política Estadual de Recursos Hídricos, abrangendo os mesmos preceitos e diretrizes da Política Nacional de Recursos Hídricos.

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