• Nenhum resultado encontrado

3 CULTURA E CIDADANIA: O PROGRAMA CULTURA VIVA E O DIREITO

3.2 Gestão Compartilhada

A administração do Programa baseia-se na concepção de gestão compartilhada e transformadora, isto é, propõe-se uma pulverização da gestão a partir da participação das instituições civis conveniadas e das outras unidades federativas do Poder Público.

Percebe-se nessa gestão participativa um caráter revolucionário, que altera substancialmente a relação entre Estado e sociedade civil. Nesse novo contexto, diversos grupos culturais que, até então, não eram objeto das políticas governamentais e que mantinham suas atividades culturais à revelia dos benefícios do Estado passaram a ter um papel de destaque nessa relação, não apenas como beneficiários de uma política, mas como co-gestores. Essa nova realidade demanda um novo perfil do Estado que rompa definitivamente com o legado dos tempos de ausências e autoritarismos.

Dessa forma, a gestão dos projetos de investimento dos recursos nas atividades fins deve ser realizada pela sociedade, através da ação das instituições à frente dos Pontos de Cultura e de sua articulação com as comunidades com as quais atua. Reside aí a chave para desencadear o processo de empoderamento desses grupos no momento que assumem o protagonismo das suas ações, em todas as suas etapas, desde o planejamento, execução, tendo autonomia para realizar as alterações no projeto cultural

Conforme a Lei nº 13.018, de 22 de julho de 2014 em seu § 7, a responsabilidade das partes na gestão compartilhada e participativa dos PCV em seus respectivos âmbitos de atuação, será orquestrada da seguinte forma: A gestão compartilhada e participativa da será coordenada no âmbito do Ministério da Cultura, pela Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural – SCDC; no âmbito estadual, do Distrito Federal e municipal, pela secretaria de cultura, órgão ou entidade pública responsável pela execução da parceria.

Caberá aos Pontos e Pontões de Cultura em seu âmbito de atuação, entre outras responsabilidades: desenvolver uma gestão compartilhada e participativa, por meio de instâncias, fóruns e espaços de diálogos junto aos beneficiários em sua área de abrangência.

O Ponto de Cultura ganhou capilaridade justamente pelo modelo inovador de gestão, por meio da qual foi possível encontrar novas rotas que não somente Rio de Janeiro – SP. Além disso, possibilitou o investimento em projetos e modalidades existentes no território nacional. Dessa forma, ocorreu uma descentralização das ações do MinC, bem como possibilitou a criação de uma rede de gestão cultural em todod o país através dos Pontos de Cultura.

3.2.1 O Mais Cultura e a descentralização dos Pontos de Cultura em âmbito nacional

Em 2007, desencadeou-se o processo de descentralização dos Pontos de Cultura pelos territórios brasileiros, através inserção do referido Programa na linha de atuação de outra ação do governo, o Programa “Mais Cultura: Diversidade cultural de Ponto à Ponto do País” (Mais cultura) que foi construído a partir de um alinhamento com o Pacto de Aceleração do Crescimento na Área da Cultura.

O „Mais Cultura‟ articula ações de diversos Programas do Plano Plurianual (PPA) do Minc, tendo como marca principal a descentralização das políticas pré- existentes, visando o fortalecimento da institucionalidade do setor cultural e a consolidação do Sistema Nacional de Cultura – SNC.

O Mais Cultura, foi instituído em 4 de outubro de 2007, mediante o Decreto nº 6.226. Através do Decreto supracitado, a “Mais Cultura” é instituído como integrante da agenda social do governo, esta consiste em uma iniciativa do governo federal que objetiva a articulação das políticas públicas desenvolvidas na área social.

O “Mais Cultura” se baseia em três linhas de atuação, a saber: Cultura e Cidadania, que abarca os conceitos de cidadania cultural, diversidade cultural e identidade; Cidade Cultural, esta trabalha em torno de princípios como direito à cidade e desenvolvimento do ambiente social e Cultura e Renda, trata-se da dimensão econômica da cultura, financiamento de cultura e geração de renda.

Como pode ser aferida mediante o organograma a seguir cada linha de atuação vincula-se diretamente a uma diretriz.

Ilustração 1: Fonte: Ministério da Cultura

Cada uma dessas dimensões contempla programas e ações governamentais já existentes, com o objetivo de potencializá-lo, além de abrir portas para outros programas.

O Programa Cultura Viva inclui-se na categoria “Cultura e Cidadania”. Através desse novo empreendimento do Estado, o „Mais Cultura‟, foram estabelecidas as parceiras com os entes federados, estaduais e municipais visando a potencialização de programas culturais e criando outros.

Entre os benefícios da descentralização do Programa Cultura Viva através do Mias Cultura, destacam-se:

 Cabe salientar que grande parte do montante de investimentos é oriundo do repasse dos entes federativos signatários do „Mais Cultura‟. Conforme o Decreto nº 6.226, o investimento na ação Pontos de Cultura ocorre pela concessão de 2/3 do montante orçamentário do MinC e 1/3 dos recursos das Secretarias Estaduais de Cultura.

 Além do investimento orçamentário, a descentralização dos Pontos de Cultura (que abarcou também os grandes municípios) foi significativa também por possibilitar o aprimoramento na gestão dos Pontos de acordo com as distintas realidades regionais, graças à autonomia dispensada na administração dos recursos financeiros, como por exemplo, a dispensa de licitação para aquisição de Kit Multimídia concedida pela Procuradoria Geral do Estado da Bahia aos entes conveniados partícipes da rede estadual de Pontos de Cultura da SecultBa.

Ademais, reduziu a possibilidade de extinção dos Pontos de Cultura com a aproximação das eleições presidenciais. Considerando a tradicional instabilidade que historicamente marcou as políticas públicas para a cultura no Brasil.

O aprofundamento do projeto de territorialização do MinC, visto que até 2003, as ações concentravam-se basicamente no eixo Rio de Janeiro – São Paulo, além disto abriram-se as cortinas do cenário cultural oportunizando modalidades artísticas, linguagens e áreas temáticas, rompendo com o direcionamento extremamente excludente que contemplava basicamente as áreas de patrimônio e artes.

Sobre as vantagens dessa relação Programa Cultura Viva x Mais cultura, Turino afirma:

Há muita vantagem nesse processo: o primeiro é o fato de que o Ponto de Cultura se torna política de Estado, realizada pelos diversos entes federados, independente de conveniências ou disputa entre governos e partidos [...]. Pode haver problemas como a tentação de manipulação ou perseguição política [...] e o risco do burocratismo estatal também existe? Sim. Mas a garantia de que isto não aconteça está exatamente

no empoderamento da rede dos Pontos de Cultura que já existe, na apropriação do conceito por parte da sociedade, no pacto federativo e na vigilância do governo federal (TURINO, 2009, p. 167).

Além do repasse anual da verba aos Pontos, cabia aos Estados promover assistência técnica, desenvolver atividades de integração e acompanhar os projetos (BRASIL, 2007). Nesse sentido, os governos estaduais passaram a ser gestores do PC, com todos os intempéries e benefícios que essa nova responsabilidade impõe. De acordo com Rocha (2014) processo de descentralização possibilitou para o MinC, a redução dos diversos entraves – pois deixaram de firmar convênio diretamente com os Pontos –, observou-se, contudo, que as unidades federativas estaduais e municipais passaram a assumir esse lugar, reproduzindo e multiplicando as dificuldades já enfrentadas pelo órgão federal. Não obstante a essa realidade o PCV ainda mantém o mérito de constitui- se uma política democratizante e transformadora.

Documentos relacionados