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Gestão de medicamentos, Produtos Farmacêuticos e Dispositivos Médicos

Capítulo III- Relatório de estágio em Farmácia Hospitalar

3. Gestão de medicamentos, Produtos Farmacêuticos e Dispositivos Médicos

Farmacêuticos e Dispositivos Médicos

A seleção, aquisição, armazenagem, distribuição e administração do medicamento ao doente fazem parte da gestão de medicamentos.1

Os procedimentos de gestão de medicamentos, realizados nos SF, são fundamentais para garantir o bom uso dos medicamentos, permitindo diminuir os custos, maximizando a disponibilidade dos medicamentos no local onde são necessários.1, 4 Torna-se então necessária a aquisição de produtos baseada numa seleção otimizada.

3.1. Farmácia Clássica

A Farmácia Clássica localiza-se numa extensa área dos SF e compreende o Armazém Central, a zona de receção de medicamentos e produtos farmacêuticos e as zonas de trabalho do Farmacêutico responsável pela Farmácia Clássica e do TDT.

Nesta área o Farmacêutico é responsável pela aquisição de medicamentos, produtos farmacêuticos estando por isso incumbido da gestão de stocks: avaliação da necessidade de medicamentos e produtos farmacêuticos, elaboração de pedidos de compra e confirmação da receção de medicamentos.

Os indicadores de gestão e a observação in loco das prateleiras, assim como o programa GSFarma (programa informático interno que permite o registo de faltas) permitem estudar a necessidade de iniciar o processo de aquisição de um determinado produto. São analisados os consumos prévios de um determinado produto e a quantidade existente, sendo posteriormente elaborada uma proposta de pedido de compra. Neste contexto são

determinantes alguns fatores como necessidade, ou não, da compra de um número mínimo de unidades e a existência de espaço físico para o armazenamento do produto nos SF.

A seleção de medicamentos é facilitada pelo Formulário Hospitalar Nacional do Medicamento (FHNM) que é “um texto orientador que traduz a escolha seletiva perante uma larga oferta de medicamentos” 5. Trata-se de um documento de utilização obrigatória dos hospitais integrantes do Sistema Nacional de Saúde (SNS). No CHVNG/E, EPE são também adquiridos medicamentos que fazem parte das adendas ao Formulário. Estas adendas traduzem a necessidade de prescrição de medicamentos que não constam do FHNM mas que se consideram essenciais para algumas situações.

Para a introdução de novos medicamentos é necessária a elaboração de um pedido de introdução, que é sujeito a um parecer da CFT e autorização do Conselho de Administração. Estes medicamentos podem ser introduzidos nas adendas ou podem ser sujeitos a justificação caso a caso.

Do FHNM constam medicamentos que não possuem Autorização de Introdução no Mercado (AIM) em Portugal. Sendo estes medicamentos igualmente necessários, torna-se fundamental o pedido ao INFARMED de uma Autorização de Utilização Especial (AUE)10, tal como previsto na lei.6 A AUE, apenas pode ser concedida para a utilização de medicamentos que possuam AIM em país estrangeiro, ou para medicamentos que embora não possuam AIM, tenham uma eficácia e segurança fortemente presumida.2 O INFARMED pode autorizar a utilização dos medicamentos que se encontram nas situações supracitadas quando estes sejam considerados imprescindíveis à prevenção, diagnóstico ou tratamento de uma patologia ou, quando estes sejam necessários para dar resposta à propagação de agentes que possam causar efeitos nocivos.6 A AUE pode ser requerida por entidades que possuam autorização de aquisição direta e por fabricantes devidamente autorizados. Pode igualmente ser requerida pelos titulares de AIM, quando seja necessária a colocação de lotes no mercado para colmatar ruturas de stock (esta situação apenas se aplica a medicamentos sem alternativa terapêutica).

Durante o período em que estagiei presenciei um pedido de AUE, para a dobutamina, medicamento que não possuía fornecedor em Portugal.

3.1.1.

Procedimentos de aquisição

O Farmacêutico gera um pedido de compra que é posteriormente validado pela diretora dos SF, que é responsável pelas aquisições dos medicamentos, produtos farmacêuticos e dispositivos médicos1. O passo seguinte é o envio desta informação ao serviço de

10 Autorização, por parte do INFARMED, da utilização em Portugal de medicamentos não possuidores de nenhuma autorização

Aprovisionamento do hospital, que realiza todos os passos necessários à criação de uma nota de encomenda.

Os procedimentos pré-contratuais sejam eles de ajuste direto ou concurso público por exemplo, são da responsabilidade do serviço de Aprovisionamento, devendo o Farmacêutico ter conhecimento destes. No caso de se tratar de um concurso público a aquisição é feita através da consulta do Catálogo de Aprovisionamento Público de Saúde11 7 que contém informação sobre os diferentes fornecedores. A escolha do fornecedor é realizada de acordo com os critérios estabelecidos que dizem respeito principalmente ao seu custo. Estes concursos públicos são celebrados pelos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde para determinadas categorias de medicamentos, serviços e produtos de consumo clínico.8 No caso de não existir nenhum contrato público pode ser realizada uma aquisição por ajuste direto. O anexo 21 apresenta, sob forma de fluxograma, os diversos procedimentos executados nesse local.

Por vezes torna-se necessária a aquisição de produtos a Farmácias Comunitárias devido ao consumo anormalmente elevado de um determinado produto, ou por rutura de stock. Quando se trata de medicamentos de uso exclusivo hospitalar surge a necessidade de pedido de empréstimo a outro hospital.

3.1.2.

Receção,

conferência

e

armazenamento

de

Medicamentos

Depois da chegada dos medicamentos ou produtos farmacêuticos aos SF estes são rececionados numa área destinada ao efeito, por um AO. Um TDT verifica os produtos recebido e confere-os quantitativa e qualitativamente, verificando a quantidade, prazo de validade, lote, condições de transporte entre outros. A entrada informática dos produtos é realizada por um AT.

Os procedimentos de receção, conferência e armazenamento de medicamentos Derivados do Plasma Humano e os Estupefaciente/Psicotrópicos e Benzodiazepinas serão especificados no capítulo referente aos Medicamentos Especiais (Capítulo 6- Circuitos de Medicamentos Especiais).

O armazenamento é feito em diferentes armazéns de acordo com o tipo de medicamento. A tabela 1 contempla os armazéns existentes nos SF

11 “instrumento facilitador da aquisição de bens e serviços, através de Contratos Públicos de Aprovisionamento, utilizando a Internet

Tabela 2. Armazéns informáticos dos SF do CHVNG/E, EPE

Armazém

F2

Farmácia unidade 2;

F3

Armazém Central;

F4

Farmácia de Ambulatório

F5

Citotóxicos;

F7

Armazém de soros

F8

Estupefacientes/Psicotrópicos e Benzodiazepinas;

F9

RFID®: Radio-Frequency IDentification).

Q1

Armazém de medicamentos em Quarentena

Dentro do Armazém Central os medicamentos são armazenados, regra geral, por ordem alfabética de Denominação Comum Internacional (DCI), respeitando o princípio First Expire

First Out nas diferentes prateleiras, devidamente rotulados.1 Os medicamentos de uso oftálmico e os produtos de nutrição entérica e parentérica são armazenados noutro local, também por ordem alfabética, segundo o principio First Expire First Out. Os medicamentos inflamáveis são armazenados em locais apropriados9 e os medicamentos fotossensíveis são armazenados sob proteção da luz. A medicação que necessita de refrigeração é armazenada em câmaras frigoríficas de forma a manter a cadeia de frio.

Toda a área armazenamento é monitorizada pelo sistema VIGIE®, através de termo- higrómetros distribuídos pelos SF. Quando se ultrapassa a temperatura máxima de 25⁰C (para medicamentos não termolábeis) ou a humidade é superior a 60% são emitidos alertas.10 Este sistema permite também o registo das temperaturas e humidade.1 Além disso, os desvios de pressão registados nas salas de manipulação de medicamentos são também registados e geram igualmente um alerta. Em caso de deteção de alguma eventual alteração deve ser verificada a origem da ocorrência, sendo efetuados os procedimentos necessários à correção da mesma.

3.1.3.

Controlo de Prazos de Validade

O controlo dos prazos de validade é uma tarefa que se revela crucial na gestão de medicamentos, permitindo evitar os desperdícios financeiro e ambiental. Este controlo é realizado periodicamente por um Farmacêutico, de forma a determinar a existência de medicamentos ou outros produtos, que estejam próximos do prazo de validade. Quando estes se encontram próximos do prazo de validade tenta-se o seu consumo junto dos serviços, ou a devolução ao laboratório, de preferência com crédito do valor do mesmo. Quando tal não é possível, é necessário abater o produto.4

Nos SF do CHVNG/E, EPE existe um Armazém especifico (Q1) para onde são transferidos os produtos que expiraram a validade ou que possuem qualquer outra situação anormal.

Os AA são alvo de verificação de prazos de validade durante a reposição de stocks e os carros de emergência devolvem medicação a 3 meses de expirar.

Durante o estágio acompanhei o procedimentos de gestão, desde a seleção, passando pela receção e armazenamento. Elaborei pedidos de compra sob a supervisão de um Farmacêutico. Contatei com o FHNM e assisti a um processo de aquisição de medicamentos de AUE. Participei na concessão e devolução de empréstimos assim como me foi proporcionada a oportunidade de observar o trabalho realizado no Serviço de Aprovisionamento. Tive também oportunidade de visitar um dos AA verificando a existência de diferentes compartimentos, corretamente identificados por DCI e com o Código Nacional Hospitalar do Medicamento(CNHM).