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2. Planeamento e Gestão de Resíduos

2.4 Gestão de Resíduos Urbanos

Pelo Decreto-Lei 73/2011 de 17 de Junho entende-se como definição de resíduo “quaisquer substâncias ou objetos de que o detentor se desfaz ou tem intenção ou obrigação

de se desfazer”. No entanto, o Decreto-Lei n.º 178/2006 de 5 de Setembro, apresenta a

definição de RU, como “resíduos provenientes de habitações bem como outros resíduos que

pela sua natureza e composição, seja semelhante aos resíduos provenientes das habitações”.

Os RU atualmente rececionados pelas entidades gestoras são constituídos por uma importante fração de matéria orgânica, designada de RUB. O Decreto-Lei nº 152/2002 de 23 de Maio de 2002, define os RUB como “resíduos que podem ser sujeitos a decomposição

anaeróbia ou aeróbia, como, por exemplo, os resíduos alimentares e de jardim, o papel e o cartão”.

2.4.2. Resíduos Urbanos em Portugal

A atividade de gestão de resíduos a recolha, define-se segundo Decreto-Lei 73/2011 de 17 de Junho como sendo “o transporte, a valorização e a eliminação de resíduos, incluindo a

supervisão destas operações, a manutenção dos locais de eliminação no pós-encerramento, bem como as medidas adotadas na qualidade de comerciante ou corretor.”

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As origens da produção de resíduos são oriundas de inúmeras atividades de produção e consumo que têm lugar na sociedade atual. Estas atividades são sustentadas por recursos naturais (matérias-primas e energia) através da entrada no ciclo económico cumprindo uma estabelecida função e/ou serviço. Durante o seu ciclo de vida, caso não sejam reaproveitados, estes recursos irão retornar ao ambiente sob a forma de resíduos ou emissões constituindo-se assim, como desperdícios das atividades.

No que concerne à gestão de RU em Portugal, até há cerca de uma década atrás, a mesma estribava-se na recolha indiferenciada e na deposição em lixeira ou na melhor das hipóteses num vazadouro controlado (Martinho & Gonçalves, 2000).

Em consequência de aumento geral de produção de resíduos correspondente ao desenvolvimento económico, crescimento demográfico e consumismo tem como efeito o aumento crescente da importância dada à gestão e ao tratamento dos resíduos produzidos (Queda & Almeida, 2004) associando-se assim, igualmente um crescente das preocupações com a saúde e a segurança, em relação à gestão de resíduos (Martinho & Gonçalves, 2000). No entanto, os mesmos autores referem que além das preocupações anteriormente mencionadas, existem outras áreas de preocupação, nomeadamente, a conservação dos resíduos, os riscos ambientais associados aos sistemas tecnológicos de RU e a indispensabilidade de transformação ao nível comportamental e de corresponsabilização de todos os agentes abarcados.

Considera-se assim imperativo, que na perspetiva da gestão ambiental, a seleção do tipo de tratamento seja apropriado às caraterísticas do tipo de resíduos a tratar (Queda &Almeida, 2004).

No período compreendido entre 1995 e 2010 presenciou, em Portugal, uma disposição de crescimento da produção de RU, com a exceção dos anos de 2001 e 2004, em que se verificou um leve decréscimo em correspondência ao ano precedente, e no ano de 2010, em que os valores de produção de RU se conservaram na mesma ordem de grandeza do ano anterior. Assim, em 2010 produziram-se em Portugal continental cerca de 5,319 milhões de toneladas de RU, ou seja, aproximadamente 511 kg.hab-1.ano-1, o que corresponde a uma produção diária de aproximadamente de 1,40 kg.hab-1.dia-1 (APA, 2011a).

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No total de RU produzidos referente ao ano 2010, 85 % corresponde a recolha indiferenciada e 15 % a recolha seletiva. Em termos regionais (Tabela 1, Figura 2), verifica-se que as regiões do Norte e de Lisboa e Vale do Tejo que registaram a maior produção, ao nível do território continental, com 30 e 39 %, respetivamente (APA, 2011b).

Considera-se que os valores apresentados encontram-se possivelmente relacionado com o maior poder de compra e com uma maior concentração de atividades económicas inseridas nessas áreas geográficas.

Tabela 1 - Produção Total de RU

Fonte: APA, 2011a.

Figura 2 - Produção Total por Região, (APA, 2011a).

No ano de 2010 e apenas em Portugal continental, (tabela 2) existiam 34 aterros, 9 instalações de valorização orgânica, 2 de valorização energética (incineração) e 81 estações de transferência.

Região Produção Total

Norte 1.611.667

Centro 831.190

Lisboa e Vale do Tejo 2.023.201

Alentejo 314.762

Algarve 402.749

R.A. Madeira 135.908

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Tabela 2 - Instalações e Equipamentos de Recolha Seletiva em Portugal Continental.

Infraestrutura Previstos Construção Exploração Total

Aterro 8 1 34 43

Valorização Orgânica 5 10 9 24

Valorização Energética

(Incineração) 2 2

Estações de Transferência 1 81 82

Fonte: APA, 2010a. 2.4.3. Composição dos Resíduos Urbanos

Considerando que a caracterização física dos RU constitui informação relevante e para efeitos de planeamento e cumprimento de objetivos de desempenho ambiental.

A Portaria n.º 768/88 de 30 de Novembro, designa a obrigatoriedade do preenchimento do Mapa de Registo de Resíduos Urbanos (MRRU) e implica requisitos relativos à caracterização física, dos resíduos recolhidos. Neste enquadramento, a metodologia para a quantificação e caracterização física dos resíduos urbanos encontra-se descrita no Documento Técnico nº 1, publicado pela Direcção-Geral da Qualidade do Ambiente (DGQA) em 1989 (APA, 2011d).

A Portaria acima referida foi revogada posteriormente e o Plano Estratégico para os Resíduos Sólidos Urbanos de 2007 a 2016 apresenta uma metodologia para a quantificação e caracterização deste tipo de resíduos. Registou-se ainda a carência de estimular uma maior harmonização do quadro normativo, pelo que a Portaria n.º 851/2009, de 7 de Agosto, veio revogar a metodologia prevista no PERSU II.

A caracterização física dos RU produzidos no Continente em 2009 é apresentada na Figura 3 e tem por base os dados registados no MRRU. Contudo, os referidos elementos devem ser considerados apenas como indicação, visto que a Portaria n.º 851/2009 entrou em vigor a 8 de Agosto abrangendo assim um período de transição e adaptação à nova metodologia.

A avaliação quantitativa e a caracterização qualitativa dos resíduos, constituem uma das etapas iniciais no que se refere à gestão tecnológica de biomassa no sentido de direcionar para uma correta gestão integrada, bem como, para o dimensionamento e desenvolvimento de unidades de tratamento, reciclagem e valorização de biomassa (Queda, 1999).

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Figura 3 - Composição Física dos RU em Portugal (%), (APA, 2011b).

A produção de resíduos, depende de um conjunto de fatores de natureza física, individual e social, económica e tecnológica, que regulam a natureza e a quantidade de resíduos num dado local e num dado instante e depende essencialmente do nível de vida da população, da época do ano, do modo de vida da população, do movimento da população durante os períodos de férias, os fins-de-semana e os dias festivos, do clima e dos modelos de consumo vigentes. 2.4.4 Importância da redução de resíduos e da recolha seletiva

A prevenção e a minimização de produção de resíduos, são atividades que tendem a eliminar os ensejos de conduzir à produção de materiais dispostos a constituir resíduos. No entanto, a presença de sistemas de recolha seletiva da fração dos RU, estabelece-se como um fator basilar na obtenção de um composto de qualidade, considerando-se assim, analogamente importante a existência de campanhas de sensibilização apontando confirmar a participação da sociedade através da correta separação na fonte dos resíduos produzidos (Lopes & Santos, 2003).

As características físicas e químicas dos RU, na maioria das situações e desde que seja realizada a separação na fonte e recolha seletiva dos mesmos, permitem o seu tratamento/valorização com vista à reciclagem da matéria orgânica, conduzindo à obtenção de produtos finais ricos em matéria orgânica estabilizada e que podem ser utilizados para fins agrícolas (Queda & Almeida, 2004), cumprindo as normas de qualidade do composto e permitindo a sua venda para utilização como fertilizante orgânico (Lopes & Santos, 2003).

Uma das metas estipuladas a nível nacional para os RU, estabelecida através do PERSU II, e a valorização dos RUB, constituindo assim uma política de desvio destes resíduos de aterro. Verificou-se que em 2010, do total de RU produzidos, 51% foram RUB (2,660 milhões de

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toneladas de resíduos). Como se pode visualizar na Figura 4, a maioria (64%) foi encaminhada para aterro, 18% sofreu valorização energética, 10% foi valorizado organicamente e 8% dos RUB (papel e cartão) foram reciclados.

Figura 4 - Destino final dos RUB referente ao ano 2010, (APA, 2011b).

Tendo em vista a necessidade de se assegurar o cumprimento dos objetivos previstos no espaço da derrogação obtida por Portugal a Diretiva Aterros, para o período de 2013 e 2020 no que se refere aos RUB, existe o compromisso de se dar continuidade aos esforços efetuados para desviar matéria biodegradável dos aterros, designadamente através de construção de infraestruturas de valorização de RUB (APA, 2011a).

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