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1. INTRODUÇÃO

2.5. GESTÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Para que se tenha uma melhor compreensão de como são desenvolvidas as competências científicas em estudantes de cursos de pós-graduação stricto sensu, é interessante conhecer o processo de gestão do conhecimento científico.

As universidades, tradicionalmente, têm sido reconhecidas como espaços de produção e transferência de conhecimento científico por excelência (LEITE e COS- TA, 2006). Desta forma, o ambiente acadêmico torna-se apropriado ao olhar da Ges- tão do Conhecimento. No entanto, é preciso considerar as peculiaridades da nature- za do conhecimento científico, bem como do ambiente onde ele é criado, comparti- lhado e usado. Desta forma, o conhecimento científico não está desconectado do contexto acadêmico em que está sendo produzido (MACIAS-CHAPULA, 1998).

Buscando aplicar a Gestão do Conhecimento no contexto universitário, Paiva e Duarte (2006) propõem uma adaptação do modelo de Terra (2001), mostrado na Figura 1, ancorada em dois pontos: de um lado, considera-se as semelhanças entre os processos da Gestão do Conhecimento e o sistema de comunicação científica (criação/produção, compartilhamento/disseminação, aplicação/uso) e, de outro, in- corpora um conjunto de elementos organizacionais de apoio a esses processos. Es- se novo modelo é apresentado na Figura 2.

Figura 2: Gestão do Conhecimento Científico: processos e estratégias Fonte: Paiva e Duarte (2006)

Nesse caso, o modelo de Paiva e Duarte (2006) abrange as seguintes dimen- sões da prática gerencial: (i) fatores estratégicos e papel da alta administração, (ii)

cultura e valores organizacionais, (iii) estrutura organizacional, (iv) administração de recursos humanos, (v) sistemas de informação, (vi) mensuração de resultados e (vii) aprendizado com o ambiente. Assim, além do ambiente empresarial, a Gestão do Conhecimento também pode ser aplicada no ambiente acadêmico, com os proces- sos adaptados por Paiva e Duarte (2006).

A criação de conhecimento pode ser estimulada através da formação de gru- pos de estudos, da participação em pesquisas e em eventos, da produção científica, entre outros. As autoras enfatizam: para que esse processo ocorra, o ambiente não pode estimular a mera repetição de teorias e conceitos, mas a criatividade e novas ideias devem ser incentivadas através de um ambiente favorável a debates e dis- cussões.

O armazenamento de conhecimentos focaliza o conhecimento explícito, ou seja, aquele adquirido através de aulas ou conferências, enquanto o conhecimento tácito – pessoal e difuso – é acumulado com a experiência e a prática, sendo dife- renciado em cada indivíduo. Esse processo torna-se essencial na medida que o vo- lume crescente de informações e conhecimentos requer um suporte tecnológico pa- ra arquivar, agrupar, selecionar e recuperar elementos informacionais relevantes para o processo educativo e para a vida profissional.

No contexto acadêmico a disseminação de conhecimentos é uma ação intrín- seca ao processo educacional que pode se dar tanto em sala de aula quanto em qualquer outro espaço e a qualquer momento. As autoras destacam ser importante incentivar a comunidade acadêmica (docentes e estudantes) para uma cultura de compartilhamento de conhecimentos, instigando-os a interagir entre si. A transferên- cia de conhecimentos pode ocorrer de modo formalizado (estruturado) ou de modo espontâneo (não estruturado).

A aplicação do conhecimento é essencial, considerando que o conhecimento gerado e compartilhado deve ser utilizado para auxiliar as pessoas, as organizações e a sociedade na compreensão e solução dos problemas. Esse é um dos principais objetivos educativos, no contexto acadêmico.

Leite e Costa (2006) criticam algumas iniciativas de se estudar a gestão do conhecimento no ambiente acadêmico, uma vez que consideram que se resumem a iniciativas de desenvolvimento de tecnologia da informação ou na perspectiva de gestão do conhecimento organizacional. Para os autores, as peculiaridades do co-

nhecimento científico devem ser consideradas, bem como o processo de comunica- ção, que se torna fundamental para a criação, armazenamento, compartilhamento e aplicação do conhecimento.

De acordo com Leite e Costa (2006):

[Gestão do Conhecimento Científico é] o planejamento e controle de ações (políticas, mecanismos, ferramentas, estratégias e outros) que governam o fluxo do conhecimento científico em sua vertente tácita e explícita, tendo como substratos os processos de comunicação científica com o fim de apoiar e maximizar a criação de novos conhecimentos e o ensino.

Leite (2006) propõe o modelo de Gestão do Conhecimento Científico mostra- do na Figura 3, desenvolvido a partir do ambiente acadêmico, que contempla a co- municação como processo fundamental. Os processos que compõem esse modelo são descritos no Quadro 6.

Figura 3: Modelo conceitual de gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico Fonte: Leite (2006)

Processo Descrição

Identificação Processo de mapeamento do conhecimento da comunidade acadêmica – co- nhecimentos internos à instituição – em sua vertente proveniente de comunida- des científicas. O objetivo é responder quem pesquisa o quê e onde. Trata-se do mapeamento das fontes de informação e competências científicas internas e externas da instituição e das fontes de informação e competências científicas críticas que estejam relacionadas às atividades científicas da instituição.

Aquisição Processo de aquisição dos conhecimentos mapeados anteriormente, necessá- rios à criação e manutenção de conhecimentos e competências científicas da comunidade acadêmica.

Armazenamento /

Organização Processo relacionado com a organização e armazenagem do conhecimento científico explícito com o intuito de torná-lo facilmente recuperável. Compartilhamento Processo que tem como pressuposto o compartilhamento do conhecimento cien-

tífico explícito, pelos meios de comunicação formais e o compartilhamento do conhecimento tácito, por meios informais.

Criação Processo relacionado com a criação de novas habilidades, competências e co- nhecimento na instituição.

Quadro 6: Processo da Gestão do Conhecimento Científico Fonte: Adaptado de LEITE, 2006 por Ferreira (2010)

Leite e Costa (2006) destacam que os processos de gestão do conhecimento científico, no contexto de uma comunidade acadêmica, sofrem influência externa das comunidades científicas, como sugerem os resultados. Por esta e outras razões, a identificação, aquisição, organização/armazenagem e, sobretudo, o compartilhamen- to e criação do conhecimento científico, como processos de gestão do conhecimento no contexto de uma universidade, não podem prescindir ou desprezar a interferência de várias lateralidades, tanto internas quanto externas, de caráter cultural, tecnológi- co ou social.

O processo de gestão do conhecimento científico tem por objetivo oferecer suporte, potencializar e tornar mais eficientes as atividades de pesquisa e ensino na instituição e a integração entre elas – e, por consequência, o estímulo à criação de novos conhecimentos (LEITE e COSTA, 2006).

Porém, esses novos conhecimentos, por sua vez, não se restringem ao con- sumo interno das universidades, pelo contrário, devem ser aplicados em benefício da sociedade. Neste contexto, as empresas também podem se beneficiar da aplica- ção de conhecimentos científicos em seus processos produtivos. No capítulo a se- guir, é relatada a pesquisa realizada no Banco do Brasil quanto a aplicação de com- petências científicas desenvolvidas por seus funcionários em programa de mestrado e doutorado.

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