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2 FUNDAMENTOS E CONCEITUAÇÕES

2.4 GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA

A Constituição Federal Brasileira de 1988 determina no Art. 206, § VI que a forma de gestão da educação brasileira deve ser a democrática e participativa (BRASIL, 1988). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9.394/96), no Art. 3º, § VIII, em consonância com o que determina a Constituição, afirma que “a gestão do ensino público deve ser democrática, respeitando a forma da lei e da legislação dos sistemas de ensino”. (BRASIL, 1996).

A gestão democrática escolar, referida nos dois documentos legais, deve ser aquela em que todos os sujeitos, coletivamente, participam ativamente do processo de construção político- social e pedagógico em prol de uma educação igualitária e, por consequência, uma sociedade justa, em que os envolvidos sejam capazes de analisar, questionar, reivindicar, acompanhar e transformar por meio do diálogo ou de lutas, os direitos já contidos em lei em benefício de uma sociedade digna, que respeite as ações coletivas conforme os princípios legais.

Essas ideias relativas à participação na gestão escolar previstas em lei, convergem com os desejos da maioria das pessoas em nossa sociedade e vão ao encontro do que defendem vários pensadores da educação como Paulo Freire (2001, p. 73), ao afirmar que:

[...] a participação como exercício de voz, de ter voz, de ingerir, de decidir em certos níveis de poder, enquanto direito de cidadania, se acha em relação direta, necessária, com a prática educativo-progressista, se os educadores e educadoras que a realizam são coerentes com o seu discurso.

Ou ainda, como diz Saviani (2000), ao se reportar à necessidade de convergência entre a democracia, no conjunto da sociedade e a democracia no interior da escola: “o grau de

democratização atingido no interior das escolas deve ser buscado na prática social”. (SAVIANI, 2000, p. 77-78). Essa prática deve ser vivenciada por todos os envolvidos, proporcionando um processo democrático, consciente, transformador político e social. Considerando a escola como um espaço onde se constrói a democracia por meio das relações que ali são constituídas e pelo convívio social, ou seja, “[...] condição de se distinguir a democracia como possibilidade no ponto de partida e a democracia como realidade no ponto de chegada”. (SAVIANI, 2000, p. 77-78).

Pensar a escola como gestão democrática e participativa significa propiciar um espaço democrático que permita a participação efetiva e ativa dos envolvidos nesse processo, que supõe disposição constante ao diálogo, com vistas a se construir a escola baseada nas relações do pensar e do agir transformador, onde cada sujeito seja agente não apenas da própria ação, mas protagonista do agir coletivo.

Nesta mesma direção, diz Lück (2002, p. 102):

[...] para que a escola por meio de sua gestão democrática e participativa ofereça a todos os envolvidos a qualidade educacional, é necessário desenvolver os seguintes princípios da concepção de gestão democrático- participativa: autonomia da escola e da comunidade educativa; participação dos membros da equipe escolar; planejamento; formação; utilização de informações concretas e análise de cada problema em seus múltiplos aspectos, democratização das informações; avaliação compartilhada; relações humanas produtivas e criativas, assentadas em uma busca de objetivos comuns.

Esses princípios apontados pela autora favorecem as relações democráticas de todos os envolvidos no interior da escola. Eles presumem principalmente a participação com a fala de todos que têm como base seu pronunciar a realidade (o mundo), na expressão de Freire (2005, p. 90), quando afirma:

[...] que a existência, porque humana, não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os homens transformam o mundo. Existir, humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar.

Dessa forma, o indivíduo é capaz de enxergar, perceber e sentir-se no mundo, como sujeito capaz de modificar e transformar sua prática, a si mesmo, e o mundo ao seu redor, contribuindo assim para a construção de uma sociedade justa. Mas, para isso, é preciso que a gestão escolar seja de muitos falantes e não de apenas um e muitos deles, ouvintes passivos e submissos.

Para Romão (1997, p. 67), “os caminhos para a implantação de uma gestão democrática e participativa necessita, não só dos convites aos participantes do processo, mas sim da geração de condições para que os mesmos se insiram no processo”. Uma dessas condições está no ato de incentivar todos, para que pronunciem o mundo vivido da escola nas falas das reuniões para a tomada de decisões. Assim, falar em construção de cidadania num processo crítico dialógico, na perspectiva da gestão democrática, é promover a participação ativa dos sujeitos e implica no enriquecimento e fortalecimento da participação da comunidade escolar interna e na conscientização de todos que de alguma maneira, fazem-se presentes nela, apropriando-se dos mecanismos transformadores dessa realidade, por meio de processos como o da gestão compartilhada da vida escolar.

Segundo Cury (2007, p. 494), o trabalho da equipe gestora implica em:

[...] transparência e impessoalidade, autonomia e participação, liderança e trabalho coletivo, representatividade e competência. Voltada para o processo de decisão baseado na participação e na deliberação pública, a gestão democrática expressa um anseio de crescimento dos indivíduos como cidadãos e do crescimento da sociedade democrática. Por isso a gestão democrática é a administração de uma gestão concreta.

É importante ressaltar que, para ser desenvolvida e existir a gestão democrática na escola, é necessário que os aspectos citados por Cury (2007) façam parte dos colegiados e da gestão da escola, sem os quais não será possível ser constituída essa tão desejada gestão democrática participativa.