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A gestão escolar das escolas municipais de Campo Grande/MS – uma interlocução sobre as ações no

No documento Dissertação de Rosa Neiva Streit (páginas 89-93)

CAPÍTULO III – IMPACTOS DAS POLÍTICAS DE AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA NO

3.4 A gestão escolar das escolas municipais de Campo Grande/MS – uma interlocução sobre as ações no

Para viabilizar a melhoria da qualidade na educação, é fundamental realçar a importância do gestor escolar no processo de organização do trabalho pedagógico, efetivando assim ações que assegurem a aprendizagem dos estudantes: “[...] as práticas de organização e gestão, a participação dos professores na gestão, o trabalho colaborativo, estão a serviço da melhoria do ensino e da aprendizagem” (LIBÂNEO, 2009, p. 43).

Souza e Portela (2010), por seu turno, discutem outro elemento pertinente ao espaço escolar: as contribuições da avaliação na promoção da melhoria do ensino. Consideram, nesse sentido, dois argumentos, dentre eles “[...] a utilização dos resultados na condução das políticas educacionais, examinando a validade, a relevância e a oportunidade das iniciativas adotadas como consequência do conhecimento obtido mediante o processo de avaliação” (SOUSA; PORTELA, 2010, p. 794).

Fortalecendo a discussão sobre o período de vigência da Provinha Brasil (2008 a 2016) e sua relação com o possível avanço no processo de alfabetização nas escolas da Reme, G1 relata que faz quatro anos que está à frente da direção e que pode responder sobre esse período, definindo com veemência que:

[...] Tem dois pontos: positivo e negativo. O positivo é que a gente analisa as dificuldades dos educandos e dentro desta análise trabalhamos; indo em sala de aula, auxiliar para que os alunos sanem estas dificuldades. O lado negativo por que é um treino: os professores treinam com simulados e eles acabam ficando “treineiros”, são conduzidos a fazer essa Provinha Brasil, é dado o gabarito, são treinados. Tem um lado bom e um lado ruim, que é o treino e ele vai ficar conduzido e o foco não é a condução, é a aprendizagem (G1).

Por outro lado, G2, que atua há sete anos como gestor adjunto, aponta que a Provinha Brasil é/foi um instrumento de grande valor para que a escola pudesse, a partir de seus resultados, replanejar suas ações em busca de uma melhor qualidade de ensino. E continua: “vejo que a escola avançou no processo de alfabetização, tendo em vista as ações elaboradas pela equipe para alcançar os objetivos propostos em cada descritor” (G2).

No que diz respeito aos testes oficializados pelo MEC, pode-se constatar que estes trazem uma gama de orientações, tanto para professores quanto para gestores. Nessa perspectiva, Schneider (2013, p. 27) entende que têm “[...] a finalidade de alinhar as suas

ações às expectativas das avaliações”, servindo de importante ferramenta para o trabalho em sala de aula.

Essa reflexão é ratificada na fala de G1 em relação à influência da Provinha Brasil na elaboração de ações para a melhoria da qualidade da alfabetização ou para a formação docente. Ela relata que, em sua escola, houve ações, ou seja, estudos e reuniões pedagógicas realçando o que pode ser melhor mediante essas dificuldades. Segundo ela, “[...] analisa-se (sic) as dificuldades e, com a formação de leitura (muita leitura), muitos estudos, trocas de experiências, os professores de um ano com os de outros anos, então o que deu certo, o que deu errado. Houve esta mediação, que é a formação continuada” (G1).

Em relação a esse enfoque, Catanante e Brito (2014, p. 03) pontuam que “[...] a formação de professores, sua valorização profissional e suas condições de trabalho são fatores essenciais para a melhoria da qualidade do ensino”. Além disso,

[...] Considerando que o professor é um dos profissionais que mais necessita se manter atualizado, é preciso que essa necessidade se transforme em direitos, o que propiciaria o alcance da sua valorização profissional e desempenho compatível aos requerimentos exigidos pela sua própria função social (CATANANTE; BRITO, 2014, p. 05).

Sob outra perspectiva, G2 argumenta que as ações, em sua escola, foram desenvolvidas por meio de análise dos resultados e replanejamento de algumas ações e metodologias:

Os resultados da Provinha Brasil foram expostos no mural da escola. A análise dos resultados foi feita não só com base nos resultados da prova, mas envolvendo também a análise de todas as ações desenvolvidas na escola pela equipe pedagógica: caderno de avanço, avaliações diagnósticas (G2).

Em relação à atuação da gestão escolar, ao acompanhamento da aplicação e análise dos resultados da Provinha Brasil e ao suporte atribuído ao professor, G2 explica que os professores têm acesso aos resultados e assim são delineadas estratégias para a melhoria da qualidade de ensino. G1, por sua vez, respondeu: “sempre. Sempre nós acompanhamos mediante os resultados e com os resultados a gente planeja as ações”.

No que tange ao questionamento que buscou verificar se as informações obtidas pela Provinha Brasil contribuíram para as ações pedagógicas na escola e se foi realizada alguma análise comparativa entre seus resultados e o índice de aprovação dos alunos do 2º ano, G1 responde positivamente e declara que as ações são determinadas em reuniões pedagógicas,

que apresentam gráficos para que os docentes vejam onde podem melhorar e o que podem fazer. Com essa conversa, essas mediações, ocorrem as melhorias, segundo ela.

Sobre os objetivos da Provinha Brasil e a garantia do seu êxito, pode-se considerar que G1 considera que a escola dá todo o suporte pedagógico que os professores necessitam: “estamos sempre à disposição com assinaturas de jornais, papel sulfite, revistas, a sala de tecnologia e o trabalho da coordenação pedagógica, dando todo o suporte com sugestões e atendimentos individualizados”.

Em relação à parceria escola e Semed e o aprendizado individual dos estudantes, articulando a proposta pedagógica à avaliação, G1 apontou que sempre ocorre esse apoio, com base na proposta pedagógica. Já G2 menciona que secretaria de educação e escola (gestão e docentes) caminham juntas e que os objetivos são os mesmos e estão previstos na proposta pedagógica.

Os alunos do 2º ano avaliados pela Provinha Brasil e matriculados na E1 são crianças que moram em diversas regiões da cidade. Sobre essa realidade, G1 salienta que, antes da matrícula online, os gestores matriculavam, a escola matriculava, “[...] hoje as crianças que nós recebemos moram na área central e em outros bairros, então ficou uma mescla: todos os perfis. Embora a nossa escola tem um diferencial: os nossos materiais e os nossos professores capacitados, o nosso compromisso e empenho com a nossa educação” (G1).

Ampliando-se o debate, foi questionado se a escola reconhece de fato quais são as necessidades desses estudantes e se eles são estimulados a realizar as avaliações em larga escala. Segundo G1, “[...] eles estão estimulados, embora a gente tem uma exceção, [...] estão estimulados como, com muita leitura, que a leitura traz o aluno ao mundo da imaginação, com incentivo do professor, com incentivo da escola... Então tudo isso são requisitos para que eles sejam estimulados”. G2, por sua vez, explica:

A comunidade escolar da E2 é heterogênea. E isso faz com que a análise seja feita também levando de acordo com essa realidade. Os professores conhecem seus alunos e respeitam suas realidades. Os alunos sempre realizam provas com essas características, como as avaliações diagnósticas, entre outas.

No que se refere à busca pela qualidade da educação ofertada aos alunos, pode-se afirmar que há muito a evoluir para garantir a aprendizagem efetiva. Isso porque:

O conceito de qualidade [...] não pode ser reduzido a rendimento escolar, nem tomado como referência para o estabelecimento de mero ranking entre as instituições de ensino. Assim, uma educação com qualidade social é

caracterizada por um conjunto de fatores intra e extra-escolares que se referem às condições de vida dos alunos e de suas famílias, ao seu

contexto social, cultural e econômico e à própria escola – professores, diretores, projeto pedagógico, recursos, instalações, estrutura organizacional, ambiente escolar e relações intersubjetivas no cotidiano escolar (DOURADO, 2007, p. 940-941 – grifos nossos).

Outro aspecto investigado pela pesquisa corresponde à relação entre as avaliações em larga escala e a aprendizagem efetiva dos alunos, reconhecida por G1 como aprendizagem efetiva. Conforme seus relatos: “[...] a gente quer atingir a todos os alunos, mas temos exceções”. Ela retoma a questão do treino, porém pensa que, vendo essas dificuldades, a escola procura saná-las: “[...] eu fico mais com o conserto dessas defasagens” (G1). Ademais, reforça que a escola se preocupa com a avaliação e com a individualidade de cada aluno. Igualmente, G2 afirma que é preciso levar em conta os aspectos geográficos e até mesmo socioeconômico dos discentes.

Quando a G1 fora questionada sobre a eficácia do sistema de avaliação para a alfabetização, a mesma respondeu:

É a avaliação do todo, não só avaliar por avaliar, avaliar por uma prova, é um todo. O aluno com compromisso, o aluno que em casa faz os seus deveres, aprendizagem efetiva em sala de aula, a prova em si, o caderno do aluno... Ele é um conjunto, ele é um todo, eu não posso avaliar por um só papel, eu tenho que ter um todo para a gente poder avaliar a leitura que ele faz. Então tudo isso cria-se (sic) uma aprendizagem efetiva que é o nosso foco, é o aluno, é fazer com que ele aprenda, assimile, é a mediação, para mim é isso: um conjunto.

Assim,

Tendo em vista as contribuições que a avaliação pode trazer para a organização do trabalho docente, vale reafirmar que os professores e gestores, com base nos resultados da avaliação, devem refletir sobre a prática pedagógica desenvolvida na escola. O objetivo dessa reflexão é redefinir o planejamento de ensino e aprendizagem, modificando-o, especificando-o, aprimorando-o (PEREIRA, 2015, p. 49).

O G2, ao responder a mesma pergunta, informa que o modo de avaliar eficazmente é por uma avaliação contínua, sistemática e formativa, o que vai ao encontro do que rege a LD B, Lei 9394/96, em seu artigo 25: “Inciso V – a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios: a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais” (BRASIL, 1996).

Com isso, pode-se pensar sobre a importância da gestão democrática no contexto escolar, que deve “[...] enfrentar a exclusão e a reprovação dos estudantes, pois esta não permanência na escola traz a marginalização das classes populares” (VEIGA, 1995, p.17). Freitas (2013, s.p.)56 acrescenta ainda que “[...] há de se reconhecer as falhas nas escolas, mas há de se reconhecer, igualmente, que há falhas nas políticas públicas, no sistema socioeconômico”.

3.5 A concepção das professoras alfabetizadoras sobre o ato de avaliar e os instrumentos

No documento Dissertação de Rosa Neiva Streit (páginas 89-93)