• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1 – PESCA ARTESANAL EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO

1.1 Unidade de Conservação no Amazonas: (re)conhecendo a APA/Nhamundá-

1.1.2 Gestão Institucional da APA/Nhamundá e o desafio dos conflitos

gestores locais, estava sujeita às disposições dos órgãos institucionais (IBAMA, SDS, IPAAM). Somente a partir de 2008 começou a contar com a atuação de gestores locais, e no período de seis anos, a APA contou com a atuação desses profissionais, na árdua tarefa de gerir ações dentro de uma região permeada de situações conflituosas em torno dos recursos ambientais.

Para Simmel (1983) o conflito é uma forma de sociação entre as partes, destinado a resolver dualismos divergentes de modo a conseguir a unidade. Os conflitos no Macuricanã ocorrem geralmente em torno do uso dos lagos, entre pescadores artesanais locais, pescadores de outras comunidades e pescadores paraenses. Tratam-se de conflitos socioambientais que, pelas diferentes formas de uso comunal dos recursos, põem em pauta os bens subtraídos pelas

populações tradicionais, onde tende a prevalecer o uso dos atores sociais mais fortes (ACSERALD, 2010).

Ressalte-se que os gestores instituídos pelo CEUC para a APA-Nhamundá não têm durabilidade no cargo, por se tratar de designações de regime temporário; consequentemente, as ações desenvolvidas para a área não têm continuidade. Ademais, até o presente, a Unidade de Conservação não possui ainda um Plano de Gestão que assegure o manejo regulamentado dos recursos ambientais. “Este plano encontra-se em fase de elaboração, na dependência de

recursos oriundos de compensação ambiental”11 para sua efetivação12. O processo de

elaboração do Plano tem previsão para iniciar em 2015. “Os custos para a implementação são altos e as APAS não dispõem de incentivos ou apoios de instituições governamentais ou

Organizações não Governamentais – Ongs”13.

No quadro demonstrativo relacionando às UCs com Plano de Gestão, um dado chama a atenção: das 41 UCs estaduais, 22 possuem o Plano publicado em portarias e 19 estão com o plano em fase de elaboração. Nas UCs que já têm o plano de Gestão, apenas uma UC na categoria APA possui o plano regulamentado: a APA Caverna Maroaga, dos Municípios Presidente Figueiredo e Rio Preto da Eva. Face o exposto, é perceptível a condição de segundo plano que as APAS ocupam no âmbito das ferramentas e estratégias para implementação das UCs no Estado. Ousamos dizer que as APAS são consideradas o “patinho feio” das Unidades de Conservação, pois quando existem recursos, estes são direcionados às outras categorias. De acordo com o gestor atual da APA/Nhamundá, o que falta nas UCs é organização para captação de recursos, sejam eles do Estado ou de instituições.

Com todos estes entraves, o atual do governo do Estado propôs uma mudança na reforma administrativa que tinha como principal alteração a aglutinação de pastas com praticamente as mesmas demandas. Na nova estruturação, a SECT e os demais órgãos ambientais passarão a ser integrados à SEPLAN. A medida objetiva enxugar a máquina do governo e foi aprovada na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas - ALEAM no início

de março de 201514. “Com a nova reestruturação o Centro Estadual de Unidade de Conservação

11Instrumento de política pública que, intervindo junto aos agentes econômicos, proporciona a incorporação dos custos sociais e ambientais da degradação gerada por determinados empreendimentos, em seus custos globais. Disponível em http://www.icmbio.gov.br/portal/o-que-fazemos/compensacao-ambiental.html

12Informação cedida por (SILVA, V., DPMA/CEUC). 13 Informação cedida por (CRUZ, E., DPMA/CEUC, 2014)

14 Disponível em: http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2015/03/ale-aprova-reforma-administrativa-do-

- CEUC deixa de existir, deixando suas ações para serem absorvidas pelo Departamento de

Mudanças Climáticas e Gestão de UC”15. Concretizada esta reforma, inevitavelmente

repercutirá nas demandas específicas de cada Secretaria, principalmente nos projetos e ações em andamento.

Por essa razão os gestores das APAS se desdobram para desempenhar sua função, trabalhando em forma de parcerias junto aos Municípios de abrangência. As parcerias são alternativas encontradas, visando estabelecer a participação efetiva dos poderes municipais nos conselhos gestores das Unidades de Conservação, propiciando maior diálogo entre os poderes, sobretudo nas unidades de desenvolvimento sustentável onde cabem múltiplas atividades econômicas e sociais, como forma de ordenar ações de caráter não sustentável (GUERRA, 2009; 55)

Visando a implementação do Plano do Manejo, de acordo com o CEUC/SDS pretende- se criar um Conselho Gestor local, com a participação de todos os órgãos institucionais e comunidades envolvidas. O referido projeto também se encontra em fase de elaboração. A formação de conselhos gestores em Unidades de Conservação faz parte das diretrizes do SNUC que prevê uma articulação com membros de diferentes esferas governamentais, além de representantes da sociedade civil (GUERRA, 2009; 53).

Recentemente o CEUC nomeou novo gestor para a APA/Nhamundá e direcionou um

escritório local para o município de Nhamundá. O novo gestor, empossado no dia 01/07/201416,

iniciou sua trajetória no complexo lacustre Macuricanã como Agente Ambiental, na época em que o IBAMA era o gestor das Unidades de Conservação no país. Atua na gestão de duas APAS: a APA Nhamundá e APA Guajuma. A primeira, com território abrangendo os municípios de Parintins e Nhamundá e a segunda totalmente no município de Nhamundá.

15 Informação cedida por (CRUZ, E., DPMA/CEUC, março 2015).

16 Natural de Terra Santa, tem formação acadêmica em Gestão Ambiental, cursos de aperfeiçoamento e experiência na área. Também é fiscal concursado de meio ambiente do Município de Nhamundá e agente ambiental credenciado pelo IBAMA e pela SDS.

Figura 04: Área territorial da APA FONTE: SDS/Labgeo/CEUC, janeiro 2015

Visando apoio de estrutura logística para melhor atuar na extensa área, a nova gestão estabeleceu parcerias com os dois municípios do baixo Amazonas que têm domínio da APA. No Município de Nhamundá, buscou apoio com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Polícia Militar, Secretaria Municipal de Saúde, Secretaria Municipal de Assistência Social, Colônia de Pescadores Z 48, Agência de Defesa Agropecuária – ADAP e IDAM. De acordo com o gestor da APA, tem tentado sem sucesso, manter contato com a Secretaria do Meio Ambiente do município de Parintins e, por estar recente no cargo, ainda não manteve contato com o SINDPESCA ou com a Colônia Z-17 de Parintins. “A gestão local conta com apoio de seis Agentes Ambientais, credenciados pelo SDS e do Projeto Pé-de-Pincha (manejo de

quelônios) da Universidade Federal do Amazonas – UFAM”17

Quanto aos agentes ambientais SDS, tratam-se de moradores das próprias comunidades da APA, estando assim localizados: comunidades Caldeirão e Capitão (setor 3, lado Nhamundá), comunidades São José e Divino do Paraná do Espírito Santo (setor 1, lado Parintins). A localização dos agentes é estratégica, de modo a possibilitar o fluxo de informações entre os dois Municípios e certa abrangência no território da APA. A função dos Agentes Ambientais “é atuar como agente multiplicador na conscientização da população usuária, comunicando aos órgãos fiscalizadores a ocorrência de infrações na UC e zona de

amortecimento”18. Pela distribuição espacial dos AA percebe-se a insuficiência de recursos

humanos para monitorar a área territorial da APA, pois, dos seis setores que compreendem as 33 comunidades, apenas os setores 1 e 3 dispõem de AA, os demais ficam descobertos.

A parceria da gestão da APA com a SEMMA de Nhamundá já beneficiou uma viagem de monitoramento dos lagos, que culminou em uma reunião na comunidade de São José do Paraná do Espírito Santo de Cima, no mês de outubro/2014, com a presença de líderes das comunidades adjacentes como o São Sebastião do Bôto, Divino Espírito Santo, Brasília e Catespera, além do secretário municipal de Meio Ambiente de Nhamundá e agentes ambientais. Na oportunidade, o gestor da APA informou que realizou a apreensão de redes de arrastão no interior dos lagos praticada por pescadores, dos quais o gestor optou por não expor os nomes, nem origem. Também ouviu as principais reivindicações dos moradores, entre as quais sobressaíram-se os conflitos em torno da pesca motivados pelas constantes pescas predatórias e discussões sobre a necessidade de reativação do Acordo de Pesca. Relatou ainda aos comunitários os encaminhamentos relativos a implantação do Plano de Manejo da APA e a

formação do Conselho Gestor que deve se efetivar até o ano de 201519.

Com base no relato dos pescadores, moradores das comunidades existentes na APA, o gestor local tem planejado como primeiras ações da sua gestão, apoiar institucionalmente a reativação do Acordo de pesca das comunidades do setor 1, propor o manejo da espécie mapará para toda a região do Macuricanã e verificar formas amigáveis de intermediar ou ao menos amenizar os conflitos recorrentes entre pescadores artesanais locais e pescadores de “fora”.

Documentos relacionados