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CAPÍTULO 2: ESTADO DO CONHECIMENTO SOBRE DESEMPENHO DE

2.5 Gestão da manutenção de pavimentos

Há indícios de que a primeira narrativa sobre gestão da manutenção de pavimentos, providência jamais registrada anteriormente, foi de Pierre Marie Jerome Tresaguet, por volta do ano de 1750, segundo HASS et al, (1994). Esse pioneiro pode ter introduzido as primeiras idéias sobre conservação de vias, ao recomendar a adoção de menores espessuras de revestimentos e a execução de bases compactadas e bem drenadas para melhorar o suporte das cargas impostas por veículos, àquele tempo, de tração animal.

No entanto, mais importante que isso é o fato de Tressaguet ter reconhecido a necessidade de uma manutenção contínua, HASS et al, (1994), o que tipifica uma conduta de gestão da manutenção de pavimentos, ainda que embrionária. As intervenções de manutenção e restauração dos pavimentos deverão ser projetadas não apenas quanto à sua natureza, mas também quanto ao seu momento de execução, de modo a se obter do pavimento a mais longa vida útil possível.

Há mais de dois mil anos, os romanos construíram e mantiveram um sistema de vias por toda a Europa. No final do século XVIII, Tresaguet gerenciava as rodovias francesas para o Rei Luiz XVI. Na Inglaterra, no início do século XIX, Sir Thomas Telford, fundador de uma instituição de engenheiros civis, escreveu um tratado sobre manutenção das estradas do Rei. Nas Américas, onde havia caminhos precários desde antes de Colombo, as primeiras vias pavimentadas surgiram no final do século XIX, bem como a “Ontario Good Roads

Association” que se tornou a “Canadian Good Roads Association”, primeira organização

destinada às atividades de rodovias nas Américas.

A chamada “Gerência de Pavimentos” surgiu como conhecimento organizado na década de 1960 e progrediu imensamente para se tornar, hoje em dia, uma ferramenta

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aplicada em vários países do mundo. Talvez, o termo mais correto para a atividade seja “Gerência da Manutenção de Pavimentos”, pois é justamente na manutenção dos leitos das rodovias que se encontra o maior volume de investimentos, com o consequente maior significado econômico.

As principais razões desse progresso foram o desenvolvimento tecnológico atingido, em termos mundiais, no século XX, e a visão estratégica dos gestores de malhas rodoviárias em alguns países, que envidaram esforços para maximizar a eficiência do binômio custo x desempenho de uma rede de pavimentos.

Segundo HASS (1994), a melhor definição de um Sistema de Gerência de Pavimentos – SGP – seria:

Gerência de pavimentos, em seu sentido lato, inclui todas as atividades relacionadas ao planejamento, dimensionamento, construção, manutenção, avaliação e restauração dos pavimentos que fazem parte do patrimônio público. Um sistema de gerência de pavimentos provê um meio coordenado e organizado para lidar com os processos de gerência de pavimentos.

Apesar de todos esses aspectos muito positivos no desenvolvimento dos Sistemas de Gerência de Pavimentos, falta ainda, como é natural em todo processo (que nunca se acaba, mas sim se aperfeiçoa), o desenvolvimento de soluções de engenharia, de sistemas, de bases de dados e de procedimentos, além de questões institucionais.

É preciso reinventar soluções para desenvolver planos de sucessão nas carreiras dos profissionais que gerenciam a manutenção de pavimentos; criar adaptações para as situações em que a malha tenha sido privatizada; impor a exigência de pavimentos mais duráveis (pavimentos perpétuos) e seus consequentes modelos de desempenho, com quantificação de benefícios para os usuários e programas de incentivo a investidores e usuários. Se progressos significativos são pretendidos nos sistemas de gerência de pavimentos (SGP’s), análises mais conclusivas e prazos muito mais longos, terão que ser considerados.

A discussão dessas questões é também oportuna na integração de SGP’s com sistemas de gerência de ativos, outra tendência atualíssima, no sentido de se expandir o gerenciamento mais eficaz do desempenho dos pavimentos e demais ativos componentes de um sistema de transporte e de uma malha de rodovias, que costuma constituir o maior patrimônio físico de muitas nações.

Há, ainda, planos mais idealizados que se mostram imediatamente factíveis, tais como a adoção de planos de sucessão efetivos e eficazes para todos os cargos estratégicos da gestão das malhas rodoviárias, saltos expressivos na expectativa de vida útil dos pavimentos,

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implementação de novos programas estratégicos como o SHRP – “Strategic Highway

Research Program”, desenvolvido entre 1987 e 1993 nos Estados Unidos e em alguns outros

países do mundo. A proposta é implantar inovações conceituais e revisões de práticas dos processos de manutenção e restauração de pavimentos, com financiamento seletivo de projetos que envolvem idéias de alto risco, incluindo a revisão de paradigmas sobre análises de desempenho e manutenção de pavimentos em prazos e ciclos muito mais longos que os habitualmente aceitos hoje.

A roda foi inventada em decorrência da busca, pelo homem, de mobilidade, eficiência e produtividade, principalmente na promoção do transporte de bens, originalmente. Depois, a mecânica tornou a roda seu coração, e sua aplicação e uso, até hoje, é imprescindível no mundo contemporâneo. É inevitável, porém, partindo de profissionais especializados ou de pessoas comuns, a advertência de que não se deve reinventar a roda. Trata-se, sem dúvida, de um paradoxo, porém plenamente justificável. Na sociedade atual, em que as especialidades e a pluralidade de atividades são um fato, é preciso sonhar e pensar grande, mas cultivar, também, a coragem de viver pequeno.

Parodiando o alcance desses axiomas, a Gerência de Pavimentos deve ser entendida como um sonho grande e um grande sistema a ser construído continuamente, através de pequenas intervenções. Esta é a razão para incluir o tema de gestão da manutenção de pavimentos nessa revisão bibliográfica.

No capítulo 3 a seguir, de maneira aplicada, pode-se observar que o desempenho dos pavimentos restaurados foi influenciado diretamente pela natureza das intervenções de restauração e pelo momento em que foram aplicadas, determinando uma dinâmica de economia na aplicação de recursos para manutenção e restauração dos vários estados de deterioração dos pavimentos de um conjunto de rodovias.

Naturalmente, um sistema de avaliação das características indicadoras do desempenho desses pavimentos terá que ser alocado, bem como um dimensionamento técnico das intervenções e uma competente execução, valendo-se dos recursos necessários e da supervisão adequada. Constitui-se, assim, um sistema triplo de componentes para gerar o melhor desempenho dos pavimentos, com o menor custo possível para os usuários, e a competente gestão da manutenção, projeto e supervisão técnica das obras e recursos financeiros.

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