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2.4 GESTÃO PEDAGÓGICA PARTICIPATIVA

2.4.1 Gestão Pedagógica Participativa em Espaços de Educação Não Formal

A educação não formal é um modo de educar construído como resultado do processo voltado para os interesses e necessidades dos que participam. Logo, tem como finalidade “abrir janelas” de conhecimento sobre o mundo que circunda os indivíduos e suas relações sociais. Por isso, não é herdada, é adquirida, de forma que capacita os indivíduos a se tornarem cidadãos do mundo, no mundo. Além disso, “as organizações da sociedade se vinculam à dimensão pública, da defesa dos interesses públicos e de gestão social que visa o interesse coletivo e o bem comum” (STRECK e ADAMS, 2006, p.101). Assim sendo, seus objetivos não são dados a priori, eles se constroem no processo interativo, gerando um processo educativo (GOHN, 2010).

Pateman (1992) também destaca o sentido educativo da participação, a qual, como prática educativa, gera atitudes de cooperação, integração e comprometimento com as decisões, formando cidadãos voltados para os interesses coletivos e para as questões da política. Garcia (2005, p.40) corrobora com as ideias de Gohn (2010) e Pateman (1992) quando argumenta que a educação não formal é um espaço que favorece a participação por meio do diálogo que permite a criação de novos conhecimentos.

o diálogo com o outro, com o que é diferente, com o que, incialmente, muitas vezes é encarado como o oposto, pode fazer parte do processo de criação e pode ser importante para a criação de conceitos. A educação não formal pode abrir essa possibilidade, esse espaço nas suas relações educacionais, percebendo e aceitando como próprio o diálogo, sendo que nesse é mais importante ouvir a ideia do outro do que defender a própria, porque é também através das contribuições do outro que pode haver a recriação. Nesse processo, nessa relação, efetiva-se a criação do pensamento.

Assim, criado pelas oportunidades de troca dialética, o conhecimento concebido de forma coletiva torna-se parte das práticas educacionais dos espaços não formais de educação. Para Gandin (1994, p.57),

a construção em conjunto acontece quando o poder está com as pessoas, independentemente dessas diferenças menores e fundamentadas na

igualdade real entre as pessoas. Aí se pode construir um processo de planejamento em que todos, com seu saber próprio, com sua consciência, com sua adesão específica, organizam seus problemas, suas ideias, seus ideais, seu conhecimento da realidade, suas propostas e suas ações. Todos crescem juntos, transformam a realidade, criam o novo, em proveito de todos e com o trabalho coordenado.

Portanto, os espaços de educação não formal, ao promoverem a participação, estão desenvolvendo “uma prática pessoal e coletiva de valor pedagógico, na medida em que sempre algo novo e essencial se aprende através de experiências práticas de diálogo e de reciprocidade na construção do conhecimento” (BRANDÃO e STRECK, 2006, p.31-32).

Contudo, para Gandin (1994, p.172), a participação coletiva que planeja a transformação de uma realidade “supõe sempre uma prática que não se submete a ideologia e ao senso comum; que em vez delas, tenha a teoria como base e como justificativa do discurso”. O referido autor ainda menciona que a

[...] teoria é o fundamento para uma prática que pretenda ser transformadora, penso teoria como o conjunto de todos os elementos que nos chegam por diversos caminhos. A teoria surge de todos os caminhos que o homem possui para compreender e explicar a realidade. Teoria é algum conjunto de conhecimentos – de saber – que explica uma parte da realidade ou da prática. (GANDIN, 1994, p.173).

No que diz respeito à gestão pedagógica participativa em um espaço não formal de educação, é preciso pensar a construção de suas práticas educativas baseada na relação de que a teoria advém não só, mas também, dos sujeitos que desse local participam, de suas experiências e realidade. Dito de outro modo é conceber uma educação como objeto dos movimentos e dos processos participativos, do mesmo modo como um conjunto sistemático de concepções, imagens e comportamentos que se desenvolvem no interior de um grupo social determinado, revelando a compreensão dos significados estabelecidos pelos sujeitos e a maneira como isso é incorporado nas práticas pedagógicas desses espaços (PEREIRA, 2015). Em suma, para Freire (1985, p.31),

[...] é preciso estabelecer um diálogo entre nossas diferenças e nos enriquecermos nesse diálogo. Assim, [...] não podemos julgar a cultura do outro através dos nossos valores, mas sim aceitar que existem outros valores, aceitar que existem as diferenças e aceitar que, no fundo, essas diferenças nos ajudam a compreender a nós mesmos.

Logo, proporcionar momentos de “fazer pedagógico” com a reflexão permite aos participantes se descobrirem autores de suas próprias práticas intencionadas, repensando-as em diálogos coletivos com os demais sujeitos. Dessa forma, fica clara a dimensão pedagógica da participação que, para Lück (2011, p.60),

[...] refere-se ao fato natural de que a prática é, em si, um processo formativo e, portanto, um fator fundamental de promoção de aprendizagens significativas e construção do conhecimento. Constituindo-se como um processo permanente de ação-reflexão, pela discussão colegiada das questões escolares e pela busca de concretização de seus objetivos, propicia aos seus participantes a oportunidade de desenvolver o sentido de corresponsabilidade, a par do desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes relativas a essa prática social.

Por conseguinte, a participação como promotora da construção de práticas pedagógicas significativas possibilitará que a apreensão de outros conteúdos culturais se faça a partir dos valores próprios da comunidade participante, integrando “o processo educacional às demais dimensões da vida comunitária e da geração e operacionalização de situações de aprendizagem com base no repertório cultural, regional e local” (HORA, 1994, p. 21). Além disso, o aprendizado, que advém da participação de todos no processo educativo, “possibilita a cada um dos sujeitos, individualmente e a todos coletivamente, o crescimento da pessoa humana em todos os seus aspectos: dignidade, atuação, criticidade, capacidade de decisão e ação, devendo ser respeitada na sua individualidade e sociabilidade” (Ibid., 1994, p. 122). Logo, segundo Dalberio (2008, p.9), esse aprendizado gerado pelos debates e discussões coletivas, permitirão aos sujeitos participantes

fazerem uma reflexão acerca da concepção da educação e da sua relação com a prática pedagógica, com a sociedade e com a escola, o que os levará também à reflexão sobre o homem a ser formado, a cidadania e a consciência crítica. Assim, coletivamente, a consciência crítica será despertada, junto ao desejo de se construir uma nova realidade.

Afinal, para que uma organização social tenha êxito na concepção de uma pedagogia participativa, a gestão precisa mobilizar a ação construtiva conjunta de seus componentes pelo trabalho associado, ou seja, a reciprocidade cria um “todo” orientado por uma vontade coletiva (LÜCK, 2011). Em síntese, para Lück (2011, p.89),

sem uma orientação participativa compartilhada desde a fase de elaboração, capaz de construir a clareza do ideário e das necessárias ações

educacionais, o projeto pedagógico se transforma em um simples documento formal, deixando de ser o que deveria: um verdadeiro mapa de viagem a ser continuamente consultado para se chegar onde se pretende.

Assim, fica claro que as ações educacionais definidas pelo coletivo não podem ser aleatórias ou pré-selecionadas e impostas do exterior para o grupo. Os temas que vão gerir as práticas pedagógicas devem emergir a partir de temáticas geradas no cotidiano da comunidade participante, e que tenham alguma ligação com a vida cotidiana, que considere a cultura local, em termos de seu modo de vida, faixas etárias, grupos de gênero, nacionalidades, religiões e crenças, hábitos de consumo etc. (GOHN, 2010). Ademais, para Dalberio (2008, p.11),

realizando o processo de conscientização, a comunidade-escola, autônoma, com o projeto de sua autoria, representando seus desejos e aspirações, estará preparada para superar toda a forma de indiferença, individualismo e superficialidade, e alcançar um patamar mais elevado: a sociabilidade. Nesta, as pessoas se tocam, se olham, interagem, trocam, crescem em comunhão e, juntas, se comprometem com uma causa que representa um bem comum.

Diante disso, a gestão, ao desenvolver uma cultura participativa nova, implica a criação de coletivos compartilhados de diferentes formas e que desenvolvem saberes não apenas normativos, mas saberes que orientam as práticas sociais, que constroem novos valores, a partir de um grupo de pessoas diferentes com metas iguais. Isso tudo está no campo da educação não formal (GOHN, 2006). Assim, compreende-se que a gestão pedagógica participativa é fundamental, “pois é assim que todos os envolvidos no processo educacional da instituição estarão presentes nas decisões e construções propostas (planos, projetos, programas e ações) como no processo de implementação, acompanhamento e avaliação” (LIBÂNEO, 2004, p.316). Por fim, pode-se dizer que a gestão pedagógica participativa é uma “articulação de ações, um instrumento científico, político e pedagógico de produção partilhada de conhecimento social, porque ela própria se inscreve no fluxo das ações sociais” (BRANDÃO e STRECK, 2006, p.31).

Neste capítulo, nos debruçamos na fundamentação que teoriza a possibilidade de construção conjunta de práticas pedagógicas socioculturais de aprendizagem e produção de saberes significativos em um espaço de educação não formal, objeto deste estudo. Por isso, no próximo capítulo detalharemos a metodologia de pesquisa que utilizaremos, bem como métodos e técnicas de coleta

de dados que nos permitirão pensar em que sentido a gestão pedagógica participativa contribui para a construção de práticas pedagógicas significativas em um espaço não formal de educação.

3 METODOLOGIA DE PESQUISA

Na presente exposição, iremos discorrer sobre a metodologia de pesquisa utilizada neste estudo. Na primeira parte, apresentaremos o delineamento da pesquisa que aborda a metodologia e os procedimentos éticos. Na segunda parte, falaremos sobre as técnicas de coleta de dados que foram utilizadas durante o processo da pesquisa, e de que forma esses dados foram analisados.