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Atualmente a democracia passa por um profundo processo de redefinição. A pluralidade característica da sociedade contemporânea coloca a questão da representação política, expressa tradicionalmente pela democracia representativa, frente a um impasse e impõe o reconhecimento de formas alternativas para a democracia, que sejam capazes de responder satisfatoriamente às mais variadas necessidades da sociedade contemporânea.

Paralelamente à crise da democracia liberal, ou em sua resposta, surge um modelo plural e alternativo de democracia – a democracia participativa – gerada no seio dos movimentos sociais e das variadas formas de organização política local e regional, as quais buscam soluções efetivas para o problema de representatividade por meio de prática de soberania popular participativa, descentralizando poder e deliberações a fim de construir um projeto verdadeiramente democrático (SERRER, 2003).

Muito do que somos hoje é resultado de luta, de conquista de um grupo de indivíduos que, por meio de sua participação, contribuíram com a realidade social, ambiental, econômica e/ou política de todo o restante da população. O que se quer dizer é que, é por meio da vontade e da participação política que é possível alcançar níveis mais sustentáveis de vida, uma sociedade melhor. À medida que a

participação é estimulada, os atores tornam-se corresponsáveis por tudo que ocorre. Neste sentido, todos passam a gerir os recursos de forma compartilhada e descentralizada conforme as prerrogativas da legislação ambiental vigente.

A gestão descentralizada vem sendo apontada como uma alternativa eficiente para as gestões públicas resolverem muitos dos problemas em grande parte dos municípios brasileiros. Nas últimas décadas, o meio ambiente tem sido vastamente discutido em consequência da crescente degradação ambiental e diminuição da qualidade de vida nas cidades.

Fiorillo (2008) apud Bezerra (2010, p. 95) defende que a tarefa de implementar políticas públicas em consonância com uma política ambiental sustentável, e que ao mesmo tempo sejam coerentes e compatíveis com as políticas estabelecidas em instâncias superiores, ainda é muito difícil.

No entender de Jacobi (2005), a reflexão está centrada em torno do fortalecimento do espaço público e na abertura da gestão à participação da sociedade civil na elaboração de suas políticas públicas, bem como na sempre complexa e contraditória institucionalização de práticas participativas inovadoras – novos espaços de participação sociopolítica, que marcam rupturas com a dinâmica predominante, ultrapassando as ações de caráter utilitarista e clientelista. No entanto, este movimento de abertura à participação nunca ocorre de maneira espontânea, sendo necessária a mobilização, a articulação para que esta, de fato, exista. A própria ideia de cidadania, constituinte da perspectiva democrática, pressupõe participação neste processo que historicamente tem sido atribuído aos órgãos do poder público.

Da mesma forma, o conceito de gestão também envolve necessariamente ações políticas e participação. É um processo cíclico onde, à medida em que existe participação a gestão pode ser feita de forma eficiente e eficaz, impulsionando, encorajando, motivando, trazendo novos atores à cena política. Só por meio da participação se consegue uma gestão justa socialmente e eficiente ecológica e economicamente.

O desenvolvimento comunitário melhora os serviços prestados à comunidade (educação, saúde) e infraestrutura (estradas, água, comunicação). O desenvolvimento social aumenta a capacidade das pessoas de participar da governança e encontrar soluções locais para problemas e oportunidades (BERKES et al, 2006, p.271 apud KALIKOSKI et

Quanto mais plural mais chance de sucesso na gestão dos recursos. Além da pluralidade de atores, a participação proporciona a coesão da comunidade e, consequentemente, seu maior entrosamento no processo decisório que envolve a realidade que as cerca.

Ainda sobre o caráter de participação na gestão ou gestão partilhada dos recursos, a Constituição Federal Brasileira de 1988, estabelece em seu artigo 23: É competência comum da União, dos Estados, do Direito Federal e dos Municípios: VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em todas as suas formas;

Artigo 30: Compete aos municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local;

II– suplementar a legislação estadual e federal no que couber.

A função inicialmente é atribuída ao Estado. Porém, o artigo 225, o mais representativo da Constituição em termos ambientais dispõe que: todos têm direito

ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e de preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Neste sentido, não apenas ao poder público cabe o direito e dever de gerir as questões relativas ao meio ambiente, mas à coletividade, visto que constitui assunto de interesse comum, para o bem comum de todos.

Se as políticas ambientais dependem da população, pode-se afirmar também que dependem muito dos administradores públicos na condução do processo, na definição da orientação estratégica do município, estado ou país e na definição da sua missão. As políticas ambientais fazem parte do Sistema de Gestão Ambiental, que tem por objetivo estabelecer os meios necessários e suficientes para proceder à estabilidade ambiental de uma região ou à viabilização ambiental das atividades transformadoras nela ocorrentes ou previstas, em vista de potencialidades e vulnerabilidades ambientais dos ecossistemas existentes, de modo a garantir níveis desejáveis de qualidade ambiental e de vida (BARBIERE, 2004 apud BEZERRA, 2010, p.102).

A gestão ambiental é o sistema que inclui a estrutura organizacional, atividades de planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos para desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente e manter a política ambiental, este sistema deve garantir o uso de práticas com o intuito de atingir o desenvolvimento sustentável, além da equidade social e o equilíbrio

ecológico, que garantam a conservação e a preservação da biodiversidade, a reciclagem das matérias-primas e a redução do impacto ambiental dessas atividades sobre os recursos naturais.

Na definição de Rodrigues et al (2009), a gestão ambiental é definida como a condução, direção, controle e administração do uso dos sistemas ambientais, mediante certos instrumentos, regulamentos, normas, financiamento, disposições institucionais e jurídicas. A forma como esta gestão é feita depende substancialmente dos objetivos a que se propõe. Desta forma, a gestão pública ambiental difere da gestão privada que difere de uma gestão comunitária dos recursos. O que se coloca neste estudo é a importância e necessidade da gestão compartilhada da situação-problema por todos os atores envolvidos, sobretudo os governamentais, os comunitários e a sociedade civil organizada.

Um dos instrumentos de gestão compartilhada que mais tem se destacado é o Comitê de Bacia. Como o Riacho das Piabas integra uma microbacia hidrográfica dentro da Bacia do Rio Paraíba, é o comitê desta bacia o agente que pode atuar, dentro de suas competência e responsabilidades na causa do riacho. No entanto, o comitê não se faz presente na área. Também não se tem informação se já foram convocados/convidados a participarem da articulação.

A capacidade de gestão ambiental depende, antes de tudo, dos que a fazem, desfrutam e dela se aproveitam (a população, a comunidade); depende de que conheçam e assimilem, ao máximo os instrumentos de gestão, ou seja, os regulamentos, normas e disposições institucionais e jurídicas, para levá-la a cabo. Também depende de que conheçam as propriedades dos sistemas ambientais – objeto do uso e da exploração -, e de que internalizem os valores de acordo com uma racionalidade ambiental definida.

Por conseguinte, é dentro dessa conjuntura complexa que se faz repensar o que seria realmente uma cidadania democrática, participativa, pois esta, conforme compreende-se, pressupõe a ideia de participação na formulação das políticas e na gestão dos bens e serviços ambientais.

Hoje, uma variedade de atitudes caracteriza a prática da cidadania. Como consequência, cidadania passa a significar o relacionamento entre uma sociedade política e seus membros (RODRIGUES, 2003).

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