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Diversas pesquisas têm apontado efeitos antinociceptivos do extrato de ginseng em estudos in vitro e in vivo. Os canais de sódio dependentes de voltagem em neurônios sensoriais primários, juntamente com os canais de cálcio, apresentam uma importante função na percepção dolorosa. Foi observada a ação de um componente poliacetilênico isolado do ginseng (9R, 10S-epoxiheptadecano-4,6-diyn-3-1) sobre os canais de sódio sensíveis e resistentes à tetrodotoxina. Nessa pesquisa, avaliou-se a atuação do componente poliacetilênico sobre os canais de sódio (Na+) em neurônios dos gânglios da raiz dorsal

medular. Constatou-se que o epoxiheptadecano-4,6-diyn-3-1 inibiu as correntes de Na+ de modo concentração-dependente, acelerou a inativação das correntes de Na+ e produziu hiperpolarização nos canais em estado inativado. Segundo os pesquisadores, um derivado poliacetilênico originado do ginseng, por inibir correntes de Na+ em neurônios sensoriais primários, pode contribuir para o efeito analgésico do ginseng (CHOI et al., 2003).

Pesquisas aplicando a técnica de patch-clamp nas configurações whole-cel e inside-out evidenciaram que as saponinas triterpenoides, ao serem aplicadas na dose de 100 g/ml simultaneamente com capsaicina (1 g/ml), bloquearam pontualmente os canais de cálcio ativados pela capsaicina, resultando em redução das correntes desses íons em neurônios sensoriais de ratos (HAHN et al., 2000).

Ensaio experimental empregando a técnica de patch-clamp observou que a aplicação do extrato total de ginseng suprimiu as correntes de cálcio de forma dose-dependente. O uso experimental de bloqueadores seletivos dos canais de cálcio revelou que as saponinas triterpenoides podem modular as correntes nos canais de cálcio tipo L-, N-, e P-, sugerindo que parte da base farmacológica da antinocicepção do ginseng, em particular do ginsenosídeo Rg3, compreende a modulação dos canais de cálcio nos neurônios da região dorsal da medula espinhal (RHIM et al., 2002).

Em estudos in vivo, foram analisadas a repercussão da administração do extrato de ginseng na nocicepção e a temperatura colônica de ratos Sprague-Dawley. Analisou-se também o possível envolvimento de receptores opioides e suas atividades farmacológicas. Após administração intraperitonial do extrato de ginseng nas doses de 25 mg, 50 mg, 100 mg e 200 mg/kg, em monoterapia ou associada à morfina (8 mg/kg), o ginseng demonstrou indução de analgesia e hipotermia quando utilizado em altas doses (100 e 200 mg/kg), através de um mecanismo não opioide, uma vez que tais efeitos não foram antagonizados pela naloxona (RAMARAO; BHARGAVA, 1990).

Já que o ginseng foi capaz de induzir analgesia, sua interação com a morfina foi investigada. Os resultados mostraram que, quando o extrato foi utilizado em conjunto com a morfina, os efeitos farmacológicos proporcionados pela morfina em rato, como analgesia e hipotermia na dose de 8 mg/kg, e catalepsia na dose de 50 mg/kg, foram antagonizados pelo ginseng através, apenas, de doses intermediárias (25 mg a 50 mg/kg) (RAMARAO; BHARGAVA, 1990).

O ginsenosídeo Rf, assim como os analgésicos opioides, inibiu canais de cálcio em neurônios sensoriais primários, utilizando-se um receptor acoplado à proteína G não

identificado, diferente dos receptores alfa-2-adrenérgico, do ácido gama-amino-butírico tipo B muscarínicos ou opioides (NAH; MCCLESKEY, 1994).

Com o conhecimento de que o bloqueio dos canais de cálcio em neurônios sensoriais colabora para a antinocicepção pelos opioides, alguns autores testaram as ações analgésicas do ginsenosídeo Rf em modelos experimentais de dor aguda e dor crônica. Os ginsenosídeos apresentaram ação antinociceptiva dose-dependente nos modelos para avaliar dor crônica. Esse resultado foi acompanhado pela inibição dos canais de cálcio nos grandes nociceptores. De forma complementar, os autores constataram efeito antinociceptivo com o uso do extrato bruto do ginseng, preconizando que o Rf não era o único componente eficaz do extrato com participação na antinocicepção (MOGIL et al., 1998).

A ação dos ginsenosídeos na reação dolorosa induzida pela atividade da substância P, quando utilizada por via intratecal, também foi investigada nos camundongos. A inibição das respostas dolorosas induzidas pela substância P (arranhar, morder ou lamber a parte distal da pata) foi alcançada, tanto no pré-tratamento quanto na co-administração de ginsenosídeos por essa via de modo dose-dependente. Nessa avaliação, observou-se que os ginsenosídeos apresentaram atividade antinociceptiva no teste da formalina e que tal efeito deveu-se ao bloqueio da informação nociceptiva pós-sináptica da substância P em nível espinhal (YOON et al., 1998). Outros investigadores alcançaram resultado semelhante com os ginsenosídeos Rb2, Rc, Rd, or R2, administrados por via supraespinhal, e Rb1, Rb2, Rd ou Rf aplicados na medula (CHOI et al., 2003).

Um grupo de pesquisadores procurou demonstrar a ação central dos ginsenosídeos, após inibição da dor provocada, experimentalmente, por injeção de capsaicina na pata traseira de animal. Observou-se que o ginseng foi capaz de inibir a dor de modo dose-dependente, apenas quando administrada pela via intratecal ou intracerebro-ventricular. O mesmo não ocorreu quando o fitoterápico foi aplicado por via subcutânea na superfície plantar, previamente à injeção da capsaicina (NAH et al., 2000).

De maneira semelhante, em outro estudo realizado com os ginsenosídeos Rc, Rd e Re, em modelos de dor crônica, com respostas significativas relacionadas ao estímulo nocivo de natureza química, o pré-tratamento com naloxona não bloqueou o efeito antinociceptivo da administração intratecal dos ginsenosídeos. Esse resultado sugere que os ginsenosídeos provocaram efeitos antinociceptivos centrais, em nível espinhal ou supraespinhal, mas não nos nociceptores periféricos. Ademais, constatou-se que suas ações não foram mediadas pelos receptores opioides (NAH et al., 2000; SHIN et al., 1999).

Em outro estudo experimental, observou-se que as saponinas triterpenoides Rb1, Rb2, Rc, Rd e Rg1 foram capazes de promover o bloqueio da antinocicepção produzida por um agonista kappa-opióide (U50,488H) quando utilizadas na medula e na região supraespinhal de camundongos.Resultado idêntico foi alcançado pelos ginsenosídeos Rb2 e Re, quando administrados na região supraespinal (SUH et al., 2000).

A ingerência do ginsenosídeo Rf na ação analgésica produzida pelo U50,488H foi relatada, utilizando-se o teste de tail-flick em camundongos. A administração intraperitonial de 40 mg/kg do agonista produziu analgesia.A inibição da tolerância à analgesia do agonista pelo Rf não foi alterada pelo flumazenil (0.1 mg/kg), um antagonista de receptor benzodiazepínico, nem pela picrotoxina (1 mg/kg), um bloqueador de canal de cloreto no receptor GABA-A. Esses resultados demonstraram que o ginsenosídeo Rf potencializou a analgesia induzida pelo U-50, 488H e inibiu a tolerância à sua analgesia, propondo que a ação do Rf sobre o U-50,488H, nos camundongos, envolve receptores benzodiazepínicos e canais de cloretos dos receptotres GABA-A. Esse mecanismo de ação deve ocorrer por uma via não opioide, não sensível aos canais de cálcio sensíveis à diidropiridina e não GABAérgica (NEMMANI;RAMARAO, 2002; 2003).

Embasando as informações anteriores, em pesquisa com indivíduos portadores de fibromialgia, observou-se que o extrato da raiz de ginseng efetivamente promoveu uma melhora na dor, na fadiga e na qualidade do sono em relação aos dados iniciais dos pacientes avaliados. Porém, mostrou-se menos eficaz que a amitriptilina na melhora da ansiedade desses pacientes, embora tenha efetivamente reduzido o número de pontos dolorosos e melhorado a qualidade de vida em comparação aos valores basais (BRAZ et al., 2013).

Geralmente, o Panax ginseng é bem tolerado. Seus efeitos adversos são leves e reversíveis com a suspensão do fármaco. Os eventos adversos mais comuns relacionados ao seu uso são: náuseas, diarreia, euforia, insônia, cefaleia, hipertensão, mastalgia e sangramento vaginal (KIEFER; PANTUSO, 2003; SILVEIRA et al, 2008). Pode interagir com cafeína e desencadear hipertensão, assim como reduzir a concentração plasmática de álcool. São mencionadas interações importantes com outras drogas, como: o warfarin (pode diminuir sua efetividade) e a fenelzina (pode provocar sintomas semelhantes à mania) (COON; ERNST, 2002).

O uso do Panax ginseng apresenta as seguintes contraindicações : hipertensão arterial, asma aguda, infecções agudas, sangramento nasal e menstruação excessiva. Deve ser evitado ou utilizado com restrições em diabéticos, não sendo indicado para uso em gestantes, lactantes e crianças, por falta de estudos de segurança para esses grupos (COON; ERNST, 2002).

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