GLEICIANY SILVA DOS SANTOS

Designer de Interiores

RESUMO: Este estudo evidencia as condi- ções de trabalho observadas em três empre- sas com diferentes atividades: marcenaria, mecânica de veículos e logística de merca- dorias. O interesse das autoras em eviden- ciar tais condições, originou-se após visita- rem essas empresas, em busca dos serviços oferecidos. São empresas de pequeno por- te, instaladas na cidade de Aracaju/SE. A primeira visita ocorreu na empresa de marcenaria, em 22/09/2020. Aguardando o atendimento, observaram o ambiente e as condições de trabalho. Sintetizaram os pro- blemas que poderiam afetar à saúde e a se- gurança dos envolvidos no processo. Tece- ram considerações para a probabilidade de acidentes, de doenças ocupacionais e para as obrigações dos empregadores.

A segunda visita aconteceu na empresa de mecânica de veículos em 24/09/2020 e a terceira visita em 28/09/2020, na empresa de logística de mercadorias. Com o senti- mento ainda despertado sobre a empresa de marcenaria, sem perceberem, realizaram a comparação das atividades desenvolvidas nas três empresas visitadas e enfatizaram os riscos e perigos que cada uma apresen- tava. A partir daí, aflorou de forma célere e

iluminada, o interesse em conhecer os tipos de trabalhos desenvolvidos e as ações que elas executavam para preservar a saúde e a dignidade dos seus trabalhadores. Iniciou oficialmente entre elas, a socialização com os trabalhadores e empresários.

Durante os diálogos, tanto os empresários quanto os trabalhadores, demonstraram na- turalmente, o desconhecimento e a falta de vontade em ampliar ações e atitudes para se prevenirem das doenças ocupacionais, que podem afetar a saúde física e/ou mental, as quais interferem na qualidade das ativida- des.

De forma branda, mas com o intuito de am- pliar os conhecimentos quanto à atenção à saúde e a preservação da vida, as autoras emitiram esclarecimentos, alertas e suges- tões sobre diversas situações, na esperança que desperte e propague em várias direções o alerta para a forma como vem sendo exe- cutado o trabalho.

PALAVRA-CHAVE: Ambientes de trabalho; Bem-estar do trabalhador; Agravos à saúde. ABSTRAT: This study evidences the working conditions observed in three companies with different activities: joinery, vehicle mechan- ics and freight logistics. The authors’ interest in evidencing such conditions originated af- ter visiting these companies in search of the services offered. They are small companies, installed in the city of Aracaju/SE.

The first visit took place at the joinery com- pany on September 22, 2020. Awaiting the service, they observed the environment and working conditions. They summarized the

Capítulo 8 87 SAÚDE INTEGRAL: UM OLHAR SOBRE O CORPO HUMANO

problems that could affect the health and safety of those involved in the process. They made considerations for the probability of accidents, occupational diseases and employers’ obligations.

The second visit took place in the vehicle mechanics company on 09/24/2020 and the third visit on 09/28/2020, at the freight logistics company. With the feeling still aroused about the joinery company, without realizing it, they compared the activities developed in the three companies visited and emphasized the risks and dangers that each presented. From there, the interest in knowing the types of work developed and the actions they performed to pre- serve the health and dignity of their workers was quickly and enlightened. Among them, socialization with workers and entrepreneurs began officially.

During the dialogues, both entrepreneurs and workers naturally demonstrated ignorance and unwillingness to expand actions and attitudes to prevent occupational diseases, which can affect physical and/or mental health, which interfere in the quality of activities.

In a lenient way, but in order to expand the knowledge about health care and the preserva- tion of life, the authors issued clarifications, alerts and suggestions about various situations, in the hope that it will awaken and propagate in various directions the alert to the way the work has been performed.

KEYWORDS: Work environments; Worker well-being; Health problems.

1. INTRODUÇÃO

Muitas empresas ignoram os cuidados com a organização do ambiente de traba- lho e com o trabalhador, acabam negligenciando a qualidade do ambiente corporativo e confrontam-se com colaboradores irritados, desmotivados, inseguros, além da queda nos resultados da empresa.

As interações e o conforto do homem com as máquinas ou equipamentos, são muito importantes. Previnem as doenças ocupacionais e favorecem a boa relação entre o am- biente de trabalho, as capacidades físicas e psicológicas do empregado, pois a maioria dos profissionais costumam passar grande parte de seu tempo no trabalho, tornando uma extensão da sua casa.

Adotar uma postura de prevenção, com ações preventivas para a saúde, de alcance coletivo, são práticas que ocorrem apenas em um pequeno número de empresas. Essas ações, passaram a ser formas de exigir segurança e desenvolver a consciência da impor- tância de se eliminar ou ao menos reduzir as doenças ou acidentes de trabalho, para evitar a assombrosa estatística da OIT – Organização Mundial do Trabalho, que estima que mun- dialmente cerca de 6.000 trabalhadores diariamente perdem suas vidas em decorrência dos acidentes de trabalho e das doenças ocupacionais.

Dados revelam que no nosso Brasil é comum encontrar empresas com cenários de adoecimentos ou de probabilidades de acidentes no ambiente trabalho, de magnitude elevada e que não são de domínio público, pelo fato de não existirem discussões sistema- tizadas sobre essas condições. Perícias demonstram que a maioria dos acidentes ocorre

por imprudência, falta de conhecimento ou desobediência por parte do empregado ou do empregador.

Segundo Amauri Mascaro, o meio ambiente do trabalho é:

[...] o complexo máquina-trabalho; as edificações, do estabelecimento, equipamentos de proteção individual, iluminação, conforto térmico, instalações elétricas, condições de salubridade ou insalubridade, de periculosidade ou não, meios de prevenção à fadiga, e outras medidas de proteção ao trabalhador, jornadas de trabalho e horas extras, intervalos, descansos, férias, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais que formam o conjunto de condições de trabalho.

Os profissionais da arquitetura, do designer de interiores e da engenharia de saúde e segurança do trabalho, que escolheram a profissão por amor, vêm se dedicando com fervor nos últimos anos para reverter as estatísticas das doenças ocupacionais e dos acidentes de trabalhos. Se preocupam, não só com a estética, mas também com a funcionalidade, com a forma de proporcionar saúde e bem-estar aos trabalhadores.

Em um ambiente corporativo, priorizam sempre a integridade física e mental dos envolvidos no processo, em suas diferentes funções, concentrando-se no bem-estar, na eliminação ou redução de riscos de acidentes, desde a disposição e ergonomia dos mo- biliários e equipamentos, dos tecidos leves, das cores neutras, da iluminação, ventilação, conforto térmico, acústico e segurança, além dos aspectos da automação, como sistemas de informação e de bases de dados e as infraestruturas tecnológicas, a citar computadores, sistemas operacionais e redes.

Mesmo diante de toda essa influência, para algumas empresas esses profissionais são vistos apenas como decoradores de ambientes, mas para outras, veem como profis- sionais importantes para o sucesso de um negócio, pois são dotados de conhecimentos na área, possuem domínio na arte de projetar, possuem ideias inovadoras, de boas recomen- dações, soluções, sugestões, conselhos, comentários para qualquer ambiente de trabalho, além de observar com rapidez as irregularidades, que ao existirem, interferem diretamente na produtividade dos funcionários, o que torna a organização mais saudável e competitiva, além de ser de grande importância na atualidade coorporativa.

2. QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO - NEUROARQUITETURA

Todo ambiente corporativo precisa promover o bem-estar além da socialização, para potencializar as habilidades, as trocas de informações e de ideias. É cultivar um ambiente saudável e sociável, é favorecer a motivação e a comodidade aos trabalhadores.

Não precisa de um projeto com grandes gastos e nem precisa revolucionar o am- biente de trabalho pensando em excluir todos os mobiliários, para conseguir o efeito de

Capítulo 8 89 SAÚDE INTEGRAL: UM OLHAR SOBRE O CORPO HUMANO

local feliz e prazeroso. Basta observar cada ambiente, analisar o excesso de informações e pensar com cuidado nos detalhes que contribuem para uma rotina estressante e de pouca produtividade. Muitas vezes necessitam apenas melhorar a iluminação, retirar os materiais inservíveis, a exemplo de objetos ou equipamentos que comprometem a circulação ou fa- zer um restauro ou remodelagem naquilo que mais incomoda.

Nos demais objetos ou equipamentos, faz uma adaptação, a exemplo da reorga- nização das estações de trabalho, dos fios expostos, das cortinas inadequadas ao local, dos avisos colados nas paredes e mesas, das cadeiras danificadas e desconfortáveis, dos quadros de mal gosto, dos desgastes das paredes e outros tantos que ao serem excluídos ou corrigidos, dão ar de leveza e uniformidade ao local.

O essencial é priorizar sempre a interação mais agradável entre os funcionários, fa- vorecer o fluxo de informações e a convivência e isso pode ser realizado com atitudes sim- ples, até mesmo pelos próprios trabalhadores em sistema de mutirão ou cada um cuidando do seu espaço, mas que em contrapartida fazem toda a diferença no clima corporativo, pois incentivam a colaboração e a comunicação, dando respostas evidentes através do corpo e do cérebro, melhorando assim, o estresse e o mau humor típico de algumas organizações. Isso é neuroarquitetura.

Observaram como a neuroarquitetura não é complicada como muitos imaginam e produz grandes efeitos?

3. METODOLOGIA

Por ser uma constante na vida profissional das autoras, a preocupação com a sa- tisfação de qualquer ser humano com relação a moradia, trabalho ou lazer, em vista da funcionalidade, estética ou ergonomia, é que detectaram as irregularidades existentes nas três empresas visitadas – Marcenaria, Mecânica de veículos e Logística de mercadorias.

A princípio não era o objetivo das autoras identificar os riscos e perigos daquelas profissões, nem tão pouco dos ambientes de trabalho, apenas interessavam-se pelos ser- viços que as empresas ofereciam, mas a ausência ou inexistência de ações importantes relacionadas à prevenção, promoção e proteção da saúde dos colaboradores, foi decisivo para mapearem as irregularidades e posteriormente, organizarem uma defesa para essas classes que já sofrem por longo tempo.

Apesar das diversidades das atividades executadas pelos marceneiros, mecâni- cos e transportadores de cargas, a problemática encontrada está diretamente relacionada com o desconhecimento ou descumprimento das Normas Brasileiras - NR 1, 17 e 24, que precisam ser conhecidas e obedecidas, visto que estabelecem parâmetros para a correta adaptação das condições de trabalho às características dos trabalhadores, de forma que

proporcionem conforto e segurança e não influenciar no desencadeamento ou agravamen- to de doenças.

Outra etapa que poderá ser cumprida, abrangerá a divulgação para os empregado- res, das diretrizes de atenção à saúde e segurança dos trabalhadores, onde provavelmente demonstrarão a necessidade e o interesse de se aprofundarem nos segmentos das políti- cas de proteção e prevenção da saúde, as quais refletirão no futuro, na vida da empresa e dos empregadores.

Para isso, posteriormente, as autoras irão informar aos responsáveis legais dessas empresas, sobre esse trabalho. Convidarão os gestores e seus representantes de RH, para compor um projeto, onde juntos buscarão a parceria dos trabalhadores. Será necessário visitas técnicas para reconhecimento total da área, uma vez que é ainda desconhecida para as profissionais. Obrigatoriamente, reuniões serão realizadas para discussão e coleta de informações não visualizados em sua totalidade, a exemplo de número de colaboradores, atividades desenvolvidas, periodicidade, dados cadastrais das empresas e outras.

Registros através de fotos, também serão realizados. Importante aplicar aos traba- lhadores, questionários sem identificação, visto que a participação deles é essencial. Com a coleta de informações concretas, importante a realização de reunião, para apresentação e discussão sobre os passos seguintes.

Representantes das empresas devem integrar a parceria na implementação, pois a intenção é com união, eliminar ou ao menos reduzir os problemas, onde todos se fortalece- rão, cada um com sua competência, seja em cumprimento a legislação ou à padronização das Normas Regulamentadoras NR 1,17 e 24, ou ainda a NR, correspondente à atividade que ora desenvolve.

Os resultados também devem ser comunicados de forma eficaz a todos os envolvi- dos, a fim de que as pessoas possam a cada dia contribuir para a continuidade e sucesso das ações.

3. RESULTADOS OBTIDOS

Vale lembrar, que uma das obrigações dos empregadores, é manter os seus colabo- radores informados dos riscos e perigos de cada atividade no seu local de trabalho. Nota-se a importância da implantação e implementação de programas de treinamentos e de meios, para a conservação da saúde mental e de se prevenirem dos acidentes de trabalho.

Devido a generalidade dos trabalhadores, muitas vezes, o próprio trabalhador não se apercebe da importância ou da intensidade dos riscos nos seus locais de trabalho ou ainda menosprezam as medidas de proteção coletiva e/ ou individual, pois quem não conhece os riscos, não enxerga mesmo estando à sua frente.

Capítulo 8 91 SAÚDE INTEGRAL: UM OLHAR SOBRE O CORPO HUMANO

Seguir todas as Normas Regulamentadoras estabelecidas pelo Ministério do Traba- lho e Emprego é obrigação de toda empresa, bem como dos trabalhadores, pois são eles os principais personagens do processo. Os maiores conhecedores dos riscos e perigos que enfrentam diariamente no decorrer das suas atividades laborais. Devem cumprir com obediência as orientações recebidas nos treinamentos, conscientizados da necessidade de seguir rigorosamente as exigências dos órgãos fiscalizadores, sempre atentos aos detalhes e com senso crítico sobre cada situação enfrentada.

Por ordem de visitas, estão listados nas tabelas abaixo, os problemas observados nas três empresas mencionadas neste artigo e as consequências que poderão trazer para seus ambientes de trabalho:

TABELA 1: EMPRESA DE MACENARIA