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GLOBALIZAÇÃO E DESIGUALDADE

No documento A Desigualdade na Economia (páginas 38-41)

3. HETERODOXIA

3.2 MARXISMO

3.2.2 GLOBALIZAÇÃO E DESIGUALDADE

Como vimos anteriormente, um fator que pode aumentar ainda mais a busca capitalista por maior produtividade é a concorrência, principalmente no que diz respeito aos mercados globalizados, que colocam as economias locais em competição com grandes indústrias internacionais já desenvolvidas (Bukharim, 1917). A procura por lucros constantes faz com que o foco dos empresários seja a redução de custos, o que atrai a atenção para a pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias produtivas.

Como vimos anteriormente, o desenvolvimento de novos meios de produção atua aumentando a mais valia relativa, mas reduz a força de trabalho, fenômeno chamado de desemprego tecnológico. Além de resultar em desemprego, pode contribuir para a redução ou estagnação dos salários da classe trabalhadora, ao passo em que os trabalhadores se tornam menos necessários para a produção. Os mercados locais, ao se defrontarem com grandes economias globalizadas e, por consequência, uma concorrência acirrada, se veem reféns das inovações tecnológicas, pois para se manterem competitivos necessitam de maior produtividade afim de atingir superlucros. O trabalhador perde espaço de barganha dentro da dinâmica altamente competitiva das economias globais, e até mesmo os sindicatos se veem impotentes frente às grandes corporações (Bukharin, 1917).

Portanto, o processo de globalização atua no acirramento da concorrência, tornando as antigas competições locais, que já resultavam em desigualdade através do desemprego tecnológico, em uma disputa por lucros feroz. Ocorre assim o fenômeno de centralização do capital em um pequeno número de grandes associações capitalistas, que praticam uma política demasiadamente avançada para as pequenas economias. Bukharin (1917) explica que o processo de centralização corrobora para a absorção dos pequenos capitalistas a medida em que se inserem no mercado globalizado. Sobre a centralização:

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Ora, o processo de liberalização econômica em escala mundial, que define a chamada globalização, não faz mais do que acirrar enormemente a concorrência, em especial a concorrência via queda de preços, e ampliar sobremaneira os fluxos financeiros e os mecanismos de crédito. Assim, cresceu também a centralização de capitais, visível nas numerosas megafusões e aquisições pelo mundo afora. (Amado e Mollo, 2001, p. 145).

Podemos concluir que, em grande parte, os pequenos capitalistas são oriundos justamente dos países menos desenvolvidos, que ainda não gozaram das tecnologias de ponta utilizadas pelas grandes potencias, que são suas concorrentes nos mercados globalizados. Desta forma, trustes capitalistas adentram os mercados dos países subdesenvolvidos ofertando mercadorias extremamente competitivas, produzidas em indústrias tecnológicas antes desconhecidas no contexto das pequenas economias. Logo, a consequência da centralização é a perda de protagonismo dos mercados locais, que não conseguem competir com os trustes capitalistas, ou seja, as grandes empresas internacionais detentoras de uma tecnologia de produção mais avançada.

Aliado ao processo de centralização do capital, há também uma concentração de riquezas e meios de produção justamente nos capitalistas bem-sucedidos, como vimos anteriormente. Todo o processo de acumulação de capital e investimento dos lucros favorece aqueles que já se encontram no topo, dotados de uma produtividade maior, que acumularão cada vez mais (Amado e Mollo, 2001). Assim Marx conclui que o capital escapa da mão de muitos para se concentrar nos poucos que conseguiram se tornar mais produtivos, havendo, portanto, desigualdade dentro da própria classe capitalista, sendo que aqueles detentores de um capital menor, sucumbirão frente a concorrência dos grandes capitais.

No que diz respeito à desigualdade, podemos concluir que mais uma vez o desemprego tecnológico se fará presente, ainda mais forte devido a centralização, além também da fragilidade das indústrias locais, que ficam subordinadas ao capital internacional. É um processo que aumenta as desigualdades não só entre os capitalistas, mas também entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos, já que a indústria dos mais ricos tenderá a resistir a concorrência e desbancar os que ainda estão em processo de desenvolvimento.

A concentração do capital, ou seja, o aumento do capital pela capitalização da mais-valia por ele produzida (Bukharin, 1917), também ocorre junto a centralização, e é outro fator que contribui para o fortalecimento dos trustes capitalistas, colocando a classe trabalhadora em desvantagem:

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“A acumulação do capital cessou de aumentar os capitais dos produtores individuais, transformando-se em meio de crescimento de capitais das organizações patronais. O ritmo da acumulação acentuou-se expressivamente. Massas consideráveis de mais-valia, que ultrapassam de muito as necessidades de um grupo ínfimo de capitalistas, convertem-se em capital para iniciar um novo ciclo de circulação.” (Bukharin, 1997, Capítulo X).

Através da Lei geral da acumulação, Marx (1867) afirma que a produtividade do trabalho é a forma mais relevante de se fomentar a acumulação capitalista. O aumento da produtividade para um capitalista significa elevação em sua produção em um dado espaço de tempo. Com isso, o preço de suas mercadorias cairá, possibilitando a ele auferir mais valia em maior quantidade, já que relativamente ao mercado, seu preço é menor. Há também diminuição no valor da força de trabalho, aumentando a taxa de mais valia relativa, como vimos anteriormente. Logo, parte da força de trabalho desse capitalista se tornará desnecessária justamente devido ao aumento na produtividade do trabalho.

Se o aumento da produtividade do trabalho for predominante ao processo de acumulação, a necessidade pela força trabalhadora tenderá sempre a cair, gerando, portanto, um excedente relativo de trabalhadores, a qual Marx aponta ser o fator regulador dos salários. Desta forma, para que exista a acumulação e o desenvolvimento de riquezas capitalista é necessária uma população de trabalhadores excedente, além do que a acumulação impulsionará novos ramos de produção, que requerem mais trabalhadores a serem explorados.

“[...] a necessidade de aumentar a taxa de acumulação traduz-se geralmente por um acréscimo da taxa de exploração, [...] por uma centralização crescente do capital. É a esse preço e tão somente a esse preço, que as empresas vão poder ‘reestruturar’, ou seja, modificar seus equipamentos, seus procedimentos de fabricação [...].” (Salama & Valier, 1975, p. 72).

Com isso, concluímos que o desenvolvimento de novos ramos na indústria capitalista está condicionado ao processo de acumulação, que transforma constantemente parte da força trabalhadora em desempregados, além do que os movimentos gerais dos salários se regulam justamente através do ciclo de expansão e redução da força de trabalho.

Por fim, a principal conclusão da teoria Marxista para este trabalho é a respeito da desigualdade social. Marx evidencia o fato de que a sociedade de classes que compõe o capitalismo

41 é inevitavelmente acompanhada pelas desigualdades sociais. É um fenômeno derivado da própria lógica de funcionamento do mercado de trabalho, mercado o qual os trabalhadores necessitam de participar para se subsistirem dentro do sistema. É um mercado que através da produção do excedente, possibilita a exploração da classe operária, ou seja, os homens passam a produzir além do necessário à sua própria sobrevivência, com o objetivo da venda para o lucro do capitalista.

Tanto a desigualdade social é inerente ao funcionamento do capitalismo que Marx afirma que somente através da quebra dos paradigmas estabelecidos por essa sociedade que haverá alguma forma de mudança para a classe social trabalhadora:

“Uma classe oprimida é a condição vital de toda sociedade fundada no antagonismo entre classes. A libertação da classe oprimida implica, pois, necessariamente, a criação de uma sociedade nova. Pra que a classe oprimida possa libertar-se, é preciso que os poderes produtivos já adquiridos e as relações sociais existentes não possam mais existir uns aos lados de outras. De todos os instrumentos de produção, o maior poder produtivo é a classe revolucionária mesma. A organização dos elementos revolucionários como classe supõe a existência de todas as forças produtivas que poderiam se engendrar no seio da sociedade antiga.” (Marx, 1847).

No documento A Desigualdade na Economia (páginas 38-41)